Parlamento da Catalunha proíbe touradas

parlamento catalão aprovou nesta quarta-feira, com 68 votos a favor, 55 contra e nove abstenções, um decreto de proteção dos animais que implica na proibição das touradas na região, que fica no nordeste da Espanha. A lei entra em vigor a partir de 2012. Com a decisão, a Catalunha torna-se a segunda região espanhola a proibir a prática, depois das Ilhas Canárias, em 1991.

O projeto surgiu por meio de uma Iniciativa Legislativa Popular (ILP), apresentada em dezembro de 2009 por grupos de oposição às touradas. Simpatizantes e opositores estavam mobilizados desde terça-feira, aguardando uma votação que prometia ser acirrada. Esta virou uma questão política na região onde, segundo o jornal madrilenho El Mundo, “a ideia é extinguir tudo o que for espanhol”.

Nos últimos dias, o tema foi recorrente na imprensa conservadora do país, que via na possível proibição uma vontade de revanche dos políticos catalães, depois de uma recente decisão do Tribunal Constitucional que retirou certos aspectos do estatuto de autonomia da região.

Opositores das touradas, cada vez mais numerosos na Catalunha e apoiados por poderosas organizações internacionais de defesa dos animais, relembram que esta tradição está perdendo força na região, onde apenas a Praça Monumental de Barcelona continua a organizar eventos do tipo.

O setor gera cerca de 40 mil empregos e rende bilhões de euros por ano, mas desde 2009 vem sentindo os efeitos negativos da crise econômica.

Inúmeras regiões espanholas, inclusive Madri, anunciaram, assim que se iniciou o debate catalão, suas intenções de inscrever a tourada como “patrimônio cultural”, com o objetivo de proteger a tradição.
zero hora

Rizzolo: A humanidade só vai evoluir espiritualmente quando as atrocidades com os animais for banida da sociedade. Que prazer pode ter um ser humano ao olhar os olhos de um pobre animal apavorado por já saber que vai ser abatido apenas por sadismo e diversão dos humanos. Assim o mesmo ocorre com os rodeios no Brasil e no mundo. Esse tipo de maltrato aos animais, constitui forma de tristeza, gera uma péssima energia espiritual, e com certeza entristece e desrespeita a natureza, e como já dizia o filósofo Baruch Spinoza, entristecer a natureza equivale e entristecer a Deus. Sou um defensor dos animais, de uma alimentação vegetariana, e de tratarmos os seres vivos com respeito e amor. Só assim haverá quem sabe a redenção da humanidade. Parabéns a Catalunia.

Quando os animais nos ensinam


Regressar é reviver, e naquela manhã acordei exultante. Após muito tempo, voltaria à nossa antiga fazendinha, onde praticamente todos os finais de semana da minha infância eu, meu irmão e meus pais passávamos momentos felizes. Por lá passaram inúmeros caseiros, ou “tomadores de conta”, como se autodenominavam aqueles que vinham do Nordeste, de Minas Gerais, do interior do Estado de São Paulo e de outros lugares, para trabalhar numa pequena criação de gado holandês que tínhamos. Perto da capital, em São Paulo, Itapecerica tem um ar especial, típico da serra, cheiro de mato, vento gelado e gente de olhos azuis, de origem alemã, toda vinda para a cidade no século 19.

Dentre as novidades de que me havia dado conta que ainda existia na antiga fazendinha estava uma linhagem de cão de fila brasileiro que, de tempos em tempos, gerava uma nova ninhada, portanto sempre havia um cão de fila de uma nova geração, guardião daquele espaço verde, de ar frio, montanhoso, rodeado de eucaliptos e pínus. Logo que cheguei, a saudade invadiu meu peito. Ao observar o lugar, vieram-me à memória, como num filme, os antigos “tomadores de conta”; o gado; um touro puro-sangue bravo chamado “Guarapiranga”; o curral; o “seu Zé Barnabé”, um velho negro de barba grisalha, com olhar meigo, que contava histórias do interior de Minas; e aquelas ninhadas de fila que brotavam naturalmente como pés de milho na subida da cruz, um marco do tempo dos escravos no topo da montanha.

Ao ouvir um latido forte, descobri num cercado, ao lado da ladeira de eucaliptos, um cão chamado Brutus, um verdadeiro cão de fila de porte avantajado, selvagem como o mato que se estendia ao redor de seu picadeiro. Tentei me aproximar, mas o olhar irado do animal denunciava que a qualquer momento ele poderia atacar. Com o tempo, após várias idas ao local e muitos “bifinhos”, desses que se compram em pet shops, Brutus ficou meu amigo. Num gesto meio tímido e receoso, abri a portinha de madeira e adentrei seu espaço, fazendo-lhe um carinho nas orelhas. Como querendo me mostrar algo, ele foi me levando em direção a um lugar de terra, num antigo galpão abandonado, onde havia a marca de seu corpo no chão empoeirado, lugar onde dormia num canto, ao lado de um trator.

