A crise acabou. Agora vem outra – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 29 de julho

Estudos dos principais bancos brasileiros mostram que o país saiu da recessão. O profeta da crise, Nouriel Roubini, o Sr. Apocalipse, diz que a recessão mundial termina até o fim do ano. Ótimo – mas chegou a hora de pagar a conta.

Não é uma questão apenas do Brasil: é problema global. Não é possível jogar dois trilhões de dólares na economia, sem aumento equivalente de produção, e esperar que não haja inflação. Haverá inflação. E seu papel será equilibrar o volume de dinheiro existente no mercado com aquilo que for produzido. Não há condições de aumentar a produção tão rapidamente quanto se aumentou a quantidade de dinheiro disponível; o dinheiro, portanto, vai perder parte de seu valor.

No país que mais colocou dinheiro no mercado, os EUA, o dólar está caindo. Cai por dois motivos: primeiro, porque há dólar demais para pouco produto; segundo, porque é do interesse americano que o dólar caia. Com o dólar mais baixo, as imensas reservas de dinheiro da China se diluem; com o dólar mais baixo, os EUA terão produtos mais baratos, e poderão exportar mais e importar menos. Outros países – como a China, que se estruturou para vender ao mundo desenvolvido – contribuirão involuntariamente para que os EUA paguem a conta.

O Federal Reserve americano anuncia que apoiará o fortalecimento do dólar. Bobagem: não tem como recolher o brutal excedente de dinheiro que existe no mercado. E, aliás, não tem a menor intenção de fazê-lo. Se os americanos podem transferir parte da conta a outros países, por que irão pagá-la sozinhos?

Problemas mundiais

Uma idéia dos problemas econômicos, que vão virar inflação, de alguns dos principais países do mundo: os EUA, que tinham déficit público de pouco mais de 3% do PIB no ano passado, têm agora algo como 13%; na Inglaterra, o déficit público saltou de pouco mais de 5% para 14%; a Alemanha, sempre tão contida, passou de 0,3% para quase 5%. E o da Itália dobrou, estando hoje em 5%.

Problemas brasileiros

O Brasil suportou bem a crise, não perdeu reservas internacionais, manteve a inflação sob controle e a rede de proteção social ajudou a amenizar o desemprego. Mas o Brasil também tem um problemaço: a alta dos custos fixos. As despesas de pessoal cresceram quase um ponto percentual; os gastos do Governo subiram dois pontos percentuais. O custo do Governo é uma bomba-relógio que exige cuidado e parcimônia nos gastos para evitar o crescimento da inflação interna.

Nhô ruim, nhô pior

O ministro da Justiça, Tarso Genro, está convencido de que é o único candidato petista em condições de vencer as eleições no Rio Grande do Sul. Mas quer, antes de deixar o cargo, assegurar sua substituição por alguém da mesma corrente do PT, a Mensagem ao Partido. O candidato que sugere é o deputado federal paulista José Eduardo Martins Cardozo.

No Brasil, nada é impossível. Nem mesmo ter saudades de Tarso Genro.

Matador no poder

Mas o problema pior é o da Argentina. O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, líder da oposição ao Governo Kirchner, nomeou um cavalheiro, “Fino” Gonzalez, envolvido com brigadas paramilitares de assassinos e sequestradores para a chefia da Polícia Metropolitana. E se recusa formalmente a substituí-lo.

Má notícia

Os planos de saúde querem mais aumentos. O pretexto agora é a gripe suína.

Chávez, por que no hablas?

O Governo sueco pediu explicações formais ao Governo venezuelano sobre armas que vendeu a Caracas e que foram encontradas em campos da narcoguerrilha colombiana das Farc. É batom na cueca: os foguetes antitanque encontrados com os narcotraficantes têm números de série e foram vendidos à Venezuela pela Saab Bofors Dynamics com cláusula de destinatário final (ou seja, é proibido repassá-los). A Venezuela ainda não respondeu ao pedido do Governo sueco.

Coisa feia

De Danilo Gentilli, do programa CQC, em seus comentários no Twitter:

“Agora, no TeleCine, King Kong, um macaco que depois que vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é: jogador de futebol?”

“Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?”

A explicação é razoável e simples: porque a lei proíbe. Racismo é crime inafiançável. Chamar alguém de macaco é considerá-lo inferior a um ser humano – apenas um primata. E é pena ter de explicar isso ao talentoso Danilo Gentilli.

O cardíaco saudável

O militar Manoel Cordero, detido no Rio Grande do Sul enquanto aguarda o julgamento do pedido de extradição feito pelo Uruguai e pela Argentina, que o acusam de torturador, vai muito bem, obrigado. Ficou em prisão domiciliar por, alegadamente, ser cardíaco; mas foi filmado passeando livremente, fumando, e, ao notar que tinha sido visto, correndo muito, em forma física que parecia excelente. O Supremo Tribunal Federal quer saber por que tamanha liberdade.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

Uma resposta to “A crise acabou. Agora vem outra – Coluna Carlos Brickmann”

  1. Lucas Says:

    “A explicação é razoável e simples: porque a lei proíbe. Racismo é crime inafiançável. Chamar alguém de macaco é considerá-lo inferior a um ser humano – apenas um primata. E é pena ter de explicar isso ao talentoso Danilo Gentilli.”

    Vale ressaltar que ele pediu uma explicação razoável de por quê SE PODE chamar um “branco de lagartixa” (racismo) entre outras frases de caráter discriminatório, mas “NÃO um negro de macaco”.

    A sua explicação, diferentemente do que ele pediu, não foi razoável. Racismo é crime para todas suas maneiras de expressão, até porque uma lagartixa é inferior a um macaco. Então, a questão ainda fica pendente: a lei que você cita só serve para a discriminação contra negros? Isso também é culpa da “dívida histórica que nossa sociedade tem com a população afro-descendente?”


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