Etanol deve criar 12 milhões de empregos até 2030, diz OIT

GENEBRA – O etanol deve criar cerca de 12 milhões de novos empregos no mundo até 2030. Mas no Brasil, milhares de pessoas que atuam no setor ainda sofrem com salários e condições degradantes. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que alerta para as péssimas condições de trabalho que os cortadores de cana do Brasil enfrentam todos os dias e a renda estagnada. A entidade prevê uma consolidação do setor do etanol no Brasil nos próximos anos e o surgimento de sete grandes grupos no setor no País.

Os dados fazem parte de um relatório que a OIT divulgou nesta quarta-feira, 24, sobre o impacto das novas tecnologias ambientais para o emprego. Energias renováveis, entre elas o etanol, vão gerar 20 milhões de novos empregos até 2030 no mundo.

Na avaliação da OIT, a atual crise financeira deverá gerar uma desacelaração da economia mundial. Mas aposta que governos terão de buscar novos investimentos, para incentivar a retomada da economia e setor ambiental será um dos mais relevantes nesse processo.

As estimativas indicam que US$ 630 bilhões em projetos serão investidos no setor da energia renovável até 2030. Isso geraria também 2,1 milhões de postos e trabalho no setor da energia eólica e outros 6,3 milhões de empregos na energia solar.

Hoje, o Brasil é o país com o maior número de pessoas trabalhando no setor do etanol. Segundo a OIT, são 500 mil pessoas que dependem diretamente do produto. Nos Estados Unidos, são 312 mil, contra 266 mil na China. O biodiesel na Alemanha gera outros 95 mil empregos, contra outros 10 mil na Espanha.

Em 20 anos, o número de pessoas empregadas será multiplicada por dez e o Brasil continuará sendo um dos líderes. Mas a OIT quer garantir que esses novos empregos respeitem direitos trabalhistas e não sejam degradantes. Uma das preocupações com a expansão do etanol é o uso de trabalho semi-escravo nos canaviais. O próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em viagem por Genebra, admitiu que o uso de trabalho degradante existe no setor do etanol.

Agência Estado

Rizzolo: Na verdade o problema dos trabalhadores no corte da cana-de-açúcar no Brasil é extremamente sério. Aliás esse problema já existia antes do ” boom” do etanol. Além de melhorar as condições de trabalho desses cortadores de cana, temos que prepará-los do ponto de vista da formação técnica, até porque a mecanização avança, e esses trabalhadores precisam se especializar, se aprimorar. Por hora existe o problema da sobrevivência desses trabalhadores, que vivem em condições subumanas de trabalho. Já tive oportunidade de escrever vários artigos sobre esse assunto, artigos até já publicados nos EUA, sobre essa questão crucial dos trabalhadores cortadores de cana no Brasil. A medida que o processo de produção do etanol aumenta, precisamos de uma regulamentação do setor, um tipo de uma Etanolbrás, algo regulador que envolveria desde a área do plantio até as condições da mão-de-obra utilizada no setor. A coisa é séria.

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‘NYT’: O futuro do Brasil já chegou, e os motivos são cinco

Juan Bautista Alberdi, um constitucionalista e liberal argentino, notou em 1837 que “as nações, como os homens, não têm asas; elas precisam fazer suas jornadas a pé, passo a passo”. A América Latina, há muito suscetível a miragens utópicas de revolucionários e caudilhos e ainda não imune a eles, tem lutado para absorver esta verdade. Mas, como observa Michael Reid em seu novo livro, Forgotten Continent (Continente Esquecido), democracias de massa duráveis despontaram por toda a região.

Por Roger Cohen, para o The New York Times

Nos últimos anos, essas democracias têm rolado os dados com uma extraordinária variedade de líderes, incluindo Michelle Bachelet no Chile; Luiz Inácio Lula da Silva, o metalúrgico que se tornou presidente do Brasil; e o militar Hugo Chávez da Venezuela.

Os resultados são desiguais. Chávez tem testado a paciência de todos com seus brados de revolução socialista alimentada pelo petróleo. Mas passo a prosaico passo, o continente tem se movido rumo às sociedades abertas e à economia global.

