É chato, mas é bom saber – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 8 de julho

O próximo passo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB – Amapá) é tentar retomar a iniciativa: deve divulgar o estudo de reforma administrativa que encomendou à Fundação Getúlio Vargas e anunciar as primeiras medidas de racionalização administrativa nele baseadas. Anunciar, claro, significa apenas anunciar: fazer é outra coisa. Sarney anunciará a redução do número de funcionários do Senado, mas isso não é feito de uma vez: tem de ocorrer aos poucos. Já a redução do número de diretores pode ser mais rápida – basta vencer a resistência dos senadores que os indicaram e que não gostarão de vê-los afastados.

Sim, sim, ninguém mais aguenta ouvir falar nessas coisas; mas é preciso saber como andam, para evitar que sejam esquecidas, se mantenham intactas e até cresçam. É preciso saber como é que os escândalos começam; a quem beneficiam as irregularidades (forma-se uma teia que envolve muitas pessoas e partidos); é preciso saber a quem interessa divulgá-las. Uma coisa é certa: ninguém é capaz de descobrir sozinho que uma neta da tia do sócio de determinado senador é funcionária fantasma. Alguém tem que denunciá-la à imprensa e provar o que diz.

E não se pode perder de vista as eleições governamentais e a presidencial que devem realizar-se em pouco mais de um ano. Esta é a chave para saber por que, de repente, vaza a informação de que alguém mandou a namorada a Paris por conta do Tesouro. Saber por que as coisas acontecem pode ser mais importante do que saber apenas que acontecem. Acompanhá-las é chato, mas é bom saber.

Ex, mas com mordomias

Roberto Mangabeira Unger, que deixou o Ministério do Futuro, pegou um jatinho da FAB de Brasília para o Rio, de onde partiria o avião comercial para os Estados Unidos. Muita gente vive perguntando por que alguns países se desenvolvem mais do que outros. Uma história ajuda a responder: quando Harry Truman deixou a Presidência, um carro oficial o aguardava em frente à Casa Branca, para levá-lo ao aeroporto onde pegaria o avião para Independence, Missouri. Truman não aceitou: havia passado o cargo, já não era presidente, não tinha mais direito a usar carro oficial. E mandou chamar um táxi.

Então, tá 1

A história oficial é que Mangabeira Unger deixou o Governo porque a Universidade Harvard, onde leciona, não quis estender sua licença. Alguém conhece uma universidade que impeça algum de seus professores de ser ministro?

Então, tá 2

Wady Jasmin, presidente da Santos-Brasil, empresa portuária de Daniel Dantas, disse que contratou o consultor Guilherme Martins, Guiga, apenas para agendar reuniões com políticos, como por exemplo o senador Antônio Carlos Magalhães. Alguém acha que o presidente da empresa de um grande banqueiro precisa de lobby para marcar reuniões com políticos – ainda mais com o senador Antônio Carlos Magalhães, que foi um dos grandes padrinhos de Daniel Dantas?

Lula lá

O presidente Lula recebeu, em Paris, o Prêmio Houphouet-Boigny, “por sua ação na busca da paz, do diálogo, da democracia, da justiça social no mundo”, nas palavras do ex-presidente português Mário Soares, membro do júri. O prêmio é outorgado pela Unesco e pela Fundação Houphouet-Boigny, cujo nome homenageia o presidente que governou a Costa do Marfim durante 33 anos e morreu no cargo (era reeleito de cinco em cinco anos, mas só na última eleição de que participou foi permitida a candidatura de oposicionistas). Vários ganhadores do Prêmio Houphouet-Boigny ganharam mais tarde o Nobel da Paz.

…e sempre lá

Lula está hoje na Itália para reunião com líderes da Índia, China, México e África do Sul sobre os mais diversos assuntos: crise econômica, segurança alimentar, mudança climática, comércio internacional. Conversa também com os primeiros-ministros do Japão e da Suécia (hoje) e Austrália (amanhã). No fim de semana volta ao Brasil e prepara a visita ao Paraguai. Que vida mais agitada!

