PT usará projetos de Lula como arma no segundo turno

O Diretório Nacional do PT preparou munição para os 15 candidatos do partido que disputam o segundo turno das eleições municipais. Eles e os cabos eleitorais petistas receberam um dossiê com todos os investimentos feitos e a fazer, até 2010, pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas cidades brasileiras, particularmente naquelas em brigam pela vitória no dia 26. Só o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem obras no valor total de R$ 503,9 bilhões.

O mesmo documento preparado pelo PT mostra a distribuição das bolsas do Universidade para Todos (ProUni), por município, onde estão os 10 milhões de empregos criados desde a primeira posse de Lula, em janeiro de 2003, o número de beneficiados pelo Bolsa Família, em cada município, repasses para saneamento básico, educação, dragagem de rios e assinatura de convênios que envolvem a construção de pequenos ginásios de esportes e centros de saúde nos mais longínquos lugares. O forte, mesmo, são as obras do PAC. Elas estão nos 15 municípios em que o PT disputa a reeleição.

De acordo com um petista que atua no Diretório Nacional, a idéia de fazer o resumo de todos os investimentos do governo nos municípios surgiu ainda no primeiro turno e foi reforçada agora no segundo. Havia, de acordo com ele, queixas de petistas de que não conseguiam levar para suas campanhas as bondades feitas pelo governo federal. O material foi então resumido e posto à disposição dos petistas, na página do partido na internet. Mas, para acessá-lo, é preciso que a pessoa seja filiada ao PT, pois exige senha e o número do documento de filiação.

De acordo com o trabalho de orientação para os candidatos petistas, o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) passou de R$ 19,3 bilhões em 2003 para R$ 33,9 bilhões em 2007; a partilha da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (imposto do combustível) passou de R$ 322,1 milhões em 2004 para R$ 465,4 milhões em 2007; os recursos para a saúde saíram de R$ 13 bilhões em 2003 para R$ 19 bilhões em 2007; o salário-educação, de R$ 1,6 bilhão em 2004 para R$ 2,3 bilhões em 2007. No transporte escolar, os investimentos eram de R$ 241,9 milhões em 2004, e passaram para R$ 291,9 milhões em 2007.
Agência Estado

Rizzolo: Bem, os projetos elencados na “propaganda política”, na verdade, exceto os que já foram concluídos, são apenas “projeções”, até porque com a crise em que estamos vivenciando, é de bom alvitre a redução dos gastos públicos, o que na verdade influenciará em toda planificação orçamentária. O que precisamos insistir, é no fato real de revermos a nossa condição de investimentos face à crise; não fazer de conta que ela não nos atingiu, e “panfletar” projetos que com certeza serão à frente reconsiderados do ponto de vista orçamentário.

Se o governo não fizer a devida contenção imediata dos gastos públicos, obrigará o setor privado a fazer um ajuste ainda mais severo. Se pretendemos reduzir o impacto da crise sobre o bem-estar social, o aumento da poupança pública é um dos poucos instrumentos de suma importância, pois reduz o custo do ajuste, além de auxiliar a política monetária. Não há como evitar a escassez externa, mas o governo pode, ao menos, poupar para que a população não tenha de fazê-lo em seu lugar. Infelizmente essa é a realidade, prometer o chamado ” pé no acelerador” nessa crise imensa é no minimo ” propaganda enganosa”.

Lula e o efeito placebo

Quando todos imaginavam que poderiam contar com um “maná” vindo dos céus, como o ocorrido no deserto relatado pelo Antigo Testamento, ao receberem os resultados das urnas, tristemente constataram os apadrinhados que, posar ao lado do presidente, pouco efeito produz de concreto ao candidato apoiado; porém por outro lado, muito resultado é auferido ao próprio presidente, que com isso, acaba ganhando de certa forma mais popularidade.

Aliás num exercício de analogia, de nada adianta um cantor popular de música sertaneja se postar à platéia, e ao invés de cantar, pedir ao público que se encantem com seu outro amigo cantante; o público quer sim ouvir o cantor principal, não o recomendado. A transferência de votos tão apregoada e tão temida, perdeu-se na realidade das urnas. A condição dos indicados de Lula no palanque, indica também a derrota na emprestabilidade de seu prestígio a outros. Constata-se que a popularidade de Lula é sim de caráter personalíssimo.

O imaginário do eleitor em relação à popularidade de Lula, não se mistura com um outro candidato apoiado pelo presidente. Como que reconhecesse que estaria Lula prestando apenas uma deferência, ou um reconhecimento pessoal, o eleitor rechaça a transferência de voto e faz uma leitura pequena do gesto em si. Uma prova disso é o fato de o presidente ter tido pouca influência na eleição do Rio de Janeiro, assim como no resultado da candidatura de Marta, em São Paulo, bem como com Luiz Marinho em São Bernardo; embora tenha havido todos os esforços empreendidos, constatou-se um resultado muito abaixo do que o próprio presidente previa.

A análise de que as eleições municipais estão mais ligadas aos problemas do dia-a-dia do município, é procedente; contudo a pauta das propostas dos candidatos apoiados por Lula, eram centradas na essência do pensamento petista de desenvolvimento dos municípios, e nem assim essa combinação entre a proposta e a imagem, sensibilizou os eleitores. O melhor exemplo ocorreu em Natal, onde a adversária do PT foi eleita já no primeiro turno, o que foi uma derrota para Lula.

