Na Basílica de Aparecida, na grande festa católica da Padroeira do Brasil, o governador paulista José Serra, candidato tucano à Presidência da República, faz um discurso sobre como devem ser os governantes ideais. Em Belém do Pará, na grande procissão católica do Círio de Nazaré, a ministra Dilma Rousseff, candidata petista à Presidência da República, acenava aos eleitores – quer dizer, aos fiéis – e proclamava sua fé. De certa forma lembrando Cristo, postava-se entre a governadora Ana Júlia e o ex-governador Jader Barbalho.
Dilma vive fase de fé. Esteve também, pela primeira vez nas últimas seis décadas, na lavagem das escadas da Igreja do Bonfim, em Salvador. O senador Antônio Carlos Magalhães, que também nunca foi religioso, costumava participar do evento. Mas ninguém o acusará de jamais ter sido sincero em excesso.
A democracia não é santa mas faz milagres. Até agora, ninguém suspeitava de tamanho fervor religioso dos dois principais candidatos. Dos nomes apontados para a Presidência, só a senadora Marina Silva, evangélica, é conhecida como religiosa sincera, militante e praticante. E não usa a religião para conquistar eleitores. Questão de respeito ao eleitor, questão de respeito à religião, que é coisa séria e não deve ser usada como enxada para cavar votos.
E que, como arma eleitoral, nem sempre funciona. O governador Adhemar de Barros dizia que seu candidato à Prefeitura paulistana, Auro Moura Andrade, ganharia “porque Deus quer”. O vitorioso foi o brigadeiro Faria Lima.
Vistoria, enfim
Democracia faz milagre, também, em questões de trabalho. A bilionária obra de transposição do rio São Francisco, anunciada há anos com todas as pompas possíveis como a redenção do Nordeste, enfim recebeu a visita do presidente, da candidata, de políticos, de ministros, de jornalistas. Sejamos justos: não fossem as eleições, ninguém ficaria sabendo como é que estão andando os serviços.
Negócio da China
A Chery, uma das maiores indústrias automobilísticas chinesas, decidiu produzir seus carros no Uruguai, para vendê-los ao Brasil e demais países do Mercosul. Negocia sociedade com a Socma, Sociedad Macri, um dos maiores grupos empresariais argentinos. Um dos sócios do grupo, Mauricio Macri, é prefeito de Buenos Aires e líder da oposição à presidente Cristina Kirchner.
As palavras…
O ministro da Agricultura, Guilherme Cassel, negou no Congresso que seu Ministério destine recursos ao MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, responsável pela recente invasão e atos de vandalismo numa fazenda produtora de laranjas. Só que o Incra, ligado ao Ministério, destinou em 2008 mais de 60% dos recursos repassados em São Paulo à ONG Fepag, ligada ao MST.
…e a foto
No domingo, esta coluna cometeu um engano: informou que o carro oficial utilizado em Belém pelo líder do MST, João Pedro Stedile, tinha sido fornecido pelo Governo estadual do Pará. Na verdade, é do Governo Federal (veja a foto). É dinheiro oficial ou não?
De acordo com os planos
A Câmara Federal decidiu formar uma comissão com o objetivo de acompanhar a organização, as obras e os investimentos referentes aos Jogos Olímpicos do Rio, que se realizarão em 2016. Nada mais esperado: em relação às Olimpíadas e à Copa do Mundo de 2014, tudo será acompanhado por uma comissão.
Boa notícia
A Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado deve votar hoje quatro projetos que tratam de indenização a clientes de empresas aéreas em caso de atrasos, cancelamentos de voos, recusa de embarque e danos a bagagens. Está mais do que na hora de disciplinar o assunto. Um leitor desta coluna, ao chegar aos Estados Unidos e verificar que sua bagagem não o acompanhava, solicitou à empresa que o autorizasse a comprar roupas para os compromissos do dia seguinte. A empresa rejeitou o pedido – para aceitá-lo logo em seguida, autorizando-o a comprar toda a roupa necessária numa loja cara, quando viu que tinha um alto cargo. Já uma passageira comum, que viajou a Tel Aviv pela empresa israelense El Al, está sem bagagem (e sem qualquer indenização) desde abril.
Fogo aéreo
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deve falar hoje na Câmara Federal sobre a transferência de tecnologia na compra de caças para a Aeronáutica. O Governo começou muito afoito, mas agora está fazendo as coisas direitinho: seguindo todos os trâmites, elaborando pareceres, recebendo ofertas, para só então anunciar que os vencedores serão os franceses da Dassault, fabricantes do Rafale.
Dúvida pertinente
Se até o Imposto de Renda é informatizado, por que o Enem é feito em papel, a alto custo? Por que não usar computadores em vez de provas impressas?
Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.