“Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos … aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza.” Albert Einstein (físico, Nobel 1921)
*POR FERNANDO RIZZOLO
A Torá nos instrui várias leis de respeito e bom tratamento aos animais, com a finalidade de nutrir nossa midá (virtude) de compaixão e respeito para com todos os seres vivos. Um exemplo de bondade com os animais foi Nôach, que com seu caráter elevado poupou várias espécies de animais de um tenebroso dilúvio. Mas um animal, em especial pela sua bondade, doçura e fidelidade merece nossa atenção, o cachorro. Em hebraico, seu nome é muito mais significativo e interessante, chama-se “Kalev”, e muito embora poucos saibam, este nome significa “perto do coração”.
Os hebreus, os antigos formuladores da língua, observaram desde aquele tempo a característica do cão ser “todo emoção”, e conseguiram dar-lhe um nome exato reconhecendo que sua companhia nos faz senti-lo sempre perto do coração. Tenho profundo respeito e admiração pelos animais, pela resignação deles em servir ao homem. Talvez, dentro da lógica de um ser vivo que não mais retornará ao mundo – pois não possuem o neshamá (o nível mais elevado da alma ) – se entregam e acabam se aprisionando, tornando -se reféns do ser humano.
Acredito que o mundo caminha para uma compreensão maior do que os animais representam para a humanidade. Várias correntes científicas questionam o uso dos animais em experiências de laboratórios, e um número cada vez maior de pessoas evita ingerir carne, como eu; ou demandam práticas de abate mais humanas, o que no judaísmo é algo extremamente sério com suas considerações de cunho ” casher”, as formas de abate impõem menor sofrimento a estes seres.
Quando olho para um cão, lembro-me da sempre palavra Kalev, e do seu significado. Já tive vários cães que se chamaram kalev, e outros Dodi, que em hebraico significa amado. Impressiona-me olhar dos cães-guia, que emprestam sua visão e sua vida aos cegos e os ajudam a dar maior sentido à vida. Emociona-me saber de tantos solitários que contam com a companhia de cães que jamais os abandonarão, e que de nada esperam, a não ser um carinho, ou como eu brinco, ” um bifinho”. Os rabinos dizem: “o cão é pura emoção porque o coração está na mesma altura da cabeça. Diferente da condição humana em que a razão (cabeça) está acima do coração.”
Certa vez, nos Estados Unidos, ao entrar numa livraria, deparei-me com um cego, caminhando com um Labrador cor- de- mel que, soube depois, o guiava há 8 anos. Quando percebeu que eu acariciava seu cão, perguntou com uma voz rouca e pausada:
– Já descobri que o senhor gosta de cães, não é?
– Sim, muito – respondi.
-O senhor sabe por que os cães vivem pouco e geralmente morrem antes do dono ? – perguntou-me novamente como que justificando aquele afago meu – Talvez por que assim foram programados -, respondi.
– Não, senhor, porque jamais suportariam a dor de saber que seu dono não mais existiria.
Naquele momento rolou uma lágrima dos meus olhos, e entendi a partir de então, porque em hebraico o cão se chama Kalev, entendi enfim, o quanto é bom sempre ter um amigo perto do coração.
Fernando Rizzolo
29/06/2010 às 8:47 AM
Sempre, que em aula, trato do assunto da escravidão, não posso deixar de perceber a perplexidade com que os alunos encaram a mentalidade de uma sociedade que outrora se achava no direito de explorar de forma tão bárbara grupos étnicos diferentes, assentando seu progresso sobre as costas de negros e índios. Penso que num futuro não muito distante as pessoas irão ter a mesma impressão de nossa sociedade: a sociedade da tecnologia digital, da robótica, da biotecnologia – mas que ainda se acha no direito de maltratar e explorar os animais como na era da pedra lascada. O desrespeito generalizado aos animais, à suas vidas, às suas dores, é um grande entrave à consolidação do progresso de nossa sociedade, não somente no âmbito econômico – como aspiram aqueles que inclusive ganham fortunas com a indústria da morte e da dor – mas no caminho, na necessiade de nos tornarmos seres realmente humanos.
P.S.:
Já ví muito “humanista” comentar “chocado” um assassinato qualquer: “como podem ser tão frios e cruéis com um ser humano?” – isso com seu naco de carne na mão, naquela velha e conhecida orgia da morte a que todos chamam de “churrasquinho de fim de semana”.
30/06/2010 às 3:30 PM
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19/09/2011 às 12:24 AM
Lindo o texto. Jamis havia pensado que o cão tem o coração na mesma altura que a cabeça, é tão obvio que nos não vemos .
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