O legado da Identidade Espiritual

O Rabi Menachem Mendel Schneerson, o lider ” O Rebe”, a figura mais eminente do judaísmo nesta geração, sempre dizia que nada nesta vida é por acaso. Um encontro, uma viagem, um convite, enfim tudo já está planejado pelo Grande Arquiteto do Universo. Mas porque pensar nas palavras do Rebe nesta noite de sexta-feira já de madrugada. Insônia? Reflexões noturnas? Pouco importa, nada é por acaso.

Sempre que volto do “Shull” – Sinagoga – surgem as perguntas; todos nós sempre temos questionamentos sobre a vida, quer do ponto de vista político, pessoal, familiar, ou ético. Talvez a certeza de que a existência humana seja de certa forma limitada no tempo, e que o esforço para que os valores que acreditamos serem verdadeiros, sejam efetivamente passados aos nossos descendentes possam não lograr êxito, nos faz sermos críticos em relação a nós mesmos. As perguntas que deveríamos fazer poderiam ser: Até que ponto os meus valores religiosos, éticos, morais estão sendo transmitidos aos meus filhos, netos ou à família? Que exemplo estamos dando aos nossos filhos nos negócios, na vida pessoal, enfim, na sociedade?

Um exemplo clássico é a questão judaica, hoje não existe nenhum empecilho para um judeu deixar de professar sua fé, não há pogrom, não há inquisição, não há anti-semitismo exacerbado, e no entanto, muitos nem sequer aceitam sua condição judaica. Em relação a outras religiões pode-se dizer o mesmo, nunca ” antes na história desse País” tornou-se tão acessível o Evangelho, as mensagens da Bíblia; quer na Televisão, quer no Rádio, a palavra de Deus está por toda parte, contudo poucos são aqueles que conseguem levar membros da sua própria família a ouvir as palavras de Deus. A resistência sempre existe.

Nada na vida prospera se não há uma relação de conectividade com Deus, enganam-se aqueles que entendem ser o ” self made man” e tudo podem. Os exemplos de milionários nos EUA que nunca aceitaram a conectividade divida e perdem tudo está acima da média, descobrem ao final, de que o dinheiro por si só nada representou nas suas vidas quando se vêem frente a frente com uma doença grave, uma tragédia, um infortúnio, a perda de um ente querido. Nunca fizeram o que chamamos em Hebraico de Tsedaká ou caridade, e mal sabem o que é Deus, sempre souberam o que é o bem material, o que quase sempre os levaramm a afogar-se na tristeza e no desespero e nas drogas.

Valores importantes não apenas do lucro material, mas de lucro também espiritual, é o legado que podemos deixar aos nossos filhos sejam qual for a religião. Conceitos de Tsedaká ou caridades tão pouco exercitadas no Brasil devem ser encorajados já nas escolas primárias, nas Universidades, nas empresas. Realmente fico impressionado com os despojamentos de algumas famílias ricas e empresas no Brasil, que por tradição familiar, ou por cultura, ou até por consciência, fazem doações volumosas à Casa de Apoio Hope, da qual Cláudia Bonfiglioli, é a presidente. Com certeza esses empresários já receberam desde cedo o legado da importância da responsabilidade social, muito antes de este termo existir no nosso meio ou na sociedade.

Talvez falar em Tsedaká, em identidade, em religião, e em Deus fosse minha missão neste Shabbat, talvez não conseguir dormir fosse um plano para que você, por acaso, sem querer, finalmente lesse esse artigo e concordasse com o Rebe, que finalmente nada é por acaso.

Tenha um ótimo Sábado e uma semana feliz!

Fernando Rizzolo

Abastecendo o armazém da dignidade

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Yossef interpreta o sonho do Faraó

Como de costume, todo Sábado procuro não escrever textos que não estejam relacionados com o Shabbat, e com o estudo da Tora. Sem ter a intenção de dar uma conotação pessoal religiosa ao que escrevo, me permito dirigir me a você, que acompanha minhas reflexões diariamente, e de uma forma humilde, compartilhar com o amigo(a) esses momentos de introspecção dos meus estudos no Shabbat, que se iniciam todas às sextas-feiras, quando me recolho duas horas antes da primeira estrela surgir no céu, numa Sinagoga ortodoxa que freqüento em São Paulo.

Como já disse anteriormente, tenho profundo respeito por todas as crenças, religiões, e acima de tudo sou um brasileiro patriota, amo meu país e o povo brasileiro, e tenho sim, uma grande satisfação espiritual em ao estudar a Parashá (Porção da Tora semanal) relacioná-la ao que vivemos nos dias atuais. Como é uma reflexão de estudo pessoal, baseada na introspecção, recomendo a todos que acompanhem no Antigo testamento (Tora) os comentários aqui expostos, para que possamos ter uma semana de paz, e que através dos estudos judaicos, possamos compreender nossas vidas e encontrar formas de superar as adversidades na visão de Hashem (Deus), para que possamos construir um Brasil cada vez mais digno e com mais justiça social, que é a base do Judaísmo, do Cristianismo e de todas as religiões.

