Da Antiga Janela para a Diversidade

O ar era sempre quente, abafado, e da janela do meu quarto, do nosso apartamento na cidade de Santos, onde costumávamos passar as férias, eu tinha a visão da praia, que, aos olhos de um menino de 8 anos, era imensa. O cheiro da esteira, de um antigo colchão de palha que ficava na despensa, misturava-se com o odor de areia e sal que ficavam num baldinho, desses que as crianças brincam na praia. Isso tudo me dava uma sensação de alegria ingênua, típica daquelas férias em Santos.

Na minha lembrança daqueles momentos, sempre me vem à mente a imagem de uma pessoa, que, além de ser uma espécie de babá, cozinheira e doméstica, era, acima de tudo, uma amiga. Como meus pais passavam boa parte do tempo fora da cidade, eu recebia os cuidados dessa negra alta, forte e de fala macia chamada Nair. Nair era mineira, daquelas bem negras, e trazia consigo certos costumes, que eu, por conviver diariamente com ela, tentava decifrar de forma curiosa, em comparação com a cultura religiosa que recebia dos meus pais.

Talvez impulsionado pela curiosidade exótica de suas histórias e pelo carinho e dedicação que ela tinha por mim, eu ficava horas ouvindo seus contos recheados da cultura negra, pouco conhecidos na época. Nair tinha nascido numa cidade pequena do estado de Minas Gerais, onde a maioria era composta de negros descendentes de escravos, um tipo de quilombo. O que mais me fascinava entre vários costumes seus naqueles dias de praia era o de levantar-se cedo, muito cedo, e ir fazer uma oferenda a Iemanjá.

Certa vez, fiquei observando-a ir à praia da sacada lateral do prédio, em cima de um pequeno banquinho. Como num ritual, lá ia Nair toda de branco, caminhando a passos lentos pela areia, acenando para mim. Meus olhos de menino a acompanhavam de cima meio assustados, encantados e torcendo pela aparição da “santa do mar”, de quem tanto ouvia Nair falar. As velas na praia, o cheiro da palha, da areia e do sal, tudo isso me fazia lembrar as histórias dos santos e embriagava minha imaginação, causando em mim uma grande sensação de paz. Era maravilhosa a diferença entre a minha cultura e a de Nair.

O tempo passou, fui crescendo, e até meus 20 anos lá estava Nair ao nosso lado. Doze longos anos de cultura, história, convivência, risos, respeito às diferenças me fizeram relembrar e relacionar, com imenso prazer, praia à cultura negra, ao misticismo afro-brasileiro e ao carinho e à docilidade do povo negro. Por isso, todo dia 13 de maio, ou quando ouço a música Meu Pai Oxalá, lembro da Nair, da escravidão, das histórias, das lições e curiosidades sobre os santos, das nossas risadas sem razão, dos contos mal-assombrados, do cheiro de sal e, sobretudo, da cultura afro-brasileira.

Cresci e nunca mais soube da Nair, mas a antiga janela do prédio ainda está lá e o menino que um dia seguia sua amiga com olhos maravilhados vê sempre, nos negros de hoje, um pouco do sorriso alegre da querida Nair, caminhando em direção à praia, com uma vela na mão, acenando pra mim.

Fernando Rizzolo

Na disputa pelo Senado, Netinho tem 36% e Marta, 35%, diz Datafolha

O candidato do PC do B Netinho, tem 36% das intenções de vota e lidera pela primeira vez a corrida ao Senado por São Paulo, segundo nova pesquisa Datafolha. Em seguida, vem a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) com 35% das intenções de voto.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa foi encomendada pela Rede Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo”. O Datafolha ouviu 2111 eleitores entre os dias 8 e 9 de setembro, em 60 municípios paulistas.

O levantamento está registrado no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) com o número 83614/2010.

A soma dos resultados para o Senado é maior que 100% porque o eleitor pode escolher dois candidatos nas eleições deste ano.
G1
Rizzolo: Tanto Netinho quanto a Marta são excelentes candidatos ao Senado. Netinho já tem um histórico de luta nas comunidades, e sempre espelhou uma defesa aos negros e humildes. Entendo ser uma grande renovação a vitória de novos candidatos ao Congresso nacional que nunca exerceram um mandato, foi nesse esteio de pensamento que resolvi me candidatar, dependo agora do voto de voces, vamos renovar o Congresso dando um banho de ética e apagando de vez a velha figura do político profissional e aproveitador.