A Aeronáutica continua estudando os caças franceses, suecos e americanos e só depois dos estudos o Governo anunciará sua decisão. O problema é que os estudos continuam mas a decisão está pronta: é o francês Rafale. E o presidente Lula não é o senador Aloízio Mercadante. Para ele, irrevogável é irrevogável.
Qual a lógica por trás da escolha dos Rafale? Esqueça a explicação mais fácil, aquela em que sempre se pensa: no mercado mundial de armas não existem freiras e o que um faz todos fazem. A ética de um vendedor de armas é a mesma do outro. A chave é a transferência de tecnologia: os americanos prometem transferir “a tecnologia necessária”, e os franceses uma “transferência ilimitada”. Qual a diferença? Se o Brasil quiser transferir tecnologia do Rafale a outro país – à Bolívia, digamos – estará livre. Mas não poderá transferir a tecnologia do F-18 Hornet, americano, porque aí não será a “tecnologia necessária” para operá-lo.
Um problema destes impediu a Embraer de vender seus caças Super-Tucano à Venezuela, porque parte dos componentes usa tecnologia americana. Com a “transferência ilimitada” oferecida pelos franceses, este problema não existirá.
Todo o resto da história é história. Os cargueiros KC-390 que a França prometeu comprar da Embraer, por exemplo: os KC-390 ainda nem existem. E, quando existirem, enfrentarão a concorrência do cargueiro aéreo Airbus, francês.
Qual dos dois aviões, produzidos ambos por empresas conceituadas, merecerá a preferência da França: os que criam emprego aqui ou os que criam emprego lá?
Leitura boa
Uma excelente análise do caso dos caças é de Maria Cristina Fernandes, editora de Política do jornal Valor. Leia aqui.
Bom papo
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deve ir até o dia 20 à Câmara Federal, para participar de audiência pública sobre o acordo militar com a França. Como é convite, Jobim pode aceitá-lo ou não. Mas vai aceitar. Não haverá problemas em sua conversa com os deputados: eles entendem tudinho de acordos.
É ele!
O relator de um dos quatro projetos que vão definir a forma de exploração do petróleo do pré-sal é o deputado João Maia, do PR do Rio Grande do Norte. Ele é mais conhecido por ser irmão de Agaciel Maia, aquele que foi diretor do Senado, e por ter tido em seu nome a casa de Agaciel, avaliada em R$ 5 milhões.
É o cara!
O presidente Lula será testemunha de defesa no Supremo Tribunal Federal, no caso do Mensalão, dos ex-deputados Roberto Jefferson, do PTB fluminense, e José Janene, do PR paranaense. Nossa!
O voto que vale
Não se impressione com as pesquisas sobre as eleições presidenciais. A mais de um ano de distância, é muito cedo para que indiquem tendências precisas. Muito mais importante, em termos de eleição, é o noticiário econômico: a queda da inflação (em agosto deu 0,15%) e a retomada do crescimento (embora ainda pequena, é melhor que a recessão) podem render votos à candidatura governista, desde que consiga capitalizar os bons resultados e desde que os bons resultados se mantenham até lá. Economia não é tudo numa eleição, mas é uma boa parte.
MST na mira
A senadora Katia Abreu, DEM de Mato Grosso, está organizando uma CPI mista, da Câmara e Senado, sobre doação de recursos públicos ao MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. O MST, para não ser responsabilizado por suas atividades, não existe oficialmente, não tem personalidade jurídica. De acordo com a revista Veja, quem recebe recursos nacionais e internacionais e financia as invasões de terras promovidas pelo MST são ONGs criadas para isso.
Jogo de cena…
A emenda constitucional que aumenta o número de vereadores deve ser votada em segundo turno nesta semana, na Câmara Federal; e deve ser aprovada por ampla maioria, que nenhum parlamentar é besta de desagradar os interessados em ganhar um ingresso na vida pública e que funcionam como cabos eleitorais. Os nobres parlamentares tentam plantar a notícia de que só estão fingindo que são a favor do aumento do número de vereadores porque têm certeza de que o Supremo Tribunal Federal irá bloquear a medida. Os parlamentares, estariam sendo vítimas de chantagem, coitadinhos: os suplentes de vereadores pressionam pela aprovação da medida e ameaçam Suas Excelências de represálias, no próximo pleito, em suas bases eleitorais. Mas eles querem mais vereadores, sim.
…e você paga
Se os parlamentares estivessem fazendo apenas jogo de cena, não tentariam convencer o contribuinte de que, com mais vereadores, mais assessores, mais secretárias, mais motoristas, mais contínuos, mais gabinetes, mais telefonemas, mais móveis e utensílios, mais máquinas de xerox, mais franquias postais, os gastos diminuiriam. Numa época em que todos têm de cortar despesas, as Câmaras querem aumentá-las – e ainda nos convencer de que vão reduzi-las. É demais.
Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.