RIO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, em discurso na inauguração de um centro esportivo da Rocinha, no Rio, que existem bandidos em favelas, mas também em outros lugares. “É verdade que na Rocinha deve ter algum bandido. É verdade que deve ter algum bandido no Pavãozinho. Mas quem disse que não tem bandido nos prédios chiques de Copacabana?”, disse Lula.
De acordo com o presidente, é grave o preconceito com os pobres. Ele considera que, quando as pessoas têm oportunidades, não seguem o caminho do crime. Lula afirmou que o centro esportivo gera possibilidade de crianças se afastarem das ruas e se tornarem atletas.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, lembrou que hoje é o Dia Internacional da Mulher e fez uma homenagem “às mulheres que lutam para manter seus filhos longe do tráfico e do crime”. Dilma foi muito aplaudida ao chegar à cerimônia e saudada com gritos de “Rocinha presente, Dilma presidente”.
No grupo de pessoas que saudava Dilma, muitos estavam vestidos com uma camiseta que foi distribuída no local com os nomes de Lula e o governador do Rio, Sérgio Cabral, na frente, e do vereador Claudinho da Academia atrás. O vereador foi denunciado pelo Ministério Público no início deste ano por suspeita de ter tido ajuda do tráfico na Rocinha em sua eleição.
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Rizzolo: O grande erro da sociedade é entender que nas favelas habitam apenas marginais. Essa é a essência do preconceito da sociedade contra os menos favorecidos, os pobres e os abandonados. É claro que o poder público tem a obrigação de punir o tráfico, a bandidagem, por outro lado existe também um contingente de mães, pais, que educam seus filhos nas favelas para que não caiam nas garras dos traficantes.
Isso se faz com inclusão, oportunidade, na luta contra a miséria e com um governo de viés inclusivo na promoção de projetos de inclusão. Agora que existe um enorme preconceito com aqueles que vivem nas favelas do Brasil não resta a menor dúvida, porém os grandes bandidos lá não estão e todos nós sabemos aonde encontrá-los.
LONDRES – As mulheres na chefia já não são algo estranho no mundo corporativo, onde as principais empresas consideram um “dever” aplicar programas que garantam a igualdade de gênero e a diversidade.
A incorporação de horários flexíveis de trabalho, licenças-maternidade e redes de mulheres virou norma em muitos setores.
Mas a diversidade de gênero no mundo dos grandes negócios gera a ilusão de que os problemas estão “resolvidos”, o que torna mais difícil detectar a discriminação sutil e até pode afetar as mulheres jovens em início de carreira.
“As mais jovens têm problemas para se conectar com as redes de mulheres no local de trabalho porque as consideram algo pertencente à geração de suas mães”, disse Elisabeth Kelan, professora do Departamento de Trabalho e Organizações do Kings College, em Londres.
Kelan descreve essa situação como “fadiga de gênero”, que implica que as pessoas no local de trabalho não têm energia para lidar com algo que já não veem como um problema.
A pesquisa que realizou para escrever o livro “Performing Gender at Work” concluiu que as mulheres jovens não estavam comprometidas com as redes femininas porque muitas as consideravam meros “clubes para se queixar”.
“Isto faz com que estejam privadas de dar sua opinião e que não tenham espaço onde debater os problemas de gênero que sofrem no trabalho”, acrescentou.
As empresas fizeram grandes esforços para combater a discriminação de gênero mediante a nomeação de funcionários dedicados ao tema da diversidade e a criação de programas que elevaram a igualdade entre os sexos.
Mas as mulheres seguem sendo minoria nos postos mais altos e têm dificuldades para manter seu status na carreira depois de ter filhos.
Alison Maitland, coautora junto com Avivah Wittenberg-Cox do livro “Why Women Mean Business”, diz que a discriminação frequente e repetidamente é inconsciente até que as pessoas se deem conta.
“Está enraizada no sistema, as expectativas e as atitudes nas organizações que foram projetadas e construídas por homens em outra época, quando eles eram a fonte de renda primária — e muitas vezes única — na família”, disse Maitland, que é diretora da Junta do Conselho Europeu para a Diversidade no Trabalho.
