O pré-sal já está dando lucro – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 9 de setembro

O mar de petróleo da camada pré-sal só deve jorrar normalmente daqui a uns dez anos. Mas o dinheiro começou a jorrar bem mais cedo: o pré-sal já se mostrou extremamente lucrativo para os franceses e seus parceiros brasileiros.

Em um dia, o Brasil gastou algo como US$ 15 bilhões em armas – sem contar as 25 usinas nucleares a ser construídas em 25 anos. Os 36 caças supersônicos Rafale são moderníssimos e o Brasil é pioneiro: o primeiro país a comprá-los, depois que perderam todas as concorrências internacionais de que participaram. Os quatro submarinos a diesel e o casco de submarino nuclear compartilham com os Rafale uma característica comum: todos ainda terão de ser construídos (o que não é tão ruim, porque o óleo do pré-sal, que segundo o presidente Lula será protegido pelas novas armas, continua aninhado nas mesmas rochas porosas onde se aloja há milhões de anos). Mas o pagamento já está sendo feito.

Os fatos mais estranhos são a exigência de que uma empreiteira específica, a Odebrecht, se encarregue, sem concorrência, do estaleiro a ser concluído; e as tais 25 centrais nucleares, uma por ano. Nos últimos 47 anos, o Brasil construiu duas centrais nucleares e está a meio caminho da terceira. Precisará acelerar bem o passo, qual um Usain Bolt da tecnologia atômica, para cumprir o novo prazo.

E por que 36 aviões? Desde que a velha esquadrilha brasileira de Mirages ficou obsoleta, falava-se em 12 caças – agora, de repente, multiplicados por três.

Definitivamente, este é o ano da França no Brasil.

Perguntas incômodas

As armas novas já foram encomendadas. Qual o soldo de um militar com capacidade para trabalhar num avião de US$ 100 milhões a unidade? Já estão normalizadas as refeições, o rancho, dos recrutas do Exército?

O sonho e o feijão

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, quer formar uma “aliança bolivariana” para se contrapor às grandes potências. A Venezuela comprou supersônicos Sukhoi, fuzis e tanques russos (os submarinos, por enquanto, estão suspensos). Colômbia e Chile compraram supersônicos F-16 americanos. O Brasil comprou armas francesas. Resultado da política venezuelana de se contrapor às grandes potências: as grandes potências estão felizes com tantas vendas de armas.

Semana quente…

Dois temas da maior importância começam a ser decididos hoje:

1 – O Supremo inicia o julgamento do caso Cesare Battisti – o italiano acusado de terrorismo que a Itália quer extraditar e a quem o ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu asilo político;

2 – O Congresso vota a ampliação do número de vereadores em 7.343, espalhados pelo país. Novos vereadores, novos assessores, novas secretárias, novos contínuos, novos salários e benefícios, novos parentes, novos móveis, novas verbas – e novos espaços, que terão de ser obtidos com reforma ou ampliação de edifícios. Querem que você, caro leitor, acredite que os gastos serão reduzidos.

…semana fria

A votação dos novos vereadores é um atrativo para que os parlamentares compareçam a Brasília, apesar da semana mais curta. Mas não se espere nada diferente disso: nem urgência para a nova legislação do pré-sal, nem articulações para aprovar a CSS (aquela contribuição “só” para a saúde, etc., etc.) Nem sempre é bom que o Congresso se mate de trabalhar. Como disse uma vez o governador mineiro Hélio Garcia, sempre que ele descansava não criava despesas.

Santo do pau oco

O senador paraense José Nery é do PSOL: doido para denunciar irregularidades dos outros (menos da presidente de seu partido, Heloísa Helena, que deve quase um milhão ao Fisco, em processo já transitado em julgado, mas parece que ela pode). Descobriu-se que ele mora de graça na casa de uma assessora, em Brasília, mas nunca se esqueceu de pegar os R$ 3.800 mensais de auxílio-moradia. Ele foi um dos que mais criticaram José Sarney por fazer a mesma coisa.

Candidaterríssimo

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, não entrou em nenhum partido, não se definiu entre petistas e tucanos, nada disso. Mas Duda Mendonça não está na Fiesp por acaso. Nem é por acaso que Paulo Skaf virou apresentador dos anúncios da Fiesp no horário mais caro da TV, o intervalo do Jornal Nacional. Se surgir uma oportunidade, é candidato ao Governo paulista. Se não surgir, tentará criar uma.

Fatos e fotos

Até ministros do Supremo já foram flagrados prestando mais atenção a conversas via computador do que nos argumentos da defesa e da acusação. A história se repete: o desembargador Carlos Roberto Santos Araújo, do Tribunal de Justiça da Bahia, foi fotografado jogando xadrez pelo computador. Tentou negar, dizendo que o jogo era apenas uma imagem na tela. Era – mas se movia e apresentava peças em posições diferentes entre uma foto e outra. O fotógrafo Haroldo Abrantes, de A Tarde, de Salvador, foi quem percebeu e registrou a cena. O TJ baiano decidia o fechamento de seu órgão de gestão. Era importante – e daí?

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

O eleitor e os eleitos – Coluna Carlos Brickmann

1 – Imagina-se que a política seja a segunda profissão mais antiga do mundo. Mas creio que tem muita semelhança com a mais antiga de todas.

2 – Quando se faz a chamada no Senado, os senadores não sabem quando devem responder “presente” ou “inocente”.

3 – Hoje temos boas notícias da Capital. O Congresso chegou a um impasse e não consegue trabalhar.

4 – Cada vez que o Congresso faz uma piada vira lei; e cada vez que faz uma lei vira piada.

5 – Temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar.

6 – Em política, tendo ignorância e confiança, o sucesso é certo.

Errou feio, caro leitor: nenhuma dessas citações tem algo a ver com o Brasil. Todas se referem aos Estados Unidos. A primeira é do presidente Ronald Reagan; a segunda, do presidente Theodore Roosevelt; a terceira e a quarta, do humorista Will Rogers; a quinta e a sexta, do escritor Mark Twain.

Como diria o colunista Ancelmo Góis, de O Globo, deve ser terrível viver num país que vê desta maneira seus representantes eleitos.

