Chegou a hora do bateu, levou – Coluna Carlos Brickmann

Os Estados Unidos são tradicionais aliados do Brasil, na guerra e na paz. Mas o suco de laranja brasileiro continua sendo encarecido, no mercado americano, por sobretaxas imensas. Os brasileiros só conseguem entrar lá porque nossa produção de laranjas é altamente competitiva. Mesmo assim, os grandes produtores daqui compram plantações e fábricas na Florida para escapar das sobretaxas.

O álcool brasileiro não consegue entrar nos Estados Unidos: uma enorme sobretaxa protege os produtores americanos de álcool de milho (que neste momento é até mais barato, mas que normalmente tem custo mais alto).

Há vários casos, na agricultura e na indústria. Mas o comportamento americano no caso do algodão foi tão exemplar, em termos de competição injusta, que a Organização Mundial do Comércio, OMC, autorizou o Brasil a retaliar produtos americanos, impondo-lhes sobretaxas punitivas. Pronto: começou a choradeira. O Financial Times acusa o Brasil de “arriscar uma guerra comercial com os EUA”. Não, não é guerra: apenas se aplica a decisão de um órgão internacional de comércio. Os americanos bateram à vontade; chegou a hora de levar de volta.

O Brasil está sendo prudente: as cobranças começam mais tarde, para dar tempo aos EUA de negociar, desistir das práticas desleais, oferecer compensações – nada de excessivo, apenas a aplicação daquilo que os Estados Unidos sempre defenderam, o livre comércio. É hora de conversar. Mas, para usar a linguagem de um presidente americano, mantendo o porrete ao alcance da mão.

Mudando de conversa

Os americanos aceitam e entendem a negociação dura. Tão logo o Brasil mostrou sua disposição de aplicar as retaliações autorizadas pela OMC, enviaram para cá o secretário do Comércio, Gary Locke, e o assessor de segurança nacional, Michael Froman. Eles estão mostrando os dentes, mas faz parte do jogo: os exportadores americanos que temem perder mercado também têm dentes a mostrar.

Olha a Bancoop aí!

O caso Bancoop, a Cooperativa dos Bancários que está sob investigação do Ministério Público por suspeita de desvio de verbas (que teriam sido usadas, suspeita o promotor José Carlos Blatt, no financiamento de campanha do PT), tem um detalhe que até agora não ganhou destaque: na época em que a Bancoop era dirigida por Ricardo Berzoini, o presidente Lula conseguiu financiamento para comprar seu apartamento no Guarujá. Outros cardeais petistas também puderam comprar seus imóveis. Ótimo; mas há muita gente que pagou e nada recebeu.

De palavra em palavra

O senador Tasso Jereissati, cacique cearense do PSDB, diz que não aguenta mais esperar a definição de Serra. Tudo bem, a indefinição do governador paulista é suficiente para transformar a festa de lançamento de sua candidatura à Presidência, algum dia desses, num evento com música de câmara regado a Ki-Suco. Mas não é isso que preocupa Tasso: em 2002 e 2006 ele já abandonou os candidatos de seu partido para ficar ao lado de Ciro Gomes, aliado no Ceará. Por que iria, agora, abandonar a família Gomes? Qualquer pretexto lhe serviria.

Aécio em manobra

O presidente Lula continua sendo o político mais hábil do país. Esperou o governador mineiro Aécio Neves a tomar posições irreversíveis (se bem que, como ensinou o senador Aloízio Mercadante, o irreversível também pode ser revertido) contra a participação na chapa de José Serra. A questão chegou a ser colocada, no principal jornal mineiro, como uma disputa de honra entre Minas e São Paulo. Concluída a manobra de Aécio, Lula entrou no jogo: está unificando suas forças em Minas, retirando os candidatos do PT que disputavam a sigla, convencendo-os a apoiar o peemedebista Hélio Costa para o Governo. Se tudo der certo, o candidato de Aécio à sucessão, Antônio Anastasia, fica ainda mais longe da vitória do que já está. E Aécio, que contava com eleição garantida ao Senado, continua favorito, mas com dificuldades – ainda mais se José Alencar sair candidato.

