Uma bolha chinesa nos aguarda ?

Recentes dados demonstram que o ritmo de crescimento da economia chinesa desacelerou para 9% no terceiro trimestre de 2008 em relação a igual período de 2007, o menor patamar em cinco anos, em razão da crise financeira internacional e da política monetária restritiva em vigor até o mês passado, ou seja, depois de crescer 12% em 2007, o país caminha para fechar o ano com expansão em torno de 9%, índice semelhante ao registrado em 2002.

O governo chinês está diante do desafio de gerar empregos para uma população equivalente à do Canadá todo ano. Como a economia mundial está ruim, suas exportações começam a cair; conseqüentemente, o país precisa estimular a demanda interna. Na verdade, isso não é fácil empreender numa economia como a chinesa, onde as pessoas têm o hábito de poupar 50% da sua renda. Outro aspecto dessa questão, é que surgiu uma nova classe média na China, cujas expectativas precisam ser correspondidas nessa nova fase da economia.

A alta da inflação na primeira metade do ano, levou o Banco do Povo da China a aumentar a taxa de juros e a reduzir o volume de dinheiro à disposição dos bancos para concessão de empréstimos. Além da restrição ao crédito, os exportadores enfrentaram a valorização do Yuan em relação ao dólar e o aumento dos custos trabalhistas decorrente da Lei do Contrato de Trabalho, que entrou em vigor em janeiro. A cotação da moeda chinesa teve alta de 6,5% em 2007 e de 6,8% em 2008.

O problema se agrava quando sabemos que a China não tem um monitoramento econômico de qualidade, não havendo um acompanhamento minucioso e transparente dos resultados domésticos. Esta ausência de medidores com maior precisão faz com que a incerteza seja maior. Com a diminuição de suas exportações, a China se verá forçada a dirigir sua produção para o mercado interno pouco consumidor, e não capaz de absorver sua total produção.

Os efeitos no exterior com uma recessão da China são devastadores. A China é o maior comprador de minério de ferro e soja exportados pelo Brasil e está prestes a substituir a Argentina no posto de segundo maior mercado para as vendas brasileiras ao exterior. Com um crescimento menor, a China vai reduzir a demanda por matérias-primas para sua indústria, o que vai afetar as exportações do Brasil.

Além de uma preocupação econômica, existe um componente político a ser analisado na China; haverá com certeza num cenário recessivo, pressões políticas internas de grande proporção, que poderão desencadear processos de endurecimento ainda mais do regime chinês. O grande desafio chinês será estimular a demanda interna, com aumento de investimentos e do consumo, para contrabalançar a queda nas exportações; da mesma forma, teremos que conduzir nossa política macroeconômica no Brasil, dentre outras medidas, fortalecendo e aumentando o nosso mercado interno; muito embora a exegese do nosso problema, esteja muito mais focada na questão cambial e na escassez de crédito.

Exportando menos para a China, e vivenciando um quadro recessivo global, teremos que rever os investimentos, os gastos públicos, e torcer para que a China contorne os efeitos recessivos de sua crise. Na verdade uma bolha chinesa seria capaz de nos afetar muito mais do que as desventuras econômicas dos EUA, devido aos irresponsáveis derivativos tóxicos; que acabaram por assim, intoxicando a esperança de consumo e de desenvolvimento dos países emergentes.

Fernando Rizzolo

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Recessão nos EUA fecha duas fábricas de brinquedo na China

PEQUIM – Duas grandes fábricas de brinquedos no sul da China fecharam suas portas nesta semana em razão da crise nos Estados Unidos, o principal destino de suas exportações, deixando 6.500 pessoas desempregadas. As falências são as maiores registradas em um setor que enfrenta dificuldades desde o primeiro semestre do ano, quando metade de seus pequenos exportadores fecharam as portas.

Centenas de trabalhadores realizaram protestos nesta sexta-feira, 17, na cidade de Dongguan, onde estão as duas fábricas da Smart Union que deixaram de funcionar. Os operários exigiam explicações e o pagamento dos salários de setembro e outubro.

Além da turbulência global, as empresas chinesas enfrentaram uma série de problemas domésticos no primeiro semestre, o que provocou desaceleração do crescimento do país.

Na segunda-feira, o governo chinês anuncia o resultado do PIB do período de julho a setembro, que deverá ser o quarto trimestre consecutivo de queda do ritmo de expansão da economia. Na primeira metade do ano, o crescimento foi de 10,4%, abaixo dos 12% de 2008.

A China produz cerca de 80% dos brinquedos consumidos em todo o mundo e a maioria de suas fábricas trabalha como subcontratadas das grandes marcas mundiais, como Disney e Mattel.

Segundo representantes da Smart Union, a principal razão para o fechamento das duas unidades é a grande dependência em relação ao mercado dos Estados Unidos, país imerso na mais grave crise financeira desde o crash da Bolsa de 1929.

As margens de lucro dos exportadores chineses encolheram a partir do início do ano, em razão da alta dos juros, da apreciação do yuan em relação ao dólar e do aumento dos custos trabalhistas.

Na avaliação da Smart Union, o custo por empregado subiu 12% quando entrou em vigor a nova Lei de Contrato de Trabalho, em janeiro.

Estatísticas oficiais indicam que 3.631 exportadores de brinquedos do sul da China fecharam suas portas no primeiro semestre, o equivalente a 52,7% do total. A grande maioria era de pequenas e médias empresas, com volume de vendas ao exterior inferior a US$ 100 mil ao ano.

No início de outubro, o governo de Dongguan criou um fundo de 1 bilhão de yuans (US$ 147 milhões) para socorrer as pequenas e médias empresas em dificuldades.

As autoridades de Pequim abandonaram em julho a política de valorização do yuan, enquanto os juros começaram a cair em setembro, com o agravamento da crise internacional.

O sul da China é a principal base de produção de bens de exportações intensivos em mão-de-obra, como brinquedos, calçados e têxteis. Também é o local da Feira de Cantão, o principal evento de exportações do país, que teve início nesta semana com uma brutal queda de visitantes.

O vice-ministro da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, Du Ying, afirmou na quinta-feira que o governo deverá anunciar em breve uma série de medidas para amenizar o impacto da crise mundial e estimular a atividade econômica.

De acordo com Du, o pacote deverá incluir o aumento do crédito para o setor imobiliário e o fim das restrições para compra de um segundo imóvel.
Agência stado

Rizzolo: Em mais de uma ocasião, este Blog chegou a comentar a possibilidade de uma eventual ” bolha chinesa”; e a plausibilidade desta hipótese agora é robusta. Todos sabem que os ” derivativos tóxicos” estão espalhados pelo mundo, e que a China por sua economia estar muito atrelada a dos EUA e dos países desenvolvidos, enfrentará uma diminuição de suas exportações.

O excedente desta produção deverá ser direcionada para o mercado interno chinês, que é altamente poupador, e que não tem a característica de consumo, muito embora a economia chinesa seja mais planificada em função do regime. A recessão diminuirá o consumo interno, que por sua vez derrubará os preços das commodities ainda mais. Isso afetará principalmente os emergentes que em razão da demanda asiática, conseguiram os superávits na balança comercial, dentre eles o Brasil. Quando observamos uma eventual ” bolha chinesa”, fica evidenciado o caráter endógeno de geração de crises do capitalismo, até nas economias mais planificadas do planeta.

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