Mas poderia ser pior: lá, um famoso humorista bigodudo, Groucho Marx, disse que jamais entraria num clube que o aceitasse como sócio. Aqui, um famoso bigodudo bem menos engraçado, mas com os imensos bigodes muito mais bem arrumados, quer ficar onde não o aceitam de jeito nenhum.

O voo de Palocci

Livre do processo, Antônio Palocci estuda seus próximos voos políticos. Não, não sai para a Presidência, mesmo se o presidente Lula decidir que Dilma não é mais candidata: as cicatrizes do caso do caseiro são muito recentes. Pelo mesmo motivo, embora possa contar com bom apoio empresarial, Palocci não pensa em sair para o Governo paulista. Ou garante uma reeleição tranquila, como deputado federal, ou vai para o Governo, talvez substituindo o ministro José Múcio, das Relações Institucionais. Voltar para a Fazenda, só se Mantega pedir demissão.

O árbitro-cantor-candidato

Eduardo Suplicy gostaria de ser candidato ao Governo paulista (mesmo porque, se derrotado, continuaria senador). Isso explica o show do cartão vermelho, exibido depois que o jogo tinha acabado e Sarney liberado de todas as denúncias, com o voto unânime do PT de Suplicy. É difícil que consiga ser candidato.

Ei-la de novo

Quem trabalha para ser candidata ao Governo paulista, e com boas chances de conseguir a indicação do partido, é a ex-prefeita Marta Suplicy. Tem excelente estrutura no PT paulista. E leva sobre o possível rival na luta pela candidatura oposicionista, Ciro Gomes, a vantagem de nunca ter pertencido a outra legenda.

Sarney total

Hoje, na Rede TV!, à meia-noite, o presidente do Senado, José Sarney, dá entrevista a Kennedy Alencar. Nada mais adequado para encerrar esta semana.

Dose dupla

A propósito, está tramitando discreta e rapidamente, na Câmara Federal, o projeto que cria mais sete mil vagas de vereador neste nosso país milionário. Lembre-se disso, para criar o clima adequado, ao assistir à entrevista de Sarney.

Demi e Redford genéricos

O senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima, líder do Governo, estava dando uma entrevista quando foi abraçado por trás pelo senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Demóstenes, muito mais magro após uma cirurgia de estômago, murmurou a proposta ao ouvido de Jucá: “Jucazinho, vamos fazer as pazes?” Resposta do sorridente Jucá: “Tentando me pegar novamente pelas costas?” Não, caro leitor: não deixe que sua malícia o leve a pensar em coisas que não deve. Nem recorde o filme “Proposta Indecente”, que não é disso que se trata: é que Jucá estava bravo com Demóstenes, que esperou que ele saísse para convidar Lina Vieira, ex-secretária da Receita, a falar sobre seu encontro com Dilma Rousseff. Não seja maldoso. Mas que o diálogo é pra lá de sugestivo, é.

Trabalhadores do Brasil

O jornalista Luiz Fernando Emediato, amigo do deputado Paulinho da Força, do PDT paulista, rebate nota desta coluna: diz que Paulinho costuma ir à Câmara às terças-feiras. Embarca para Brasília no primeiro voo, vai para o gabinete e trabalha como um mouro até quinta. Às vezes, chega a ir na segunda. Registrado.

Os amigos

Leda Maria Pessoa de Mello Cartaxo, funcionária do senador Roberto Cavalcanti, do PRB da Paraíba, foi exonerada no início da semana. Leda é filha de Otacílio Cartaxo, recém-nomeado secretário da Receita Federal, e antes disso o poderoso chefe de Gabinete da secretária anterior, Lina Vieira. Cavalcanti, o senador para quem Leda Cartaxo trabalhava, é acusado de lesar o Fisco. Os débitos de uma de suas empresas, de R$ 4,4 milhões, já inscritos para cobrança na dívida ativa, foram recalculados e caíram para R$ 39 mil. Há algo como cem ações contra ele, estaduais e federais, na Paraíba, em Pernambuco e no Rio de Janeiro.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

Renunciei, mas não fui eu – Coluna Carlos Brickmann

Como todos os Estados, São Paulo tem três senadores. Ao contrário da maioria dos Estados, São Paulo não tem nenhum senador.

Aloízio Mercadante mostrou que, comparadas com ele, Rita Cadillac e a Mulher-Melancia nada têm a exibir. Rugiu truculento para Lina Vieira, miou para o presidente Lula. E seu estridente protesto contra o voto pró-Sarney, a renúncia à liderança do PT, não resistiu a uma conversa com o presidente. Como na famosa camiseta de Lobão (o cantor, não o governista), ele fez, mas não foi ele.

E os outros? Eduardo Suplicy, fundador do PT, crítico feroz da falta de ética dos outros, desta vez não foi aos microfones do Senado nem para cantar Bob Dylan. Não atacou o Governo – e também não o defendeu (aliás, com certa razão: Suplicy não é Dilma, tem mestrado e doutorado de verdade, mas nunca foi chamado por Lula para ocupar qualquer cargo). Silenciou. Não se sabe se está ao lado de Renan Calheiros ou de Aloízio Mercadante, de Collor ou de Flávio Arns.

O terceiro senador, como uma pesquisa no Google pode revelar, é Romeu Tuma, o Xerife, ex-superintendente da Receita Federal – que, diante de um problema que envolveu a Receita Federal, silenciou. Mas Tuma, faça-se justiça, é fiel a seus princípios. Quando seu partido, o PFL, mudou de nome para Democratas, Tuma saiu e foi para o PTB. Um homem como ele, delegado que comandou o Dops na ditadura militar, não aceitaria jamais ser chamado de Democrata.

E qual dos três jamais apresentou um projeto de interesse do Estado?

Nova face

Na quinta, o senador Aloízio Mercadante dizia que a decisão de deixar a liderança do PT era “irrevogável”. Na sexta, revogou o irrevogável, porque o presidente Lula o considera “imprescindível”. Pode ser – mas Mercadante, por bom tempo o principal assessor econômico do candidato Lula, que desistiu de disputar um mandato para ser seu vice numa eleição perdida, jamais recebeu um convite irrevogável de Lula para dar sua imprescindível colaboração no Governo.

A escolha de Sofia

Parafraseando Winston Churchill, no caso do Conselho de Ética foi oferecida ao PT a opção entre perder a ética ou as eleições. Preferiram perder a ética, e podem ter desperdiçado boa parte das chances de não perder as eleições.

