fonte:bneichalutzim
Chovia muito e a estrada de terra escorregadia fazia o carro deslizar como que se estivesse sobre uma fina manta de gelo. De longe avistei Reinaldo, um rapaz pobre, agricultor, alcoólatra, que com a camisa ensopada pela água da chuva, tentava esquivar-se dos pingos segurando com firmeza sua Bíblia. Ao me aproximar parei e lhe ofereci uma carona. Meio sem jeito, agradeceu com um olhar desarmado e me disse que voltava do culto evangélico. Tinha, enfim, tornado-se “crente” e afirmou isso com certo orgulho, patente no seu gesto determinado e temente a Deus.
Ao chegar em sua casa agradeceu-me e convidou-me para um dia conhecer sua igreja, mesmo sabendo que não sou cristão. Aquele simples trajeto em meio a uma chuva fina, me fez refletir sobre as transformações espirituais que toda religião induz nas pessoas, pois de forma nobre afloram da alma as melhores intenções do ser humano. Reinaldo é um dos 26 milhões de evangélicos do Brasil, segundo censo de 2000, número que que com certeza, nos dias de hoje, deve ter-se elevado consideravelmente.
Não poderíamos deixar de reconhecer que as igrejas evangélicas, independentemente de seus segmentos, contribuem de forma decisiva para a formação da ética, da moral, dos bons costumes, preenchendo uma lacuna e um espaço fértil onde a desesperança, a miséria e a desventura prosperam face à fragilidade sócio-econômica e à falta de oportunidade que ainda persistem no nosso meio, conduzindo os jovens à criminalidade, ao vício e à desintegração familiar.
As várias denúncias elencadas nos últimos anos em relação aos líderes de igrejas evangélicas nos assustam e certamente, cabe ao Judiciário, como já o fez inúmeras vezes, apurar os fatos baseando-se no princípio de isenção religiosa, como é sua marca no Brasil. Contudo, nos parece pertinente uma reflexão sobre o papel da imprensa em relação a essa questão que envolve, de certa forma, essa grande parcela da sociedade brasileira, pois desta feita, quem está sendo julgado são seus líderes religiosos.
Com efeito – e me abstendo da questão criminal em si ajuizada – cabe ao provimento jurisdicional julgar. Maso que se observa é que existe nos meios de comunicação uma insinuação velada de que ser evangélico no Brasil é sinônimo de estar sendo enganado, ao mesmo tempo que, pouco se demonstra ou valoriza, os atos dos fiéis, a mudança em suas vidas, a fé despertada, a vida reconstruída. Tudo mais é enaltecido: os maus atos dos líderes e a improbidade religiosa, o que por consequência, desqualifica o espírito evangélico renovador, coisa que não deveria acontecer. Nos EUA os evangélicos são responsáveis pelas maiores doações a Israel e no Brasil, observa-se que a simpatia dos evangélicos pelo povo judeu faz com que as diferenças religiosas sejam superadas através do entendimento pela paz e da busca quanto à harmonia das idéias.
Não seria justo que o lado bom de qualquer religião fosse ofuscado pela postura dos líderes, mas assim como é necessário denunciar as improbidades, também é dever da imprensa reconhecer e dar espaço às boas coisas, prestigiando aqueles que como Reinaldo, através da religião, tiveram o firme propósito de renascer com a sua fé, de superarem-se através do amor que nutrem por Deus e com orgulho, dirigem um olhar sereno segurando uma Bíblia, quando dizem: “ – Eu mudei, sou evangélico, estou renascendo. Deus te abençoe.”
Fernando Rizzolo
A pedido do Ministério Público de São Paulo, a Justiça abriu ação criminal contra Edir Macedo e outros nove integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus sob a acusação de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, informa reportagem publicada nesta terça-feira pela Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
A investigação mostra que, somando transferências atípicas e depósitos bancários feitos por pessoas ligadas à Universal, o volume financeiro da igreja de março de 2001 a março de 2008 foi de R$ 8 bilhões, segundo informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda.
A movimentação suspeita da Universal somou R$ 4 bilhões de 2003 a 2008. Os recursos teriam servido para comprar emissoras de TV e rádio, financeiras e agência de turismo e jatinhos. Os advogados da Universal negam irregularidades. Segundo eles, a Receita aprovou as contas das empresas apontadas na denúncia.
Em resposta à Folha, Arthur Lavigne, advogado dos dez líderes da Igreja Universal, disse que as empresas apontadas pelo Ministério Público como fachada para a movimentação do dinheiro pago por fiéis como dízimo já foram fiscalizadas pela Receita Federal e tiveram suas contas aprovadas.