Hebe, a grande Hebe

Retorno triunfal é isso aí: o programa em que Hebe Camargo voltou à TV, depois de uma parada para tratamento de câncer, foi excelente. Mostrou Hebe em grande forma, animadíssima, falando tranquilamente de sua doença e mostrando que tem vigor para enfrentá-la. Mostrou astros e estrelas que não se incomodaram em ser coadjuvantes da Estrela-Rainha: Marília Gabriela, Ivete Sangalo, Xuxa, Ana Maria Braga, Maria Rita, Leonardo, Carlos Alberto de Nóbrega (que não conseguiu falar: chorou feito criança, ele que foi criado ao lado da Madrinha). E o rei Roberto Carlos, que foi apadrinhado por Hebe quando a Record o demitiu e extinguiu o programa Jovem Guarda, e a partir daí só cresceu.

Em Les Prémices, Henri Estienne lançou sua frase célebre: “Se a juventude soubesse, se a velhice pudesse…” Hebe sabe. Hebe pode.

Atraso, que nada!

Repare: os estádios pertencentes ao Poder Público ainda nem lançaram as licitações para adequar-se às exigências da Fifa. Atraso? Nada disso: quando não houver tempo para licitações, saem os contratos de emergência. Eta, coisa boa!

Parlamentares defendem mulher na disputa eleitoral

BRASÍLIA – Uma sessão festiva do Congresso em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, que teve como estrela a ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, virou uma solenidade em defesa de uma candidatura feminina nas eleições presidenciais de outubro e de repúdio a declarações consideradas machistas do jogador do Flamengo Bruno.

Na solenidade realizada hoje, Dilma ouviu parlamentares defenderem a candidatura de uma mulher e se queixarem que o atacante Adriano teria batido na namorada Joana Machado. As parlamentares também reclamaram que o goleiro Bruno saiu em defesa do colega de time – ele questionou: “Quem nunca brigou ou até saiu na mão com a mulher?” O goleiro, depois, pediu desculpas pela declaração. “Adriano e Bruno, não façam mais isso”, disse a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), sem cobrar punição.

Em discurso, Dilma evitou a polêmica envolvendo os flamenguistas e aproveitou para expor, de forma discreta, sua plataforma de campanha para o eleitorado feminino. A ministra avaliou que as mulheres são aptas a assumir postos importantes no jogo político e na administração pública porque são “sensíveis”, “práticas” e “sensatas”. “Elas são fortes e não se curvam à dor, são corajosas”, afirmou. “Sempre me perguntam se uma mulher está preparada para assumir a Presidência da República. Eu respondo que o Brasil está preparado para ter uma mulher presidente e as mulheres estão preparadas.”

Sentada à mesa ao lado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Dilma informou que o governo incluirá no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2, que será lançado dia 29, a meta de construir seis mil creches nos próximos três anos. A ministra reconheceu que as 1.788 creches construídas pelo atual governo não atendem a grande demanda.

Ela defendeu maior atenção às grávidas. “A maternidade é usada para desqualificar a mulher”, afirmou. “Devemos proteger as mulheres grávidas e seus filhos.” No momento, está em tramitação na Câmara uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que torna obrigatória a licença maternidade de seis meses. Ao comentar sobre a violência contra mulheres, Dilma disse que o governo não estuda qualquer alteração na Lei Maria da Penha, que prevê punições para agressores de mulheres.

Marina Silva

A senadora e pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva (AC), presente na sessão, se sentou numa das últimas fileiras do plenário. Só depois que Dilma se retirou, Marina subiu à tribuna para discursar. Ela falou sobre sua trajetória política e se queixou do PT. “A razão pela qual saí do partido foi a mesma pela qual fiquei nele durante 30 anos: a defesa da minha causa”, disse. “A minha causa é a defesa de uma sociedade culturalmente mais diversa, politicamente mais democrática e socialmente mais justa.”

