Uma caminhada rumo à dignidade

Sempre compartilhei da ideia de que um dos maiores patrimônios que temos na vida é a nossa saúde. Assim, cumprindo as recomendações médicas, levantei cedo, coloquei meus tênis (anti-impacto) e fui caminhar e correr, ou correr e caminhar, como faço quase todos os dias quando estou na praia. Especialmente naquele dia havia muita gente cumprindo as mesmas recomendações e caminhando na orla do Guarujá, litoral paulista. A multidão era grande; enquanto uns iam, outros voltavam com seus trajes diferentes, tênis variados, com o olhar demonstrando cansaço, porém determinado.

Como sou daqueles que preferem pensar em vez de ouvir, não levei meu MP3. Preferi o silêncio das minhas observações à medida que caminhava junto ao mar, desviando vez ou outra das pessoas, muitas das quais não viam a hora de terminar o martírio esportivo. Caminhar e pensar desfrutando do trajeto, analisando a arquitetura dos prédios, observando as pessoas é algo fascinante que aguça nossa capacidade de reflexão, porque sempre há ao longo do caminho atores de situações diversas que acabam participando do percurso não como atletas, mas como vítimas do dia a dia da nossa sociedade.

Naquela manhã, naquele turbilhão de pessoas, observei que em determinado ponto havia um jovem deitado debaixo da pequena fachada de um prédio, provavelmente embriagado – ou drogado, se os leitores assim preferirem. Todavia, a questão é que ele estava bem ali, perdido, desbaratado, maltrapilho, abandonado – uma cena deplorável. Diminuí meu ritmo e tentei adivinhar sua idade, quando cheguei à conclusão de que ele devia ter uns 18 anos. Enquanto a grande maioria das pessoas exercitava sua consciência do ponto de vista da saúde, o jovem de origem humilde estava totalmente à mercê das consequências da miséria, da falta de formação e principalmente da falta de uma política de saúde pública.

Contudo, foi com imensa satisfação que, naquele mesmo dia, ao ler os jornais, tive conhecimento de que o governo federal vai instituir o Comitê Técnico de Saúde para a População em Situação de Rua, que contará com a participação de vários órgãos ligados à saúde, incluindo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Pastoral Nacional da População de Rua e a Organização Médicos Sem Fronteiras. O referido comitê vai propor ações e apresentar subsídios voltados à saúde da população em situação similar à do jovem e elaborar propostas de intervenção conjunta nas diversas instâncias e órgãos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa iniciativa do governo federal faz parte da política nacional para a população de rua instituída pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de um decreto que busca promover todo tipo de direito dessa população. A coordenação do comitê será da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, e os responsáveis pela política serão a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, além de diversos Ministérios.

É fato que, quando falamos em inclusão social, não podemos deixar de ressaltar que muitas vezes incluir significa primeiro tratar, cuidar, e não apenas promover uma renda mínima imediata. Os jovens de rua, os pobres abandonados pelas famílias, os desvalidos, os alcoólatras necessitam de um plano de assistência médica que envolva programas de reinclusão social semelhantes a essa iniciativa do governo, que busquem promover os direitos humanos, civis, políticos, econômicos e sociais dessa população carente.

Desamarrar os tênis, relaxar as pernas já cansadas de correr e observar que estamos avançando na luta contra essa população jovem e perdida nos faz sonhar com o dia em que jovens como aquele estarão enfim valorizando sua saúde, assim como tantos que por ele passavam, muitos dos quais sem lhe dirigir sequer um olhar, talvez muito mais em razão de seus MP3 que pela falta de indignação de ver seres dormindo o sono da desesperança.

Fernando Rizzolo

Charge do Ique para o JB Online

Só notícias ótimas (bom, depende) – Coluna Carlos Brickmann

1 – Amanhã, dia 27, o novo presidente de Honduras, Porfirio Lobo, toma posse. E o presidente do chapéu, Manuel Zelaya, disse que vai deixar a Casa da Mãe Joana, conhecida em outros tempos como Embaixada brasileira em Tegucigalpa. Ao que dizem (se não mudar de ideia), Zelaya vai para a República Dominicana.

