Universidades Públicas e Injustiças Educacionais

 

*por Fernando Rizzolo

A questão histórica da educação superior no Brasil sempre esteve ligada às condições socioeconômicas daqueles que pretendiam, até por exercício de poder e de prestígio, ingressar numa universidade pública para sublinhar um diferencial social em relação á maioria da população, pobre e analfabeta. Muitas foram as resistências opostas durante décadas no sentido de reforçar esse contraste, privando de acesso – de muitas formas – os alunos pobres, negros, e as minorias em geral, fosse através do reduzido número de vagas nas universidades federais, fosse através de um disputado exame vestibular. Nesse sistema, apenas aqueles que viessem de escolas particulares, ou que pudessem dedicar-se integralmente – sem trabalhar, portanto, – teriam êxito e ocupariam as vagas oferecidas pelo estado de forma gratuita.

Num esteio de pensamento reparatório, moderno e participativo do ponto de vista de cidadania, os senadores aprovaram o projeto que regulamenta o sistema de cotas raciais e sociais nas universidades públicas federais em todo o país. Pela matéria, metade das vagas nas universidades deve ser separada para cotas. A reserva será dividida meio a meio. Metade das cotas será destinada aos estudantes que tenham feito todo o ensino médio em escolas públicas e cuja família tenha renda per capita de até um salário mínimo e meio. A outra metade, ou 25% do total de vagas, será destinada a estudantes negros, pardos ou indígenas, de acordo com a proporção dessas populações em cada estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A grande verdade é  que num país como o Brasil, cuja maioria da população é composta de pobres, negros, pardos, quem ocupa hoje as vagas públicas em grande parte são estudantes de alto poder aquisitivo, oriundos de escolas na maioria particulares, caras e estruturadas. Esses estudantes jamais tiveram de trabalhar para sustentar a própria dignidade ou a de seus familiares, empurrando os estudantes pobres, numa lógica educacional perversa, às vagas em universidades particulares, estas viáveis ao seu custeio por meio de um disputado financiamento público, o Fies, tornando-os, além de tudo, reféns de dívidas com o estado.

Para ter uma ideia dessa aberração educacional, um levantamento feito em junho com dados do vestibular de 2011, mostrou que, na USP, em cinco anos, apenas 0,9% – o equivalente a 77 alunos – dos matriculados em medicina, direito e na escola politécnica eram negros. Em medicina, por exemplo, nenhum estudante negro havia passado nos vestibulares de 2011 e 2010!

Talvez seja por isso que, raramente, nos hospitais ou prontos-socorros do nosso país encontramos médicos negros. Mesmo porque, em carreiras disputadas como medicina, cuja oferta de vagas no Brasil é restrita, os estudantes pobres são obrigados a se autoexilar em países vizinhos para realizar o sonho de servir a sociedade brasileira, que tem mais médicos veterinários por animal do que médicos de humanos em relação à população brasileira. Eis a razão das imensas filas nos frios corredores dos hospitais públicos.

Aqueles que se opõem a essa correção de cunho socioeducacional, em geral com argumentos vazios, versando sobre autonomia universitária e outras delongas, perfazem a continuidade do histórico propósito de reservar os sonhos de construção pessoal e social da imensa população brasileira – o sonho de frequentar uma universidade pública – a uma pequena parcela de privilegiados, restando aos pobres a procura de fiadores que lhes garantam uma dívida com o estado, o famoso Fies, massacrando-os depois de formados e impondo-lhes um ensino particular muitas vezes de baixa qualidade; atores, pois, de um cenário antigo, sob o antigo e ultrapassado conceito de que o estado existe para servir aos que dele menos necessitam…

USP decide não usar a nota do Enem na Fuvest 2010

A Universidade de São Paulo (USP) decidiu nesta quarta-feira (7) não usar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no vestibular da Fuvest 2010. Segundo a instituição, a aplicação do exame nos dias 5 e 6 de dezembro inviabiliza o seu uso por “razões operacionais”. A prova representaria um acréscimo de até 20% na nota final do candidato.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também já havia informado que não utilizaria o Enem neste ano pelos mesmos motivos. O Ministério da Educação (MEC) adiou o Enem na quinta-feira (1º), após o vazamento da prova.

A nota da primeira fase da Fuvest será, então, exatamente o número de pontos que o candidato tirar no exame, que acontece no dia 22 de novembro.

