Abyara vende ativos para fazer caixa

Em um ano, ações da empresa já caíram 95% na Bovespa

PATRÍCIA CANÇADO e CHIARA QUINTÃO

A Abyara Planejamento Imobiliário anunciou ontem que vai se desfazer de alguns terrenos e sair de parte dos empreendimentos em que atuava em parceria com outras incorporadoras, como a Agra e a Bueno Netto. A empresa, que até agosto acumulava uma dívida de R$ 378,5 milhões, enfrenta dificuldades financeiras. Sem crédito disponível, ela tem pressa em levantar capital para continuar tocando seus projetos. Em nota, a Abyara informou que a decisão foi tomada para “recompor sua situação de caixa e, dessa forma, preservar a saúde financeira da companhia”.

Em meados de agosto, a Abyara divulgou que sua necessidade de caixa até 2009 era de R$ 231 milhões. A maior parte refere-se está relacionada a vencimentos de dívidas.

Essa não é a primeira empresa imobiliária com ações listadas na Bovespa a tomar essa atitude. Em agosto, a InPar decidiu vender parte de seus ativos para fazer caixa para comprar terrenos. As duas empresas são consideradas por analistas as mais fragilizadas do setor. Elas estabeleceram metas arrojadas para seu tamanho e não conseguiram cumprir os planos por falta de crédito.

Na sexta-feira, as ações da Abyara estavam cotadas a R$ 1,55. Em um ano, a desvalorização já chegou a 95%, o pior desempenho entre as empresas imobiliárias. “Todo o mercado está precificando que elas estão quebradas. O erro delas foi acreditar num cenário de muito otimismo”, afirma o analista do Fator, Eduardo Silveira. “No caso da Abyara, vejo um erro de planejamento. Ela fez um IPO pequeno porque era apenas uma corretora. Mas, no meio do caminho, decidiu incorporar, o que exige muito mais capital.”

Em agosto, a Abyara vendeu sua corretora para a BR Brokers por R$ 250 milhões. Na ocasião, o Morgan Stanley, principal acionista da companhia, mostrou-se disposto a colocar mais dinheiro no negócio, caso fosse necessário. Fontes próximas à companhia não acreditam que isso ocorra, já que o fundo imobiliário do banco, um dos maiores do mundo dedicado ao setor, já perdeu muito dinheiro com a crise financeira internacional.
Agência Estado

Rizzolo: A crise imobiliária no mercado brasileiro é um fato irrefutável, a notícia de que empresas do setor já estão de desfazendo de seus ativos, vem corroborar o que este Blog vem afirmando desde o início: o momento é de extrema cautela. A situação se complica quando este segmento, que é movido por publicidade cara, e está diretamente interligado ao fator confiança, começa a enfrentar problemas de caixa como o caso descrito.

Na realidade o mês de outubro dá uma idéia do que vem pela frente: o Ibovespa parou os negócios nos dias 6 (duas paralisações), 10, 15 e 22. O índice caiu 24,8%, saindo de 49.541 pontos do fechamento do dia 30 de setembro, para 37.256 pontos, no fechamento de hoje. E chegou a operar abaixo dos 30 mil pontos esta semana.

Várias economias importantes divulgaram retração no PIB, entre eles EUA (-0,3%); Inglaterra (-0,5%). O petróleo teve a maior queda mensal da história: mais de 35%. Cotado a US$ 100,64 no dia 30 de setembro, operava hoje em torno de US$ 67,00.

A mesma coisa aconteceu com a cesta de commodities medida pelo índice CRB, que despencou quase 25%. O dólar disparou frente outras moedas, e a valorização sobre o real chegou a 30%, com a moeda passando de R$ 2,50. O BC brasileiro foi obrigado a intervir no mercado, trazendo a cotação para R$ 2,16, hoje, o que significa uma alta do dólar de 13,6% para a cotação de R$ 1,90 do dia 30 de setembro. O risco-país também subiu, 35%, passando dos 305 pontos ao fim de setembro para 412 hoje. Face a este cenário, é claro que o setor imobiliário cujo investimento é de baixa liquidez, e nesta fase crítica enfrenta os juros altos e escassos, sofre um forte impacto. Como sempre tenho afirmado, o momento é de apenas observar, não de comprar ou assumir compromissos, e o investidor cauteloso sabe disso.

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Crise financeira mundial ‘esfria’ a febre da casa própria no Brasil

Grandes bancos elevaram taxas de juros para financiamento.
Crise de crédito também afeta a capitalização de construtoras

Ainda não é o fim da festa, mas os brigadeiros em cima da mesa podem estar escasseando. Em 2007, o financiamento imobiliário com recursos da poupança cresceu quase 100% frente ao ano anterior, levando o setor à sua maior expansão em décadas. Agora, a crise financeira mundial ameaça transformar esses bons ventos em brisa.

O responsável pela piora no cenário é o aperto no crédito que o país tem começado a sentir: com o dinheiro em falta lá fora, os bancos tendem a proteger mais seus próprios recursos.

Nessa tendência, três grandes bancos brasileiros aumentaram no início do mês a taxa de juros para o financiamento da casa própria. O Bradesco mudou a taxa de 9% para 10,5% ao ano para imóveis até R$ 120 mil. O Itaú reajustou o teto dos juros cobrados para 12%. No Unibanco, a taxa passou de 11% para 12%.