A Parashat desta semana chama-se Mikêts inicia-se com o famoso sonho do faraó sobre sete vacas esqueléticas devorando sete vacas gordas, seguido por sete magras espigas de cereal devorando sete espigas saudáveis.

Quando seus conselheiros e necromantes foram incapazes de resolver adequadamente a intrigante charada, o faraó chamou Yossef (José), que havia estado na prisão por um total de sete anos, para interpretar seus sonhos. Creditando seu poder de interpretação unicamente a D’us, Yossef diz ao faraó que, após viverem sete anos de extraordinária abundância nas colheitas, o Egito será assolado por sete anos de uma escassez devastadora.

Yossef aconselha o faraó a procurar um homem sábio para presidir a coleta e o armazenamento de grande quantidade de alimentos durante os anos de fartura. Impressionado pela brilhante interpretação, o faraó designa Yossef para ser o vice-rei do Egito, fazendo dele o segundo homem na hierarquia do país.

A mulher de Yossef, Asnat, dá à luz dois filhos, Menashê e Efraim, e os anos de fartura e escassez acontecem como Yossef havia predito.Com a fome abatendo também na terra de Canaan, os irmãos de Yossef vão ao Egito para comprar alimentos. Como não reconhecem seu renomado irmão, Yossef põe em ação um plano para determinar se eles se arrependeram totalmente pelo pecado de tê-lo vendido quase vinte anos atrás.

Yossef age com indiferença e os acusa de serem espiões, mantendo Shimeon como refém, enquanto o restante dos irmãos retorna com os alimentos para Canaan. Yossef, ainda não sendo reconhecido, conta-lhes que Shimeon será libertado apenas quando retornarem ao Egito com o irmão mais novo. Relutante a princípio, mas confrontado pela escassez crescente, Yaacov finalmente concorda em permitir aos filhos que levem Binyamin com eles. Ao chegarem ao Egito, Yossef testa ainda mais os irmãos, tratando bem a todos, mas mostrando um grande favoritismo por Binyamin.

Quando os irmãos finalmente voltam para casa com os baús repletos de cereais, Yossef esconde sua taça na sacola de Binyamin e este é acusado de ter roubado o precioso objeto. A porção termina com a ameaça pendente de que Binyamin será feito escravo do governante egípcio.

Ao informar ao Faraó um possível problema que estava por surgir, que era a vinda de um período de fome no Egito, Yossef aconselhou ao rei a aproveitar e armazenar alimentos durante os sete anos precedentes de fartura para assegurar a sobrevivência durante os sete anos de escassez. O que significa isso ? Isso significa que o mais importante nos anos de desenvolvimento, de abundância e de fartura é o planejamento e a implementação dos projetos sociais, que englobam a dignidade humana. Ora, se na época de fartura, como a que vivemos no Brasil e no mundo, com um desenvolvimento jamais visto, não pensarmos e planejarmos propostas visando os pobres. Quando a faremos? Nos momentos de fome?

Se nunca se arrecadou tanto, face aos lucros das empresas, quando então poderemos abastecer o armazém da dignidade dando oportunidade aos humildes, para que nas tempestades econômicas possam eles estar mais preparados do ponto de vista de saúde, de qualificação profissional, de cultura e de esperança? Se, durante os anos de fartura, adquirimos as armas necessárias para ter sucesso na vida, então teremos a habilidade de sobreviver durante os anos de fome. Contudo, sempre existem aqueles que apregoam o individualismo, que entendem que arrecadar para abastecer o armazém da dignidade é gastar dinheiro à toa, para o lucro tudo, e para os pobres nada. Observem que mesmo os irmãos de Yossef que o abandonaram e o venderam aos árabes como escravo, em monumentos de dificuldade vieram do Egito para se abastecerem face à fome na terra de Canaan, isso explica o fato daqueles que na maldade do egocentrismo em não aceitar pagar impostos visando transferência de renda, quando da dificuldade, se socorrem dos benefícios daqueles que planejaram e souberam ” planejar para o bem “.

O dia em que a elite brasileira, entender que nos momentos de prosperidade deve-se dar um impulso aqueles mais necessitados, colherá os frutos dessa política quando na dificuldade econômica, que por ventura o pais enfrentar, constatar a diminuição da criminalidade, uma melhor preparação intelectual da população pobre, será então mais fácil adequa-los a uma realidade difícil face à cultura que obtiveram na prosperidade. No Brasil já tivemos muitos ” reis” (governos) que não souberam direcionar as riquezas do país armazenando-as no ” galpão da dignidade “, e hoje colhemos o resultado da falta de planejamento social. A coleta e o armazenamento dos alimentos sociais se deve fazer na prosperidade e terão que contar com a compreensão daqueles que de tudo já tem, que deveriam ser patriotas, justos, cristãos, e acima de tudo humanos.

Para você um Sábado de paz. ( Sabbath Shalom )

Fernando Rizzolo