Em setembro, entrada de capital especulativo ultrapassa US$ 6,8 bi

Os números do setor externo divulgados pelo Banco Central registraram em setembro ingressos líquidos de US$ 6,835 bilhões em investimentos estrangeiros em carteira. Esse volumoso ingresso de capitais puramente especulativos não foi um ponto fora da curva, como costumam dizer os economistas. Inclusive já vinha sendo apontado em meses anteriores.

Assim se sucedeu em agosto (US$ 6,079 bilhões) e julho (US$ 7,517 bilhões). No ano, foi acumulada uma entrada de US$ 22,693 bilhões em investimentos estrangeiros em carteira.

Especialmente em período de crise internacional, o diferencial de juros tem se tornado um forte atrativo para os especuladores. É só analisar, por exemplo, taxa real de juros(4,3%) com as dos países do G7. Atualmente, segundo levantamento da consultoria UpTrend, a taxa média real de juros das 40 maiores economias é de 1,1%. Estão abaixo dessa média, países como Inglaterra (-0,6%) e Itália (0,8%). As taxas de juros reais dos EUA e França estão em 1,4%, enquanto que na Alemanha está em 1,3%, Canadá, em 1,2% e Japão, 2,4%.

Em setembro, a média geral dos juros reais era de 1,2%, enquanto a dos EUA, 2,3%. A da Inglaterra estava em -1,3%, a da Alemanha, 1,5% e a do Japão. A do Brasil, 4,5%.

Em julho, média geral dos juros reais: 1,0%. Abaixo disso, Inglaterra (-1,3%) e Alemanha (0,8%). Os EUA estavam com taxa real de juros de 1,6% e Japão, com 1,2%. A do Brasil, 4,4%.

Com isso, os especuladores ganham em duas pontas. Primeiramente, na conversão das moedas e depois na aplicação em títulos públicos remunerados pela Selic.

Além de se tornar um freio à ampliação dos investimentos, a consequência imediata da manutenção dos juros altos por parte do BC é a valorização do real ante ao dólar. Segundo o FED, o banco central norte-americano, entre 31 de dezembro de 2008 e 22 de outubro de 2009, a taxa de valorização média de uma cesta de moedas em relação ao dólar foi de 6%, enquanto a do real foi de 37%.

Obviamente que encareceram os produtos brasileiros no exterior, atingindo em cheio às exportações.

A cobrança de 2,0% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre capital estrangeiro que ingressar no país para aplicação na Bolsa e em renda fixa, foi uma boa medida, mas ainda muito tímida. Sem a redução dos juros para média internacional, continuará a enxurrada de capitais especulativos e com eles a sobrevalorização cambial.

VALDO ALBUQUERQUE
Hora do Povo

Rizzolo: A notícia corrobora o que este Blog afirma há muito tempo, o desmantelamento da indústria nacional, exportadora, principalmente de manufaturados, tem sido feito através da perversa política macroeconômica, que tem por objetivo sustentar a alta taxa de juros no Brasil. Fica patente que os especuladores tomam numa ponta recursos, e ganham na conversão e depois na aplicação em títulos públicos remunerados pela Selic.

O principal efeito, é claro, é a valorização do real tornando nossos produtos sem competitividade; como se bastasse os custos da nossa produção, temos ainda que contemplar os especuladores com a enxurrada de dólares. A cobrança de 2,0% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre capital estrangeiro que ingressar no país para aplicação na Bolsa e em renda fixa, é uma medida tímida que pouco efeito surtirá enquanto as taxas de juros estiverem neste patamar.