2 – Também amanhã, o presidente Lula, que já falou o diabo sobre o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, estará lá. E não poderia faltar: Lula deve receber, depois de amanhã, o prêmio Estadista do Ano.

3 – Está-se realizando, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial, criado (com apoio de Lula e de petistas como Oded Grajew) para se contrapor ao Fórum Econômico Mundial. Se houver tempo, talvez Lula dê uma passadinha por lá.

4 – Parece que o ministro da Justiça, Tarso Genro, que deixa Brasília para candidatar-se ao Governo gaúcho, não conseguiu emplacar o substituto no cargo. Seu favorito era o deputado federal petista José Eduardo Cardozo, uma espécie de Tarso Genro com roupas mais engomadas. Mas quem deve ficar é o atual secretário-executivo do Ministério, Paulo Barreto. Tarso tenta agora manter Cardozo na Secretaria-Geral do PT; mas sua tendência política foi derrotada no partido, e os vencedores, da tendência Construindo um Novo Brasil, querem o cargo.

5 – Um lembrete: Tarso Genro é o ministro de Lula mais comprometido com a concessão de asilo ao italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália e com pedido de extradição. Sem Genro no Governo, como fica o caso?

O social-socialismo

O PSB, Partido Socialista Brasileiro, pergunta à população se votaria em Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Federação das Indústrias de São Paulo, para o Governo paulista. De acordo com o texto rimado do PSB, Skaf trabalha de forma incansável pelo crescimento sustentável. Assim que parar de rir, o leitor pode responder à pergunta no endereço eletrônico http://www.psbsp.org.br.

Ciro de volta

O problema é que Skaf nem sabe se conseguirá ser candidato. Ciro Gomes, seu companheiro de partido, é o favorito do presidente Lula para disputar a sucessão estadual paulista, com a missão específica de incomodar o governador José Serra, candidato à Presidência. Ciro, por enquanto, insiste em candidatar-se à Presidência e não ao Governo paulista. Mas como resistir a um pedido de Lula, ele que até deixou crescer a barba para facilitar sua inclusão no Governo petista?

Poste contra poste

O presidente Lula está pensando em incrementar sua candidata Dilma Rousseff com um vice mais atraente do que o presidente nacional do PMDB, Michel Temer. A opinião geral,no PT, é que a aliança com o PMDB é necessária, porque o partido está espalhado por todo o país e, principalmente, porque seu tempo de televisão é substancioso; mas consideram que Temer não chama votos.

Que não chama, não chama: nas últimas eleições, por pouco sua candidatura a deputado federal não bateu na trave. Mas ninguém, neste momento, tem sua capacidade de unir o PMDB na medida do possível (porque São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Pernambuco vão com Serra, seja Temer ou não o vice de Dilma; e Roberto Requião quer ser ele o candidato). Sem a candidatura de Temer, o PMDB corre o risco de se dividir ainda mais. Neste caso, talvez decida por maioria apoiar Serra, multiplicando seu tempo de TV.

A luta tucana

Na disputa pelo Governo de São Paulo, aparentemente, o candidato já está decidido: é o ex-governador Geraldo Alckmin, que pelas pesquisas ganharia no primeiro turno. Só que não é bem assim: os tucanos que não pertencem ao grupo de Alckmin acham que não apenas ficarão de fora do Governo como serão triturados por ele. Seu candidato preferido é o chefe da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira – que tem votos na convenção mas mal aparece nas pesquisas. Há, porém, uma terceira possibilidade: Serra terá de se afastar do Governo para poder candidatar-se à Presidência, e seu substituto legal é o vice Alberto Goldman. Com a máquina nas mãos, Goldman pode transformar-se em alternativa a Alckmin e sair candidato. De qualquer forma, a disputa deixará cicatrizes.