Maitland crê que a chave para a mudança é o surgimento de líderes comprometidos nos postos corporativos mais altos que compreendam que o equilíbrio de gênero é um tema de negócios, não uma questão que as mulheres devam “resolver.”
Os programas de diversidade são bons para centrar a atenção no tema de gênero, mas não são suficientes por si só, disseram especialistas.
“Não consideramos a diversidade de gênero como um adendo”, disse Jim Wall, presidente executivo de diversidade e gerente de talentos da Deloitte Touche Tohmatsu.
“Se está agregado, não é efetivo. Com esse enfoque particular, produz-se uma rápida adoção de um programa sem mudar o contexto geral da organização. Não é sustentável,” opinou.
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Rizzolo: A luta das mulheres por melhores condições de trabalho, salário, emprego jamais terminará. A forma na condução dessa luta será diversa e terá como aliada os novos meios de comunicação e pressão política que estes poderão fazer. Nesse dia Internacional da mulher, pensei numa forma de homenagear as mulheres. Lembrei-me dos meus primeiros anos de vida, minha mãe, minha avó, uma baba negra que cuidou de mim até os meus 9 anos, enfim todas as mulheres que influenciaram minha formação e tiveram no olhar a doçura, o amor, e a compreensão. Sei que em todas as mulheres existem esses dons, e hoje é um dia especial para eu dizer obrigado a todas as mulheres do Brasil.
BRASÍLIA – Debatedores contrários às cotas raciais no ensino superior público defenderam que a ideia de raça não é fator necessário para a concessão de direitos. O juiz da 2ª Vara Federal de Florianópolis Carlos Alberto da Costa Dias avaliou o sistema de reserva não pode ser visto como uma espécie de “solução mágica de problemas” e como uma alternativa “simplista” diante do quadro de desigualdade no país. Ele participou nesta sexta-feira, 4, do último dia da audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre políticas afirmativas para a reserva de vagas no ensino superior.
Para o magistrado, usar o fato de ser negro como critério consiste em uma medida “discriminatória e estigmatizante”. “A instituição das cotas transforma o Judiciário em árbitro segundo um critério artificial: o fenótipo, sendo que a Constituição proíbe a discriminação em função da cor. Se o STF vier a decidir que o critério raça é prevalente, vai criar um paradoxo sobre a própria discriminação racial. O sujeito que não tiver a cor certa vai perder um lugar na universidade.”
Para o representante do Movimento Negro Socialista, José Carlos Miranda, a luta a ser traçada no país não é apenas contra o racismo mas também contra o “racialismo”. Ele destacou que a história não é feita por homens de uma cor ou de outra e que insistir nessa ideia é acreditar em uma espécie de “romantismo histórico”.
“É retrógrada a ideia de classificação racial. Continuamos confiantes na força do povo trabalhador brasileiro e com a convicção de que, por meio dessa força, as imensas desigualdades serão superadas”, afirmou. “A defesa do sistema de cotas só é possível para os que desistiram da verdadeira luta pela igualdade. A força deve estar no caráter e não na cor da pele”, finalizou.
A representante do Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro (MPMB) e da Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia (Acra), Helderli Alves, avaliou que as cotas raciais específicas para negros não representam uma ação afirmativa, uma vez que não combate a discriminação racial e nem os efeitos de discriminações passadas.
Rizzolo: Sinceramente é triste inferir que depois de tanto sofrimento em virtude da escravidão, de tanto sofrimento em carregar um estigma preconceituoso por parte de uma elite branca, alguns negros se prestam a descaracterizar ações afirmativas já utilizadas em países desenvolvidos sob um discurso pobre, vazio, e que atenta aos interesses dos oprimidos cidadãos negros deste país. Alegar que o negro não deve ser alvo de ações que visem reparar uma dívida social histórica, é no mínimo ser insensível, e namorar com um passado onde a chibata ditava as ordens.