Abraços caros ou caros abraços ?

A euforia tomou conta da rua, como ocorreu na Venezuela, no Equador, na Bolívia, e Argentina. O Paraguai festeja o novo presidente Fernando Lugo, a América Latina se regozija de estar caminhando para uma linguagem comum, ou seja, os presidentes com a cara do povo. A esquerda brasileira aplaude, palmas para o novo membro, o presidente Lula se antecipa e diz que Fernando Lugo não é esquerdista, e ainda com euforia da vitória no peito, logo pela de manhã, o novo presidente – não esquerdista do Paraguai- acorda e num primeiro gesto de cumplicidade liga para seu amigo Evo Morales.

Na correnteza da nova modalidade e discurso de massas, o governo brasileiro sempre se identificou com os “governos socialmente comprometidos”, até porque para Chavez e Morales não há a menor dúvida que Lula é o companheiro do Brasil. Nem daria para não ser diferente, o conceito político na sua essência, é o mesmo; a única maior diferença no Brasil, é a aliança existente com o capital, para sedimentar e dar governabilidade ao modelo de cunho socialista, ou progressista se quiserem. Chavez não leva desaforo e jamais seria amigo de quem imaginaria uma traição, para o presidente Venezuelano, para Morales o líder Boliviano, para o companheiro do Equador, não passa pelas suas cabeças que Lula os decepcionasse.

A medida em que os “laços bolivarianos” de irmandade se consolidavam, os problemas começaram a aparecer, o primeiro deles foi a questão do gás da Bolívia. Morales sem pestanejar veio e cobrou do Brasil, fez o que quis porque sabia que jamais iríamos decepciona-lo, afinal, Chavez ficaria profundamente indignado e magoado. A posição pacífica adotada pelo Brasil para solucionar a questão foi boa. Não existia clima para um confronto. Como? Companheiros? Eu mesmo acreditei que foi a melhor solução, a via pacífica.

Mas vale uma análise da natureza dessa política concessiva, que no fundo passa por uma consentimento não baseado em interesses econômicos ou liberalidade, pior, atravessa por uma teia política de visão ideológica, comprometedora e com tentáculos de alinhamento político. O Brasil está sim muito alinhado com os governos chamados neopopulistas, até porque para os demais governos da América Latina, Lula faz parte desse grupo, apenas é mais recatado face as ” alianças” estabelecidas.

Como era de se esperar, não tardou surgir um novo enfrentamento, desta feita, talvez também , assoprado por Chavez aos ouvidos de Fernando Lugo; temos agora a impositiva tentativa de renegociar o tratado de Itaipu, sob argumentos de que é ” injusto”, e mais, o presidente paraguaio defende que a discussão sobre Itaipu seja internacionalizada, convocando algum país da região para passar a atuar como mediador da questão !

Sem causar ” decepções” e “mágoas paraguaias”, o ministro Celso Amorim apressou-se em afirmar que o tratado não será renegociado, ” mas” que o Brasil está aberto a negociações para que o Paraguai obtenha o “máximo de benefícios”, contudo, segundo o Itamaraty, sem alterar o documento assinado em 1973. Na visão de Amorim devemos reajustar o valor pago ao Paraguai pela energia excedente da hidrelétrica de Itaipu.

O que observamos ao aprofundarmos a análise crítica, é que as questões e interesses nacionais passam a ser avaliadas pelo prisma ideológico, na conceitualização de “justiça” e não de interesses com o País vizinho. Podemos observar a utilização frequente do termo ” preço justo”. Como me referi anteriormente, já existe um Mercosul político-ideológico, que não passa pelos interesses econômicos de soberania e sim por certa cumplicidade e visão ideológica. Analisar a sociedade de Itaipu sob o prisma dos valores auferidos pelo Paraguai é desconsiderar a generosidade do Brasil. Não fosse por nós, o Paraguai jamais teria transformado recursos naturais em energia.

Nos resta mais uma vez curvarmos e como no caso Boliviano, negociarmos; silenciosamente sentarmos à mesa de negociação à maneira sindical, e num golpe de resignação, aceitarmos o imposto. Afinal, se abraçamos durante tanto tempo Hugo Chavez, Evo Morales, Correa e Kirchener, não podemos decepcionar agora Fernando Lugo. Não é ? Economize energia elétrica porque os abraços sairão caro…

Fernando Rizzolo

Novo presidente do Paraguai testa humor do império

A história das relações do Brasil com o Paraguai não é uma datilógrafa ascética. É uma personagem suja e inconfiável. Prefere a versão ao fato. Sonega a verdade sobre passgens vitais.

