Coluna de Domingo
Aécio Neves quer ser presidente da República – pode ser agora, pode ser mais tarde. José Serra quer ser presidente da República – e é agora ou nunca. Este é o cenário da renúncia de Aécio à candidatura: ele tem tempo. E, por abrir o espaço para Serra, espera obter mais vantagens políticas no futuro do que obteria agora.
Serra é candidato: aos 65 anos, esta pode ser a última chance de realizar o sonho de sua vida. Pode até trocar a Presidência pela reeleição em São Paulo, mas não na atual situação, em que as pesquisas lhe dão ampla vantagem. Seu trabalho, agora, é buscar novas alianças e transformar Aécio em seu vice.
E Aécio? Com a renúncia, colocou-se como a noiva desejada e difícil, em condições de impor seus termos ao candidato e ao partido. Pode exigir, por exemplo, um acordo em que Serra aceite um só mandato, e ele seja o candidato em 2014. Pode exigir o comando do partido, hoje formalmente nas mãos de políticos pouco expressivos e, informalmente, exercido pelo ex-presidente Fernando Henrique. No comando do partido, terá condições de buscar novas alianças, incluindo uma que ainda é possível, com o PMDB, e seu tempo de TV.
Para Aécio, é melhor Serra do que qualquer nome do PT. Pois, se o PSDB fica de fora, Aécio pode se preparar para uns 12 anos de exílio político: quatro de quem for eleito, mais oito de Lula, prontinho para tentar o retorno em 2014. Aos 49 anos, Aécio tem tempo para aguentar o mau momento, mesmo que o PT chegue ao poder. O que não tem, nem terá, é paciência para isso.
Liga pra mim
Paulo Skaf, membro do PSB e presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o líder dos socialites socialistas, trabalha para convencer o PT a apoiá-lo na campanha para o Governo paulista. Conversou com o senador Aloízio Mercadante, com o deputado estadual Rui Falcão, o deputado federal Candido Vacarezza, todos figuras importantes do partido; esteve com o presidente Lula. Até agora, o resultado foi o mesmo do movimento “Cansei”, que ele liderou: zero. O PSB o quer como candidato. Só que Edinho Silva, presidente estadual do PT, diz que o PSB é ótimo, mas com Skaf candidato não há chance de acordo.
Tudo de bom
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o colunista chegou ao limite. Esta coluna é a última do ano. Mas, considerando-se que os anos de experiência engrossaram-lhe a pele, é por pouco tempo: no dia 6, primeira quarta-feira de 2010, já deve estar de volta.
Fique feliz: estamos mal
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não é preciso se preocupar com a desvalorização do dólar: o déficit internacional do Brasil cuidará de valorizá-lo (aliás, já o vem elevando). O problema é que Mantega apresenta este déficit internacional, previsto para US$ 40 bilhões em 2010, como uma boa notícia. Não é: significa que o Brasil terá de pegar mais dinheiro emprestado. E muito: é o maior rombo dos últimos 60 anos. Mantega lembra Ciro Gomes, que quando foi ministro da Fazenda e era tucano saudava entusiasmado os déficits comerciais. Depois, foi aquela dificuldade para abater um pouco a dívida.
Regalos para el hermano
O gás boliviano está sobrando: há muitos meses a Petrobras pede menos que a quantidade contratada, embora pague o volume inteiro, pelo contrato. O gás natural produzido no país vem sendo queimado. O consumo é hoje o mesmo de 2005. E o preço acaba de subir: por acordo assinado anteontem, o Brasil vai pagar, até 2019, um adicional de US$ 1,2 bilhão, acertado entre os presidentes Lula e Evo Morales. Afinal, que é um bilhão de dólares para um país que tem tudo? A indústria, que usa o gás, que se vire para manter o custo competitivo.
A lei e o menino Sean
O que estão fazendo com o garoto Sean Goldman, disputado por duas famílias que estão preocupadas com a vitória nos processos e não com o bem-estar do menino, é inacreditável; mais inacreditável ainda é saber que a Justiça brasileira, presa à letra da lei, deixa a solução para mais tarde. Lembrando: Sean é filho de uma brasileira e de um americano. Há alguns anos, a mãe veio com o filho para o Brasil, e daqui informou o marido de que não voltaria. Casou-se de novo; mais tarde, morreu de parto. O garoto é disputado pelos dois viúvos da mãe, o americano (seu pai biológico) e o brasileiro; e não apareceu nenhum Rei Salomão que zele pelos direitos da criança e harmonize as relações entre as famílias. Desta última vez, a Justiça brasileira decidiu devolver o garoto ao pai americano, mas uma liminar o manteve com a família brasileira. Nova solução, só em 2010.
2010, o ano-fantasma
O jornalista Paulo Chedid garante que não haverá 2010. Com chuva, calor e cerveja, há que esperar o Carnaval – e, em seguida, a Semana Santa. Mas como iniciar o ano antes da Copa? E depois da Copa, festejando a vitória ou falando mal de Dunga? Até as eleições, claro. Com segundo turno. A festa dos vitoriosos e as festas de fim de ano – mas que fim de ano, se o ano nem terá começado?
Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.