Amazônia: a outra face de Deus

Não sei realmente por que, mas naquele dia, caminhando por aquele bosque que mais parecia uma floresta de pínus, fixei os olhos nos meus pés. A terra um pouco umedecida e o ar frio que soprava não me intimidavam, ainda que o sono quisesse me levar de volta à minha casa.

Sempre gostei das florestas, das matas, dos bichos que vivem daquilo, e todas as vezes que estou envolto às árvores, mantendo meu ritmo de caminhada, onde ouço apenas meus passos e os pássaros, penso em Baruch Spinoza (1632-1677), um filósofo do século XVII. Nascido em uma família judaico-portuguesa, seus familiares vinham, havia algum tempo, fugindo da Inquisição. Filho de um rico comerciante, viria a se tornar, posteriormente, um dos maiores pensadores racionalistas dentro da chamada filosofia moderna. Spinoza acreditava que Deus era a engrenagem que movia o Universo, e que os textos bíblicos nada mais eram que símbolos que dispensam qualquer abordagem racional.

Contudo, o mais interessante em Spinoza era sua visão una de natureza e Deus – a natureza como um reflexo da expressão divina. Por certo, com base nesse ponto de vista, podemos, sim, nos conectar com Deus quando estamos em sintonia com a natureza. Não há por que negar que não existem diversas maneiras de orar; pensar nas questões ambientais, na luta pela sua preservação também é uma forma de oração. Caminhar pela manhã sentindo o orvalho no rosto e o cheiro das folhas de eucalipto é mais do que exercitar os passos firmes em direção ao alto da montanha – é reaver o conceito panteísta de que Deus é naturante e a natureza, naturata (gerada).

Ainda me lembro de quando sobrevoava a Amazônia vindo de um Congresso de empresários na Venezuela dois anos atrás. A imensidão do verde me fez pensar em todas as formas de vida que ali habitavam; era como se eu avistasse de cima a expressão divina da criação. A preocupação com a preservação da Amazônia é uma constante em todos nós, e tudo o que lá habita pertence a nós brasileiros. Por consequência, deve existir um nexo causal, de cunho filosófico-espiritual, entre Deus e a obrigação cívica do nosso povo em tutelar aquela área.

Por isso o governo deve encaminhar ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para deixar claro que os investidores podem investir em qualquer campo, mas não em terras. Segundo estatísticas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), estima-se que a área total do território brasileiro sob propriedade estrangeira chegue a 4,037 milhões de hectares e cresce cotidianamente; além disso, é relevante notar que o levantamento do Instituto não inclui propriedades de empresas supostamente nacionais que, na verdade, são controladas de modo direto ou indireto por capitalistas de outros países.

Sempre que caminho nas minhas manhãs penso na grandiosidade divina e em nossa responsabilidade ambiental como brasileiros. Imagino a expressão de gratidão daqueles seres da floresta, à imagem divina, que nada possuem em sua defesa a não ser enxergarmos a natureza como a via Spinoza. Caminhar pelos campos verdes, na luta contra a destruição das florestas, é sair em defesa contra as serras afiadas do lucro que rasgam a face verde de Deus e lutar contra os que jamais caminharam na mata sentindo o orvalho no rosto ou souberam que natureza e Deus nada mais são que uma mesma oração.

Fernando Rizzolo

Brasil vai limitar compra de terra por empresa estrangeira

O governo prepara medida jurídica para dificultar a compra de terras por empresas controladas por capital estrangeiro, relata Fernanda Odilla em reportagem da Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

Parecer da Advocacia Geral da União fixará limites às aquisições. As regras valerão para todo o país, mas o alvo principal é a Amazônia, onde estão 55% da área das terras em nome de estrangeiros. Na região, os estrangeiros detêm 3,1 milhões de hectares –no país, são 5,5 milhões.

“É preciso estabelecer regras urgentes porque há uma disputa mundial pelas terras brasileiras”, diz Rolf Hackbart, presidente do Incra. Ele tem repetido que as medidas são necessárias não por uma “questão de xenofobia, mas de soberania”. A íntegra da reportagem está na Folha desta quinta, que já está nas bancas.

Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o povo brasileiro é o dono da Amazônia. “É muito engraçado que países que são responsáveis por 70% da poluição do planeta agora ficam de olho na Amazônia, como se fosse apenas nossa a responsabilidade de fazer o que eles não fizeram todos os anos passados. O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono. É o povo brasileiro, que são os índios, os seringueiros, os pescadores, mas também somos nós, que temos consciência que é preciso diminuir o desmatamento e as queimadas.”

No dia seguinte, ele afirmou que o governo será rígido na fiscalização do cumprimento das leis que preservam o ambiente.

Sem apontar nomes nem suspeitas, Lula destacou que a lei deve ser cumprida por todos: do presidente da República ao mais humilde dos brasileiros. Segundo ele, a política ambiental será a mesma, independentemente do ministro que estiver no comando do Meio Ambiente.
Folha online

Rizzolo: É realmente engraçado como só agora, após algumas vozes corajosas como as do general Heleno se manifestarem, é que o governo ” acordou” em relação as questões de soberania do Brasil, mais precisamente da Amazônia. Saber que 55% da área das terras da Amazônia estão em nome de estrangeiros e que os mesmos detêm 3,1 milhões de hectares no país, são 5,5 milhões, é extremamente preocupante, e isso nos leva a pensar: Como conseguimos chegar a esse ponto?

Venho me referindo à soberania nacional desde que resolvi constituir esse humilde Blog, como cidadão brasileiro sempre me indignei com o descaso e o entreguismo. Contudo não me considero um xenófobo, um retrógrado nacionalista, mas não é possível uma questão dessa magnitude ser tratadas só agora quando as vozes surgem. Depois o presidente Lula numa bravata alega que a Amazônia tem dono. As Forças Armadas não podem observar de camarote o que está ocorrendo no Brasil. Devem participar sem remorsos, e com o devido costumeiro respeito. Acho isso muito triste…termos chegado a esse ponto. Pelo simples amor que tenho ao Brasil, agora não vejo ninguém da esquerda se indignar com isso. Ninguem.