Para um animal tão bravo, o olhar de Brutus era doce – parecia que queria me dizer algo, que ali havia frio, sofrimento, abandono. Por mais de uma vez ele se deitou sobre o chão de terra, mostrando-me de forma clara a solidão de seus dias e noites. E foi naquele instante que resolvi reconstruir na fazendinha um local para os animais, reflorestar os antigos pastos, transformar o lugar de abandono e tristeza num espaço ecológico, reavivar o verde.

Hoje Brutus já está muito velho, mas ele e mais dez cachorros dispõem de um canil aquecido, os pastos viraram florestas de pínus, a mata foi totalmente recuperada e os pássaros voltaram a cantar. Quando caminho pela mata com Brutus ao meu lado, lembro-me da minha infância e de todas as pessoas que fizeram parte dela. Também sinto que os animais “falam” e que por intermédio deles podemos modificar uma visão de mundo, de olhar ao próximo, de respeito à natureza e ao homem. Foi por meio do latido de um cão chamado Brutus que me aproximei da natureza, uma obra de Deus que impõe o respeito ao próximo, que cuida do perdido e do injustiçado. Foi o simples olhar do cão de fila chamado Brutus, que hoje se deita ao meu lado quando escrevo minhas reflexões, que me fez encontrar o elo perdido entre o sofrimento dos animais e os imensos desafios do ser humano na luta contra a miséria e o abandono dos homens.

Fernando Rizzolo

“Chega de corrupção e rolo, para Deputado Federal Fernando Rizzolo, PMN 3318”

Um cão chamado Kalev, perto do coração

“Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos … aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza.” Albert Einstein (físico, Nobel 1921)

*POR FERNANDO RIZZOLO

A Torá nos instrui várias leis de respeito e bom tratamento aos animais, com a finalidade de nutrir nossa midá (virtude) de compaixão e respeito para com todos os seres vivos. Um exemplo de bondade com os animais foi Nôach, que com seu caráter elevado poupou várias espécies de animais de um tenebroso dilúvio. Mas um animal, em especial pela sua bondade, doçura e fidelidade merece nossa atenção, o cachorro. Em hebraico, seu nome é muito mais significativo e interessante, chama-se “Kalev”, e muito embora poucos saibam, este nome significa “perto do coração”.

Os hebreus, os antigos formuladores da língua, observaram desde aquele tempo a característica do cão ser “todo emoção”, e conseguiram dar-lhe um nome exato reconhecendo que sua companhia nos faz senti-lo sempre perto do coração. Tenho profundo respeito e admiração pelos animais, pela resignação deles em servir ao homem. Talvez, dentro da lógica de um ser vivo que não mais retornará ao mundo – pois não possuem o neshamá (o nível mais elevado da alma ) – se entregam e acabam se aprisionando, tornando -se reféns do ser humano.

Acredito que o mundo caminha para uma compreensão maior do que os animais representam para a humanidade. Várias correntes científicas questionam o uso dos animais em experiências de laboratórios, e um número cada vez maior de pessoas evita ingerir carne, como eu; ou demandam práticas de abate mais humanas, o que no judaísmo é algo extremamente sério com suas considerações de cunho ” casher”, as formas de abate impõem menor sofrimento a estes seres.

Quando olho para um cão, lembro-me da sempre palavra Kalev, e do seu significado. Já tive vários cães que se chamaram kalev, e outros Dodi, que em hebraico significa amado. Impressiona-me olhar dos cães-guia, que emprestam sua visão e sua vida aos cegos e os ajudam a dar maior sentido à vida. Emociona-me saber de tantos solitários que contam com a companhia de cães que jamais os abandonarão, e que de nada esperam, a não ser um carinho, ou como eu brinco, ” um bifinho”. Os rabinos dizem: “o cão é pura emoção porque o coração está na mesma altura da cabeça. Diferente da condição humana em que a razão (cabeça) está acima do coração.”

Certa vez, nos Estados Unidos, ao entrar numa livraria, deparei-me com um cego, caminhando com um Labrador cor- de- mel que, soube depois, o guiava há 8 anos. Quando percebeu que eu acariciava seu cão, perguntou com uma voz rouca e pausada:

– Já descobri que o senhor gosta de cães, não é?

– Sim, muito – respondi.

-O senhor sabe por que os cães vivem pouco e geralmente morrem antes do dono ? – perguntou-me novamente como que justificando aquele afago meu – Talvez por que assim foram programados -, respondi.

– Não, senhor, porque jamais suportariam a dor de saber que seu dono não mais existiria.

Naquele momento rolou uma lágrima dos meus olhos, e entendi a partir de então, porque em hebraico o cão se chama Kalev, entendi enfim, o quanto é bom sempre ter um amigo perto do coração.

Fernando Rizzolo