Instigados pelo BC, especuladores exigem mais juros e PIB medíocre

Para reduzir o crescimento a 3,5%, projetam Selic em 14% em 2008 e a queda do PIB em 2009

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros de 11,75% ao ano para 12,25%, no dia 4, só fez aumentar a voracidade dos especuladores. Porém, Meirelles e cia. acham pouco. Da reunião do Copom até agora, nada mais fizeram do que açular mais ainda os apetites rentistas. No primeiro Boletim Focus, após o Copom, o BC , naturalmente atribuindo ao “mercado”, aumentou a estimativa da Selic em 2008 para 14% ao ano, ante 13,75%, projetado na semana passada.

Sem nenhuma questão econômica que avalize tal aumento da taxa de juros, fica explícito que o objetivo é frear o crescimento verificado no segundo governo Lula com a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – cresceram os empregos, a renda e o consumo das famílias brasileiras. Em 2007, o país registrou uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,4%. Em sentido contrário, o “Boletim Focus” do BC prevê uma redução do crescimento do PIB em 2009 para apenas 4%.

Ou seja, para Meirelles o país não pode crescer mais de 3,5%, como deixou claro seu correligionário tucano e ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros: “o governo fez um movimento correto ao aumentar o superávit primário em 0,5%. Embora modesto – e certamente insuficiente -, ele mostra um melhor entendimento da dinâmica que teremos que enfrentar nos próximos trimestres. Mas é sobre o Banco Central que recairá a maior responsabilidade para promover uma redução próxima a 2,5% na absorção interna ao longo dos próximos 12 ou 18 meses. Isso corresponde trazer o crescimento do PIB para algo próximo a 3,5% ao ano ao longo de 2009”, afirma no artigo “Em busca da estabilidade ameaçada”. No entanto, estabilidade ameaçada no país, só havia a dos especuladores, que viram mais recursos públicos serem direcionados para os investimentos e a produção – ainda que a maior parte dos recursos orçamentários continuasse a ser imobilizada e desperdiçada com juros. Porém, eles querem tudo, não se conformam em ter a maior parte.

Nem mesmo a inflação – o principal pretexto alegado para o aumento dos juros – pode servir de apoio ao aumento dos juros. Além de se encontrar sob controle, abaixo do limite da meta estabelecido pelo BC, é resultado da especulação externa com os preços dos alimentos.

Segundo o Boletim Focus, na reunião do Copom do final de julho, haveria um novo aumento de 0,5 ponto percentual nos juros básicos, passando para 12,75% ao ano. Assim, o BC já prepara o terreno para um efetivo aumento da taxa Selic na próxima reunião do Copom.

De imediato, a elevação ainda mais cavalar dos juros teria como alvo a redução do consumo das famílias, um dos pilares da retomada do crescimento econômico. Mas, também, afetar os investimentos, tanto do governo quanto privados, consubstanciados no PAC. O aumento da Selic implicará necessariamente em desviar mais recursos do Estado para pagamento dos juros da dívida pública e irá conter as intenções de investimentos dos empresários.

“A alta excessiva dos juros anula os efeitos positivos de políticas de estímulo à produção, pois encarecem o financiamento para investir na produção, e a conseqüente valorização do real reduz a competitividade dos produtos nacionais. Ambos conduzem ao menor crescimento”, afirma a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Não há nada no horizonte que justifique o aumento dos juros, a não ser a decisão do BC em impedir a retomada do desenvolvimento. Meirelles tenta repetir o feito de 2004, quando abortou o crescimento que se experimentava no terceiro trimestre daquele ano, quando o BC elevou a Selic em setembro após cinco meses congelada. O resultado foi uma expansão de apenas 3,2% do PIB em 2005 e de 3,7%, em 2006, já com a revisão dos cálculos feita pelo IBGE. Ou seja, o Brasil tinha todas as condições de entrar na rota do crescimento acelerado já no primeiro governo Lula. O processo foi interrompido por uma ação deliberada de Meirelles, quando elevou a taxa de juros.