Alegria, alegria

Não leve a sério as notícias de que o governador paulista José Serra, do PSDB, estaria preocupado com a possibilidade de também perder votos para Marina Silva. Serra está feliz, feliz: Marina é um problema do PT. O PSDB não tem nada a perder. E, se houver algo a ganhar, é dele.

O novo nome

O presidente da Federação das Indústrias, Paulo Skaf, sonha com o Governo paulista. Acha que é a Terceira Via entre PT e PSDB, e que seu nome pode ser o fato novo nas eleições. Por enquanto, nome novo mesmo é o do publicitário contratado pela Fiesp para reformular a imagem da entidade (e, quem sabe, popularizar seu presidente): é José Eduardo Mendonça, segundo as informações oficiais. O novo nome é este; o nome antigo, mais conhecido, é Duda Mendonça.

Os velhos tempos

Dizia-se, há alguns anos, que o Milagre Alemão tinha sido obtido graças à escolaridade, à disciplina, a aptidão dos alemães para a indústria. O Milagre Japonês se devia à persistência, à capacidade de trabalho e de estudo árduo dos japoneses. Já o Milagre Brasileiro era milagre, mesmo.

Duda Mendonça já fez milagres com candidatos como Paulo Maluf, Fernando Collor, o presidente Lula. Desta vez, é convidado a fazer um milagre, mesmo.

Caros hermanos

A cada vez que o presidente Lula visita o compañero boliviano Evo Morales, é preciso sacar a carteira. Desta vez, el regalo começou com US$ 330 milhões, para que Evo Morales possa construir uma estrada. E, na mesma reunião, Morales pediu mais US$ 300 milhões pelo gás natural que vende ao Brasil, isso numa época em que os reservatórios estão cheios e o consumo de gás caiu. Na opinião do presidente boliviano, a Petrobras – cujas refinarias no país ele mandou ocupar militarmente, sem indenização – é também devedora da Bolívia.

Cuidado com a carteira

O Governo Federal está pensando em trazer de volta aquele velho aspirador do bolso dos cidadãos: o Imposto do Cheque, agora com o nome de CSS e a alíquota (no início) de 0,1%. E, como de hábito, para torná-la mais palatável, a arrecadação seria destinada “exclusivamente à saúde”. O filme é o de sempre; mas desta vez, no lugar do ministro Adib Jatene, o astro da campanha é o ministro José Gomes Temporão. Por sorte, as eleições vêm aí: os parlamentares, já com problemas de imagem, dificilmente aprovarão neste momento um novo imposto.

Boa notícia

Guarde este endereço: http://www.europeana.eu. Acaba de ser inaugurada a Biblioteca Multimídia Européia, com mais de dois milhões de obras e consulta gratuita, em todas as línguas da Europa – inclusive Português.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

Uma questão de pernas curtas – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 19 de agosto

Dilma negou três vezes. Por mais de três vezes Lina confirmou. A doutora Dilma é a dona das provas: dela depende mostrar – ou não – as imagens captadas pelas câmeras na garagem do Palácio, que confirmarão, ou não, que Lina esteve lá; dela depende a divulgação das agendas do Palácio, que mostrarão, nos dias em que Lina esteve lá (se esteve), os compromissos que cumpriu. Se Lina só apareceu no Palácio em datas em que tinha outros compromissos, estará mentindo. Mas Dilma, mestra na vida palaciana, sabe que, se em determinada data houve a presença de Lina sem outros compromissos confirmados, a visitada era ela.

Qual a importância de saber quem tem razão? Apenas saber se um candidato ao maior cargo da Nação é dado ao vício da mentira. Bill Clinton não esteve em risco por seu caso com Monica Lewinsky, mas por tê-lo negado e ser desmentido. Richard Nixon não caiu pela invasão do QG do partido adversário, no Edifício Watergate: caiu por negar sua responsabilidade e ser desmentido.

Dilma já escorregou algumas vezes. No caso VarigLog, negou ter conversado com Roberto Teixeira, o primeiro-compadre do presidente Lula, e acabou sendo forçada a desmentir-se. Precisou renegar seu próprio currículo, que a titulava de Mestra e Doutoranda (na verdade, não era mestra nem doutoranda), e garantiu que nunca o tinha lido. Negou ter mandado fazer um dossiê sobre a falecida primeira-dama Ruth Cardoso, e depois se desmentiu, mas mudando o nome do dossiê para “banco de dados”. Que nome será dado ao encontro com Lina Vieira?

Mudando de conversa

Um indício interessantíssimo ajuda a mostrar quem está falando a verdade e quem procura ocultá-la. Veja esta nota publicada ontem pelo Globo online:

Assessoria do Ministério da Fazenda nega o que disse – A assessoria de Imprensa do Ministério da Fazenda informou na segunda-feira ao jornal O Globo que a secretária-executiva da Casa Civil Erenice Guerra visitou várias vezes o prédio da pasta no final do ano passado. A informação foi repassada ao jornal pela integrante da assessoria Carmem Luiza Cunha. Hoje, a mesma assessoria de imprensa divulgou nota para negar o que foi informado no dia anterior ao jornal.

Leia a íntegra da nota:

“O Ministério da Fazenda informa que é inverídica a afirmação contida na matéria, publicada hoje no jornal O Globo, de que o ‘Ministério da Fazenda confirmou que a Secretária-Executiva da Casa Civil da Presidência da República, Erenice Guerra, esteve várias vezes no prédio em novembro e dezembro do ano passado’.”

A pesquisa…

A pesquisa DataFolha sobre eleições presidenciais pode ajudar determinados políticos a manter candidaturas, ou a rever suas posições; pode influenciar outros políticos na definição de seus rumos; pode sinalizar muita coisa aos doadores de campanha. Mas uma pesquisa a mais de um ano da eleição não tem qualquer importância para definir quem está ou não na frente. Faltam muitas definições, falta clima, sobra tempo. E se aparece uma nova Marina, mas com chances?