Tome-se o exemplo da Guerra do Paraguai, travada no Século 19. Sabe-se que o Brasil prevaleceu sobre o vizinho valendo-se de métodos que não o dignificam. Vem daí o pavor do Itamaraty em abrir os seus arquivos secretos.

Para o paraguaio médio, tudo o que lhes coube em termos de destino –sobretudo a miséria e a tragédia—está irremediavelmente ligado ao Brasil. Mal comparando, o Planalto está para o Paraguai assim como a Casa Branca está para as nações pobres do mundo. O império, neste caso, somos nós.

Em meio a esse sentimento de aversão à “dominação”, que é crescente, os paraguaios elegeram neste domingo (21) um novo presidente: Fernando Lugo. O triunfo do oposicionista Lugo, um ex-bispo católico que se expressa em timbre esquerdista, pôs fim a mais de 60 anos de predomínio do Partido Colorado.

Sobre o palanque, Lugo escalou em direção ao Brasil. Enrolou-se na bandeira da renegociação do tratado de Itaipu Binacional. O tema permeou toda a campanha. Formou-se no caldeirão da imprensa paraguaia um caldo anti-Brasil.

Reza o contrato que o Paraguai, sócio de Itaipu, se obriga a vender ao Brasil os excedentes de energia elétrica produzidos pela hidrelétrica. Assunção recebe anualmente algo como US$ 300 milhões. É pouco, reclama Lugo. Muito pouco, pouquíssimo.

O novo presidente reivindica um reajuste gordo. Fala em valores que oscilam de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões. Nesta segunda-feira (21), já entronizado na posição de mandatário eleito, Lugo disse a jornalistas brasileiros que pretende “discutir Itaipu ao máximo”. Espera encontrar no Brasil “racionalidade” Se necessário, pode requisitar a mediação de um terceiro país. Não exclui nem mesmo a hipótese de recorrer a tribunais internacionais.

Da África, onde se encontro, Lula deu resposta imediata. Disse que não vai ceder. “Nós temos um tratado. E o tratado vai se manter.” Mais tarde, o chanceler Celso Amorim, que acompanha Lula na viagem a Gana, piscou. Na contramão do chefe, Amorim disse que o tratado pode, sim, ser revisitado e até revisto.

“Vamos continuar discutindo com o Paraguai normalmente como ele pode obter uma remuneração adequada para sua energia. Isso é justo”, disse o chanceler brasileiro. “Vai haver uma atitude normal de conversa”, acrescentou o ministro. Busca-se “encontrar soluções para um país com o qual temos uma relação muito próxima.”

Lula, como se vê, precisa chamar o seu auxiliar para uma conversa.

Fonte: Blog do Josias

Rizzolo: Preliminarmente, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que o Brasil não vai rever o tratado de Itaipu, uma das principais bandeiras de campanha do presidente eleito do Paraguai, o ex-bispo católico Fernando Lugo, não expressa a realidade. Tanto não é verdade, que o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) afirmou que o Brasil pode reajustar o valor pago ao Paraguai pela energia excedente da hidrelétrica de Itaipu. A afirmação foi dada pelo ministro nesta segunda-feira em Acra, capital de Gana (África), onde participa de atividades da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento).

Outra afirmação de Lula que também não corresponde a realidade, é o fato do nosso presidente entender que Fernando Lugo, não é esquerdista. Ora, com todo o respeito ao presidente, essa afirmativa chega a ser hilária, é claro que Fernando Lugo é sim um homem de esquerda, prova disso, está no fato do ex-bispo no seu primeiro dia como presidente eleito do Paraguai já ” ter trocado algumas idéias ” por telefone com o presidente boliviano, Evo Morales.

Alem disso, afirmou aos jornalistas brasileiros que “O presidente Lula nos deu um sinal importante quando abriu a possibilidade de sentarmos todos a uma mesa, tendo posições diferentes, para entendermos a administração de Itaipu, o tratado, a transmissão da energia, o que significa o conceito de ‘preço justo’, o acordo de Foz do Iguaçu de 1966”, disse o presidente eleito.

Durante a campanha eleitoral, Lugo havia destacado a necessidade de restituir a dignidade às populações indígenas – uma preocupação que também levou Evo ao governo. Ademais, esta crise tarifária com o Paraguai deve já estar acertada com Evo Morales, Chavez e o governo, quanto ao ministro Amorim por estar demais longe, em Gana na África, está com certeza mal orientado em relação ao direcionamento oficial que deverá ser dado ao discurso sobre a questão. Só para terminar, Hugo Chávez, avaliou o histórico pleito de domingo como um ato democrático que “demonstra a maturidade política alcançada” pelo Paraguai. Não precisa dizer mais nada, não é ?