Sarney se irrita com pedidos de esclarecimentos de Suplicy

BRASÍLIA – Em aparte ao discurso de José Sarney (PMDB-AP) que deveria marcar o retorno à normalidade no Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) cobrou nesta segunda-feira, 24, explicações do presidente da Casa sobre o teor das representações movidas contra ele no Conselho de Ética, arquivadas na semana passada.

“A situação no Senado não está tranquila, não está resolvida”, afirmou ele, acrescentando que “as pessoas cobram maiores esclarecimentos sobre as representações apresentadas conta Sarney”.

O presidente do Senado reagiu com irritação ao aparte de Suplicy. “Vossa Excelência feriu uma regra que eu acho que não é do seu feitio”, disse Sarney, antes de encerrar o discurso.

Sarney fazia um discurso em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas e ao escritor Euclides da Cunha. Para os governistas, o arquivamento das representações no Conselho de Ética contra Sarney, na quarta-feira passada, 19, marcou o fim da crise interna na Casa. Segundo líderes dos partidos do governo, a estratégia seria iniciar a votação de projetos e emendas que estão parados.

No entanto, a oposição e parte dos senadores do PT não concordam com o desfecho dado pelo governo. “O arquivamento (das ações contra Sarney) não significou que tenhamos resolvido os problemas do Senado. Não tivemos a solução suficientemente resolvida”, disse Suplicy.

Suplicy acrescentou que tem ouvido cobranças. “Esta é a voz que ouço de toda a parte. As coisas não podem ficar como estão”, afirmou.

Suplicy lembrou o fato de o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), ter recomendado a Sarney que se afastasse da Presidência do Senado até que fossem esclarecidas todas as denúncias contidas nas representações.

“Nossa voz acabou não sendo ouvida, por uma ação da presidência do PT, do Palácio do Planalto, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, comentou, lembrando que os senadores do PT arquivaram as representações contra Sarney.

Ele repetiu frase citada por Mercadante em seu discurso de sexta-feira: “O erro dos homens pode ser porta-voz de novas descobertas. Esta casa errou, meu governo errou, meu partido errou, nós erramos, eu errei, porque essa não é a solução que o Brasil precisa.”

Irritação

José Sarney ficou irritado com a intervenção de Eduardo Suplicy, e disse que o senador foi indelicado ao levantar o debate sobre a crise política no momento em que ele fazia uma homenagem ao escritor Euclides da Cunha.

“Vossa Excelência feriu uma regra que eu acho que não é do seu feitio. Vossa excelência podia ter feito o seu discurso, como estava planejando fazer, mas este gesto que não é da personalidade de vossa excelência, a não ser que o senhor esteja tomado de uma paixão política que não é da sua personalidade”, disse Sarney, que encerrou o discurso logo em seguida.

O senador Gim Argello (PTB-SP) declarou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a crise não está mais no Senado. “Ela se deslocou, passou pelo Palácio do Planalto (se referindo às acusações de Lina Vieira, de que ela teria se encontrado com a ministra Dilma Rousseff) e agora se encontra dentro do PT, com Mercadante, em São Paulo”, disse o petebista ao estadão.com.br.

Como reação ao arquivamento dos processos contra Sarney, os senadores da oposição se reúnem nesta terça-feira, 25, para discutir se permanecem no Conselho de Ética ou renunciam às suas vagas no colegiado. Cinco das quinze cadeiras do conselho são ocupadas pelos oposicionistas. Líder do DEM, o senador José Agripino (RN) chega a Brasília no início da noite e reúne a bancada na terça, em um almoço, para discutir se desistem ou não das três vagas a que tem direito no colegiado.

O PSDB vive o mesmo dilema. Na semana passada, o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do partido, enviou ofício à Mesa Diretora pedindo para ser retirado da composição do conselho. A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) também está com um ofício pronto para renunciar à cadeira. Ela só tomará uma decisão, entretanto, após reunião da bancada, na terça, na hora do almoço, no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Sérgio Guerra e o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), só chegarão a Brasília no final desta segunda.

Já o líder do PT, Aloizio Mercadante(PT-SP) – que, depois de ter anunciado sua renúncia ao cargo em caráter irrevogável, voltou atrás e anunciou a permanência no cargo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, está em São Paulo e passará o dia sem compromissos oficiais. O senador deve chegar a Brasília na terça-feira.
agencia estado

Rizzolo: Olha sinceramente esse papel do Suplicy para mim não passa de encenação, quando Lula determinava o apoio explícito à Sarney, ele se portava quieto, cantando musicas do Bob Dylan e conivente, agora que Sarney já fora absolvido, demonstra indignação e faz o gênero de “incompreendido” e excêntrico. Esse país do ponto de vista político está arrasado, e a culpa disso tudo é um partido chamado PT e a oposição corrupta, tudo farinha do mesmo saco. Governo e oposição todos unidos em corrupção! É claro que poucos se salvam, é verdade, mas o povo brasileiro precisa ter a sesibilidade de descobri-los nos seus mínimos gestos.

