DR. TALI LOEWENTHAL, DIRETOR DO CHABAD RESEARCH UNIT, LONDRES
Existe uma forma confortável e racional de olhar para a vida, que se adequa bem confortavelmente na estrutura normal da consciência. Ela é aceitável. É por isso que “Razão” e racionalidade são frequentemente o tom fundamental da voz da mídia, reivindicando falar por todos, qualquer que seja a mensagem realmente transmitida. Talvez surpreendentemente, a Razão pode também incluir o que nós poderíamos chamar de perspectivas “religiosas” e comportamento corajoso e aparentemente heróico. A pessoa que faz da razão o seu tema pode se dedicar a um ideal e poderia realizar atos extraordinários para aprofundá-lo.
De fato, a Razão também pode usar habilidosamente falsas premissas e levar a conclusões falsas e perigosas. Nas circunstâncias e ambiente certos, a Razão pode levar a abortos e eutanásia em massa, até mesmo ao terrorismo. Os heróis da Revolução Francesa diziam prezar a Razão, mas também organizaram “O Terror” em Paris em 1793-1794 no qual homens, mulheres e crianças da nobreza, assim como milhares de outros, foram assassinados na guilhotina, o que era testemunhado por uma considerável multidão.
Em contraste, existe um conceito judaico de alcançarmos além da razão. Isto não significa “fundamentalismo religioso”. Significa a percepção de que as estruturas lógicas da Razão precisam de orientação que vem de valores absolutos que transcendem cultura, nacionalismo e revolução, tal como a santidade da vida: da vida de todos.
O tema judaico de se alcançar além da razão, significa uma ligação com D’us que está acima do nosso próprio intelecto, e uma consciência de que nossas vidas são baseadas em premissas Divinas: o milagroso em vez do natural.
É intrigante que, dentre as várias interpretações de nossa Parashá (a leitura da Torá de Lech-Lecha, Bereshit 12-17), exista uma apresentação da diferença entre o caminho da Razão e o caminho além dela, explorando o contraste entre os dois filhos de Avraham: Yishmael e Yitzchak.
Sarah, a esposa de Avraham, não era capaz de ter filhos. Como era o costume naquela época, ela deu a ele sua jovem serva egípcia Hagar como concubina, e Yishmael nasceu. Mais tarde na Parashá, D’us disse a Avraham que sua esposa Sarah milagrosamente teria um filho. Ele seria chamado de Yitzchak e seria o verdadeiro herdeiro da mensagem de Avraham ao mundo.
A resposta de Avraham foi: “se pelo menos Yishmael vivesse perante Ti!” [Bereshit 17:18]. Avraham parecia contente em ter somente um filho, Yishmael, desde que aquele filho seguisse um caminho “perante Ti”, um caminho de proximidade com D’us. Mas D’us insistiu que somente Yitzchak fosse seu herdeiro.
O que distingue Yitzchak e Yishmael um do outro? Yishmael nasceu de forma natural, enquanto Yitzchak nasceu de forma milagrosa de uma mãe de 90 anos de idade que já tinha sido estéril. Yishmael foi circuncidado aos 13 anos de idade, uma idade de reconhecimento e compreensão; Yitzchak foi circuncidado aos 8 dias de vida, um estágio anterior ao intelecto e à racionalidade.
Assim, Yishmael é explicado pelos comentaristas como significando a Razão, enquanto Yitzchak expressa a dimensão judaica além da Razão [2]. A ligação de Yishmael com a Razão poderia explicar porque hoje em dia alguns descendentes de Yishmael, na batalha dos vastos territórios árabes contra a minúscula Israel, aparentemente têm a simpatia de um número relativamente grande de pessoas.
A mensagem de Avraham, através de Yitzchak, Yaakov e o Povo Judeu, é a de que todos os seres humano têm um papel potencialmente positivo na criação. Para perceber isto, eles também precisam dar o passo para além do racional, aceitar os padrões e princípios morais absolutos tais como aquele da santidade da vida. Este passo além é o caminho para o futuro.
(Baseado em Likkutei Sichot do Lubavitcher Rebbe vol. 1, pp. 18-22.)
fonte
site Glorinha Cohen
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