De Brasília a Goiânia

O afrouxamento da política econômico-financeira (com aumentos de despesas e cortes pesados no superávit primário) convenceu o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a buscar novos caminhos: tudo indica que será mesmo candidato ao Governo goiano, provavelmente pelo PP, que apóia Lula. Meirelles vem se aproximando dos ruralistas (que poderão levar o DEM de Ronaldo Caiado para a aliança) e tem bons contatos com o PSDB, partido pelo qual se elegeu deputado federal em 2002. Seus principais adversários devem ser o senador Marconi Perillo, do PSDB, e o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, do PMDB.

É o nosso dinheiro

Sabe Frank Aguiar, o “cachorrinho dos teclados”, vice-prefeito de São Bernardo, SP? Frank Aguiar nasceu no Piauí, e o Governo piauiense doou R$ 1 milhão para um filme sobre sua vida. Frank Aguiar é do PTB, mas se aliou ao PT do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. O governador do Piauí, Wellington Dias, é do PT. O restante do dinheiro para o filme talvez venha da Lei Rouanet.

Rizzolo: Realmente essa história oficial de que Mangabeira Unger deixou o Governo porque a Universidade Harvard, onde leciona, não quis estender sua licença parace ser um conto da carochinha. Agora quem será que mandou a namorada a Paris por conta do Tesouro ? Um dia nós descobrimos.

Uso da Internet deve dominar debate sobre reforma eleitoral

BRASÍLIA – A utilização da Internet na campanha eleitoral será um dos temas mais polêmicos na votação da proposta da reforma eleitoral que deve acontecer nesta semana na Câmara dos Deputados. O projeto, se sancionado antes de setembro, será válido para todos os candidatos na eleição de 2010.

A controvérsia, segundo o coordenador da elaboração do projeto, deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), não tocará na liberação da Internet para a propaganda no pleito, mas no nível desta liberação.

O projeto, feito por um grupo de líderes de partidos, é fruto da consolidação de diversas propostas que tramitavam na Câmara. A proposta também ganhou sugestões dos partidos e de bancadas da Casa. A tramitação, no entanto, é longa, passando por debates na Câmara e depois no Senado, que enfrenta crise em função de uma sequência de denúncias sobre a gestão da Casa.

“Há quem considere o projeto muito restritivo”, afirmou Dino à Reuters. Ele cita como um exemplo do que poderá gerar discordâncias a proibição de propaganda paga pelos candidatos a meios de comunicação privados da rede.

O sucesso da campanha eleitoral virtual do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no ano passado, alertou os deputados para o uso da Internet como meio de aproximar o candidato do eleitor.

Com a nova regra, candidatos e apoiadores poderiam fazer campanha de forma espontânea e gratuita para o candidato que tiver preferência em, por exemplo, sites de relacionamento como o Orkut e o Twitter ou até mesmo em blogs. De acordo com a legislação vigente, a conduta não é permitida.

Mesmo antes da aprovação desta regulamentação e apesar de regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) bem mais restritivas, vários políticos usam o Twitter e outros têm páginas de apoiadores no Orkut. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por exemplo, usa o Twitter que é um blog atualizado com frases de até 140 caracteres.

O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (PSDB-SP), defende a ampliação do uso da rede mundial de computadores e julga que o instrumento é “poderosíssimo” para a participação do cidadão no processo eleitoral.

“Acho que tem que permitir o uso da Internet na campanha pelo cidadão (…) como um instrumento para a cidadania”, afirmou, destacando o direito do eleitor de manifestar a sua preferência de candidato na rede.

Entre outros pontos, a proposta permite doações em dinheiro para candidatos pela Internet e também define outros critérios para a propaganda eleitoral antecipada e o horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.

Para Dino, além do uso da Internet, outros pontos que poderão ser polêmicos para a regulamentação da campanha eleitoral são a volta do uso do outdoor, a implementação de um teto para gastos de candidatos e algumas sugestões da bancada feminina.