Protógenes anuncia filiação partidária até 1 de setembro

SÃO PAULO – O ex-delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz anunciará até 1º de setembro a qual partido político vai se filiar, com vistas às eleições de 2010, segundo texto publicado em seu blog. Desde que deixou a polícia, após fazer denúncias contra o banqueiro Daniel Dantas, ele tem sido cortejado pelo PT, PDT, PV e PSOL. Protógenes escreveu hoje em seu blog na internet, no endereço http://www.blogdoprotogenes.com.br, um texto com críticas ao cenário político nacional.

“Faltam apenas oito dias para começarmos a nossa ”satiagraha brasileira” contra a corrupção, quando anunciarei para o Brasil a minha filiação político partidária”, escreveu o ex-delegado, em referência ao nome da operação da PF que o tornou conhecido nacionalmente. “A transformação social se passa no campo político.”

Na postagem, Protógenes cita desde o imperador romano Julio Cesar até o pensador Platão. E cita como exemplo de protagonistas de “espetáculos vexatórios” no Congresso os senadores Fernando Collor (PTB), Renan Calheiros (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB).

Protógenes faz ainda uma convocação aos eleitores para que tirem do poder os responsáveis pela crise no Congresso Federal, em uma referência ao pleito do próximo ano. “Precisamos mudar esse quadro. Nossos políticos atuais envolvidos em possíveis falcatruas não perdem por esperar”, escreveu. “Convoco a maioria de homens e mulheres honestos a assumirem seus papéis para tirar os corruptos das nossas administrações públicas.”

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Rizzolo: Deixando a questão do profissional delegado Protógenes, em termos pessoais, de patriotismo, de honestidade, acredito que Protógenes seja bem-intencionado. A convocação de tirar os corruptos das nossas administrações é algo que tem sido alvo da maioria dos meus textos, e acredito não não há mais como votar nos mesmos nomes, naqueles que há tempos compactuam com a imundice no Congresso Nacional. Precisamos de novos nomes, pessoas de bem e que acima de tudo não sejam profissionais da política como a maioria parlamentar. O grande problema de Protógenes são os partidos que o cercam PT, PDT etc. tudo base aliada, tudo farinha do mesmo saco, grandes contradições hein !

Charge do Paixão para o Gazeta do Povo

paixao

Congresso em desencanto

Lembro dos anos 70 quando surgiu uma obra de caráter religioso denominada Universo em Desencanto, de um conteúdo filosófico interessante. Sem querer fazer uma analogia do Congresso Nacional com está doutrina – o que seria uma afronta à espiritualidade! – me ocorreu o título deste artigo, pelo impacto realista na caracterização da matéria e seus efeitos no universo.

Na verdade, os acontecimentos ocorridos no nosso universo político nos últimos meses, têm nos demonstrado a estirpe dos políticos que em função da democracia representativa, são eleitos para nos representar. É claro que na sua maioria, independentemente de partido, são políticos profissionais que fazem uso da máquina partidária e que pela estrutura e interesses próprios e dos partidos, não promovem espaço para novos nomes que nos serviriam de opção política. Esse defeito parlamentar faz do quadro político brasileiro uma mesmice de nomes, de atores contumazes, de atos de improbidade pública e que por terem a certeza de que serão os mesmos candidatos nas próximas eleições, deixam o povo e a sociedade sem alternativa.

Dessa forma, restam aos idealistas, os pequenos partidos; estes sem recursos, sem tempo na TV e com pouca permeabilidade política. Assim, com a alma inconformada, novos nomes abandonam a disputa eleitoral, deixando a terra ainda mais fértil aos que dominam o cenário político nacional. Vivemos hoje uma situação no país onde a oposição se mistura com a ética da base aliada e na aferição das posturas dos bons costumes observamos que pouca diferença há entre os representantes do povo; a saída para os impasses acusatórios de alguns, acaba sendo sempre um ” acordão”, pois na verdade todos que praticam os atos reprováveis têm “telhado de vidro” e assim envergonham o Congresso Nacional sob o olhar resignado do povo brasileiro.

Com efeito, sem uma mudança na estrutura partidária atual, aliada a uma real possibilidade de o eleitor conhecer novos nomes, oferecendo maior visibilidade na campanha daqueles que se socorrem dos pequemos partidos, se laçando como uma nova opção ética, honesta, patriótica, disposta a construir um novo paradigma de moralidade no Congresso Nacional, sempre estaremos reféns daquele enorme grupo de profissionais da política, onde os interesses da sociedade sempre são subjugados pela má-fé vergonhosa que impera no quadro político da nossa pobre democracia.

Portanto, nos resta de forma imperiosa, a mudança, sob pena de relembrarmos a frase de Simone de Beauvoir, filósofa francesa que afirmou “O mais escandaloso nos escândalos é que nos habituamos a eles”.” Reconstruir um alicerce moral e ético na política brasileira é tarefa da sociedade. Refazer um universo democrático que está enfraquecido é, enfim, ter a esperança de reconstruir um Congresso que se encontra em desencanto.

Fernando Rizzolo