…e o que revela

Pesquisa é útil para quem analisa o jogo político. No caso, mostra mais uma vez que escândalos não mudam intenções de voto, nem índices de popularidade. A pesquisa indica, por exemplo, que a maior parte dos eleitores gostaria de ver Sarney fora da Presidência do Senado. Sarney está impopular. Mas o presidente Lula, que se expôs em sua defesa, continua onde estava: perdeu dois pontos de aprovação, o que é pouquíssimo, dentro da margem de erro, e não abala sua invejável posição política. Se uma das maiores campanhas dos últimos anos, como a que se move contra Sarney, não mexe no índice de seus apoiadores, fica claro que insistir em escândalos não é uma boa estratégia para a oposição. Escândalo ou destrói o alvo, e rápido – como o de 1954, que levou o presidente Vargas ao suicídio, ou o que depôs Collor – ou não serve sequer para abalar sua aprovação.

O caminho pedregoso

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ainda não perdeu as esperanças: quer porque quer candidatar-se ao Governo paulista. Houve época em que flertou com o PT, depois ficou ao lado do PSDB de seu amigo Alckmin, mas não foi acolhido por nenhum dos dois. Agora, diz O Globo, pensa no PMDB, onde entraria pelas mãos do deputado Michel Temer. Só que quem manda no PMDB paulista é o ex-governador Orestes Quércia. E Quércia deve apoiar o candidato do PSDB.

O canhão de Erenice

Erenice Guerra, primeiro-escudo da ministra Dilma Rousseff, perdeu a batalha para o Tribunal de Contas da União: deve ir para lá o ministro das Relações Institucionais, José Múcio. Erenice luta agora pelo Superior Tribunal Militar, na vaga do ministro Flávio Bierrenbach, que se aposenta por atingir 70 anos, o limite de idade. Erenice é advogada, petista há quase 30 anos (mais antiga no partido que Dilma), e tem tudo para entrar na área militar. A segurança do presidente da República, o escudo de Lula, está a cargo dos Dragões da Independência.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

O caminho das pedras – Coluna Carlos Brickmann

Dilma ou Lina: quem fala a verdade?

Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, diz ter sido chamada pela ministra Dilma Rousseff e recebido ordens para “agilizar” a investigação sobre as empresas da família Sarney. Lina entendeu que “agilizar” era encerrar e enterrar o inquérito. Seria simples para Dilma explicar que só queria que as investigações fluíssem sem obstáculos. “Agilizar” era manter o inquérito fora das gavetas.

Dilma preferiu a negativa total: disse que não chamou a secretária e não teve qualquer conversa com ela. Com isso, criou as condições para a polêmica que se inicia, e que deve ditar os acontecimentos em Brasília nos próximos dias, dando fôlego a uma oposição que parecia conformada à inatividade: a realização ou não do encontro pode ser provada, com testemunhos, vídeos, registros, planilhas.

Dilma já teve alguns problemas ao descrever certos fatos – o mestrado que não era mestrado, o doutorado que não era doutorado, o dossiê contra Ruth Cardoso que primeiro não existia e depois se transformou em banco de dados, o caso VarigLog – e está reagindo com tremenda agressividade, enquanto Lina Vieira fala com toda a calma. Assim, o duelo se inicia com vantagem para a ex-secretária.

O primeiro-ministro britânico Winston Churchill dizia que a verdade é tão preciosa que precisa ser protegida por um muro de mentiras. Mas ele se referia à guerra. O presidente americano Richard Nixon caiu pelo escândalo de Watergate. Mas não foi por invadir o comitê adversário: foi por mentir sobre isso.

Duelo no Congresso

A tropa governista vai lutar para impedi-la, mas há boas probabilidades de que a ministra Dilma e a ex-secretária Lina sejam convocadas para acareação por uma comissão permanente do Senado. E Dilma não gosta de ser contestada.

Os nomes

A chefe de gabinete da ministra Dilma, que nega o encontro, é Erenice. A chefe de gabinete da ex-secretária Lina, que confirma o encontro, é Iraneth. Brasília é rica nesse tipo de nome: Francenildo é o caseiro que derrubou o ministro Palocci. E o motorista que contribuiu para derrubar Collor é Eriberto.

Morena Marina

O jornalista Ricardo Kotscho, velho conhecedor de Marina Silva, acha que ela já tomou a decisão de deixar o PT e sair candidata à Presidência da República pelo PV. Não é para ganhar (embora surpresas sempre possam acontecer), mas para trazer à campanha temas importantes da área ambiental. Marina tem tarefas complicadas: fazer propaganda com pouco tempo de TV, levantar dinheiro, mobilizar um partido até agora inexpressivo, enfrentar a hostilidade do presidente Lula (que a chama de “samba de uma nota só”). Mas o Samba de Uma Nota Só fez sucesso. E, se Marina fizer sucesso, tira votos importantes do PT.

Marina Morena

O governador paulista José Serra, PSDB, está feliz com Marina, achando que será beneficiado por ela. Talvez; mas, com Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima (seu nome completo) candidata, Serra deixa de ter o apoio do verde Fernando Gabeira, importante aliado no Rio. E pode até entrar na linha de tiro de Marina: o Rodoanel, que contorna a capital, tem problemas com ambientalistas.

Mais do mesmo

O Brasil já tem 28 partidos políticos: o Partido da Pátria Livre acaba de conseguir registro. Até agora, o PPL se chamava MR-8 e estava abrigado no PMDB, sob o comando do ex-governador Orestes Quércia. Na verdade, este era o segundo MR-8: o primeiro, que participou da luta armada, era o grupo do hoje ministro Franklin Martins. O PPL deve apoiar a candidatura presidencial de Serra.

Ex-ministros de Lula

O Governo Federal fica com nova cara: de sete a onze ministros e o presidente do Banco Central devem sair para concorrer às eleições de 2010. O prazo fatal é abril, mas a tendência é que saiam até o fim do ano, para organizar a campanha e para dar ao presidente Lula mais tempo para reorganizar a administração. Os primeiros a sair devem ser José Múcio, para o Tribunal de Contas da União, Tarso Genro, que quer comandar a luta contra Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, e Nelson Jobim (que, conforme a direção dos ventos, pode entrar em qualquer das campanhas presidenciais, já que é grande amigo de Serra). Saem também Geddel Vieira Lima (Governo da Bahia), Hélio Costa (Governo de Minas), Alfredo Nascimento (Governo do Amazonas), Henrique Meirelles (Governo de Goiás, ou Senado), Dilma Rousseff (Presidência da República). Sem destino tão definido, mas sempre pensando em eleições, devem sair também Carlos Luppi, Patrus Ananias e Fernando Haddad. Em princípio, serão substituídos pelos secretários-gerais. Um político não aceitaria desistir da eleição por apenas um ano no cargo.

