Líder judeu de Roma pressiona papa sobre ‘silêncio’ de Pio 12

PULLELLA – Um líder judeu italiano disse ao papa Bento 16 neste domingo que seu predecessor papa Pio 12 deveria ter se manifestado com mais força contra o Holocausto para mostrar solidariedade aos judeus levados aos “fornos de Auschwitz”.

Os comentários do presidente da comunidade judaica de Roma, Riccardo Pacifici, foram feitos durante a primeira visita do papa à sinagoga de Roma e estão entre os mais explícitos já feitos por um líder judeu em público a um papa.

“O silêncio de Pio 12 antes do Shoah ainda machuca porque alguma coisa deveria ter sido feita”, disse Pacifici ao papa, usando a palavra hebraica para o Holocausto.

“Talvez isso não tivesse impedido os trens da morte, mas teria mandado um sinal, uma palavra de extremo conforto, de solidariedade humana, para aqueles nossos irmãos transportados para os fornos de Auschwitz”, disse ele.

A visita, a terceira de Bento 16 a um templo judaico desde que se tornou papa em 2005, dividiu a comunidade judaica italiana após ele ter dado continuidade ao processo de santificação de Pio 12 no mês passado. Muitos judeus dizem que Pio, que foi papa de 1939 a 1958, não fez o suficiente para ajudar os judeus que enfrentavam a perseguição da Alemanha nazista.

Em seu discurso ao papa, Pacifici prestou homenagem aos católicos italianos, padres e freiras que viveram durante a guerra, e disse que seus esforços fazem o “silêncio” de Pio doer ainda mais.

O Vaticano mantém que Pio 12 não se silenciou durante a guerra, mas que ele preferiu trabalhar nos bastidores, preocupado de que a intervenção pública pudesse piorar a situação tanto para os judeus quanto para os católicos na Europa em guerra.

Em resposta a Pacifici, Bento 16 defendeu as ações da Igreja Católica para ajudar os judeus durante a Segunda Guerra, dizendo que o Vaticano “agiu de maneira discreta e escondida”.

“A própria Sé Apostólica forneceu assistência, muitas vezes de uma maneira escondida e discreta”, disse Bento 16 em seu discurso na sinagoga.

Bento 16 foi recebido por líderes judeus internacionais e de Roma ao chegar na sinagoga às margens do rio Tibre, perto do Vaticano, para começar a visita de duas horas.

Antes de entrar no templo, líderes judeus mostraram ao papa uma placa lembrando a deportação de judeus romanos pelos alemães em 16 de outubro de 1943, e outra em homenagem a um menino de dois anos morto em um ataque armado na sinagoga em 1982.

A visita vem 24 anos após o papa João Paulo ter se tornado o primeiro papa em quase 2 mil anos a entrar em uma sinagoga e chamar os judeus de “nossos amados irmãos mais velhos”.

Grupos judaicos reagiram com raiva no mês passado, quando Bento 16, um alemão que participou da Juventude Hitlerista e do exército alemão enquanto adolescente durante a Segunda Guerra Mundial, aprovou um decreto reconhecendo as “virtudes heroicas” de Pio 12. Pelo menos um rabino e um sobrevivente do Holocausto boicotaram a visita.

Os dois passos remanescentes à santidade de Pio são a beatificação e a canonização, que podem levar muitos anos. Grupos judaicos querem que o processo seja congelado até que os arquivos do Vaticano sejam abertos a estudiosos.

agencia estado

Rizzolo: Bem esse caso é polêmico, e entendo que a Igreja foi omissa. Contudo, acredito que dar uma visão a Pio 12 como sendo um papa humanitário é uma injustiça não apenas com os judeus , mas aos próprios cristãos cuja grande maioria tem capacidade crítica para enxergar os erros do passado. Agora é tentar cada vez mais criar um diálogo entre a Igreja e os judeus, sem que nenhuma decepção histórica abale essa relação construtiva.

Charge do J. Bosco foi para o O Liberal

A Vez das Mulheres

Uma das frases que mais me impressionou em relação à bondade de Deus para com os homens foi numa passagem de um filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami, quando um camponês dizia que “nem a melhor mãe do mundo seria capaz de abastecer uma geladeira com tanta fartura e variedade como Deus o fez na Terra”. Esta frase, de cunho religioso e reflexivo, perdurou durante anos em minha vida.

A imagem da generosidade feminina, do cuidar, do alimentar, do suprir, nos remete a uma maior reflexão sobre o real significado do papel da mulher em nossa sociedade. A magnanimidade da natureza em sustentar os seres vivos parece enfim encontrar sua maior expressão naquela que gera, que luta para alimentar os filhos, que chora, que amamenta e que, acima de tudo, possui um dos maiores dons divinos: o de perdoar. Por muito tempo o papel da mulher se restringiu apenas a cuidar dos filhos, mas, ao longo dos anos, ela passou a suprir a ausência do marido, exercitando, assim – e isso em todas as classes sociais -, uma dupla condição: a de ser mãe e pai ao mesmo tempo.

Certamente, não é de estranhar que em determinadas áreas a participação da mulher ainda é pouca. As novas condições socioeconômicas conquistadas por ela são absorvidas pela essencial e prioritária necessidade do sustento familiar e do bem-estar do núcleo em que vive. Contudo, um novo perfil de mulher está surgindo no âmbito macrossocial: a da mulher participativa, indignada com as questões sociais, questões essas que, de forma indireta, englobam seu cotidiano e a impedem de obter melhor qualidade de vida. Essa nova mulher é politizada, consciente, e faz uso dessa consciência com todos os instrumentos de que dispõe e conceitos adquiridos de sua condição inata de cuidar, assistir e lutar por seus tutelados.

A participação da mulher no cenário político brasileiro é essencial, virtuoso e, acima de tudo, no momento atual, imprescindível, pois só ela, diante de toda divergência administrativa e do pouco-caso dos políticos do nosso país, pode tornar o Congresso Nacional mais cuidador e mais responsável. Afinal, se imitando Deus a mulher brasileira luta com seu trabalho para colocar o máximo de alimento nas geladeiras mais carentes da periferia, todos hão de concordar que esse instinto é o único que pode nos devolver a dignidade esquecida pela maioria dos homens do Congresso, que sempre pensaram em si mesmos e nos seus interesses, jamais se sensibilizando com o que quer que seja ou até sem nunca terem assistido aos filmes de Abbas Kiarostami.

Fernando Rizzolo

*Publicado no Blog da Dilma