O individualismo e o Isolacionismo

*por Fernando Rizzolo

Globalização é a expressão de ordem do consumismo desenfreado. Na realidade, o que está por trás dessa expressão é um tipo de alienação. A ironia da globalização advém do fato de o mundo estar teoricamente unificado e, ao mesmo tempo, as pessoas estarem tão separadas entre si, como nunca estiveram antes na história da humanidade. Cada vez mais, nós nos definimos em termos econômicos. Costumamos, num primeiro encontro, sempre perguntar ao outro: “Você trabalha em que área?”. Nossas semanas estão divididas entre trabalho e descanso, o que na maioria das vezes significa ter horários para produzir e horários para consumir.

Nossas alienações aumentam de forma progressiva. A cada dia, nos distanciamos dos outros cada vez mais. Mudamos de um apartamento para um condomínio fechado, onde nem sequer temos contato com nossos vizinhos; compramos aparelhos MP3 que nos permitem ouvir apenas as músicas de que gostamos, de modo isolado dos outros, em geral através de fones de ouvido, que acabam nos desconectando do mundo. Até mesmo os celulares, que deveriam nos conectar com outras pessoas, nos permitem “filtrar” nossas relações, separando-nos dos demais indivíduos ao nosso redor. Filhos falam com os pais somente por telefone, amigos trocam informações apenas por e-mail, declarações de amor são feitas via webcam – isso para citar alguns exemplos.

No fundo, o homem é um ser social, apesar de com frequência estar se distanciando cada vez mais desse objetivo. Contudo, para resgatarmos a essência do ser humano, precisamos nos tornar parte de algo maior. Mas como fazê-lo? É simples: basta fazermos aos nossos semelhantes aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós mesmos. Seria o princípio sagrado de assegurar que não haverá ninguém sem roupas enquanto tivermos o que vestir ou de que não haverá famintos enquanto tivermos o que comer.

O capitalismo nos leva ao egocentrismo, ao individualismo, e dessa forma não temos condições de pensar no coletivo. Assim, para quebrarmos esse círculo vicioso, precisamos nos livrar da ganância, dedicarmo-nos às coisas simples da vida, à natureza, aos amigos, e não nos deixarmos dominar pela concorrência acirrada do mundo atual, que muitas vezes gera o ódio e leva fatalmente à depressão.

Ter um projeto de vida e uma visão política de justiça social enobrece o homem e refina os preceitos éticos que tanto o individualismo consumista nos obscureceu. Pensar em Deus e agir como parceiro Dele aqui na Terra, procurando ser o melhor naquilo que se faz, é a melhor oração, mas sem se deixar levar pela febre do isolamento e do consumo, que leva quase sempre à tristeza e à falta de sentido da vida.

Pense nisso.

Fernando Rizzolo

Brics dão o exemplo para reduzir pobreza

“Os mais recentes indicadores a respeito da evolução da pobreza global revelam uma crescente desconexão entre o que o mundo poderia ser e o que realmente é. Em grande medida, a maior fragilidade da governança global conduzida pelas nações ricas durante as duas últimas décadas tem apontado para maior polarização social entre riqueza e pobreza”, afirma o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, no artigo “Os Bric e a globalização da pobreza”, publicado no Valor Econômico.

De acordo com o economista, “em parte, essa polarização se deve ao agravamento da questão social em quase dois terços da população do planeta. Não fosse o desempenho de alguns poucos países como Brasil e China, por exemplo, na redução da quantidade de miseráveis e pobres, o retrocesso poderia ser ainda mais grave”. Ele apresentou dados que comprovam essa assertiva. O número de miseráveis no mundo – com renda per capita atual de até R$ 61,20 – passou de 1,9 bilhão em 1981 (52,2% da população) para 1,4 bilhão em 2005 (25,7% da população). A diminuição de meio milhão de pessoas (26,8% na quantidade de miseráveis) se deveu “fundamentalmente” à China. Nesse país, saíram 627,4 milhões de pessoas da condição de miseráveis entre 1981 (835,1 milhões) e 2005 (207,7 milhões).

Para Pochmann, “essa fantástica queda de 75,1% no número de miseráveis chineses foi acompanhada pelo aumento da quantidade de pessoas na condição de miseráveis no resto do mundo. Ou seja, sem a China, o mundo apresenta uma adição de 114 milhões de pessoas miseráveis, tendo em vista o aumento de 1,1 bilhão de pessoas nessa condição em 1981 para 1,2 bilhão em 2005”.

Analisando o conceito de pobreza mundial – que tem como parâmetro a insuficiência de renda per capita para viver com até R$ 122 ao mês, atualmente -, o número de pobres saltou de 2,7 bilhões em 1981 (74,8% da população) para 3,1 bilhões em 2005 (57,6% da população). No período, a taxa de pobreza no mundo caiu 23%, mas a quantidade de pobres aumentou em cerca de 402 milhões.

“O esgotamento do padrão de desenvolvimento do segundo pós-guerra foi acompanhado pela desgovernança mundial. O fim da bipolaridade (EUA e URSS), a queda do muro de Berlim e a decadência mais recente dos Estados Unidos foram acompanhados simultaneamente pela expansão inédita do poder econômico da grande corporação transnacional e pela perda de eficiência do sistema das Nações Unidas (ONU, Bird, FMI, OMC) na administração dos conflitos e construção de grandes e efetivas convergências globais. Por consequência, há maior polarização entre ricos e pobres”, argumenta o economista.

Segundo ele, “o ciclo de expansão econômica, comercial e tecnológica parece ter sido muito bem aproveitado por grandes corporações transnacionais e pela superelite global. Enquanto as 500 maiores corporações já respondem por mais de 40% do PIB mundial, com força econômica superior à de países, 1,2 milhão de clãs de famílias apropriam-se de 55% da riqueza do planeta”.

“A medida de miseráveis e pobres não deixa de ser um indicador que poderia ser perfeitamente revertido, dados os ganhos fantásticos de riqueza, conforme a experiência de países como a China e, mais recentemente, o Brasil”, afirma Pochmann.
hora do povo

Rizzolo: Fica patente que os países em desenvolvimento contribuem em maior proporção para a diminuição da desigualdade social no planeta. O artigo de Pochmann é extremamente interessante quando ressalta que a diminuição de meio milhão de pessoas (26,8% na quantidade de miseráveis) se deveu “fundamentalmente” à China, um país socialista que se apropriou em parte de conceitos capitalistas para desenvolver seu mercado interno e externo.