Este progresso ocorreu apesar das disparidades de renda, que tornam cidades como São Paulo labirintos de riquezas e ruína. A ascensão improvável de Lula refletia a esperança de que estas desigualdades sociais pudessem ser superadas, assim como os sucessos iniciais de Barack Obama e Mike Huckabee refletem uma sociedade faminta por mudanças e cansada de titãs de fundos ‘hedge’ driblando os impostos que as pessoas comuns pagam.

Enquanto realizam sua jornada a pé, as nações também sonham. As democracias são inventivas e avessas a concessões. Suas imperfeições são muitas, mas também são seus mecanismos de auto-renovação. Elas exigem esperança. A dinâmica, com o tempo, vence o aspecto dinástico.

A jornada brasileira sempre foi hesitante, gerando a idéia de que este era um país com grande futuro condenado à sua contemplação eterna. Os números anuais de homicídios de dezenas de milhares testemunham os duradouros problemas sociais. Tom Jobim, que compôs “Garota de Ipanema”, notou que o Brasil não é para iniciantes.

Ainda assim, como Lula intuiu com seu pragmatismo astuto – quem mais é amigo tanto de Chávez quanto do presidente Bush? – a maré está fluindo na direção de seu país. O futuro do Brasil é agora. Há cinco motivos: terras, matérias-primas, energia, meio ambiente e a China.

A vastidão define o Brasil; o uso agrícola de seu território está longe do esgotamento. Já o maior exportador mundial de café, carne bovina, açúcar e suco de laranja, ele está aumentando rapidamente suas exportações de outros alimentos, incluindo frango (US$ 4,2 bilhões em 2007, em comparação a US$ 2,9 bilhões em 2006) e soja. Mais de 90 milhões de hectares – uma área ainda maior do que a atualmente cultivada – permanece inexplorada fora das florestas tropicais.

Outra exportação em crescimento é a de minério de ferro. A China, que já está investindo pesadamente no Brasil, deseja tudo o que puder conseguir, tanto quanto deseja alimento (assim como a Índia) e energia. O Brasil possui abundância do segundo e poderá ter ainda mais.

Ponha de lado por um momento os vastos recursos hidrelétricos do Brasil e sua recente descoberta de um imenso campo de petróleo em águas profundas além de sua costa sudeste.

O que contará em longo prazo é sua liderança mundial em combustíveis de origem vegetal, particularmente o etanol de cana-de-açúcar, que produz oito vezes mais energia por hectare do que o milho com o qual grande parte do etanol americano é feito. Combine isso às terras agrícolas quase ilimitadas e o importante deslocamento do futuro para o presente no Brasil entra em foco.

Como Reid escreve: “Se a China se transformou na fábrica do mundo e a Índia o seu departamento administrativo, o Brasil é sua fazenda – e potencialmente seu centro de serviços ambientais.”

A liderança do Brasil em combustíveis não-fósseis e a biodiversidade sem paralelo de sua floresta Amazônica tornam o país em um líder natural na luta do século 21 contra o aquecimento global.

Nada do que foi dito acima seria significativo se o Brasil fosse instável. Mas como grande parte do continente, ele se tornou mais previsível. A China percebeu isso e está rapidamente desenvolvendo suas relações comerciais com o Brasil e outros países latino-americanos. Os Estados Unidos também têm buscado uma série de acordos de livre comércio, com resultados desiguais.

Mas no geral o continente foi deixado com um sentimento de negligência por parte dos Estados Unidos, aprofundado pela promessa pré-11 de Setembro de Bush de um novo foco que refletiria a presença de mais de 40 milhões de latinos nos Estados Unidos. O próximo presidente deve tornar tal foco no sul uma prioridade, com o Brasil como pivô para um maior engajamento.

A transformação da América Latina nas últimas décadas foi subestimada. Ela foi política e econômica, mas também cultural. Os profundos preconceitos contra as populações indígenas, mestiças e mulatas foram confrontados e, se não vencidos, ao menos minados. Em termos históricos, este tem sido um momento de maior poder para aqueles com pele escura.

As Américas estão mudando e, apesar da retórica antiianque de Chávez, se tornando, passo a passo, mais integradas.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte: The New York Times

Rizzolo: Concordo na íntegra com Michael Reid, o Brasil possui todos os itens necessários para assegurar um desenvolvimento como fornecedor de matérias-primas, e principalmente alimento. Contudo é necessário organizar esse desenvolvimento para que de forma ordenada possamos manter a soberania em determinadas áreas como o Etanol. Hoje o Brasil tem sido palco de investimentos maciços nessa área, mega investidores como Soros e outros numa relação com os produtores de cana-de-açúcar estão se apropriando desse mercado sem a devida regulamentação por parte do governo. Na verdade, teríamos que criar um órgão regulador, um tipo de “Etanolbrás”, vez que a Petrobras não poderia absorver face a particularidades do setor que envolve, terra, plantio, e mão-de-obra.

