Brasil permanece um dos mais desiguais do mundo, apesar de progresso, diz ONU

Apesar dos progressos sociais registrados no início da década passada, o Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo, segundo atesta um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que será divulgado nesta sexta-feira.

O índice de Gini – medição do grau de desigualdade a partir da renda per capita – para o Brasil ficou em torno de 0,56 por volta de 2006 – quanto mais próximo de um, maior a desigualdade.

Isto apesar de o país ter elevado consideravelmente o seu índice de desenvolvimento humano – de 0,71 em 1990 para 0,81 em 2007 – e ter entrado no grupo dos países com alto índice neste quesito.

O cálculo do indicador de desigualdade varia de acordo com o autor e as fontes e a base de dados utilizados, mas em geral o Brasil só fica em melhor posição do que o Haiti e a Bolívia na América Latina – o continente mais desigual do planeta, segundo o Pnud.

No mundo, a base de dados do Pnud mostra que o país é o décimo no ranking da desigualdade.

Mas os dados levam em conta apenas 126 dos 195 países membros da ONU, e em alguns casos, especialmente na África subsaariana, a comparação é prejudicada por uma defasagem de quase 20 anos de diferença.

Na seleção de países mencionada no relatório do Pnud, os piores indicadores pela medição de Gini são Bolívia, Camarões e Madagascar (0,6) e Haiti, África do Sul e Tailândia (0,59). O Equador aparece empatado com o Brasil com um indicador de 0,56.

Colômbia, Jamaica, Paraguai e Honduras se alternam na mesma faixa do Brasil segundo as diferentes medições.

Desigualdade e mobilidade

O relatório foca no problema da desigualdade na América Latina, o continente mais desigual do mundo, segundo o Pnud. Dos 15 países onde a diferença entre ricos e pobres é maior, dez são latino-americanos.

Em média, os índices Gini para a região são 18% mais altos que os da África Subsaariana, 36% mais altos que os dos países do leste asiático e 65% mais altos que os dos países ricos.

O documento traça uma relação entre a desigualdade e baixa mobilidade social, caracterizada pelo círculo de aprisionamento social definido pela situação familiar de cada indivíduo.

No Brasil e no Peru, por exemplo, o nível de renda dos pais influencia a faixa de renda dos filhos em 58% e 60%, respectivamente.

No Chile esse nível de pré-determinação é mais baixo, 52% – semelhante ao da Inglaterra (50%).

Já nos países nórdicos, assim como no Canadá, a influência da situação familiar sobre os indivíduos é de 19%.

Alemanha, França e Estados Unidos (32%, 41% e 47%, respectivamente) se incluem a meio do caminho.

No campo educacional, os níveis de educação dos pais influenciam o dos filhos em 55% no Brasil e em 53% na Argentina. No Paraguai essa correlação é de 37%, com Uruguai e Panamá registrando 41%.

A influência da educação dos pais no sucesso educacional dos filhos é pelo menos duas vezes maior na América Latina que nos EUA, onde a correlação é 21%.

“Estudos realizados em países com altos níveis de renda mostram que a mobilidade educacional e o acesso à educação superior foram os elementos mais importantes na determinação da mobilidade socioeconômica entre gerações”, afirma o relatório.

Para o Pnud, a saída para resolver o problema da desigualdade na América Latina passa por melhorar o acesso das populações aos serviços básicos – inclusive o acesso à educação superior de qualidade.

O relatório diz que programas sociais como o Bolsa Família, Bolsa Escola e iniciativas semelhantes na Colômbia, Equador, Honduras, México e Nicarágua representaram “um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social” na América Latina, sem que isso tenha significado uma deterioração fiscal das contas públicas.

“No que diz respeito à distribuição (de renda), as políticas orientadas para o combate à pobreza e à proteção da população vulnerável promoveram, na prática, uma incidência mais progressiva do gasto social, que por sua vez resultou em uma melhor distribuição da renda.” BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Rizzolo:Isso denota que com todos os avanços que houveram, muito há que se fazer. A diminuição das desigualdades sociais se faz com os projetos de inclusão e maior geração de empregos, dessa forma ao aumentarmos o nosso mercado interno, com uma política de juros aceitável, estaremos contribuindo para que a grande massa principalmente de jovens participem dos avanços econômicos. É bem verdade que o resultando da desigualdade demonstrada, elenca inúmeros fatores como educação, saúde, mas sou um grande otimista do potencial do nosso mercado consumidor, que como já disse se continuar fortalecido por um mercado interno aquecido e robusto estaremos na direção de uma sociedade mais justa. Projetos de Inclusão, formação de mão de obra, educação, e juros num patamar aceitável será a saída, no fortalecimento do mercado interno.