Yankees, come here!

Alguns governos latino-americanos – inclusive o brasileiro – têm idéias divididas em política externa: querem os EUA fora da América Latina, no caso da Colômbia, mas querem que os EUA intervenham em Honduras. Lula prometeu falar com Obama sobre Honduras. É a volta – ou meia volta – dos ianques.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

Como não dizia o poeta – Coluna Carlos Brickmann

Collor odiava Lula que odiava Renan que amava Collor que odiava Sarney que amava Pedro Simon que amava Lula que odiava Sarney que já tinha amado Delfim que não amava nem odiava ninguém, nem mesmo Suplicy que falava mal de todo mundo (bem devagar) e os outros não aguentavam ouvi-lo sobre seu tema único, e ele ainda nem cantava Bob Dylan. Lula foi para a Presidência da República, Renan foi para a base aliada, Collor virou lulista desde criancinha, Suplicy continua falando (devagar) de seu tema único e cantando Bob Dylan, Sarney foi para a Presidência do Senado e luta pela sobrevivência política, quase todos viajaram por conta do Tesouro, Delfim se transformou em conselheiro das mais diversas tendências políticas, o gaúcho bravo Pedro Simon ficou com medo de Collor porque o olhou com raiva, quem sabe não estaria querendo dar um tiro nele? E um jovem militar bonitão conquistou o coração de Ideli, que não tinha entrado na história.

Estas frases se inspiram num belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade, um clássico da literatura brasileira. O nome do poema é “Quadrilha”.

A volta do que não foi

A propósito, Delúbio Soares (“nosso Delúbio”, como o chamava o presidente Lula) retorna em grande estilo. O antigo tesoureiro do PT, expulso por causa do Mensalão, lançou na quinta, em São Paulo, a revista “Companheiro Delúbio” e o blogdelubio.com.br/blog. Delúbio quer voltar ao PT. Já recebeu emissários que lhe pediram para esperar as eleições, para evitar explorações políticas. Mas Delúbio não quer esperar: quer ser candidato a alguma coisa já em 2010.

Cipó de aroeira

Há uma operação de risco em curso no Senado: um levantamento das doações de campanha a José Sarney, para cruzá-lo com a atuação do senador em assuntos de interesse dos doadores. O problema é que os doadores não são entidades de beneficência: esperam que os eleitos acompanhem seus casos com interesse. Se a porteira for aberta, é preciso lembrar que por onde passa um boi passa a boiada.

O mundo gira

Em 1949, os intelectuais de esquerda achavam que o comunismo salvaria a China. Em 1955, estes mesmos intelectuais, preocupados com a denúncia dos crimes de Stalin na União Soviética, achavam que a China de Mao Tsé-tung salvaria o comunismo. Em 1979, o primeiro-ministro Deng Xiaoping concluiu que somente reformas no sistema de produção, com introdução de princípios capitalistas, salvariam a China. Hoje, é a China que está salvando o capitalismo.

Cuidado, titia!

Mais um caso com a agência de viagens Tia Augusta, especializada em excursões à Disneyworld (foi uma de suas passageiras que morreu durante o voo de volta ao Brasil). Agora o problema ocorreu com uma garota de 15 anos, amiga de um leitor desta coluna: por causa de um overbooking (venda de mais lugares que os disponíveis), a garota, mais seis outras da mesma idade que participavam da excursão, ficaram retidas nos EUA. No dia seguinte, mandaram o grupo para Atlanta, de lá para Nova York, e daí, enfim, de volta. Isso com o grupo formado, permitindo o planejamento total da viagem. E o respeito aos passageiros, titia?

Veja, mamãe: sem piloto!

A Polícia Federal está testando um avião sem piloto, com controle remoto, para uso em áreas de conflito e combate ao narcotráfico. É como se fosse um grande aeromodelo, mas de alta capacidade: voa a dez mil metros, pode ficar dois dias no ar sem reabastecimento, e tem capacidade para 250 kg de armamento. O aparelho é construído pela IAI, Israel Aerospace Industry, e vendido por uma empresa de capital misto brasileiro-israelense, a EAE, por preço não divulgado.

Questão presidencial

O Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição do coronel uruguaio Manuel Cordero Piacentini para a Argentina, onde é acusado de sequestros e de cooperação com polícias clandestinas de outras ditaduras, no âmbito da Operação Condor. Mas a extradição não é automática: precisa ser concedida pelo presidente Lula. É um teste interessante – especialmente porque há um caso semelhante, de Césare Battisti, cuja extradição é pedida pela Itália, por acusação de assassínio. O Governo não quer extraditar Battisti. O STF ainda não se manifestou.

O preço da saúde

Raul Zampol Jr., assíduo leitor desta coluna, protesta contra o possível aumento dos planos de saúde por causa da gripe suína. “Os planos reclamam dos custos, mas é só abrir revistas e jornais, é só ligar a TV, para ver anúncios caríssimos. E os patrocínios de clubes? Cadê as dificuldades? E tem mais: os planos não respeitam o Estatuto do Idoso, que não permite aumento por faixa de idade acima de 65 anos”. O leitor tem toda a razão. E a elevação dos preços, à medida que o segurado envelhece, é como uma multa pelo atrevimento de continuar vivo. Uma dúvida: por que não fazer um estudo atuarial para igualar as faixas, de maneira a que os mais jovens paguem um pouco mais (só um pouco, já que ao longo dos anos isso será muito) e se mantenha o preço para os mais idosos?

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

Abaixo os Ianques, Viva a Rússia – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de Carlos Brickmann de domingo, 2 de agosto

O presidente Lula está reclamando do acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos. Parece temer uma corrida armamentista na América Latina.

O presidente Lula não reclamou nada, nadinha, quando a Venezuela, que já deslocou tropas para a fronteira da Colômbia, que já ameaçou intervir militarmente em disputas internas na Bolívia, fez um gigantesco acordo militar com a Rússia, comprando 36 moderníssimos caças supersônicos Sukhoi, cem mil fuzis Kalashnikov e cinco submarinos. Parece que, para a diplomacia brasileira, a aquisição de alguns bilhões de dólares de armas e munições pela Venezuela não provoca nenhum risco de corrida armamentista na América Latina.

