Coluna de domingo, 20 de setembro
Candidatos brasileiros não têm ideologia? Mentira: têm ideologia, sim. Veja só, nas próximas eleições, quantos candidatos se definem ideologicamente:
Comunismo – o Partidão, antigo PCB, hoje PPS, lança o ex-governador paulista Luiz Antônio Fleury, quercista convertido ao marxismo, a deputado federal.
Socialismo – Gabriel Chalita, ligado ao ex-governador e sempre candidato Geraldo Alckmin, sai pelo PSB para o Senado ou o Governo paulista, o que oferecerem antes. Chalita juntou o Marx socialista ao Cristo católico da corrente Canção Nova. Antigo tucano, virou amigo de infância de Lurian, filha de Lula, e deve apoiar Dilma contra Serra. E Alckmin, secretário de Serra, de que lado fica?
Ecologia – o PV, de Marina Silva e Gabeira, quer filiar o escritor Paulo Coelho. Coelho sabe tudo de verde, especialmente com a foto de Benjamin Franklin.
Trabalhismo – o PTB, que segue a doutrina trabalhista de Getúlio Vargas e João Goulart, tem novo candidato a deputado em Brasília: o carnavalesco Joãozinho Trinta. O comandante supremo do trabalhismo é hoje Roberto Jefferson.
Qualquer-um-dismo – O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, contratou Duda Mendonça, virou garoto-propaganda no intervalo do Jornal Nacional, conversou com Michel Temer e achou que seria candidato ao Governo paulista pelo PMDB. Aí descobriu que quem manda no PMDB é Quércia e que lá não havia lugar para ele. É um candidato à procura de uma legenda, seja com Lula, seja com Serra.
É uma das eleições mais polarizadas do mundo, em termos ideológicos.
Repicando
Conta-se que, no início da Guerra Fria, por volta de 1948, um jornal francês resolveu narrar a virada do Brasil para a esquerda. O maior Estado, São Paulo, era dirigido pelo Partido Social Progressista, PSP; o país, pelo Partido Social Democrático, PSD, com apoio do Partido Trabalhista Brasileiro, PTB. O PSD era o maior partido do país. O repórter chegou e não entendeu nada. Entrevistou o governador paulista Adhemar de Barros, fortemente conservador, cabeça do PSP. Entendeu menos ainda. Fez a pergunta direta: “E a questão social?”
Resposta de Adhemar, referindo-se à primeira dama: “Isto é com a Leonor”.
A nova esquerda
Chalita, o vereador mais votado de São Paulo, deve entrar no PSB com uma grande festa, no dia 29. Gostaria de levar Alckmin, que sairia para governador, ele para senador. Seria um golpe na candidatura de Serra à Presidência, por reduzir sua base de apoio em São Paulo e limitar sua capacidade de manobra.
Para Alckmin, seria uma novidade: até hoje, só perdeu eleições pelo PSDB.
Marketing multinacional
O PT contratou, para a eleição do ano que vem, dois dos especialistas em campanha que trabalharam para Barack Obama: Ben Self e Scott Goodstein. Sua especialidade: levantamento de fundos e distribuição de propaganda pela Internet. Vão trabalhar junto ao coordenador-geral da Comunicação, João Santana. Não há informações confiáveis sobre o custo da contratação, mas os dois cobram caro. E, a julgar pelo relato de quem acompanhou seu trabalho no caso Obama, ambos valem o preço, por mais alto que seja.
Amigos ou inimigos?
O mundo gira e a Lusitana roda, dizia o anúncio tradicional. E o ministro da Comunicação, Franklin Martins, acaba de ser condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio a pagar indenização de R$ 50 mil ao ex-presidente Collor, por tê-lo chamado, em 2005, de “corrupto, ladrão e chefe de quadrilha”. O curioso é que hoje Collor e Franklin Martins integram o mesmo grupo político, que apóia Lula. Quando inimigos viram amigos e esquecem de retirar os processos, como fica?
Perigo por perto
Depois de amanhã pode ser que a CPI da Petrobras, que até agora não deu em nada, finalmente provoque algum interesse: está marcado o depoimento de Wilson Santarosa, que cuida da Comunicação Institucional – ou, em linguagem mais simples, é quem distribui boa parte da propaganda da empresa. Dependendo das perguntas, pode dar samba. Dependendo das respostas, pode ser muito melhor.
A união faz o preço
Todos estão comemorando a compra do segundo frigorífico brasileiro, o Bertin, pelo JBS Friboi, o maior do país. Juntos, ambos se transformam no maior processador de carnes do mundo, com forte presença no mercado americano; e na terceira empresa brasileira por faturamento (atrás apenas de Petrobras e Vale). O grupo detém marcas como Faixa Azul, Vigor, Danúbio, Minuano, Swift.
E a concorrência? Aí é outra história. Quando formaram a multinacional brasileira de cervejas e refrigerantes, falou-se em redução de preços (pois haveria redução de custos, com a unificação da distribuição, transferência da produção para fábricas mais modernas e mais bem localizadas, etc.). Na prática, a sede da empresa já não está no Brasil, os dirigentes brasileiros moram na Europa, e este colunista não consegue recordar-se de quedas de preços. O que a Economia ensina é que a concorrência derruba preços; sem concorrência, os preços não caem. A união Friboi-Bertin é a segunda no setor. Antes, uniram-se Perdigão e Sadia.
Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
BRASÍLIA – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, disse hoje que o PT prova do próprio remédio ao enfrentar resistências à indicação do advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, para ocupar uma vaga na Corte. “Esse padrão foi estabelecido pelo próprio PT, quando na oposição”.
Mendes fez uma defesa explícita de Toffoli, que, a seu ver, estaria sendo vítima de especulações e constrangimentos indevidos. Toffoli foi condenado em primeira instância pela Justiça do Amapá e tem sido alvo de questionamentos sobre sua experiência e capacidade para o cargo no STF. Mas ministro e senadores ouvidos pelo Estado acreditam que o episódio não afetará a aprovação de Toffoli para o Supremo.
Para o ministro, na condição de advogado militante, é “absolutamente rotineiro” alguém sofrer ações e eventuais condenações na justiça. “Até me surpreende que não tenha havido mais processos.
Segundo o presidente do STF, a condenação, da qual Toffoli já recorreu, não é motivo para o Senado recusar a indicação. “Não atribuo relevo a esse tipo de questão, a não ser que surja fato grave, pois as especulações são naturais”, disse.
Toffoli foi condenado porque o juiz entendeu que a contratação de Toffoli pelo governo do Amapá para atuar nos tribunais superiores de Brasília ocorreu em desacordo com a lei de licitações. Segundo a assessoria do advogado-geral, Toffoli recorreu da sentença.
Segundo Luís Maximiliano Telesca, ex-sócio de Toffoli e também condenado em primeira instância, “a contratação questionada na ação popular foi completamente lícita. Os serviços advocatícios contratados pelo Governo do Amapá junto à empresa Tofolli & Telesca Advogados Associados foram devidamente prestados.”
Mendes disse que o PT, quando na oposição, costumava se associar a setores do Ministério Público para manchar a biografia de adversários políticos escolhidos para o tribunal. “Vivíamos a era do Brasil atrasado”, disse. “É notório que Luiz Francisco de Souza e Guilherme Schelb (procuradores punidos por perseguição política ao ex-ministro Eduardo Jorge), eram braços institucionais do PT”, acusou Mendes, referindo-se aos questionamentos à aptidão de Toffoli para o cargo.
O ministro deu as declarações em entrevista, pouco antes de fazer palestra de encerramento do Congresso Brasiliense de Direito Constitucional, no auditório do Quartel General do Exército.
Para o ministro, porém, o passado está superado e é preciso que o país evolua para um novo padrão civilizatório. Dada a importância do STF, ele defende que o debate sobre a indicação de Toffoli deve se dar em torno do que o candidato pensa sobre questões fundamentais para o país, como o direito à saúde, reforma agrária, união civil entre homossexuais, uso de símbolos religiosos em escolas, aborto, o Mercosul e a política externa.
SENADO
A revelação de que Toffoli tem uma condenação judicial deverá aumentar as resistências à aprovação do nome do atual advogado-geral da União. “Não é algo confortável. Agora, caberá aos senadores decidirem se ele (Toffoli) tem ou não reputação ilibada”, disse ontem o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Segundo ele, Toffoli enviou à CCJ o recurso contra a decisão da Justiça, mostrando que na prática a condenação está suspensa. “Vou encaminhar esse recurso para todos os integrantes da CCJ, que vão verificar se essa condenação derruba a reputação ilibada”, observou Demóstenes.
“Minha posição é de examinar com profundidade e desarmado de preconceitos até o final a indicação de Toffoli. Mas reconheço que há muitos comentários no âmbito do Senado sobre essa indicação”, disse ontem o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). “É uma indicação infeliz. Mais uma trapalhada do presidente Lula que não leva em conta critérios de competência e de notório saber para indicar alguém para o Supremo”, observou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). “E agora até o critério da reputação ilibada não está sendo cumprido, uma vez que ele tem uma condenação”, argumentou tucano.
Toffoli deverá ser sabatinado na CCJ até o fim deste mês. Mesmo com a revelação de que tem uma condenação, Toffoli deverá ter seu nome aprovado com facilidade na CCJ, composta majoritariamente de senadores da tropa de choque do governo. “Só tem chances de haver alguma surpresa no plenário do Senado, onde o governo não consegue controlar os dissidentes. Temos o dever de reagir a esse tipo de indicação, caso contrário estaremos desvalorizando o Supremo”, disse Álvaro Dias.
agencia estado
Rizzolo: É impressionante como alguns setores da sociedade querem desqualificar Toffoli, numa verdadeira perseguição política. Como já mencionei anteriormente em outros comentários, o elenco de acusações, sendo na maioria improcedentes, nos leva a uma reflexão do poder de certos segmentos da sociedade contra o governo. Acusa-lo, desqualificá-lo apenas porque foi advogado de Lula ou que pretensamente teve alguma ligação com o PT, denota a sórdida postura da oposição neste país. Ora se sequer fazer oposição a façam com classe, com argumentos, com urbanidade, nos termos em que critico o governo neste Blog.
Como afirmou Gilmar Mendes, “na condição de advogado militante, “é “absolutamente rotineiro” alguém sofrer ações e eventuais condenações na justiça”. Eu por exemplo nunca sofri eventuais ações na minha vida profissional, mas isso na vida militante jurídica é algo perfeitamente normal. Enfim, entendo que Toffoli preenche todas as condições necessárias para estar no STF, aqueles insistem em desqualifica-lo, persegui-lo, representam o que de mais retrógrado há em termos políticos no Brasil, alem disso de militância na vida jurídica, e de Direito ,nada entendem.