Sim x Sim, Senhor – Coluna Carlos Brickmann

O grande escritor americano Mark Twain dizia que os Estados Unidos tinham o melhor Congresso que o dinheiro podia comprar. Essa frase naturalmente não se aplica ao Brasil: aqui, as palavras “melhor” e “Congresso” não combinam. CPI da Petrobras? Brincadeira: há gente na oposição que prefere ouvir discurso do senador Suplicy a mexer com a grande estatal, ou com empresas que prestam serviços a ela – coisas de campanha, sabe? Venezuela no Mercosul? Há empresas brasileiras que trabalham na Venezuela e têm ligações com diversos partidos – coisas de campanha, sabe? Sarney era contra a entrada da Venezuela no Mercosul, ainda mais depois que Hugo Chávez disse que o Congresso brasileiro estava a serviço dos americanos. Mas, na hora da votação, Sarney foi bonzinho.

A coisa ficou tão fácil que o líder do Governo no Senado, Romero Jucá, está gentil como nunca com as oposições, elogiando até o senador tucano Tasso Jereissati – cujo relatório, que propunha a rejeição da entrada da Venezuela no Mercosul, tinha sido recém-derrotado por 11×6 (a propósito, o relatório alternativo, aceitando a associação com a Venezuela, foi aprovado por 12×5 – o que prova que um senador que se dizia contrário estava louco para votar a favor).

Esqueça, portanto, a tal CPMI do MST. Gente do Governo já informou os parlamentares de que, se quiserem ir fundo, poderá ser modificado o índice de produtividade, o que deixará muitos fazendeiros passíveis de desapropriação. Mas, se o pessoal for flexível, terá recompensa: elogios da bancada governista.

Sim, Senhor x Sim

O grande acerto não é só federal. Os Governos controlados por partidos oposicionistas também não deixam passar CPI nenhuma. De repente, pode acontecer de as coisas fugirem do controle. Tentou-se algo contra a tucana Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, mas ela passou lisa; o peemedebista André Puccinelli, no Mato Grosso do Sul, ameaça estuprar um ministro e fica tudo numa boa. Em São Paulo, Minas, Paraná, esqueçam CPIs: e não é por falta do que investigar.

O escândalo mineiro

Veja essa história mineira: Ricardo Simões, presidente da Copasa, estatal mineira de saneamento básico, fixou seu próprio salário em R$ 36.101,33. Lembra que pessoas pagas pelos cofres públicos não poderiam ganhar mais que os ministros do Supremo? Se lembrou, esqueça, pois há quem ganhe. E não é só Simões: outros dois diretores ganham perto de R$ 30 mil mensais (os outros se contentam com módicos R$ 18.317,79). Os funcionários que foram transferidos para a Caxambu, subsidiária da Copasa, ganham dois salários por mês. Os acionistas estão pedindo uma auditoria. O Governo tucano mineiro de Aécio Neves está quieto.

Os amigos paulistas

Ricardo Simões, o que ganha mais que ministro do Supremo, foi indicado para o cargo por um de seus antecessores, Mauro Ricardo, hoje secretário da Fazenda do Governo tucano paulista de José Serra. Simões já teve problemas com a Justiça por contratar um escritório de advocacia sem licitação. O escritório foi registrado na OAB em 24 de junho de 2005, e o contrato assinado três dias depois. Investigações na Assembléia? Tranquilize-se: Aécio é muito popular por lá.

Lula e o Mensalão

Desta vez quem fala não é ninguém da oposição: é um dos principais líderes do PT, o deputado paulista Arlindo Chinaglia, ex-presidente da Câmara Federal. Chinaglia disse que estava presente na reunião em que o presidente nacional do PT, Roberto Jefferson, revelou ao presidente Lula o esquema de compra de apoio no Congresso, que viria a ser conhecido como Mensalão. A reunião, diz Chinaglia, ocorreu em 2005, quando ele era líder do PT na Câmara. O presidente Lula sempre garantiu, desde que estourou o escândalo, que nunca soube de nada.

O golpe do foro

Está passando discretamente no Congresso uma medida errada e com objetivos pouco confessáveis: o fim do foro privilegiado. Pior: está passando como se fosse algo altamente democrático. Não é: o foro privilegiado (que determina o julgamento das autoridades por instâncias superiores do Judiciário) existe para evitar que a pequena política paroquial contamine a Justiça, e também para que um homem público não seja processado em dezenas de lugares diferentes, o que praticamente impossibilita sua defesa. E, no caso, o objetivo pouco confessável é derrubar as investigações do Supremo sobre o Mensalão. Extinto o foro privilegiado, volta tudo à primeira instância, e perde-se o esforço que o ministro Joaquim Barbosa, do STF, vem fazendo para concluir o processo com presteza.

Milagres eleitoraisO presidente Lula, com a ministra Dilma Rousseff a tiracolo, inaugurou no Rio a reforma da quadra da Mangueira. E Dilma, com aquela ginga toda de mineira agauchada, chegou a beijar a bandeira da Mangueira. Até aí tudo bem.

Mas quem terá conseguido explicar-lhe o que é uma escola de samba?

Companheira Queen

O presidente Lula deve ser recebido na quinta-feira pela rainha Elizabeth, no Palácio de Buckingham, em Londres.