Nas conversas sobre o acordo militar entre Estados Unidos e Colômbia, Lula disse que enviou carta ao presidente Barack Obama em que criticou a reativação da 4ª Frota americana, destinada a operar no Atlântico Sul.

Lula não fez críticas, em nenhum momento, às grandes manobras conjuntas de navios de guerra da Rússia e da Venezuela, também no Oceano Atlântico.

Um detalhe curioso é que as manobras conjuntas russo-venezuelanas foram reais. Já a 4ª Frota americana é virtual: até hoje, é apenas um escritório, uma estrutura meramente burocrática, sem qualquer navio, sem tropas. Graças a essa estrutura burocrática, a 4ª Frota pode ser montada rapidamente, com a transferência de barcos, armamentos e homens de outras regiões, mas isso nunca foi feito.

Ou seja: para o Brasil, Rússia e Venezuela podem. EUA e Colômbia, não.

Amanhã, talvez outro dia

A trégua que não foi trégua está para terminar: está marcada para amanhã a reabertura das atividades parlamentares (mas justo na segunda-feira? Pode ser na terça, quem sabe). E começa o vale-tudo no Conselho de Ética do Senado: são onze representações contra o presidente da Casa, José Sarney; mais quatro contra o senador Arthur Virgílio, do PSDB amazonense, líder do partido (as principais por ter recorrido ao ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, para cobrir a conta de seu hotel em Paris, e por manter no seu gabinete, com salários e vantagens, um funcionário que passou um ano e meio na Europa). Considerando-se que o presidente do Conselho de Ética é segundo suplente de senador, que não teve um voto sequer para ganhar o mandato, e que já disse que não deve aceitar as acusações contra Sarney, talvez não aconteça nada. Mas haverá muita troca de lama.

Confiabilidade

E quem disse que não se pode acreditar nos políticos brasileiros? Tremenda injustiça: no Conselho de Ética, cada um acusará seus adversários de abusar do dinheiro público. E todos estarão com a razão.

Lula, a charada

Quando Lula diz que “não votou em Sarney para presidente do Senado”, e “não votou em Sarney para senador pelo Maranhão”, diz a verdade: não é senador, não vota no Maranhão e, aliás, Sarney não foi candidato pelo Maranhão, mas pelo Amapá. Mas que quer dizer a frase de Lula? Aparentemente, nada – exceto sair como vencedor em qualquer hipótese, seja a renúncia de Sarney, seja sua decisão de continuar lutando. O que Lula fala não se escreve (lembre o que falou de Collor, Maluf e Sarney, hoje seus aliados). Mas sempre se sai bem.

Norma esquisita

Uma Comissão de Sindicância, na Câmara, investiga a venda de passagens da cota dos deputados. O caso é considerado um escândalo: alguns parlamentares que não usaram sua cota de passagens as repassaram a empresas de turismo, com um bom desconto; e as passagens foram vendidas no mercado.

É curioso, entretanto, que a venda de passagens seja tratada como escândalo, mas seja aceita numa boa a cessão a terceiros. O parlamentar que leva a namorada à Europa ou manda buscar amigos para visitá-lo em Brasília, comete a mesma irregularidade que quem vende a passagem. Nos dois casos, usa um instrumento criado para o serviço público para obter vantagem pessoal. Por que um parlamentar pode levar a família ao Exterior e não pode vender as passagens? É só para desviar a questão: passagem é para serviço, e pronto. O resto é bandalheira.

União liberal

A União de Partidos Liberais Americanos, organização filiada à Internacional Liberal, passa a atuar no Brasil, via DEM. A reunião entre a UPLA e o DEM, para formalizar o acordo, se realizará no Rio, entre 10 e 11 de setembro, dirigida pelo deputado fluminense Rodrigo Maia, presidente do partido. Pode ser importante para dar projeção internacional ao DEM. Mas outras organizações que se implantaram no Brasil, como as internacionais Socialista e Democrata-Cristã, não obtiveram grande repercussão nem ganharam influência política.

Escolha perfeita

Há fortes rumores de que o próximo ministro do Futuro, no lugar de Mangabeira Unger, será o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, hoje secretário-geral do Itamaraty. O presidente Lula estará de parabéns: excetuando-se o inigualável sotaque, Roberto Mangabeira Unger não poderia ser substituído por ninguém mais parecido com ele do que Samuel Pinheiro Guimarães.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

A crise acabou. Agora vem outra – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 29 de julho

Estudos dos principais bancos brasileiros mostram que o país saiu da recessão. O profeta da crise, Nouriel Roubini, o Sr. Apocalipse, diz que a recessão mundial termina até o fim do ano. Ótimo – mas chegou a hora de pagar a conta.

Não é uma questão apenas do Brasil: é problema global. Não é possível jogar dois trilhões de dólares na economia, sem aumento equivalente de produção, e esperar que não haja inflação. Haverá inflação. E seu papel será equilibrar o volume de dinheiro existente no mercado com aquilo que for produzido. Não há condições de aumentar a produção tão rapidamente quanto se aumentou a quantidade de dinheiro disponível; o dinheiro, portanto, vai perder parte de seu valor.

No país que mais colocou dinheiro no mercado, os EUA, o dólar está caindo. Cai por dois motivos: primeiro, porque há dólar demais para pouco produto; segundo, porque é do interesse americano que o dólar caia. Com o dólar mais baixo, as imensas reservas de dinheiro da China se diluem; com o dólar mais baixo, os EUA terão produtos mais baratos, e poderão exportar mais e importar menos. Outros países – como a China, que se estruturou para vender ao mundo desenvolvido – contribuirão involuntariamente para que os EUA paguem a conta.

O Federal Reserve americano anuncia que apoiará o fortalecimento do dólar. Bobagem: não tem como recolher o brutal excedente de dinheiro que existe no mercado. E, aliás, não tem a menor intenção de fazê-lo. Se os americanos podem transferir parte da conta a outros países, por que irão pagá-la sozinhos?

Problemas mundiais

Uma idéia dos problemas econômicos, que vão virar inflação, de alguns dos principais países do mundo: os EUA, que tinham déficit público de pouco mais de 3% do PIB no ano passado, têm agora algo como 13%; na Inglaterra, o déficit público saltou de pouco mais de 5% para 14%; a Alemanha, sempre tão contida, passou de 0,3% para quase 5%. E o da Itália dobrou, estando hoje em 5%.