A sessão do Congresso também homenageou a cantora Leci Brandão, a psiquiatra Maria Augusta Tibiriça Miranda, a prefeita de Salgueiro (PE), Cleuza do Nascimento, a advogada Andréa Maciel Pachá, a engenheira Clara Steinberg, a ex-secretária municipal da Criança de Curitiba Fani Lerner (falecida) e a criadora da Fundação de Promoção Social de Mato Grosso, Maria Lygia de Borges.
agência estado

Rizzolo: As mulheres no Brasil estão participando mais da vida política e econômica. Basta dizer que na área jurídica representam já 50 % ou mais, não é por acaso que a candidatura de Dilma é bem vista pela vasta população feminina neste Brasil. Eu pessoalmente entendo que as mulheres devem sim participar cada vez mais da vida pública, pois com certeza sabem gerir a rés pública de melhor forma.

Retaliação brasileira ameaça levar a guerra comercial com EUA, diz ‘FT’

A decisão do Brasil de aumentar as tarifas de importação de produtos americanos, após uma autorização da Organização Mundial do Comércio (OMC), ameaça provocar uma guerra comercial entre os dois países, afirma nesta terça-feira o diário econômico britânico Financial Times.

O governo brasileiro anunciou na segunda-feira uma lista de 102 produtos americanos que deverão ter sua tarifa elevada, totalizando cerca de US$ 591 milhões em sobretaxas.

A medida foi anunciada após uma decisão favorável da OMC ao Brasil sobre uma disputa em relação aos subsídios pagos pelo governo americano aos seus produtores de algodão. A OMC autorizou o Brasil a impor até US$ 829 milhões em sobretaxas.

A medida deve entrar em vigor no próximo mês, mas o governo americano espera conseguir um acordo nos próximos 30 dias para revertê-la.

Discussões

O Financial Times observa que a questão deverá ser objeto de discussões entre as autoridades brasileiras e o secretário de Comércio americano, Gary Locke, e o assessor adjunto de segurança nacional para assuntos econômicos, Michael Froman, que chegam ao Brasil nesta terça-feira.

“O Brasil deixou claro que está aberto a um acordo antes de as novas tarifas entrarem em vigor, mas as autoridades enfatizaram que qualquer acordo deverá ser aplicado especificamente ao algodão. Uma possibilidade pode envolver transferência de tecnologia dos Estados Unidos para os produtores de algodão brasileiros”, diz o jornal.

Mas a reportagem observa que é incerta a margem de manobra do governo americano para negociações, já que alterações significativas no programa de subsídios ao algodão demandariam mudanças na legislação agrícola.

“Conseguir a aprovação do Congresso poderia ser difícil”, diz o jornal.

Reação

Em outro texto, o Financial Times comenta que “cada vez mais os parceiros comerciais dos Estados Unidos reagem à pressão”.

Apesar disso, o jornal observa que as economias dos Estados Unidos e do Brasil “são menos dependentes do comércio do que os investidores podem temer”.

A reportagem cita um levantamento da Economist Intelligence Unit segundo o qual as exportações de bens e serviços do Brasil representam apenas 14% do PIB, em comparação com 40% no Chile e na China e 30% no México. A proporção das importações, mesmo tendo dobrado desde 1990, ainda é de apenas 13% do PIB.

Do outro lado, para os Estados Unidos o Brasil representou apenas 2,5% de suas exportações de bens no ano passado.
globo

Rizzolo: Uma guerra comercial não interessa a ninguém, principalmente ao nosso país. O Brasil tem direito de fazer o que fez, mas, na verdade, deveria levantar o fantasma da retaliação para que ela não ocorra. O ideal é que ela não aconteça, porque os produtos em geral poderão ficarmais caros no supermercado. E vai afetar o trigo também. Por causa da crise na Argentina, o Brasil passou a comprar mais dos Estados Unidos. Com o aumento da taxa de importação, vários itens serão afetados, como o pãozinho.