O dinheiro é nosso mas está com eles – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de domingo, 11 de outubro

O Governo Federal injetou dinheiro na economia para combater a crise: reduziu, por exemplo, os impostos de carros, geladeiras e fogões, beneficiando as empresas que os produzem (e, por tabela, garantindo a manutenção dos empregos no setor). Mas, na hora de injetar dinheiro diretamente no bolso do consumidor, sem beneficiar diretamente empresa nenhuma, com a devolução do Imposto de Renda retido a mais na fonte, o Governo atrasa. O atraso já é ruim. Talvez pior que o atraso seja a explicação do ministro da Fazenda, Guido Mantega: o contribuinte não será prejudicado, porque a devolução atrasada terá os juros Selic.

A taxa Selic é aquela que o Governo paga quando vende seus títulos – pouco mais de 8% ao ano. O consumidor que tiver de usar o cheque especial para honrar suas contas, devido ao atraso na devolução do Imposto de Renda que pagou em excesso, vai morrer com mais do que isso por mês. A explicação do Governo, dada pelo professor de Economia Guido Mantega, não resiste à pergunta de qualquer estudante de Economia do primeiro ano (e nem precisa ser daqueles alunos aplicadíssimos): se o Governo paga a taxa Selic sobre os atrasados, por que não vender títulos, pagando a mesmíssima taxa Selic, para devolver o Imposto de Renda na data certa, sem prejudicar os contribuintes que cumpriram seu dever?

Imaginemos a situação oposta: o contribuinte, com doença na família, sem emprego, atrasa o pagamento do Imposto de Renda. Taxa Selic? Não, nada disso: aí há multas pesadas. É o que se chama de igualdade de todos perante a lei.

Segredos oficiais

A maciça campanha publicitária Memórias Reveladas, do Governo Federal, (www.memoriasreveladas.gov.br), pedindo a cada cidadão que tenha documentos sobre os desaparecidos políticos de 1964 a 1985 que os entregue ao Arquivo Nacional, não tem sentido neste momento. O Governo tem arquivos sobre o período, mais ricos que os de qualquer cidadão, que se recusa a abrir. Neles, quase com certeza, há informações valiosas sobre a repressão aos opositores da ditadura. Por que não os abre, permitindo que se escreva a história recente do país? Como diz a propaganda, os parentes dos desaparecidos têm o direito sagrado de enterrar seus mortos. O Governo Federal tem condições de ajudá-los – se quiser.

Quem paga o MST

Se há dúvida sobre a fonte de recursos do MST, é fácil esclarecê-la: a foto do líder do MST, João Pedro Stedile, em carro oficial do Governo do Pará (governado por Ana Júlia, do PT), com a inscrição “uso exclusivo em serviço”, está aqui.

A palavra da Alstom

Com relação a nota publicada nesta coluna no último domingo, a Alstom –multinacional de origem francesa que vem sendo investigada internacionalmente pela suspeita de oferecimento de propinas, parte delas a membros do Governo paulista, à época já controlado pelo PSDB – envia a seguinte carta:

Com relação à nota publicada por Carlos Brickmann em 4 de outubro, a Alstom esclarece que há uma investigação em curso na Suíça, França e Brasil, mas até o momento a empresa não foi indiciada neste processo, o que não justifica o tratamento que vem recebendo.

Especialmente sobre a Argentina, a Alstom como parte integrante do consórcio Veloxia, foi adjudicada em um contrato na Argentina para o fornecimento de um trem de alta velocidade entre as cidades de Buenos Aires, Rosário e Córdoba.

Este contrato, assinado em abril de 2008, é o resultado de um processo de licitação da Secretaría de Transporte de la Nación iniciado em 2006. Em nenhum ponto deste processo a Alstom foi objeto de investigação, denúncias judiciais ou administrativas. Também não recebeu pedidos de informação por parte de nenhuma organização pública e muito menos se negou a dar informações referentes ao objeto desta licitação.

Philippe Delleur – Presidente da Alstom no Brasil

Mas que tem, tem

Mas no caso da Alstom há pelo menos uma denúncia na Argentina, sim: o advogado Ricardo Monner Sans denunciou ao juiz federal Octavio Aráoz de Lamadrid irregularidades em duas linhas ferroviárias de alta velocidade.

Maurício na rede

Vale a pena: Maurício de Souza, o mais popular dos criadores brasileiros de quadrinhos, é entrevistado hoje por Marco Lacerda na Rádio Inconfidência de Minas, às 9 da noite, no programa Frente-Verso. Endereço na Internet em que o programa pode ser ouvido: http://www.inconfidencia.com.br.

Coisa boa – mas que nome!

Um portal israelense se propõe a fornecer qualquer número telefônico ou endereço de e-mail de qualquer lugar do mundo, em 12 idiomas, inclusive o Português. Seu nome (é este mesmo!): Picaphone. Endereço: http://www.picaphone.com.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.