Problemas brasileiros

O Brasil suportou bem a crise, não perdeu reservas internacionais, manteve a inflação sob controle e a rede de proteção social ajudou a amenizar o desemprego. Mas o Brasil também tem um problemaço: a alta dos custos fixos. As despesas de pessoal cresceram quase um ponto percentual; os gastos do Governo subiram dois pontos percentuais. O custo do Governo é uma bomba-relógio que exige cuidado e parcimônia nos gastos para evitar o crescimento da inflação interna.

Nhô ruim, nhô pior

O ministro da Justiça, Tarso Genro, está convencido de que é o único candidato petista em condições de vencer as eleições no Rio Grande do Sul. Mas quer, antes de deixar o cargo, assegurar sua substituição por alguém da mesma corrente do PT, a Mensagem ao Partido. O candidato que sugere é o deputado federal paulista José Eduardo Martins Cardozo.

No Brasil, nada é impossível. Nem mesmo ter saudades de Tarso Genro.

Matador no poder

Mas o problema pior é o da Argentina. O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, líder da oposição ao Governo Kirchner, nomeou um cavalheiro, “Fino” Gonzalez, envolvido com brigadas paramilitares de assassinos e sequestradores para a chefia da Polícia Metropolitana. E se recusa formalmente a substituí-lo.

Má notícia

Os planos de saúde querem mais aumentos. O pretexto agora é a gripe suína.

Chávez, por que no hablas?

O Governo sueco pediu explicações formais ao Governo venezuelano sobre armas que vendeu a Caracas e que foram encontradas em campos da narcoguerrilha colombiana das Farc. É batom na cueca: os foguetes antitanque encontrados com os narcotraficantes têm números de série e foram vendidos à Venezuela pela Saab Bofors Dynamics com cláusula de destinatário final (ou seja, é proibido repassá-los). A Venezuela ainda não respondeu ao pedido do Governo sueco.

Coisa feia

De Danilo Gentilli, do programa CQC, em seus comentários no Twitter:

“Agora, no TeleCine, King Kong, um macaco que depois que vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é: jogador de futebol?”

“Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?”

A explicação é razoável e simples: porque a lei proíbe. Racismo é crime inafiançável. Chamar alguém de macaco é considerá-lo inferior a um ser humano – apenas um primata. E é pena ter de explicar isso ao talentoso Danilo Gentilli.

O cardíaco saudável

O militar Manoel Cordero, detido no Rio Grande do Sul enquanto aguarda o julgamento do pedido de extradição feito pelo Uruguai e pela Argentina, que o acusam de torturador, vai muito bem, obrigado. Ficou em prisão domiciliar por, alegadamente, ser cardíaco; mas foi filmado passeando livremente, fumando, e, ao notar que tinha sido visto, correndo muito, em forma física que parecia excelente. O Supremo Tribunal Federal quer saber por que tamanha liberdade.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

O bode de bigode – Coluna Carlos Brickmann

Dizem que, em jornalismo, notícia é o fato incomum – por exemplo, um homem morder um cachorro. Não é bem assim: o caro leitor pode ver que se noticiam os escândalos do Senado como se fossem incomuns, ou como se tivessem sido descobertos agora. Mas nada é novidade: a imprensa sabia de tudo, ou devia saber. Pois José Sarney já não foi presidente da República e, como presidente, não distribuiu à vontade concessões de rádio e TV?

E não é só Sarney, não: como diz Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp, nossos políticos agem “como se fossem proprietários da coisa pública”. Sarney deu emprego ao namorado da neta; Fernando Henrique, ao marido da filha (que, ao separar-se, deixou o cargo); e, há mais tempo, o governador mineiro Benedito Valadares arranjou um cartório como presente de casamento para o genro, o escritor Fernando Sabino (que, ao separar-se, devolveu o cartório). E, procurando bem, muita gente está ou esteve na boquinha – gente que não é parlamentar mas usou o serviço médico do Congresso, editou livros pela Gráfica do Senado, e periodicamente escolhe um bode expiatório para purgar os pecados de todos.

Muitos se locupletam e querem que a moralidade seja mantida como fachada. É difícil atingir o Bode de Bigode: o senador Gim Argello, ligadíssimo ao Governo, já lhe mandou o recado de que tudo vai dar certo. Se não der, tudo bem: é complicado defendê-lo. E os outros vão continuar na festa.

Por debaixo dos panos

Um detalhe está passando despercebido: o tiroteio se voltou exclusivamente contra Sarney. Não que ele não mereça, mas por que só ele? Os cento e tantos diretores do Senado, os oitenta e tantos funcionários que atendem a cada senador, os empregados que recebem do Congresso e trabalham na casa de Suas Excelências, em Brasília, nos Estados ou até fora do país, as passagens internacionais para senadores, parentes e amigos, a investigação das cumplicidades dos atos secretos, tudo silenciou.

O sub do sub

Acredite; e, se não acreditar, confirme pessoalmente neste endereço. No Gabinete Pessoal do Presidente da República, existe um chefe de gabinete do chefe do Gabinete. O sub do sub se chama Diogo de Sant’Ana.

O super-prefeito

João Castelo, do PSDB, prefeito de São Luís do Maranhão, ganha R$ 25 mil mensais – R$ 500,00 acima do teto do serviço público. É mais do que ganha um ministro do Supremo. Castelo, aliás, sempre custou caro: foi ele, quando governador, que ergueu o estádio de São Luís, modestamente batizado de “Estádio Governador João Castelo”. É tucano, mas não muito: ficou no partido que o aceitou quando seu líder Sarney rompeu com ele.

Olha a carteira!

Prepare-se: para financiar gastos como os descritos nas duas notas acima, aliados do Governo devem voltar com a idéia da CPMF neste segundo semestre. A desculpa é a de sempre: novas fontes de recursos para a Saúde.

Ciro a sério

O presidente Lula pediu ao PT paulista que leve Ciro Gomes a sério. O presidente manda e o PT segue suas determinações. Os petistas de São Paulo vão levar a candidatura de Ciro Gomes a sério assim que pararem de rir.

A falta que Jânio faz

Fernando Henrique, nascido no Rio mas politicamente paulista, era candidato a prefeito contra Jânio Quadros. Jânio o fulminou, lembrando que Fernando Henrique “nem sabe onde fica Sapopemba”. E ganhou a eleição.