Uma delas é a doação obrigatória de 10 por cento do fundo partidário para o estímulo da participação política feminina.

“Há quem ache que isso é muito dinheiro. Vai ter um destaque (proposta de mudança) contra isso”, diz Dino. O texto também prevê que 20 por cento do tempo de rádio e TV na campanha sejam destinados às candidatas.

Para o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), designado pelo seu partido para representar a legenda no grupo que elaborou a reforma eleitoral, tais questões devem ser definidas pelo próprio partido e a sociedade faria a fiscalização.

“A minha proposta é que todo partido fosse obrigado a definir um limite mínimo (do fundo para as mulheres) e o controle social se incumbiria de fazer o juízo que o partido definiu”, afirmou o deputado no site do partido.

O projeto de reforma eleitoral muda dispositivos da Lei dos Partidos Políticos (1995) e da Lei das Eleições (1997) além de regulamentar resoluções da Justiça Eleitoral.

(Edição de Carmen Munari)

Agência Estado

Rizzolo: Não há dúvida que o uso da Internet deverá dominar o debate político sobre a reforma eleitoral. Pessoalmente entendo que a liberação do uso da Internet não deveria ser restrito e sim mais amplo. Imaginem se nos EUA não houvesse a possibilidade da política fazer uso da Internet. Obama é um exemplo clássico do que o instrumento digital é capaz de realizar.

A grande diferença na campanha pautada também na Internet, é que Blogs, Sites, e Twitters independentes, farão a diferença. A imparcialidade dos Blogs independentes é determinante na formação da opinião, afinal Blogs como o nosso não tem o “compromisso político com ninguém” a não ser com a essência da democracia.

Nós aqui lutamos para que a democracia não seja destruída pela “democracia pilantra” que faz uso contínuo de plebiscitos para impor uma autocracia, tipo Hugo Chave, Morales, e de Manuel Zelaya de Honduras. Aqui não, se depender de nós aviões como os de Zelaya não aterrizam.

Falta de ética e de Deus causaram crise econômica, diz papa

De Roma para a BBC Brasil – O Vaticano divulgou, nesta terça-feira, a terceira encíclica do papa Bento 16, intitulada “Caridade na Verdade”, onde o pontífice aponta os motivos que, segundo a Igreja Católica, teriam causado a atual crise econômica e indica a necessidade de reformas para colocar o homem no centro da economia.

A encíclica foi divulgada um dia antes da abertura, na cidade de L’Aquila, na Itália, da cúpula do G8, que reúne os líderes dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia, e onde a crise econômica deve ser o principal tema de discussões.

No documento de 148 páginas, Bento 16 afirma que o desenvolvimento econômico é positivo, porque “tirou milhões de pessoas da miséria e deu a muitos países a possibilidade de se tornarem atores eficazes da política internacional”.

Por outro lado, segundo o papa, a crise econômica atual evidenciou anomalias e problemas que devem ser analisados sem usar ideologias, que “simplificam a realidade”.

Disparidades

Na avaliação do papa, a riqueza mundial cresce em termos absolutos, mas aumentam as disparidades e surgem novas pobrezas.

“Nos países ricos, novas categorias sociais empobrecem e, em áreas mais pobres, alguns grupos gozam de uma espécie de desenvolvimento consumista, que contrasta de modo inadmissível com situações de miséria desumanizadora. Continua o escândalo de desproporções revoltantes”, diz o texto, preparado por Bento 16 e baseado na doutrina social da Igreja.

No documento, o papa aponta a “atividade financeira especulativa, fluxos migratórios muitas vezes provocados e depois mal administrados, e o uso desregrado dos recursos da terra”, como alguns dos principais fatores da crise.

Além disso, o papa afirma que a busca apenas do lucro, sem pensar no bem comum, pode destruir a riqueza e gerar mais pobreza.

“A economia precisa de uma ética amiga das pessoas para um correto funcionamento.(…). A crise atual mostra que os princípios de ética social, transparência, honestidade e responsabilidade não podem ser negligenciados”, afirma o papa na encíclica.