Hoje, os cortadores de cana nos canaviais paulistas estão comendo o pão que o diabo amassou. A jornada de trabalho não tem limite de tempo, mas de tarefa: “são obrigados a cortar em torno de dez toneladas de cana por dia”. Para cada tonelada, segundo informa a pesquisadora, eles “são obrigados a desferir mil golpes de facão”, daí a “birola”, que são as dores provocadas por câimbras. Quem não consegue esta marca espantosa é obrigado a ouvir, durante a terrível jornada, o chicote verbal do feitor: “fraco, “facão de borracha”, “borrado”, vagabundo”. Os que não respondem positivamente a esta emulação macabra serão demitidos ao final da jornada.

O salário é pago por produção na base de R$ 2,50 por tonelada. Ou seja, depois de dez mil golpes de facão, restará ao suplicante a quantia de R$ 25,00 como ganho diário pelo trabalho estafante. Com um agravante: “livre” da senzala, o escravo moderno é quem custeia a sua bóia fria e o alojamento precário na cidade-dormitório. No tempo da escravatura, os antigos senhores eram mais generosos com suas “peças”. O futuro do Brasil existe, mas seu desenvolvimento organizado está nas nossas mãos.

“Evangelizador do etanol”

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criança cortando cana

A edição de dois de outubro da “Folha de S.Paulo” traz, em sua página três, um artigo que todo brasileiro consciente deveria recortar. Nele, a professora Maria Aparecida de Moraes Silva, doutora em sociologia pela Universidade de Paris 1 e docente da Universidade Estadual Paulista, pede um “dedinho de prosa” com o presidente da República para falar de “coisinhas simples”, referentes ao cotidiano de trabalho e da vida de alguns brasileiros.

Recolho do artigo (“Atrás das cortinas no teatro do etanol”) alguns dados reveladores. Os cortadores de cana nos canaviais paulistas estão comendo o pão que o diabo amassou. A jornada de trabalho não tem limite de tempo, mas de tarefa: “são obrigados a cortar em torno de dez toneladas de cana por dia”. Para cada tonelada, segundo informa a pesquisadora, eles “são obrigados a desferir mil golpes de facão”, daí a “birola”, que são as dores provocadas por câimbras. Quem não consegue esta marca espantosa é obrigado a ouvir, durante a terrível jornada, o chicote verbal do feitor: “fraco, “facão de borracha”, “borrado”, vagabundo”. Os que não respondem positivamente a esta emulação macabra serão demitidos ao final da jornada.

O salário é pago por produção na base de R$ 2,50 por tonelada. Ou seja, depois de dez mil golpes de facão, restará ao suplicante a quantia de R$ 25,00 como ganho diário pelo trabalho estafante. Com um agravante: “livre” da senzala, o escravo moderno é quem custeia a sua bóia fria e o alojamento precário nas cidades-dormitório. No tempo da escravatura, os antigos senhores eram mais generosos com suas “peças”.

Não há saúde que resista a um processo tão brutal de exploração. O resultado, além do elevado numero de acidentes do trabalho, é a fieira de doentes que sobrecarregam o precário atendimento público aos desvalidos. Tendinite nos braços e mãos por esforço repetitivo, vias respiratórias entupidas pela fuligem da cana queimada, deformações nos pés pelo uso dos “sapatões”, desgaste da coluna vertebral e encurtamento das cordas vocais devido a postura encurvada do pescoço durante o trabalho são algumas das doenças típicas do inferno verde. Sem falar no absurdo supremo: os mortos por exaustão.

São jovens brasileiros, entre 16 e 35 anos, que estão sendo esfolados vivos. Não é por bala perdida, nem por vício, estão morrendo por conta de um regime desumano e cruel de exploração do trabalho. Segundo afirma a pesquisadora, “minhas pesquisas em nível qualitativo na macrorregião de Ribeirão Preto apontam que a vida útil de um cortador de cana é inferior a 15 anos, nível abaixo dos negros em alguns períodos da escravidão”. Sem dúvida, em pleno século 21, na região mais rica do Brasil, uma informação estarrecedora.

