Não são poucas as vezes que em reuniões entre amigos, em conversas no canto da sala, sempre se ouvem de alguém mais intolerante, para não dizer radical, que no Brasil o povo é atrasado face à nossa colonização. Se deixarmos a conversa rolar, das alegações de má colonização, o ” radical” passará a insinuar que o problema além da colonização, é o ” espirito latino” de desorganização, a aí por diante. Sempre tentei não enxergar o Brasil dessa forma, mas tentar entender a desordem e a ineficácia tamanha que reina no nosso meio político, é um árduo exercício, ademais, todo cuidado é pouco na análise, para que não venhamos cair nas argumentações dos radicais e intolerantes.
O fato é que, a ineficácia da política pública de combate ao mosquito transmissor da dengue e o jogo de empurra entre os governos federal, estadual e municipal, produziram um resultado concreto no Rio de Janeiro: agora, a doença é epidêmica. Nos últimos 15 anos, na cidade do Rio de Janeiro, morreram vítimas da dengue 149 pessoas, registrando-se 274,9 mil casos da doença.
Conforme levantamento realizado pelas Secretarias Municipal e Estadual da Saúde, a pedido do jornal O Globo, outras 204 pessoas morreram no mesmo período no Estado, tendo sido notificado 613,4 mil casos. Durante esse período, as autoridades municipais, estaduais e federais não foram capazes de implantar uma política eficaz de combate ao mosquito transmissor da doença nem de preparar a rede pública de hospitais para atender ao número crescente de casos.
Mais de 32 mil casos de dengue já foram registrados no Estado do Rio nos três primeiros meses deste ano. Quase 100 mortes foram notificadas como suspeitas de dengue, sendo 48 confirmadas, número que já supera o total de mortes (31) ocorridos no Rio em todo o ano de 2007. O índice de letalidade da doença na cidade está em torno de 5% dos pacientes contaminados, muito acima do considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 1%.
Esse quadro nos leva a uma reflexão sobre a saúde pública no Brasil. Infelizmente, passa-se maior tempo tentando atribuir a culpa sobre a questão da epidemia, do que medidas eficazes de erradicação do transmissor. As autoridades municipais, estaduais e federais não foram capazes de implantar uma política eficaz de combate ao mosquito transmissor da doença nem de preparar a rede pública de hospitais para atender ao número crescente de casos.
O cerne da questão é o descaso com o trato das coisas públicas mais simples; as iniciativas dos governos em atender de forma expedita questões básicas, se perdem nos meandros da politicagem acreditando os homens públicos, que o pior não acontecerá e que se acontecer a atribuirão com certeza a culpa em alguém
A saúde pública no Brasil passa por uma crise muito séria, e desvendar essa questão não é tão complicado como assim parece. Gestões interessadas no sucateamento do papel do Estado em promover bem-estar, entusiastas do modelo americano de privatização da saúde, a perversa conceituação de que pode-se ” ganhar dinheiro” com investimentos em hospitais, tudo isso nos levou ao que vivemos hoje no País, chancelado ainda, pela inoperância e conivência dos políticos.
Nunca aceitei a argumentação dos intolerantes e radicais, como afirmei acima, mas entendo o porque que em determinadas situações surgem os radicais de direita; a explicação é simples: da mesma forma que o meio ambiente predispõe ao mosquito se alastrar, o meio político predispõe aos fascistóides surgir. E isso é um perigo, mais perigoso que Aedes aegypti .
Fernando Rizzolo