Reportagem da Folha publicada em dezembro de 2007 revelava o patrimônio da Igreja Universal do Reino de Deus acumulado em mais de 30 anos –o que incluía um conglomerado empresarial em torno dela. Após a publicação, fiéis da igreja entraram com ações por dano moral contra o jornal, no país todo.
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Rizzolo: Evidentemente durante a instrução criminal os acusados poderão comprovar sua inocência. O papel do Ministério Público é este, promover as devidas denúncias para que se recebidas pelo Juiz, dar início à ação penal com amplo direito ao contraditório.
Contudo, deixando de lado esta denúncia específica, tampouco opinando em relação ao processo em questão, a grande verdade é que de uma maneira geral existe um certo “antievengelismo” acompanhado de um denuncismo, que vez ou outra acomete as Igrejas Evangélicas em geral, principalmente por parte da imprensa.
Nunca fui advogado de nenhuma Igreja Evangélica, sou uma pessoa religiosa, não sou cristão, mas tenho uma profunda admiração aos evangélicos de uma maneira geral. A retidão do pensamento, os valores, os trabalhos sociais, o temor à Deus, tudo isso na realidade é que o falta ao povo brasileiro, e em especial à classe política, e isso os evangélicos tem de sobra.
Se há culpados que sejam julgados, mas a reflexão que disponho a fazer, é em relação aos valores religiosos, este sim são de extrema importância, e talvez num país aonde a corrupção, a falta de ética, o desrespeito a Deus impera, provavelmente as perseguições prosperam na mesma intensidade.
Estudos científicos realizados nas últimas quatro décadas têm demonstrado o papel do ponto de vista público e pessoal da religiosidade e seus efeitos na saúde e na longevidade. Tais pesquisas têm evidenciado que a prática da fé e da religiosidade, aumenta, de certa forma, a imunidade geral dos pacientes. Alguns dos resultados citados foram pesquisados durante 16 anos em Israel, em comunidades com o mesmo perfil, porém vivendo espiritualmente de forma diversa: uma num kibutz secular não-religioso e outra num kibutz religioso.
Apesar de ambas as comunidades serem demograficamente iguais, contendo o mesmo nível de estrutura médica e social, o número de óbitos era o triplo no Kibutz secular, comparado-se em relação ao religioso. Pesquisas nesta área também foram realizada na Inglaterra. Através de estudos semelhantes foram constatado os efeitos da fé na superação dos problemas de saúde.
Verificou-se, por exemplo, num estudo sobre os efeitos das doenças meningocócicas em adolescentes, que a religiosidade, a fé e a espiritualidade, tinham o mesmo efeito preventivo que as vacinas para as doenças relacionadas a esta bactéria ( Tully J, Viner RM, Coen PG, Stuart JM, Zambon M, Peckham C, Booth C, Klein N, Kaczmarski E, Booy R. 2006. Risk and Protective Factors for Meningococcal Disease in Adolescents: Matched Cohort Study. BMJ 332: 445-450.)
Estamos vivendo atualmente, a ameaça de uma pandemia de gripe do tipo H1N1 desta . Apesar dos esforços do governo, do exército e de toda sociedade, os procedimentos de higiene preconizados devem continuar sendo amplamente difundidos pela imprensa. Contudo, por tratar-se de uma doença que tem no seu âmago, indevidas violações do ser humano contra natureza – no seu característico desrespeito especista, no triste confinamento antinatural de grandes quantidades de animais – temos que refletir e rever nosso estilo de vida e os nossos conceitos em relação aos hábitos alimentares que jamais deveriam ser baseados na violência.
O sofrimento dos animais e a incessante busca de lucro pelos grandes abatedouros escondem, com certeza, um baixo conteúdo espiritual-energético no contexto desta doença. Muito mais do que um vírus, encontramos uma forma de “virulência espiritual”; assim, a razão e a nossa espiritualidade nos levam a lançarmos mão de uma busca religiosa como uma forma complementar de proteção de seus efeitos nefastos.
Pouco importa a religião, a origem ou a forma de se conectar com Deus. Talvez, no silêncio da noite, numa reflexão sobre a procedência desta epidemia ou numa oração, encontraremos, enfim, uma forma de nos apaziguarmos com toda a natureza e nos harmonizarmos com um elo perdido. Descobriremos também que nos relacionarmos com Deus é respeitarmos os seres vivos por Ele criados que aqui vivem e compartilham conosco essa jornada terrena. Afinal, uma oração ou uma reflexão espiritual é também uma forma de perdão e de harmonia que sempre leva à cura os que têm fé.
Fernando Rizzolo