Os magnatas supremos do capitalismo ensandecido estão eufóricos com as oportunidades de negócios que se abrem com esta nova fonte de energia renovável. Um novo ciclo de prosperidade para os donos do poder, montado na devastação do ambiente, na concentração ainda maior de terras e rendas, na exploração e morte dos trabalhadores. Por considerar normal e inevitável semelhante absurdo (os mineiros do carvão também foram esfolados), o presidente Lula já recebeu do “companheiro” Bush o título infamante: “envagelizador do etanol”.

Léo Lince é sociólogo.
Correio da Cidadania

Rizzolo: Em algumas oportunidades discorri da necessidade de estabelecermos normas através de um órgão ragulamentador para a questão do etanol, que envolveria aspectos diversos, como mão de obra, investimentos estrangeiros, terras a serem cultivadas, e soberania nacional. Observem que existe uma verdadeira invasão de investimentos especulativos em terras brasileiras, já existe até uma cumplicidade entre os proprietários de terra no caso do Etanol com os investidores internacionais em Usinas, precisamos regulamentar essa questão, é interessante, quando era para criar as “agências reguladoras” como as que foram criadas na época do FHC a elite correu e emprestou seu apoio incondicional, agora quando há necessidade patriótica de analisarmos de perto essa questão que já de há muito tempo sabida, fica-se no aguardo.

Está mais que na cara que o internacionalismo se faz através de empresas brasileiras “laranjas”, isso é tão óbvio quanto o contraventor de jogo do bicho que tem sua banca na padaria. Agora precisamos nos mexer, um Incra sozinho não faz verão.

A questão do Etanol com relação às terras no Brasil e os investimentos estrangeiros, é pior ainda. Esta disputa pelo controle acionário das empresas sucro-alcooleiras brasileiras por investidores estrangeiros se demonstra agora na luta pelo controle do segundo maior grupo do Brasil, a companhia açucareira Vale do Rosário. O grupo é disputado pelo maior produtor de álcool do Brasil, o grupo Cosan, pelo Bradesco, pela Bunge, transnacional do agronegócio. Os investidores estrangeiros estão por trás do ex-ministro privatizador Antonio Kandir e do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Pelo que podemos inferir até agora, os empresários brasileiros do grupo Etalnac, vão administrar as destilarias e entregar toda a produção de álcool para a Sempra, que exportará para os EUA e o Japão, em outras palavras, a burguesia brasileira se tornará “administradora” dos negócios imperialistas. Neste ramo, se repetirá, em escala superior, o que aconteceu com a produção de soja no Mercosul, que foi totalmente dominado pelas grandes transnacionais do agronegócio como a Cargill, Bunge, Archer Daniels Midland, Louis Dreyfus, etc.

Temos que constituir uma empresa ou um órgão regulador da produção de etanol, uma “Etanolbras” que se aterá aos aspectos específicos dessa área que difere do petróleo, envolvendo questões ligadas à produção, transporte, comercialização, exportação, etc, que precisam ser controladas e reguladas pelo governo. No presente momento não nos resta defender a imediata retirada dos “projetos nefastos” que estão prontos paras serem votados na Casa, como medida de conter o avanço daqueles que tem como o lucro e a exploração seu ideal de vida.

A participação ativa do Ministério Público do Trabalho deve ser aprofundada, visando coibir a superexploração de trabalhadores nessa área, no interior de São Paulo, estamos verificando em mortes de trabalhadores por absoluta exaustão. O trabalhador é obrigado a cortar 12, 13, às vezes 15 toneladas de cana por dia, o trabalho escravo não é caracterizado na legislação com essa expressão específica. O artigo 149 do Código Penal considera crime a redução à condição análoga de escravo, caracterizada pelo trabalho forçado e pelas condições degradantes de trabalho. Dados informam que de 1995 até março deste ano, fiscais do trabalho já libertaram 21.774 trabalhadores em situações semelhantes à de escravos. Um cadastro de empregadores desse tipo de mão-de-obra foi criado em 2004 pelo Ministério do Trabalho e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos. Alista conta hoje conta com 166 empregadores registrados. É a sede lucro combinado com a impunidade, até porque essas explorações muitas vezes ocorrem em lugares distantes. Tenho pena do povo brasileiro, viu.