Para os candidatos que optaram por participar do Programa de Inclusão Social (Inclusp), o cálculo do bônus correspondente ao Enem será feito com base no desempenho do candidato no exame da primeira fase da Fuvest.

O calendário e as demais regras do edital 2010 permanecem inalterados. As provas da segunda fase acontecerão de 3 a 5 de janeiro.

No total, 128.144 candidatos se inscreveram na Fuvest. Desse número, 10.989 são treineiros. Estão em disputa 10.812 vagas: 10.622 na USP, cem na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e 90 na Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

No próximo vestibular, o processo seletivo terá um novo formato. Com a mudança, a nota da primeira fase, com 90 questões, não será mais computada na pontuação final do vestibular. As provas da segunda fase, assim como as disciplinas específicas, foram alteradas.
Globo

Rizzolo: Sinceramente entendo que estão utilizando de forma política esse vazamento. Estranho me parece as duas Universidades Estaduais decidindo não utilizar a nota por “razões operacionais”. Quem sofre é o aluno pobre, que tem menos tempo para se preparar, já que a prova representaria um acréscimo de até 20% na nota final do candidato. Se a prova da Fuvest fosse totalmente substituída pela do Enem, a porcentagem de alunos de escolas públicas na USP pularia para de 22% para 27%.

MEC escolhe 5 e 6 de dezembro para prova do Enem

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai ser aplicado nos dias 5 e 6 de dezembro, segundo o G1 apurou nesta tarde. Essa data foi definida pelo Ministério da Educação e será apresentada para o ministro da Justiça, Tarso Genro, na tarde desta terça-feira (6). O ministro da Educação, Fernando Haddad, quer a participação da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança na aplicação da nova prova do Enem. Haddad também vai pedir a Tarso que a PF avalie os procedimentos de segurança que serão utilizados.

Na segunda (5), o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, anunciou que o contrato com o Connasel, consórcio responsável pela aplicação do exame que vazou na semana passada, foi rompido bilateralmente.

O Cespe, da Universidade de Brasília, e a Fundação Cesgranrio, segundo Fernandes, já aceitaram participar conjuntamente da aplicação da prova. Para tanto, deve ser assinado um contrato de emergência, sem licitação.

Ao todo, 68 universidades têm convênio com o MEC para usar os pontos do Enem no processo de seleção. O presidente da Andifes, Alan Barbiero, que representa instituições federais de ensino superior, disse que as universidades podem atrasar em 15 dias o início das aulas. Ele deixou claro, no entanto, que a decisão cabe a cada universidade.
Globo

Rizzolo: Esta prova do Enem já virou uma dificuldade e um problema para todos os jovens, me parece inclusive que neste dia haverá uma prova concursal para a Receita Federal, imaginem o caos que será. O jovem neste País alem de sofrer coma falta de oportunidade ainda é vítima da incompetência do governo em alguns segmentos como a educação.

No Rio, estudantes criticam ministro pelo vazamento do Enem

RIO – Estudantes cariocas criticaram o ministro da Educação, Fernando Haddad, durante protesto em Copacabana na manhã desta sexta-feira, 2. Cerca de 400 estudantes, a maioria de cursos de escolas particulares, realizam um protesto contra o adiamento da prova do ENEM. A prova foi remarcada para a primeira quinzena de novembro após o Estado ter avisado ao Ministério da Educação que a prova tinha “vazado”. Haddad foi criticado por “desorganização” e “incompetência”.

O grupo fecha meia pista da Avenida Atlântica, uma das principais vias de acesso à zona sul, e se dirigem ao palco montado na praia de Copacabana para acompanhar a escolha da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

As palavras de ordem dos manifestantes são direcionadas contra o ministro da Educação, Fernando Haddad, a quem os estudantes acusam de “desorganização” e “incompetência”. “Haddad não executou o que estava planejado este ano. Queremos a aplicação da prova o mais rápido possível” declarou o estudante da Unidade Barra da Tijuca do Curso Miguel Couto, Rafael Martins, de 19 anos. Segundo os alunos, o protesto foi convocado pela internet.
agencia estado

Rizzolo: Que é desorganização não resta a menor dúvida, o pior, isso foi descoberto pela imprensa, o que na verdade nos indica o quanto importante é a liberdade de informação, coisa que alguns ainda não entenderam amordaçando a imprensa em determinados casos. A manifestações é legítima, e pura desorganização mesmo e incompetência. Resta agora lamentar e grita, na rua de preferência.