Sem piloto

Não leve a sério as notícias de que Solange Vieira, presidente da Anac, Agência Nacional da Aviação Civil, estuda a reformulação de rotas para pousos e decolagens no Rio, para evitar que a população de bairros elegantes seja incomodada com o barulho. É jogo para a torcida, já que a Anac não tem poder legal para definir rotas. Quem cuida disso é o Decea, Departamento de Controle do Espaço Aéreo, ligado ao comando da Aeronáutica.

Negociação fácil

Se alguém esperava encontrar um interlocutor difícil no presidente do Paraguai, Fernando Lugo, enganou-se: o presidente Lula descobriu a maneira mais fácil de negociar com ele. Foi só ceder em tudo e concordar com todas as reivindicações paraguaias. A energia de Itaipu, principal ponto de discórdia, será vendida ao Brasil pelo triplo do preço atual. E o Paraguai deixa de se submeter às cláusulas do Acordo de Itaipu que o obrigam a vender a energia à Eletrobrás: se o preço do mercado livre for maior, pode vendê-la a qualquer empresa brasileira. Pronto: a reunião entre os presidentes de Brasil e Paraguai se realizará em clima de festa e confraternização.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

E que tudo mais vá pro inverno – Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 15 de julho

Os trabalhos do Congresso estão se encerrando. A partir de amanhã, nem os assessores caxias que têm o estranho hábito de trabalhar estarão por lá. Faz frio em julho. Como pedir que Suas Excelências fiquem tiritando?

CPI da Petrobras? Pode gerar crises. Mas quem sabe como estará a situação a partir de agosto? Até agosto, com o frio que faz, o clima político também deve estar menos quente. Anulação de mais de 600 atos secretos? Já foi assinada, mas fica para depois, que ninguém é de ferro.

A anulação dos atos secretos, a propósito, tem tudo para gerar enorme confusão. As pessoas que trabalharam, mas cuja nomeação não vale (porque não foi publicada), serão afastadas sem indenização? Mas como indenizá-las, se não foram legalmente nomeadas? Esquecer o passado, vá lá; mas, no caso, é um problema presente, que pode terminar na Justiça.

E a CPI da Petrobras? Pode transformar-se numa bomba: uma empresa deste tamanho dificilmente deixará de ter segredos que funcionários descontentes terão prazer em revelar – e isso na melhor das hipóteses. Mas pode ser apenas um traque: uma empresa deste tamanho opera no Brasil inteiro, interfere em múltiplas atividades, é útil a políticos de todos os partidos. E uma oposição como a nossa, que teve suas chances no Mensalão, na CPI dos Correios, no caso VarigLog, e não aproveitou nenhuma, não chega a ser nenhum centro-avante rompedor. É esperar para ver. E esperar sentado.

Quando setembro chegar

O projeto que concede aos aposentados reajuste igual ao do salário mínimo (apresentado pelo senador gaúcho Paulo Paim, do PT), também ficou para mais tarde. O Governo quer evitar este gasto. Comenta-se que a votação ocorrerá em agosto, mas setembro é uma data bem mais provável.

Força, Alencar!

O vice-presidente José Alencar, se tudo correr normalmente, deve deixar o hospital nesta semana. Mas, por ordem médica, só irá a Brasília alguns dias depois, quando tirar os pontos. Alencar foi operado em São Paulo, no Hospital Sírio-Libanês, para extrair um tumor que lhe obstruía o intestino.

Gente, que garra tem este homem! E ele nunca é visto sem um sorriso.

Serra em campanha

O silêncio do governador paulista José Serra sobre sua candidatura à Presidência terminou ontem. Em resposta a críticas sobre o que se considerou supervalorização do prêmio que recebeu de uma ONG associada à ONU, disse em seu nome a assessora Júnia Nogueira de Sá: “(…) não é prática do governador ostentar títulos que não tem. Primeiro, porque não seria ético. Segundo, porque seu currículo dispensa maquiagens.” Foi um ataque direto à ministra Dilma Rousseff, sua possível adversária em 2010, cujo currículo tinha sido enriquecido com títulos de que não dispunha.

Dilma em campanha

A ministra Dilma Rousseff, candidata do PT, também está em plena campanha. Ainda ontem, em Palmeira dos Índios, Alagoas, o presidente Lula disse que “vai trabalhar para fazer sua sucessora”. Dilma estava no palanque, ao lado de Lula e de outros aliados, como o senador Fernando Collor de Mello, do PTB de Alagoas, e do ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB baiano. Houve gritos de apoio a Dilma e Lula corrigiu rapidamente, para não parecer que violava a lei eleitoral: “Sucessora ou sucessor”.

Boa notícia

O juiz federal Jatir Pietroforte Lopes Vargas, da 1º Vara Federal de Jales, SP, condenou André Luís Ferreira a um ano e oito meses de prisão, em regime semi-aberto, por roubar senhas bancárias. Ele instalava um equipamento especial (o “chupacabras”) em caixas automáticas, e gravava as senhas dos clientes. Mas a boa notícia não é a sentença: é a rapidez com que foi dada. Saiu pouco mais de três meses após a prisão, dois meses depois da apresentação da denúncia. Juiz e promotor se esforçaram para que a Justiça, em sua área de atuação, seja rápida – e provaram que isso é possível.

Moça imoral

A jornalista Lubna Ahmed Al-Hussein está presa no Sudão por usar “roupas indecentes” – ou seja, calças compridas. Se condenada, Lubna estará sujeita à pena, executada em praça pública, de 40 chibatadas. Não seria o primeiro caso: a lei islâmica é imposta mesmo aos cristãos, que formam boa parte da população. Uma jovem cristã, Cecília Holland, por não usar um lenço na cabeça, levou 40 chibatadas. No caso de Lubna, o desafio é maior: ela convidou a imprensa internacional para assistir ao julgamento.

Só daqui a mil anos

Atenção: às quatro horas, cinco minutos e seis segundos do dia 7 de agosto, hora e data serão 04:05:06 – 07/08/09. Outra sequência igual só ocorrerá no inverno de 3009 – até lá, espera-se, aqueles problemas que o Congresso vem empurrando com a barriga poderão estar resolvidos.

Carlos Brickmann