Os meios de produção de riqueza do país estão concentrados nas mãos de 6% dos brasileiros. É uma das conclusões apresentadas no livro Proprietários: Concentração e Continuidade lançado na última quinta-feira (2), na sede do Conselho Regional de Economia (Corecon), em São Paulo.
A publicação é o terceiro volume da série Atlas da Nova Estratificação Social do Brasil, produzida por Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e vários economistas do órgão. Do livro, consta um levantamento que revela que, de cada 20 brasileiros, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda: empresa, imóvel, propriedade rural ou até mesmo conhecimento – também considerado um bem pelos pesquisadores.
Em entrevista coletiva organizada para o lançamento do livro, Pochmann afirmou que a concentração das propriedades no Brasil é antiga e remete aos tempo da colonização. Desde a concessão das primeiras propriedades agrícolas, passando pela industrialização ocorrida no século 20, até o aumento da atividade financeira, os meios de produção sempre estiveram sob controle da mesma e restrita parcela da população nacional.
“A urbanização aumentou o número de propriedades e de proprietários, mas não acompanhou o aumento da população. A concentração permanece. Nós [brasileiros] nunca vivemos uma experiência de democratização do acesso às propriedades no nosso país”, disse.
De acordo com o livro, os proprietários brasileiros têm um perfil específico comum. A grande maioria tem entre 30 e 50 anos de idade, é de cor branca, concluiu o ensino superior, e não tem sócios.
Para Pochmann, o quadro da distribuição das propriedades brasileira é grave. O Brasil tem seus meios produção de riqueza mais mal distruídos entre os países da América Latina, por exemplo. E isso não deve mudar em um curto prazo, segundo o economista.
“Estamos fazendo reforma agrária desde os anos 50 e nossa distribuição fundiária é pior do que a de 50 anos atrás; nossa carga tributária onera os mais pobres; a única coisa que vai bem é a educação”, afirmou ele, citando dados que apontam que o percentual dos jovens que frequenta a universidade passou de 5,6%, em 1995, para cerca de 12%, em 2007.
Pochmann disse porem que mesmo com o aumento dos índices da educação, ele ainda está muito aquém do encontrado na Europa, onde 40% dos jovens têm diploma universitário. Ressaltou também que a mudança da distribuição das propriedades por meio da educação é a forma mais lenta de justiça.
Agência Brasil
Rizzolo: Conheço Pochmann pessoalmente e o considero um dos grandes pensadores do Brasil. Há muito o IPEA já apontava que proporcionalmente que os pobres pagam mais impostos no Brasil. Muito há que se fazer em termos de democratização dos meios de produção de riqueza do país. Agora há muita relação dessa má distribuição com a política macroeconômica no Brasil, que sufoca o pequeno empresário com as altas taxas de juros, a falta de crédito, e falta de uma política de fortalecimento do mercado interno.
As remessas de lucros e dividendos, na verdade ultrapassam os investimentos reais do exterior no Brasil. Em fevereiro, segundo divulgou o Banco Central na terça-feira, o saldo do que entrou no país de capital estrangeiro foi US$ 1,563 bilhão, enquanto foram remetidos para fora US$ 2,629 bilhões em lucros declarados ou ocultos sob outro nome. Desigualdade social se combate com o desenvolvimento da indústria nacional, fortalecimento do mercado interno, política macroeconômica desenvolvimentista, e formação de mão-de-obra especializada através de cursos técnicos, bem como um eventual protecionismo light em produtos sensíveis. Só uma observação, reforma agrária e distribuição fundiária se faz dentro dos limites da legalidade, não podemos aceitar posturas como as do MST, com invasões e badernas ao arrepio da Lei.