Cérebro humano tem aversão à desigualdade, mostra estudo

SÃO PAULO – O cérebro de uma pessoa “rica” se alegra quando um “pobre” ganha algum dinheiro, mas o cérebro do “pobre” não acha graça em ver o rico enriquecer ainda mais, o que sugere a presença de um instinto de aversão à desigualdade instalado no cérebro humano. “Ricos” e “pobres”, no caso, são voluntários de um experimento envolvendo distribuição desigual de dinheiro e ressonância magnética, realizado por pesquisadores dos EUA e Irlanda e publicado na edição desta semana da revista Nature.

“Nós vemos atividade em parte do cérebro associadas à resposta a recompensas quando voluntários observam a si mesmos ou outras pessoas recebendo vantagens monetárias em potencial”, explica um dos autores do trabalho, John O’Doherty, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), em entrevista ao estadao.com.br.

Na realização do estudo, voluntários, divididos em duplas, receberam US$ 30 cada e, em seguida, participaram de sorteios onde, dependendo do resultado, cada um foi designado “rico” (recebendo US$ 50 a mais) ou “pobre” (não recebendo nenhum dinheiro extra).

Os voluntários das duplas foram então submetidos então a ressonância magnética funcional do cérebro, enquanto um pesquisador propunha novas transferências de dinheiro para um ou outro membro, analisando a atividade de duas áreas – o estriato ventral e o córtex frontal ventromedial – que reagem ao recebimento de recompensas.

Tanto “ricos” quanto “pobres” tiveram aumento na atividade cerebral das regiões analisadas quando recebiam a proposta de obter mais dinheiro. No entanto, o cérebro dos “ricos” animava-se mais quando a proposta de ganho era feita ao “pobre” do que quando era dirigida a si mesmo. No caso dos participantes “pobres”, o efeito era o oposto: a área de recompensa do cérebro era mais estimulada por ganhos próprios do que por pagamentos ao “rico”.

Além de se submeter à ressonância magnética, os participantes também responderam a questionários sobre a experiência. Ambos os grupos disseram valorizar as recompensas extras recebidas, embora os membros do grupo rico dessem menos valor a esses ganhos que os do grupo pobre. E, em contraste com os dados cerebrais registrados, os “ricos” responderam dizendo que davam mais valor aos pagamentos recebidos pessoalmente do que aos feitos aos “pobres”.

“Sim, isso é intrigante”, diz O’Doherty, sobre a diferença entre a resposta verbal e a prevista pela ressonância. “Mas, claro, são esses enigmas que nos levam a realizar novas investigações. Minha intuição é de que, se pedíssemos às pessoas para realmente escolher entre várias transferências que variem no grau de aversão à desigualdade, poderíamos encontrar padrões de escolha parecidos com os que vimos no cérebro”.

Outra característica do estudo é o fato de ele evitar estabelecer qualquer tipo de competição ou custo para os participantes: nem “ricos ” e nem “pobres” sofreram perdas quanto o outro grupo ganhava mais recursos. Mas essa situação não difere da percepção dos efeitos da desigualdade que existe na sociedade?

“A razão pela qual não fizemos isso é que se um aumento na riqueza de um jogador estivesse associada a uma redução na de outro, então efetivamente um jogador estaria sendo punido e o outro recompensado”, explica O’Doherty, acrescentando que isso complicaria o trabalho.

“Estaríamos olhando para reações a recompensas a si mesmo e ao outro, e reações à punição de si mesmo e do outro”, o que criaria a dificuldade extra de “desemaranhar” os diferentes impactos na atividade cerebral.

Com a ressalva de que a evolução biológica de fenômenos com a aversão à desigualdade não é sua área de especialização, o cientista cita a necessidade de coesão dentro dos grupos humanos como uma possível causa desse mecanismo.

Mesmo reconhecendo que os seres humanos competem e lutam entre si, ele pondera que “a presença de um certo grau de aversão á desigualdade pode ser um fator importante em moderar essa competição, reduzindo a probabilidade de que o excesso de competição faça com que os grupos se destruam por completo”.
agencia estado

Rizzolo: Isso comprova que a ganância, o individualismo, a exploração, não pertencem à esfera da boa índole da espécie humana. O bom senso, o conceito de justiça, a religiosidade acabam dirigindo os bons espíritos de justiça a uma melhor compreensão da necessidade de se diminuir as desigualdades sociais. Descobriu-se enfim, através de uma máquina, aquilo que alma humana por anos já proclamava, Liberdade, Igualdade e Fraternidade.