Hora do Povo

Rizzolo: A política econômica orquestrada pelo Copom e BC em aumentar ainda mais os juros tem como objetivo segurar o desenvolvimento do País. Elevar a taxa básica de juros de 11,75% ao ano para 12,25%, aumenta o apetite dos especuladores que a cada dia participam mais do nosso mercado financeiro que se tornou um verdadeiro cassino. Como já disse inúmeras vezes a política do BC visa o não desenvolvimento, virando às costas à produção, ao aumento da oferta, suprindo a demanda, elementos estes que poderiam sim ir em direção ao combate a essa ” inflação”. Entender que o País só pode crescer 3,5 % é muito pouco, para um País que precisa gerar 5 milhões de empregos por ano. A ânsia em tirar o País na rota do crescimento é algo impressionante, e ao que parece levado pela argumentação da ” independência do BC” o governo se torna passivo e conivente. Enfim o que os especuladores querem é mais juros e PIB medíocre.

Crescimento do país continua limitado pela alta de juros

No ano passado, o lançamento do PAC e a boa performance de alguns dos principais indicadores macroeconômicos da economia brasileira – tais como superávit comercial ao redor de US$ 40 bilhões, reservas cambiais acumuladas próximas a US$ 185 bilhões, taxa de desemprego de 9,3%, estimativas de um crescimento do PIB em torno de 5,2% e taxa de inflação, IPCA de 4,46% – fizeram com que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles e os analistas econômicos passassem a vislumbrar um ciclo de crescimento econômico sustentado para o Brasil.

Por Fernando Ferrari Filho*

A despeito do atual otimismo acerca das expectativas de um crescimento pujante e consistente da economia brasileira para os próximos anos, em nosso ponto de vista, enquanto a economia brasileira continuar apresentando elevadas taxas de juros, taxa de câmbio valorizada e desequilíbrios fiscais, o que resulta em taxas de investimento deprimidas – atualmente, a relação formação bruta de capital fixo/PIB é da ordem de 19,5% -, é pouco provável que tenhamos um cenário monetário-cambial-fiscal propício para assegurar o tão esperado crescimento econômico sustentável do país. Se acrescentarmos ao referido cenário as perspectivas tanto de arrefecimento da economia mundial, face à crise imobiliária da economia norte-americana, quanto de racionamento energético, tudo leva a crer que há um excesso de otimismo de parte da equipe econômica e dos analistas econômicos. Para assegurarmos a estabilização macroeconômica e crescermos acelerada e sustentavelmente, a política macroeconômica deve ser articulada de forma a (i) reduzir a taxa de juros – diga-se de passagem, sistemática que vinha sendo implementada, ainda que timidamente, pelo BC, desde 2006 -, (ii) tornar a taxa de câmbio competitiva – a administração do câmbio conforme a lógica de um regime “crawling peg” e a adoção de mecanismos de controle de capitais que mitiguem a entrada de capitais especulativos têm esse objetivo – e (iii) equilibrar as finanças do setor público para que o Estado continue realizando gastos tanto em programas sociais de caráter distributivo, tais como o Bolsa Família, quanto em infra-estrutura. Em outras palavras, política monetária expansionista, desvalorização administrada da taxa de câmbio e ajuste fiscal são imprescindíveis.

Esperar dos economistas e dos analistas econômicos consenso em torno das estratégias de redução dos juros e de intervenção no mercado de câmbio é quase impossível. Todavia, é possível que haja uma unanimidade em torno da necessidade de se implementar o ajuste fiscal, por mais que os fins sejam distintos: por um lado, para aqueles que compartilham da idéia de Estado Mínimo, o ajuste fiscal deve contemplar reformas orientadas para o mercado; por outro, há os que entendem que o equilíbrio do setor público é essencial para tornar o Estado solvente nos planos fiscal e financeiro, sendo capaz, assim, de estabelecer políticas públicas e sociais e criar um ambiente institucional favorável à realização dos investimentos privados.

