Tarifa do Metrô em SP é mais cara que na Argentina, Chile e México

Além de pagar mais caro pela passagem por um metrô de pequena extensão, a população de São Paulo tem o sistema mais lotado do mundo

O preço da passagem do metrô de São Paulo é o maior entre as metrópoles da América Latina. Enquanto em São Paulo o bilhete unitário custa R$ 2,65, em Santiago, no Chile, a passagem é R$ 1,58; em Buenos Aires, na Argentina, R$ 0,51; e, na Cidade do México, R$ 0,28.

A comparação foi feita pelo jornal Brasil de Fato, com a cotação de 22 de fevereiro.

Na última segunda-feira foi realizada, no Auditório Teotônio Vilela da Assembléia Legislativa, uma audiência pública sobre o aumento das tarifas de transporte coletivo em São Paulo.

A tarifa do metrô da capital, que já era absurdos R$ 2,55, subiu no início de fevereiro para os atuais R$ 2,65. A de ônibus foi de R$ 2,30 para R$ 2,70 também este ano.

Os organizadores convidaram o secretário Estadual dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, e o secretário Municipal para explicar os motivos dos aumentos. Nenhum dos dois compareceu, nem mandou representantes nem justificativas para o fato de a população de São Paulo pagar mais caro do que os vizinhos da América Latina.

Rede pequena

O metrô de São Paulo tem 62,3 km, sendo que o governo tucano a 16 anos no estado construiu 28,2 km. A população da cidade é de 11 milhões de pessoas. Santiago tem 84,4 km de metrô com uma população de 5,5 milhões e a Cidade do México 202 km de metrô com uma população de 8,72 milhões no município e 19 milhões de habitantes quando incluída a região metropolitana. Se comparado com as principais metrópoles de todo o mundo, a rede do metrô paulista é ainda menor.

Está, hoje, na 44ª posição no ranking “World Metro Database”, elaborado por Jordi Serradell, John Kennes e Mike Rohde (http://mic-ro.com/metro/table.html) com os 176 metrôs do mundo.

Comparar o sistema de São Paulo com o de Moscou (em 5º com 298.8 km de extensão), de Pequim (em 8º com 227.6 km), de Paris, Londres ou Washingtoné uma vergonha. Mas a capital paulista está atrás de Singapura (em 19º com 118.9 km) e, vejam só, Kuala Lumpur (em 41º com 64.0 km).

Aliás, o metrô malásio assumiu a posição paulistana no ranking. Até setembro do ano passado, São Paulo estava em 41º lugar. Caiu, portanto três posições.

2070

“Entre as grandes capitais do mundo, a rede só é maior que a de Buenos Aires, mas transporta quatro vezes mais passageiros por quilômetro instalado”, ressalta o documento da Bancada do PT na Assembléia Legislativa que avalia a gestão tucana no Estado.

A conta é que, em 15 anos, “o metrô avançou apenas 18,9 quilômetros, o que dá uma média de crescimento de apenas 1,26 quilômetros ao ano. Quando forem inauguradas a Linha 4 –Amarela e o prolongamento da Linha 2 – Verde, a rede contará com 78 quilômetros, o que dará um crescimento médio de 2,3 quilômetros ao ano em 2010, a contar de 1995. Se mantida essa média, para o metrô paulista chegar aos 200 quilômetros levará mais 60 anos, ou seja, em 2070”.

LOTAÇÃO

Além de pagar mais caro pela passagem com uma quilometragem reduzida, a população de São Paulo enfrenta o metrô mais lotado do mundo, de acordo com a Comunidade de Metrôs (CoMET), a organização que reúne os 11 principais sistemas de transporte sobre trilho do mundo.

O sistema paulistano transporta 10 milhões de passageiros por quilômetro de linha. Nos horários de pico, os vagões recebem até 8,6 passageiros por metro quadrado. Segundo a norma internacional, o suportável é de 6 passageiros por metro quadrado.

Enquanto não investe o suficiente para ampliar a rede a ponto de oferecer um transporte de qualidade, como já foi o metrô de São Paulo, o governo do Estado toma medidas, como o que foi apelidado de “cercadinho”, para “organizar” a multidão.

“É assim”, explicou o jornalista Paulo Henrique Amorim, “o pobre chega à estação. Pensa que, por se tratar de uma estação do metrô, ele vai se aproximar da plataforma, esperar o trem chegar, pegar o trem e ir trabalhar. Não, com os tucanos, não é assim que funciona. O pobre chega de manhã e entra num ‘cercadinho’. E fica lá. No ‘cercadinho’. Em lugar de ficar um colado no outro, a se empurrar na beira da plataforma, agora fica todo mundo colado, a se empurrar, mas no ‘cercadinho’”.