Da forma em que foram constatados os resultados das eleições municipais no país, e a participação da presença de Lula no palanque como fator de transferância de votos, podemos já prever que Dilma Roussef enfrentará problemas; talvez menores do que a decepção petista em São Paulo, ou em outras capitais. A lição do palanque sugere um remédio talvez na verdade, bem mais forte do que aquele experimentado e vivenciado pela mágica de Lula em gerar votos aos seus apadrinhados.

Fernando Rizzolo

Marta e Alckmin permanecem na liderança em SP, mostra Ibope

A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) estão na frente na disputa pela prefeitura de São Paulo em pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) permanece em terceiro lugar.

A sondagem foi encomendada ao Ibope pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região (Setcesp).

Marta, cuja candidatura será oficializada no próximo domingo, tem 31%, tecnicamente empatada com Alckmin, que recebeu 25% das indicações dos entrevistados em São Paulo. Kassab teve 13% das indicações.

Em relação à pesquisa divulgada em 3 de junho, Alckmin e Marta variaram dentro da margem de erro de 4 pontos percentuais, enquanto Kassab se manteve estável. No início do mês, Marta tinha 30% e Alckmin, 28%.

“É provável que esses níveis se mantenham até o início da campanha eleitoral na TV em agosto, até porque o atual prefeito não tem uma marca personalista e os outros principais candidatos já são conhecidos”, disse a jornalistas Hélio Gastaldi, diretor do Ibope.

Em um eventual segundo turno, Alckmin bateria Marta por 49% a 41%. Se a disputa for com Kassab, a petista venceria por 50% a 36%. Se os adversários forem Alckmin e Kassab, o tucano teria 54%, enquanto o prefeito ficaria com 25%.

Dos três candidatos, Alckmin tem o menor índice de rejeição, com 14%. Kassab tem 27% e Marta, o nível mais alto, com 32%.

“O índice de rejeição do candidato Alckmin é muito abaixo da média de quem tem vida pública. Normalmente, para quem está nesta condição, o índice fica entre 20 e 30 pontos”, comentou Gastaldi.

O instituto realizou 602 entrevistas entre os dias 21 e 23 de junho. Alckmin e Kassab já tiveram as candidaturas formalizadas em convenção de seus partidos.

Folha online

Rizzolo: É claro que ainda é cedo para uma maior avaliação. Geraldo Alckmin possui a menor rejeição face ao fato de ser muito conhecido na capital e desenhar um perfil mais paulista de governar, alem disso existe uma maior empatia com a classe média. Já Marta fez um ótimo governo, propôs medidas de inclusão social, e tem o apoio do presidente Lula; o que precisamos ver é a capacidade de transferência de votos por parte de Lula. Kassab, um nome novo, crescendo, provavelmente apoiará Alckmin num segundo turno. Aguardaremos o desenrolar das pesquisas no decorrer da campanha.

Um cabo eleitoral chamado PAC

Com cenário internacional se deteriorando, e a brisa de uma crise anunciada se concretizando na economia brasileira, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), peça-chave do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, poderá ser a alavanca eleitoral nas eleições municipais em 2008.

Ao completar um ano, o Pac, sob a ameaça de cortes de verbas, ficou mais na retórica do que no concreto, pouco se viu aos olhos do povo o tão revolucionário Programa de Aceleração, muito embora, o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mostra que em dezembro do ano passado 86% dos projetos monitorados estavam com ritmo adequado. Em agosto do ano passado, o porcentual de projetos que tinham essa avaliação era de 80%.

Motivos não faltam, a possibilidade de uma crise energética ou uma crise econômica se misturam na indefinição política percebida nas declarações ora de que não haverá apagão elétrico, ora sobre a questão dos aumentos de impostos. Além disso, há dúvidas se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas de uma nação), previsto em 5% para este ano, será concretizado com a deterioração da economia internacional, e as dificuldades que a mesma poderá acarretar, inclusive com um aumento real nas taxas de juros.

Especificamente ao PAC, o que poderia amenizar é a notícia de que caiu de R$ 20 bilhões para cerca de R$ 17 bilhões –ou até um pouco menos—a previsão de cortes que a Comissão de Orçamento do Congresso planeja fazer nas despesas do governo para 2008. Pessoalmente, projetaria uma expansão de 4,5% na melhor das hipóteses, face ao cenário atual.

Contudo, do ponto de vista político, o PAC poderá se transformar numa poderosa arma eleitoral fortalecendo as bases do PT e de seus aliados, se os governos e as prefeituras forem suficientemente ágeis; a própria ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef já havia prometido que o País seria um enorme ” canteiro de obras”. Há muito que se fazer em termos de PAC no que diz respeito a projetos sociais que visam a urbanização de favelas, saneamento básico e construção de casas populares.

Temos que tornar o PAC visível aos eleitores; os motores desse setor já foram acionados, a construção civil espera um crescimento de 6% este ano, e é disso que Brasil precisa, casas populares gerando dignidade para a imensa população pobre desassistida, e a enorme capacidade de geração de emprego que o setor da construção civil, pela sua natureza, é capaz de agregar. Ano eleitoral também pode ser o sinônimo de ano de desenvolvimento.

Fernando Rizzolo