Por mais que haja divergência acerca de qual deve ser a estratégia de política macroeconômica para se atingir os objetivos de estabilização de preços e de crescimento econômico sustentável, para nossa surpresa, no momento em que a taxa de inflação do ano passado ficou somente 0,04% abaixo da meta estabelecida pelo BC, os arautos do mercado argumentam ser necessário elevar a taxa de juros para conter pressões de demanda e, por conseguinte, propõem que o BC eleve a taxa básica de juros, Selic, em um futuro próximo. Como é sabido, taxa de juros tem efeito transmissor sobre a inflação se, e somente se, ela é essencialmente de demanda, o que não parece ser o caso da nossa presente inflação. Por quê? Por um lado, porque entre 2003 e 2007, caso as previsões do PIB para esse último ano sejam confirmadas, a economia terá crescido em média 3,7% ao ano. Se não bastasse o baixo crescimento médio anual, a dinâmica desse crescimento tem mostrado uma tendência à la “stop and go”. Portanto, supor que o referido crescimento, pífio e volátil, tenha atingido a taxa de crescimento do PIB de pleno emprego, o que ocasionaria pressão de demanda, é no mínimo questionável. Por outro, porque no ano passado a taxa de inflação, segundo nos informa o IBGE, foi inflada tanto pelo grupo de alimentos, devido ao choque de oferta agrícola em nível mundial, quanto pela elevação dos preços das commodities internacionais.

Diante desse contexto, elevar a taxa de juros não resolve os problemas da atual inflação brasileira. Ademais, propor a elevação da taxa de juros tem três implicações: (i) compromete ainda mais qualquer esforço de ajuste fiscal. Não é demais ressaltar que a economia do setor público, obtida através do expressivo superávit primário – no ano passado a relação superávit fiscal/PIB foi da ordem de 4% – acaba representando a transferência de recursos da sociedade como um todo para os rentistas; (ii) mantém a taxa de câmbio valorizada, pois em um contexto de ampla mobilidade de capitais, em que os ativos financeiros (títulos) domésticos e internacionais são substitutos perfeitos, o diferencial positivo entre as taxas de juros brasileira e internacionais atrai a entrada de capitais de curto prazo; e (iii) arrefece o investimento e, por conseguinte, a própria dinâmica de crescimento do PIB.

Enfim, para mantermos taxas de crescimento superiores a 5% ao ano, conforme prevê o PAC, novas reduções da taxa de juros básica da economia brasileira são fundamentais. Caso contrário, continuaremos com os desequilíbrios do setor público, com a tendência de apreciação do real (o que pode, em um cenário internacional desfavorável, fazer com que sejamos novamente dependentes de poupança externa) e crescendo à la “vôo da galinha”.

* Fernando Ferrari Filho é Professor titular da UFRGS e pesquisador do CNPq.

Fonte: Valor Econômico

Rizzolo: A dinâmica perversa das altas taxas de juros já foi por demais explicada pela maioria dos economistas que possuem lucidez. Como poderíamos aumentar e fortalecer o mercado interno propiciando um levante econômico da indústria nacional com uma taxa de juros estratosférica ? Isso só vem corroborar a teoria que insisto em afirmar que é a transformação do nosso País em paraíso dos especuladores. Fato ruim sob todos os aspectos, principalmente em relação ao cambio que se fortalece com a enxurrada de dólares dos mega especuladores. Só não enxerga quem não quer. O fato é que o executivo pouco pode fazer, vez que o Banco Central tem autonomia, autonomia essa já postulada para essa finalidade, ou seja, determinar uma política econômica baseada na financeirização, com uma democracia de caráter relativo, Lula ganhou mas não levou. Todo o conceito econômico ainda é preconizado por aqueles que querem o Estado mínimo e frear o desenvolvimento do Brasil. Isso é o governo do Partido dos Trabalhadores que privilegia o capital e não a produção. E os 4 milhões de empregos que precisamos criar por ano como fica ? Pergunta para a Dilma , ” a mãe do PAC”. A foto dela com esse negócio de ” mãe do Pac ” não me sai da cabeça, viu, é impressionante…

Venezuela recupera 5 mil toneladas de alimentos dos especuladores

Cerca de 5 mil toneladas de alimentos foram apreendidas no mês de janeiro na Venezuela, no âmbito da operação Plano de Soberania Alimentar, realizado pela Guarda Nacional e outros órgãos do Estado venezuelano, para combater a especulação, o açambarcamento e o contrabando perpetrados por setores da oposição à margem da lei.