Ganhar é perder

Aquilo que você vai ler agora é surpreendente: fique bem sentado, portanto, de preferência numa cadeira de braços. O ministro petista da Previdência, José Pimentel, disse à Rede Globo que nenhuma categoria teve aumento real superior à dos aposentados e pensionistas em 2009. Não, não foi no “Casseta&Planeta”, nem no “Zorra Total” – a menos que se considere que, com ministros falando coisas desse tipo, vivemos mesmo numa zorra total. Até o mínimo subiu mais que o pagamento dos aposentados: 9,68% contra 6,14%. Na opinião de Pimentel, expressa na mesma entrevista, só há razão de reclamar das perdas acumuladas entre 1980 e 1990. Sua Excelência deve achar que quem reclama está maluquinho da cabeça – inclusive seu colega de partido, o senador gaúcho Paulo Paim, que julga necessário um aumento de quase 17% só para repor perdas. E, de certa forma, Sua Excelência está certo: alguém está maluquinho da cabeça.

Americana ganha diploma de professora aos 100 anos e morre no dia seguinte

A norte-americana Harriet Richardson Ames formou-se professora em educação aos 100 anos, na última sexta-feira (22) no estado americano de New Hampshire, mas não “aproveitou” o diploma: ela morreu no dia seguinte.

Harriet morreu três semanas depois de completar seu centésimo aniversário, em 2 de janeiro. Ela recebeu o diploma de professora, um velho sono, em sua cama, pouco antes de morrer.

A professora aposentada se disse feliz por ter conseguido seu objetivo, segundo sua filha.

“Ela disse que tinha uma lista de objetivos na vida, e que este era o último”, afirmou a filha, Marjorie Carpenter.
Harriet tinha um certificado de professora que ganhou em 1931, após ter estudado dois anos na Keene Normal School, hoje Keene State College.

Com ele, deu aulas em uma pequena escola em South Newbury, e depois passou 20 anos como diretora de ensino na Memorial School, em Pittsfield.

Ao longo dos anos, ela foi tendo aulas na Universidade de New Hampshire, na Plymouth Teachers College e na Keene State para angariar créditos para conseguir o diploma de curso superior.

Mas, com problemas de vista, ela teve de parar com as aulas depois da aposentadoria, em 1971. Ela nunca teve certeza se tinha obtido os créditos necessários para garantir o diploma.

Seu antigo desejo por se formar oficialmente veio à tona quando um professor de cinema entrevistou-a, em 2008, para um documentário sobre o centenário do colégio, celebrado no ano seguinte.

A escola então resolveu revirar seus registros e descobrir se Harriet tinha direito ao tão desejado diploma. Durante um mês, os responsáveis trabalharam rápido e chegaram à conclusão que sim.

“Ela queria ser o melhor que ela podia ser”, disse Norma Walker, coordenadora de um grupo que reune ex-alunos.

Segundo Norma, Harriet disse, durante uma visita recente que, se morresse no dia seguinte ao dia em que se formasse oficialmente, morreria feliz, porque seu diploma “estava a caminho”.

Os responsáveis da escola entregaram o diploma a Harriet em sua cama, na última sexta.

Norma, que conheceu Harriet em 1997 em um encontro de ex-alunos, disse que gostava de ouvir a idosa falar sobre seus alunos e sobre como ela os encorajava a ler.

“Ela é o tipo de pessoa que todo pais gostaria de ter como professora de seus filhos”, disse Norma.

Norma afirmou que vai ler o conteúdo do diploma de Harriet durante suas cerimônias fúnebres, no próximo sábado. “Isso se eu não chorar”, disse.

Paula Finnegan Dickinson, ex-aluna de Harriet em 1956 e hoje também professora, lembra da idosa como uma mentora e uma amiga querida.

“Com seu entusiasmo, os personagens dos livros viviam”, disse. “Ela nos mostrou como a leitura abria as portas para outras experiências que nós jamais teríamos conhecido.”
Globo

Rizzolo: Dessa notícia podemos inferir que a determinação na consecução de um sonho nunca deve ser perdida. Entendo que não há nada mais gratificante do que a instrução, a cultura, a oportunidade de aprender. Seja ele qual for seu sonho, ele deve ser perseguido com a determinação de um caçador. Infelizmente no Brasil ainda os sonhos de muita gente ainda não podem ser realizados, principalmente no tocante à educação, ao ensino superior, até porque as vagas são limitadas nas Universidades Públicas, e nas particulares, muitos não podem arcar com as mensalidades. É bem verdade que no governo Lula muito melhorou, mas ainda falta por demais a fazer para que o sonho do diploma de nível superior seja alcançado.