MARIANA MOURA
Hora do Povo

Rizzolo: Realmente o preço da tarifa do metro de São Paulo é um absurdo. Não é possível que o pobre trabalhador tenha que arcar com custos de passagem desse monte, e ainda ter o desconforto do trem superlotado. O pior é que numa democracia como a nossa, o secretário Estadual dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, e o secretário Municipal ainda se dão ao luxo de nem sequer comparecer a dar esclarecimentos. Será esse o modo tucano de se resolver os problemas, fugindo?

” Chega de exploração e rolo, para Deputado Federal Fernando Rizzolo 3318 “

Um sonho apagado, um talento esquecido

Por entre camelôs, numa calçada estreita, eu tentava caminhar em direção à avenida Dr. Arnaldo. Dia quente, desviava das pessoas como quem pratica um tipo de dança, num movimento de ombro com passos rápidos. O cheiro vindo dos bares na hora do almoço prenunciava que já devia ser por volta do meio-dia. No ponto de ônibus, o olhar das pessoas tinha algo de triste; gente pobre, balconistas, vendedoras, que num misto de amargura e resignação se enquadravam naquele cenário agitado, como atores a denunciar o desgaste do trabalho do dia a dia, as pressões do emprego, o medo da miséria, desses medos que sempre rondam as esperas dos ônibus dos trabalhadores como numa música pensante repetitiva.

Foi bem ali que ouvi alguém me chamar pelo nome, na subida da Teodoro Sampaio, já bem próximo do Hospital das Clínicas. “Dr. Fernando!” Olhei para trás e vi um rosto conhecido, familiar, porém bem envelhecido. Negro, cabelos brancos, malvestido, olhar hesitante, o homem me olhou e disse: “Sou o Roque. Lembra-se de mim? Trabalhei no sítio. Sou filho da Dona Geni, que foi cozinheira de vocês”. Meio constrangido, aproximei-me dele e pude constatar que se tratava mesmo do Roque. Estava ali encostado, ao lado de um bar, numa condição física e psicológica deplorável. Sim, era o Roque, amigo de infância, filho da caseira, que costumava andar a cavalo comigo, rir dos cachorros que nos seguiam e que sempre dizia que seria agrônomo ou veterinário.

Tentei conversar um pouco com ele, mas na mesma hora percebi o que o tempo, o abandono e a falta de oportunidade fizeram de um jovem que eu não via havia trinta anos. Logo após o falecimento da mãe, Roque desapareceu. Na época tinha 14 anos. Foi tentar a vida no Paraná, mas, como acontece com a maioria dos jovens pobres, nada deu certo em sua vida. Parou de estudar, foi trabalhar numa oficina, não tinha profissão definida, foi jogado no mercado de trabalho vivendo de serviços simples, de biscates que mal davam para se sustentar.

Roque entregou-se à bebida, perdeu a dignidade. E, na pobre condição de negro, deixou seus sonhos para trás – estava desempregado e literalmente bêbado. O impacto dessa desventura, desse desalento social, absorvi naquele momento, quando de repente o ouvi chamar meu nome. Foi ali, naquele instante, que percebi quanto é importante um jovem ser assistido, ter acesso à educação, à profissionalização, a um Bolsa Família que garanta à criança a educação básica, a real oportunidade de integrar os jovens aos programas de inclusão social, de protegê-los da desesperança e de promover a construção de seus sonhos através de programas como o ProUni, entre outros, levando-os até a universidade.

Na verdade, naquele momento, diante daquele cenário, eu tinha pouco a falar com Roque. Apenas lancei a ele um olhar como quem lamenta por seu caminho, ofereci-lhe ajuda e dei-lhe um cartão meu. Num gesto lento, ele estendeu a mão trêmula e disse: “Estou sempre aqui. As pessoas me ajudam”. Em seguida, numa voz embargada, completou a frase, perguntando-me com um sorriso triste: “E os cachorros que seguiam os cavalos, você se lembra?”. Meio desconcertado, balancei a cabeça afirmativamente e depois me despedi. Continuei meu caminho e por um instante me desconectei do tempo. Numa marcha acelerada, me dei conta de que os cachorros já haviam morrido, os cavalos tinham sido vendidos e o menino Roque, amigo de cavalgadas, não existia mais.

Foram três quarteirões até a Dr. Arnaldo, uma ladeira e tanto. Durante o trajeto, tentei desviar das pessoas o tempo todo, mas o destino me fez trombar com meu passado, jogando-me na cara aquilo que sempre me indignou: ver jovens com sonhos apagados e talentos esquecidos, jogados numa esquina qualquer, perto de um bar, longe da esperança de uma vida justa, digna e cidadã.

Fernando Rizzolo
Artigo publicado no Blog da Dilma