Lula: encomendas do governo devem ser feitas na fábrica de chips do Brasil e não no exterior

Na cerimônia de inauguração do Centro Nacional em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), em Porto Alegre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que após o carnaval vai haver uma reunião no âmbito do governo federal para analisar que encomendas podem ser feitas da primeira fábrica de chips da América Latina. “Nós vamos ter que fazer uma reunião com algumas instituições do nosso país. Por exemplo, Ministério da Fazenda. Por que o Ministério da Fazenda? Por causa da Casa da Moeda. A Casa da Moeda faz passaporte e, portanto, o chip pode ser feito aqui por nós, na Ceitec, não tem que ser importado de lugar nenhum, nós poderemos produzi-lo aqui”, afirmou. Lula destacou a “quantidade de coisas que podem ser encomendadas pelo Banco do Brasil” e lembrou a Caixa Econômica Federal, responsável pela Previdência Social.

“Precisamos agora, na verdade, é praticamente enquadrar todo o governo brasileiro e todas as instituições brasileiras, que precisam comprar coisas que nós podemos produzir aqui, para que a gente comece a ver essa empresa crescer, e crescer muito”, acrescentou o presidente.

Lula informou que o Ceitec teve um investimento de R$ 400 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia. A estatal, vinculada ao Ministério, “tem como objetivo desenvolver a indústria de semicondutores no Brasil e, consequentemente, a indústria eletrônica. Atua no segmento de identificação por radiofrequência, comunicação sem fio e mídias digitais. É especializada no desenvolvimento e produção de circuitos integrados de aplicação específica”.

“CHIP DO BOI”

Criado em novembro de 2008, através de um decreto presidencial, o Ceitec está instalado em um complexo de 14.600 metros quadrados. Inicialmente, irá produzir o chamado “chip do boi”, isto é, um chip para rastreabilidade bovina, que consiste em identificação eletrônica que possibilita o acompanhamento de informações dos animais desde o nascimento até o abate.
O presidente lembrou da migração de muitos engenheiros para o sistema financeiro: “Você via na televisão, analista de uma série de coisas (…) Era tudo engenheiro, recém-formado, que tinha enveredado pelo caminho do sistema financeiro, em vez de ficar no setor produtivo”. De acordo com Lula, em 1989, havia no Brasil cerca de 52 mil escritórios de consultoria de engenharia. Em 2000, foram reduzidos para oito mil escritórios, e agora o número está em torno de 50 mil novamente.

DOUTRINA

Lua ressaltou que “o país que não se preocupou em formar engenheiro, não poderia ser competitivo em uma área tão extraordinária como essa área de semicondutores”, observando ainda que “o mais importante de tudo é trazer de volta engenheiros brasileiros que estavam no exterior. Pessoas que estavam já desacreditadas de oportunidades no Brasil, pessoas que estavam lá há alguns anos trabalhando no exterior e que de repente viram na nossa empresa a possibilidade de retornarem ao Brasil e poder aqui fazer igual ou mais do que eles faziam lá fora”.

“Eu lembro do desmonte das coisas que nós já tivemos no Brasil. A elite é muito esperta, sobretudo quando ela é ‘emprenhada’ pelos ouvidos, pelos doutrinadores estrangeiros que têm interesse aqui dentro. Mas, você está lembrado que nos anos 80 nós tivemos uma geração inteira que foi obrigada a acreditar, ou quis acreditar, que tudo tinha que ser feito lá fora, quando nós tínhamos uma indústria eletrônica, no caso da Embratel, até competitiva. E a gente foi desmontando em nome de uma doutrina. Em nome da doutrina de que a empresa pública não valia nada, de que o Estado não prestava, de que tinha que ser tudo da iniciativa privada, se criou uma guerra desnecessária”, frisou o presidente.

“Eu fico feliz que a primeira fábrica de chips da América Latina seja feita no Brasil, seja feita em Porto Alegre. E eu espero que daqui a gente possa ter a possibilidade de uma demanda de encomendas, que a gente possa ter outra fábrica, mais outra, mais outra e, em breve, sermos competitivos com o chamado ‘mundo desenvolvido’”, concluiu Lula.
Jornal HP

Rizzolo: Não há dúvida que nos anos 80 houve um desmonte da indústria nacional, tudo que era fabricado no exterior, ou pelas multinacionais aqui no Brasil era o melhor, o maior problema na época é que as empresas multinacionais já tinham acordo lá fora, em que no exato momento em que abrissem suas filiais no Brasil, já especificariam produtos de outras multinacionais, ou seja, nós aqui, a nossa indústria, sempre ficou a ver navios, poucas foram as exceções como empresa WEG que subsistiu a essa pressão das multinacionais no Brasil, conquistou mercado, e se tornou um multinacional brasileira. Precisamos acreditar no potencial da nossa indústria e cada vez formar mão-de-obra especializada no Brasil.