Uma Velha Fita Mini K 7 e Michael Jackson

Chovia muito, mas mesmo gripado, convenci minha mãe a ir naquela festa. Não podia faltar, afinal, todos da minha classe iriam e o pessoal que montava as luzes “estroboscópicas” e as imensas lonas que iriam cobrir o quintal da casa dela, estava já preparando o som, que segundo o pai da aniversariante, “não deveria ser muito alto” .

Eu tinha 15 anos de idade. Festa ou “baile”, para o pessoal do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, era coisa séria, até porque, a pressão em função das provas era algo sufocante.

Por volta das 20:30 o baile começou – bem mais cedo do que hoje em dia! – e ainda me lembro que após tomar uma “cuba libre”, ouvi uma música lenta de Michel Jackson, chamada “Got to be there. Ainda sob os efeitos dos antigripais da mamma, tirei uma menina da classe para dançar.

À medida em que a música de tocava, minha gripe melhorava e embalado por aquele clima super romântico, depois de alguns minutos, fiz uma pergunta infantil, própria da época, para aquela doce menina de olhos azuis: “- Quer namorar comigo?”Balançando a cabeça num gesto de sim, , me beijou no rosto e continuamos a dançar. O Got to be there tocou seis vezes naquela noite; dançamos todas. Ao sair da festa estava perdidamente apaixonado.

No dia seguinte, comprei uma mini-fita K7 do Michel Jackson com a tal música. Afinal, aquela tinha sido eleita a música do nosso namoro, que durou, infelizmente, três meses. Um dia desses, passados mais de 37 anos, encontrei num velho baú do sítio aquela antiga fita. Além dela, achei também um empoeirado gravador compatível e me aventurei: toquei a música.

Foi uma viagem, tudo me veio à mente: o resfriado, a chuva, minha mãe me dando “instantina” (a aspirina da época) e me colocando um agasalho,o Colégio Bandeirantes, a festa e a minha antiga namorada..Tudo desapareceu; meus amigos de classe, a minha namorada da festa, a mini-fita K 7 que já não existe mais no mercado, a “instantina”, que já trocou de nome e o bairro em que eu morava.

Enfim, restou apenas uma saudade distante, de tudo, principalmente, do doce som daquela lenta música do Michael Jackson, “Got to be There”, canção que me deu a coragem, mesmo resfriado e envergonhado, de pedir em namoro a minha primeira namorada. Muitos terão histórias parecidas para contar com as músicas de Michael Jackson, histórias de amor, de paixão e de sonhos. A mim, me resta apenas ouvir a velha mini-fita K 7 e pensar que Michael Jackson, com suas músicas, ficará para sempre na lembrança de todos.

Terá ele com certeza ainda, a magia de embalar muitos corações que se descobrirão dentre fotos antigas e fitas num velho baú que nos remeterão para uma época em que a gente não pensava que as coisas se vão e se perdem; ficará apenas a lembrança, a saudade que poderá ser encontrada num baú perdido num lugar qualquer.

Descanse em paz, Michael.

* dedico este texto a todos aqueles que, um dia, curtiram uma paixão através das músicas de Michael Jackson.

Fernando Rizzolo