O ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, afirma em entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal argentino La Nación que advertiu os Estados Unidos de que o sistema defensivo sul-americano é um assunto “dos países da região”.
Segundo o jornal, Jobim contou que transmitiu essa mensagem no mês passado, em reunião, em Washington, com os secretários americanos da Defesa, Robert Gates, e de Estado, Condoleezza Rice.
“Perguntaram-me sobre o Conselho (de Defesa Sul-Americano) e eu lhes disse que o sistema de defesa sul-americano é um assunto nosso, dos países da região. Não é um tema que caiba aos americanos”, disse Jobim ao repórter do La Nación. “Eles insistiram que eu lhes desse alguma mensagem, alguma sugestão do que transmitir a seu presidente (George W. Bush), e simplesmente respondi a eles que não se metessem nisto.”
O jornal diz que o ministro da Defesa brasileiro é, “acima de tudo, um grande diplomata”.
“Um notável orador capaz de convencer seus vizinhos da necessidade de criar o primeiro órgão de defesa da América do Sul.”
Jobim é ainda qualificado pelo La Nación como “um jurista experiente, capaz também de dizer na cara dos Estados Unidos que a partir de agora terão que se manter à margem dos assuntos defensivos da região”.
Vizinhos
O repórter Cesar Gonzalez-Calero escreve que “o Brasil se destaca como potência regional a passos gigantescos”.
“Não só economicamente como militarmente. Jobim não acredita que isto (…) deva preocupar os seus vizinhos”, diz o texto do La Nación.
O ministro brasileiro afirmou, segundo o jornal, que “a Colômbia se opôs, no princípio, a entrar no Conselho (de Defesa Sul-Americano), por seus problemas com a Venezuela e com o Equador, mas depois pudemos convencer o presidente Álvaro Uribe a se integrar, e eles farão isso.”
Nelson Jobim disse ainda: “Nós (…) pensamos no continente em seu conjunto. Brasil e Argentina não devem falar com vozes diferentes nos fóruns internacionais. A América do Sul deve falar com uma só voz.”
França
O La Nación fala ainda do Plano Estratégico de Defesa, como “uma estrela entre as reformas do segundo mandato de (Luiz Inácio) Lula (da Silva)”.
E que a França, “surgiu como o grande sócio estratégico do Brasil” e deve colaborar com “a renovação da indústria militar” do país.
“O velho sonho de um submarino nuclear, que (o Brasil) já acalentava no fim dos anos 70, se tornará realidade agora com o objetivo de proteger os depósitos de petróleo descobertos recentemente no litoral”, diz La Nación.
“Em dezembro, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, viajará para o Brasil para firmar com (o presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva) um protocolo de intenções que dá luz verde ao projeto.”
“Jobim insiste na idéia de uma voz comum para a região”, diz La Nación. “A Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e o Conselho de Defesa Sul-Americano já são dois exemplos dessa estratégia. Dois organismos multilaterais, mas com patente brasileira.” BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Agência Estado
Rizzolo: Pessoalmente como já afirmei em outros comentários, acho este Conselho de Defesa Sul Americano uma iniciativa sem sentido, de cunho chavista, e que serve apenas aqueles que querem vender armas, vendendo a “ilusão” de que o Brasil comprará além de armas, transferência de tecnologia. É claro que o governo francês quer vender equipamento bélico, e isso aqui em Paris todos sabem, tenho conversado com muitos franceses, intelectuais, jornalistas e todos dizem que a França vê o Brasil como um excelente cliente comprador de armas de tecnologia francesa, e este Conselho, atende aos interesses franceses na América Latina, prova disso é a visita de Sarkozy em dezembro ao Brasil.
Com todo o respeito ao ministro Jobim, esta atitude de justificar este conselho ” bravateando” e menosprezando do ponto de vista diplomático os EUA, não é politicamente correto. Os EUA ainda são uma potência militar, e a indisposição quer seja diplomática ou comercial, não é o melhor caminho ao Brasil. O mais interessante é que aqui na França, o povo de uma forma geral e histórica, aprecia e respeita os EUA. Ao contrário do que muitos pensam, os franceses tem sim uma gratidão aos EUA e não se vê bravatas, ou manifestações hostis contra a política norte americana como se observa nos países da América Latina, onde o “chic” é malhar os EUA.
Isso é uma herança da esquerda boba brasileira, ainda do tempo em que os EUA eram chamados de imperialistas. Enfim esse Conselho de Defesa Sul-Americano, em minha opinião é uma bobagem sem tamanho, e a ilusão de que a França irá transferir tecnologia é de uma ingenuidade brutal. Lamento a postura brasileira em relação ao EUA.