De acordo com o documento, a Igreja não sugere soluções técnicas para os problemas desencadeados pela crise que afeta a economia internacional, mas indica a doutrina social da Igreja como guia e recorda aos governantes que o “primeiro capital a ser preservado e valorizado é o homem, em sua integridade”.

“A Igreja não tem soluções técnicas a oferecer, mas uma missão de verdade a cumprir para uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade e vocação “, diz o texto. Deus

No segundo dos seis capítulos da encíclica, o papa afirma que a prioridade deve ser a criação de empregos e o acesso ao trabalho, assim como maiores garantias aos trabalhadores, cujos direitos estão em risco devido à “competição internacional das empresas e ao uso especulativo dos recursos financeiros”.

Na avaliação do papa, há condições para uma grande redistribuição da riqueza, mas “projetos egoístas e protecionistas” podem frear a difusão do bem estar.

“A crise atual exige mudanças profundas para as empresas, que não podem ter como objetivo apenas os interesses dos proprietários e as indicações dos acionistas, mas devem se encarregar da comunidade local”.

Segundo o papa, há uma relação fundamental entre o desenvolvimento econômico e social e o ponto de vista religioso. O evangelho, segundo ele, é “imprescindível” para construir uma sociedade justa e livre.

“Sem a perspectiva de uma vida eterna e sem Deus, o desenvolvimento é negado e desumanizado”, escreve Bento 16.

Organismos internacionais

Bento 16 sugere ainda a necessidade de reformar alguns organismos internacionais, para que sejam mais eficientes no combate à fome e no gerenciamento da globalização.

“É urgente a presença de uma verdadeira autoridade política mundial”, escreve o papa.

Segundo o pontífice, os organismos internacionais deveriam se interrogar a respeito da real eficácia de seus “caros aparatos burocráticos”.

“Às vezes, os pobres servem para manter caras organizações burocráticas. É preciso uma grande transparência sobre os fundos recebidos”, diz a encíclica.

Segundo Bento 16, o mercado não é negativo, mas não pode cumprir sua função econômica sem a solidariedade e confiança recíprocas, e deve ter como objetivo o bem comum, que deve ser responsabilidade principalmente da comunidade política.

Natalidade

Na encíclica, o papa volta a defender a vida, desde a concepção até a morte natural, e critica os programas de controle demográfico, como parte de medidas para desenvolvimento econômico.

“Em várias partes do mundo, há práticas de controle demográfico que chegam a impor o aborto. Há uma mentalidade contra a natalidade nos países desenvolvidos que se tenta transmitir a outros Estados, como se fosse um progresso cultural”, escreve o papa.

Bento 16 afirma que as causas do subdesenvolvimento não são de ordem material, mas, sobretudo, “a falta de fraternidade entre homens e povos” que, por causa da globalização crescente, “são vizinhos, mas não irmãos”.

Em sua opinião é necessária uma mudança de mentalidade e de estilo de vida.

“Menos hedonismo e consumismo e mais respeito aos recursos ambientais e à vida”, sugere o papa. BBC Brasil – Todos os direitos reservados.
agencia estado

Rizzolo: Não há como discordar do papa Bento 16 em suas afirmações. O egoísmo e o descontrole do meio financeiro internacional, sem a sua devida regulamentação, causam os desajustes que afetam toda a humanidade, e principalmente os mais pobres. É também verdade que a prosperidade mal planejada proporciona um novo tipo de pobres nos países ricos. Mas a principal questão abordada que mais me preocupa, é a busca desenfreada pelo lucro e a falta de uma visão espiritual, divina, baseada em princípios religiosos, que hoje aflige os governos da maioria dos países.

A palavra ética, moral, Deus, é quase desconhecida no mundo político, e entre os presidentes da maioria das nações, fazendo com que o Estado pouco tenha de esteio moral e religioso, concitando o povo apenas a consumir, a ganhar, na busca deseperada pelo lucro, desprezando o essencial que é a espiritualidade: “a gasolina da alma”.

Charge do J. Bosco para o O Liberal

jbosco