“Isso é o teto. Se o banco fazia (o financiamento) a 9%, não quer dizer que vai fazer a 12%, mas que se sente livre para variar mais as taxas. Agora eles vão estudar muito bem quem são os tomadores de crédito e dar taxas melhores àqueles clientes em que têm mais confiança”, diz João Crestana, Secovi-SP, sindicato do setor imobiliário.

No bolso do consumidor

Para o consumidor, a mudança se traduz em mais gastos. Em um financiamento em 20 anos, o preço final do imóvel pode ficar até 29% mais caro, segundo um levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

Segundo o autor do estudo, Miguel de Oliveira, antes da alta dos juros o consumidor pagava por um imóvel de R$ 120 mil, em média, 240 prestações de R$ 966,74, em um total de R$ 232.017,60. Agora, o valor final soma R$ 299.455,20.

“Com o aumento dos juros, você afeta a prestação. E a prestação aumentando, começa a criar problemas no bolso de uma fatia dos potenciais compradores. Em determinado segmento, pode até inviabilizar a compra”, avalia Luiz Paulo Pompéia, presidente da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp).

Brasil X EUA

Embora seja reflexo da crise no exterior, a restrição do crédito no Brasil tem natureza diferente da que ocorre lá fora. Nos Estados Unidos e na Europa, os bancos vêm sofrendo prejuízos enormes, que têm origem no não pagamento de hipotecas imobiliárias. Sem recursos, o crédito some.

Já os bancos brasileiros estão em situação diferente: sem créditos podres em carteira, gozam de boa saúde financeira. Ocorre que muitos deles se financiam com recursos do exterior – e com o dinheiro lá fora escasso, evitam correr riscos, já que não teriam a quem recorrer em caso de problemas.

Efeitos para as construtoras

Essa restrição de crédito também afeta as construtoras. “Os bancos estão pedindo mais garantias e vão injetar menos dinheiro no setor. Alguns segmentos podem sentir, por não conseguirem produzir com um custo tão elevado. O reflexo é que alguns empreendedores vão reduzir seu ritmo de lançamentos. Não há uma suspensão, mas uma redução do ritmo alucinado de montagem de estandes de venda que era no passado”, diz Pompéia, da Embraesp.

“É a hora da seletividade. Em vez de fazer 20 empreendimentos, (a empresa) vai fazer 16, e quatro vai deixar na gaveta para 2010, 2011”, acrescenta Crestana, do Secovi.

As construtoras e incorporadoras também estão entre as que mais sofrem com o “tombo” das bolsas de valores nas últimas semanas. De olho nos problemas do setor, o governo federal autorizou, nesta semana, a Caixa Econômica Federal a comprar participação acionária em construtoras.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o objetivo é evitar que haja uma interrupção dos projetos por falta de recursos. “É uma resposta para dar continuidade aos projetos de construção habitacional”, disse ele.

Cuidados na hora da compra

Para o consumidor, a recomendação dos especialistas é redobrar a prudência na hora da compra. Embora alguns bancos tenham elevado as taxas de juros, outros ainda mantêm a cobrança no mesmo patamar.

“Quem pretende financiar um imóvel pode procurar um dos bancos em que é cliente e negociar para manter a taxa. Para quem é bom cliente, o banco pode manter (a taxa antiga)”, diz Crestana. “Mas o comprador vai ser um pouco mais cauteloso agora, vai selecionar os melhores juros, não vai querer comprometer tanto da renda.”

“A recomendação é prudência, paciência e pechinchar muito. E, se puder esperar, para evitar riscos desnecessários. Eu acredito que em três ou quatro meses já vamos estar com uma situação mais estável, mais clara”, afirma Pompéia.

Para uma fatia dos compradores, no entanto, a recomendação do presidente da Embraesp é diferente: “Quem tem aqueles contratos já prontos, com a situação de antes da crise, é bom aproveitar. Porque dificilmente voltaremos a uma situação tão privilegiada quanto a de seis meses atrás.”
G1 Globo

Rizzolo: A crise que atingiu o mercado imobiliário brasileiro, mais precisamente as construtoras, é sério e podemos estar vivenciando no futuro um “efeito Incol”. O pacote do governo muda um pouca a participação da Caixa Econômica Federal que sempre financiou a construção imobiliária. Para salvar o mercado, agora a construtora poderá pegar adiantadamente na caixa as prestações que os compradores vão pagar no futuro, os chamados recebíveis.

Se houver calote quem paga é o Tesouro. Mas é claro, se a quebradeira for grande, será isso acontecerá? Hoje o mercado imobiliário, como todos os outros segmentos, vive um problema de confiança, e especificamente, o imobiliário, pela pouca liquidez que oferece, e pelas taxas exorbitantes de financiamento, é um investimento não aconselhável, por hora. Para se ter um idéia do problema, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta quinta-feira que o governo federal editará uma medida provisória (MP) para socorrer o setor da construção civil.

Durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), ele afirmou que a MP tem o objetivo de viabilizar parte das medidas divulgadas na quarta-feira, as quais, por sua vez, visam fornecer capital de giro às empresas do setor. Ou seja, aquele que pretende comprar um imóvel deve pensar muito antes da decisão, e em momentos de crise o melhor é apenas observar, não comprar.

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