É muito difícil para algumas pessoas ter um feliz Chanucá neste ano.
Não somente porque a economia mundial está decadente e estamos cada vez mais assustados pelas nossas contas bancárias que diminuem e pelos nossos planos de pensão empobrecidos. É porque o próprio significado de Chanucá hoje parece estar em perigo.
Os Macabeus podem ter vencido há muito tempo, mas na era da loucura de Bernie Madoff a vitória espiritual do povo judeu sobre os valores do Helenismo e da cultura grega permanecec altamente duvidosa.
Chanucá, ao contrário de Purim, não celebra a sobrevivência física dos judeus após uma ameaça genocida. Comemora nossa capacidade de preservar o Judaísmo numa época em que o mundo ao nosso redor venerava ideais totalmente diversos. O símbolo do feriado é o azeite porque ao contrário dos outros líquidos, o azeite não se mistura com água, mas conserva a própria identidade e sobe à superfície. Assim, também, o povo judeu não se assimilou.
Quando confrontados com uma cultura que venerava a santidade da beleza, os heróis de Chanucá mantiveram sua lealdade à beleza da santidade. Os gregos alegavam que beleza é verdade. Os judeus insistiam que somente a verdade é beleza. Os gregos glorificavam o físico. Os judeus insistiam que o espiritual tem maior importância. Os gregos santificavam o ginásio e a praça principal. Os judeus veneravam o Templo e a casa de estudos. Os gregos idolatravam a riqueza. Os judeus veneravam valores.
Para aqueles que perguntam como o escândalo de Bernie Madoff pôde acontecer, a resposta somente pode ser que para muitos judeus os macabeus estavam errados e os gregos estavam certos. Confrontados por uma opção entre assimilar-se com uma cultura de consumo que proclama “aquele que morre com mais brinquedos é o vencedor”, ou um estilo de vida mais modesto circunscrito pela Torá e mitsvot, a tragédia é que tantos judeus tenham optado pela primeira.
Não foi há muitos anos que Michael Douglas ganhou um Oscar de melhor ator pelo filme Wall Street. No filme Douglas desempenha o papel de um especulador da bolsa cruelmente ganancioso. Merecendo aplausos estrondosos, numa das principais cenas do filme Douglas declara: “Há uma nova lei da evolução na America corporativa. A ganância é boa.” Por mais estranho que possa parecer, isso de certa forma pareceu afetar algumas das próprias pessoas que deram ao mundo os Dez Mandamentos, que concluíam com o poderoso edito Divino “Não cobiçarás”.
A Devida Diligência?
Para entender o escândalo Bernie Madoff, ele não faz qualquer sentido se concentrarmos nossa atenção apenas no único homem que engendrou este incrível esquema Ponzi. Não é chocante, afinal das contas, descobrir que trapaceiros ainda podem ser encontrados em nosso meio. O que precisa ser analisado é como foi possível que tantos empresários financeiramente astutos, bem como organizações comprometidas com prudentes políticas de investimentos, caíssem vítimas à sedutora tentação de um impostor que prometia lucros que os próprios investidores sabiam ser “bom demais para serem verdadeiros”.
Por que todos estavam dispostos a assumir um nível de risco que simplesmente não faz sentido? A resposta sem dúvida é por que nossa sociedade estava deixando claro que era muito mais arriscado não ter lucros ultrajantes com seu dinheiro, não ter um bilhão de dólares se você tinha somente meio bilhão, não ser super super rico se você estava apenas na triste categoria dos super ricos.
Quando ser rico não é suficiente, os ricos têm de arriscar tudo para manter sua posição social.
Então de quem é a verdadeira culpa? Bernie Madoff estava se aproveitando de uma realidade social criada por nós, pelas nossas organizações, e sim, até pelas nossas instituições de caridade. A honra na vida judaica com muita freqüência tem sido medida apenas pelo valor financeiro, e não pelo pessoal. Somente o milionário pode se tornar um macher, e apenas os quase bilionários poderiam sonhar em se tornar líderes ou homenageados judeus importantes.
Diga-me quem são seus heróis e eu lhe direi o que você venera, diz o antigo adágio. Quando eruditos recebem posições de proeminência, podemos concluir que o estudo representa um valor importante. Quando os ricos são os únicos a terem acesso à liderança comunitária, estamos deixando claro aquelas que consideramos as nossas prioridades.
Pergunte aos jovens de hoje o que eles desejam ser quando crescerem. Se a resposta for “ser bem-sucedido”, vá pouco mais longe e pergunte o que querem dizer com isso. O mais provável é que sorriam e digam: “É simples: quero ganhar muito dinheiro.” E por que eles são tão materialistas? Não há dúvida sobre isso. É porque temos mostrado a eles que esta é a suprema maneira pela qual avaliamos o nosso sucesso. Simplesmente olhe para os modelos que oferecemos a eles como merecedores de nosso respeito e admiração.
Portanto, aqueles que temos de melhor foram para Wall Street em vez de para as profissões de serviço comunitário, aos bancos em vez de ao rabinato, aos locais famosos em vez de pontos de encontro para professores e eruditos. E quando eles fizerem sua primeira montanha de dinheiro, descobrirão que isso não basta. E será quando se tornarão páreo para o próximo Bernie Madoff.
Catalisador para a Mudança
Toda crise, como se sabe, tem dentro de si uma semente de bênção. O escândalo Madoff, com sua perda imediata de 50 bilhões e seu efeito cascata que pode igualmente ser cataclísmico, deve servir como um catalisador para mudança se o imbuirmos com algum significado. Os Madoffs do mundo devem ser privados da sua maior força – o poder dado a eles por um mundo judaico que sucumbiu a valores estranhos à nossa fé e anti-éticos para nossa tradição.
Devemos reaprender a lição captada na história que nos relata o Maguid Dubner, um dos mais famosos narradores. Ele descreve um pai numa pequena aldeia levando seu filho ao cheder para estudar. São 6h30 da manhã, e lá fora o frio está terrível. Pai e filho se aconchegam para obter um pouco de calor. De repente escutam música, uma fanfarra, os sons de uma procissao a distância.
As pessoas se aproximam para olhar, saindo de casa, gritando “O poretz [nobre polonês] está chegando!” De repente avistam uma linda carruagem se aproximando, puxada por magníficos cavalos. Perto deles a carruagem pára. Nem bem o servo abriu a porta e desce o poretz, vestido com as roupas mais finas e opulentas, coberto de jóias e de luxo. E o pai judeu, ao ver aquilo, dá um empurrãozinho no filho e diz: “Olhe bem, meu filho. Porque no caso de você não aprender Torá, é assim que você vai ficar!”
Ao concluirmos a Festa de Chanucá, temos de nos identificar novamente com Matityahu e os Macabeus. Foram eles que olharam para um mundo tentado pelas visões materialistas do Helenismo e advertiram seus irmãos judeus que se eles trocassem sua santidade pelas recompensas vazias do hedonismo, ficariam daquele jeito. E nós também, se cometermos o erro de escolher o ouro acima de D’us como prioridade, seremos presas fáceis, fadadas à Madoff-mania.
Biografia do autor: Rabino Benjamin Blech é autor de doze livros aclamados, incluindo “Understanding Judaism: The Basics of Deed and Creed”. É professor de Talmud na Yeshive University e Rabino Emérito de “Young Yisrael Oceanside”, onde trabalhou por 37 anos, e da qual se aposentou para escrever e fazer palestras em todo o mundo. É autor também de “If God is Good, Why is the World So Bad?”
Fonte; site do Beit Chabad
Tenham um ótimo sábado e uma semana de muita paz
Fernando Rizzolo
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