O comandante geral da GN, Fredys Alonso Carrión, disse que a cifra exata de alimentos pegos até 29 de janeiro é de 4 milhões 939 mil 600 quilogramas, ressaltando que “na atuação dos efetivos da GN os produtos não foram expropriados aos seus donos, eles só foram obrigados a vendê-los à população vias regulares, reprimindo ações criminosas que têm como objetivo criar a escassez de alimentos básicos como leite, arroz, açúcar, frango”.

A maior parte dos alimentos se encontrava em depósitos localizados em localidades dos estados Táchira e Zulia, próximos à fronteira com a Colômbia, muitos destinados ao contrabando.

“Alguns empresários em lugar de defender o interesse nacional, fazer o que o imperialismo norte-americano lhes dita e promovem crimes contra o povo. Eles se aproveitam de uma forma repudiável do fato de que os salários aumentaram, o desemprego diminuiu, a qualidade de vida, melhorou nos últimos anos, para tentar provocar tensões e descontentamento escondendo produtos de primeira necessidade para a população, que agora tem mais condições de se alimentar bem”, alertou Chávez. “Em 1998 uma pessoa consumia 168 quilogramas de alimentos por ano, agora o consumo é de 188 quilogramas. Estas cifras refletem a recuperação da alimentação. Aqui se passou muita fome e ainda temos problemas com alguns produtos, agravados pela investida reacionária que estamos debelando, mas chegará rapidamente o momento em que seremos auto-suficientes e exportaremos alimentos”.

O salário mínimo nacional na Venezuela hoje é de 286 dólares quando dez anos atrás, em 1996, era de 32 dólares.

O comandante Carrión, da GN, destacou que estas ações continuarão se realizando indefinidamente em todo o território nacional enquanto os especuladores não sejam totalmente controlados, mas com especial ênfase na fronteira, para se contrapor aos efeitos de escassez e especulação, gerados mediante práticas de açambarcamento e o contrabando de alimentos.

No dia 2 a Rede Mercado de Alimentos (Mercal) colocará à disposição da população 6.391 toneladas de produtos da cesta básica no país.

Hora do Povo

Rizzolo:
Hugo Chaves tenta resgatar sua popularidade face à sua incompetência política expressada em sua derrota nas urnas. Na verdade, a escassez de alimentos, é devido ao consumo intensificado, há muito mais dinheiro circulando, e a oferta de mercadorias diminui. Considerações conspiratórias como esta, falta de tato político no diálogo com os demais países da América Latina, discurso anti americano acentuado, isso tudo terá que ser revisto por Chaves; primeiro porque o presidente americano provavelmente será um democrata, mais liberal, o que esvaziará grande parte de sua rejeição a Bush e aos republicanos.

Em segundo lugar, porque com sua competência em radicalizar o discurso assusta e amedronta a população venezuelana que outrora estava ao seu lado, além disso demonstrou inabilidade ao apresentar um grande número de mudanças constitucionais e não as apresentando ao povo adequadamente. E por último, o desgaste da sua imagem, face ao seu incondicional apoio às FARC, aliás, o jornal britânico The Observer traz uma reportagem sobre uma possível cooperação do governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e com o tráfico de cocaína da Colômbia.

Com isso Chavez, pelo seu radicalismo raivoso, perde simpatizantes de peso na Venezuela e no mundo, e outros de pouco peso ou quase nada como eu, que no ano passado estive pessoalmente na Venezuela (a convite), demonstrando meu apoio político. Não é assim que se conduz um país a um socialismo democrático, Chavez deve repensar sua viabilização política sendo mais moderado, até para ter mais correlação de forças na própria Venezuela.