Charge do Duke para O Tempo

Deslizamentos Sociais

Nos últimos anos, inúmeras foram as formas encontradas pelo ser humano de ir em busca daquilo que chamamos de “bem-estar”. Os avanços nas áreas social e tecnológica, na medicina, na conscientização ecológica e nas maneiras sustentáveis de desenvolvimento levaram a sociedade, como um todo, a uma condição de maior equilíbrio entre o individual e o meio ambiente.

Nos países em desenvolvimento como o Brasil, as mudanças deram-se muito mais em relação aos mecanismos de inclusão social e de distribuição de renda, de acordo com uma visão mercadológica embasada numa visão social-democrata. Contudo, observamos que no Brasil a questão “desenvolvimento” e “meio ambiente” está pautada num conflito cujos programas de base inclusiva social não atingiram até agora conformidade aceitável no que diz respeito à ocupação do solo. Atualmente, o grande problema habitacional, consequência direta do desenvolvimento, faz com que parte da massa trabalhadora ocupe de forma desordenada áreas de risco ambiental, promovendo o desmatamento, cujos resultados são por demais danosos.

Na verdade, a questão habitacional está diretamente ligada a fatores que incluem segurança ambiental, saneamento básico e política de saúde e segurança pública. Os efeitos nocivos da má ocupação do solo, como deslizamentos e inundações, são com frequência muito mais resultado do desenvolvimento desordenado do que de uma política ambiental austera. A falta de um programa habitacional ordenado fez com que grande parte da população urbana procurasse meios de estar mais próxima dos grandes centros, estrangulando assim a viabilidade do Poder Público em atender às demandas sociais de toda sorte em determinadas áreas.

Hoje, a grande questão na implementação de programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida deve ser em termos de acesso às áreas próximas aos grandes centros, que não agridam o meio ambiente e ao mesmo tempo contem com a facilidade dos meios de transporte, saneamento básico e, acima de tudo, o fator distância. Só assim poderemos, de forma cautelosa, projetar um desenvolvimento pautado em respeito à natureza, ao bem-estar social, e trazermos para nós a responsabilidade maior pelos desastres naturais, em vez de sempre apontarmos a natureza e os países desenvolvidos como vilãos das grandes catástrofes. Em suma, se quisermos que as grandes tragédias que têm assolado o país desde o final de 2009 e início de 2010 deixem de acontecer, temos também de fazer a nossa parte.

Fernando Rizzolo

Possível saque faz morador temer deixar casa em Angra

ANGRA DOS REIS – Algumas pessoas que tiveram suas casas condenadas no Morro da Carioca estão se recusando a sair com medo de terem seus bens levados por saqueadores. Muitas residências que já estão vazias com seus moradores em abrigos ou em casa de parentes foram roubadas. Hoje, debaixo de um sol forte e temperatura que chegava aos 40 graus, jovens, mulheres e idosos uniam esforços para retirar aparelhos de televisão, geladeiras, micro-ondas e até armários de suas casas. A Defesa Civil aponta risco em 98 casas ainda ocupadas.

“Tivemos que desocupar porque abriu uma cratera. A próxima chuva vai levar a minha casa, a da minha mãe e a do meu cunhado. O problema é que a gente sai e vêm uns bandidos aqui para saquear. Levaram computador, televisão e objetos pessoais do nosso vizinho. Precisa reforçar o policiamento aqui”, queixou-se o pastor da Assembleia de Deus Carlos Alberto Amaral de Oliveira, 42 anos.

Empregado do Detran, Benedito Marcos Pinheiro Cunha, 36, ainda não recebeu orientação para deixar sua casa. Ela não está na rota das pedras que ainda ameaçam descer da ribanceira que desceu sobre a comunidade. Se, no entanto, a sua residência entrar na lista das interdições, Cunha já decidiu que não vai embora. “Mandei minha mãe e minha irmã para a casa de parentes. Mas eu não saio daqui. Não vou deixar minhas coisas para os bandidos que estão atuando na comunidade. Não aceito que saqueiem a minha casa”, disse.
agencia estado

Rizzolo: As tragédias secundárias que essa catástrofe trouxe são lastimáveis. A grande questão das enchentes, dos deslizamentos, é a falta de vontade política em se resolver o problema. Jogar a culpa na natureza, na questão climática, é nada mais do que uma pobre manobra diversionista que tem por finalidade fazer com que os políticos, se eximem da culpa. O artigo meu acima, traça uma análise sobre esta questão que passa por questões sociais e políticas que devem ser solucionadas com urgência.

Blogs fazem ‘permuta’ para driblar censura

Dois blogueiros censurados pela Justiça de publicar informações sobre casos de escândalos decidiram trocar informações, publicando um a notícia do outro. Dessa forma, conseguiram furar a mordaça imposta por tribunais estaduais sem que fossem executados judicialmente. Os autores da ideia são o jornalista Fábio Pannunzio e a economista Adriana Vandoni.

Desde que foi criada no dia 14 de dezembro, a “permuta de censura” – como foi batizada – já ganhou duas adesões. A última da jornalista Alcinéia Cavalcanti, proibida pela Justiça do Amapá de publicar notícias sobre a família Sarney.

Segundo Pannunzio, jornalista da Rede Bandeirantes que mantém o Blog do Pannunzio, a proposta tem o “objetivo de preservar o interesse público e a liberdade de imprensa”. “Ao mesmo tempo em que respeitamos a decisão dos juízes que nos censuraram, cujas decisões alcançam apenas o que é veiculado em cada um dos blogs, e não de terceiros”, explica.

O Blog do Pannunzio está proibido pela Segunda Vara Cível de Curitiba de veicular notícias sobre Deise Zuqui, uma brasileira investigada pela Polícia Federal por suposto envolvimento com uma quadrilha de traficantes de trabalhadores.

Adriana Vandoni, que mantém o blog Prosa e Política, está proibida pela Justiça de Mato Grosso de publicar informações a respeito do presidente da Assembleia Legislativa local, José Riva, que responde a mais de 100 ações por improbidade administrativa.

No caso do Amapá, os blogueiros lembraram que “ao processar Alcinéa mais de vinte vezes, Sarney, que da tribuna do Senado afirmou que jamais processara um jornalista, transformou-se em pioneiro desse novo tipo de censura, agora decretada por juízes togados”.

Também integra a rede de “permutada de censura” o blog Página do E, mantido pelo jornalista Enock Cavalcanti, também alvo de ação judicial no Mato Grosso.
agencia estado

Rizzolo: Mais importante do que a liberdade de imprensa, entendo ser o respeito a uma decisão judicial. Da forma em que os blogueiros se portam, ludibriando a Justiça, enseja primeiramente uma afronta ao respeito de uma decisão jurisdicional. É claro que a liberdade de imprensa é importante, mas a segurança jurídica, as instituições não podem ser manipuladas. Não concordo com esta postura, que ao meu ver o jornal Estado de São Paulo parece incentivar, prestigiar e aplaudir. Ao meu ver esse é tipo de permuta que se privilegia manobras de blogueiros em detrimento à decisões judiciais, enfraquecem a seriedade do Judiciário que deve ser respeitada por todos nós.