Demissões foram ‘anomalia’ e Embraer foi precipitada, diz Lula

SÃO PAULO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de “uma grande anomalia” as demissões da Embraer, que mandou embora 4,2 mil funcionários no último dia 19. No programa semanal Café com o Presidente, nesta segunda-feira, 2, ele disse que a direção da fabricante de aviões foi “precipitada”.

“Chamei a direção da Embraer e disse que eles foram precipitados, que poderiam ter negociado com os trabalhadores. Já tínhamos outras experiências no Brasil em que a negociação é o melhor caminho. Obviamente que vamos trabalhar para ver se a Embraer consegue ter as encomendas, produzir os aviões e vender, porque essa é a certeza de que teremos os postos de trabalho ocupados pelos trabalhadores outra vez.”

Lula afirmou ainda estar “preocupado” com a possibilidade de aumento do desemprego no País, mas aposta em uma melhora da atividade econômica do país, afetada pela crise mundial, a partir de março. O presidente admitiu que fevereiro ainda trará cortes de vagas de trabalho, mas que a situação deve melhorar.

“Nós prevíamos um primeiro trimestre muito delicado por conta da crise internacional. Mas, ao mesmo tempo, todas as medidas que tomamos, seja a liberação de mais crédito para financiar capital de giro, seja o incentivo à construção civil, seja repassar mais dinheiro para o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], tudo isso tem um processo de maturação que, na minha opinião, começa a melhorar agora, a partir de março.”

Lula aposta no ‘mercado interno potencial e extraordinário” para fortalecer a economia. “Volto a repetir aquela velha história da roda gigante: se as pessoas consumirem adequadamente, se comprarem aquilo que necessitam, o comércio vai vender e vai encomendar das fábricas, que vão produzir mais e, portanto, vamos gerar os empregos necessários aqui dentro do Brasil.”, afirmou.

Ao comentar os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre desemprego, o presidente admitiu que o mês de fevereiro “certamente” fechará com queda na oferta de postos de trabalho. Mas a previsão do governo, segundo ele, é de que os números comecem a melhorar já a partir deste mês.

Lula lembrou a escassez de crédito em todo o mundo e afirmou que ainda quer negociar com o Banco Central e com o Ministério da Fazenda maior redução do spread bancário (diferença entre as taxas que os bancos pagam ao captar dinheiro no mercado e o juro que cobram nos empréstimos).

Para o presidente, estratégias como a de ampliar os postos de trabalho por meio de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além do lançamento do programa habitacional que irá distribuir 1 milhão de casas populares para pessoas com renda entre zero e dez salários mínimos, “dinamizam” a economia brasileira.

Inflação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (2) que a inflação brasileira está sob controle e que ficará dentro da meta estabelecida para 2009 e para 2010. Segundo ele, a alta registrada no início deste ano é “sazonal”, provocada por setores como educação e transporte.

“Nós temos consciência de que inflação controlada significa mais poder aquisitivo para os trabalhadores e de que inflação alta significa prejuízo. Por isso, vamos cuidar para que a inflação fique definitivamente controlada e para que não seja um problema para o povo brasileiro.”
Agência Estado

Rizzolo: O mais curioso nestas declarações, é a característica passiva do governo frente ao absurdo número de demissões. Chamar de anomalia, requerer a presença do presidente da Embraer, e depois nada fazer, apenas lamentar é um absurdo. A grande verdade é que as centrais sindicais – exceto algumas -, estão totalmente atreladas ao governo, e não mais brigam pelos trabalhadores; são intervenções tímidas, sem luta, ficando a questão para o Judiciário.

Agora, precipitado no meu entender, é distribuir dinheiro público, do povo, do trabalhador, a empresas privadas, sem o mínimo de vinculação de política social em relação aos empréstimos. Outra questão: incentivar o consumo a qualquer custo em época de desemprego em crise é perigoso, e não vai sensibilizar os banqueiros a abaixar os spreads.

É claro que, se o banqueiro sabe que o tomador de empréstimo está sendo incitado a consumir, e vê pela frente uma terrível crise com desemprego, embute um spread maior. Melhor é não falar nada, não é? De qualquer forma, o indicador mais aguardado da semana será divulgado na sexta-feira, quando a FGV mostrará o resultado da produção industrial brasileira em janeiro. Vamos ver.

Lula pede ‘esforço’ da Embraer para ajudar demitidos

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pediu aos diretores da Embraer, na reunião de hoje, no Palácio do Planalto, que revejam a decisão de demitir 4.270 dos 21,3 mil funcionários, informou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, em entrevista, após participar do encontro. Lula, segundo o ministro, pediu que os dirigentes tomem medidas para minorar os problemas dos demitidos.

Na quinta-feira passada, Lula estava indignado com as demissões, segundo relato feito pelo presidente da CUT, Arthur Henrique, após encontro com ele. O sindicalista contou que Lula afirmara ser inadmissível uma empresa beneficiada com recursos públicos promover demissões ao primeiro sinal de problemas. O relato de Arthur Henrique não foi desmentido pelo Palácio do Planalto.

Hoje, de acordo com as informações de Miguel Jorge, Lula começou a reunião pedindo aos dirigentes da Embraer que explicassem os motivos dos cortes de pessoal. O presidente da Embraer, Frederico Curado, disse a Lula, segundo o ministro, que a empresa teve cancelamentos e adiamentos de 30% das encomendas de aviões, que 93% das encomendas são do mercado externo e apenas 7% do interno e que a aviação executiva no Brasil reduziu em 60% suas compras.

“Ele (Lula) pediu que a empresa verifique o que é possível fazer para minimizar o problema das pessoas dispensadas”, relatou Miguel Jorge. Os diretores da empresa disseram ao presidente, ainda de acordo com o ministro, que avaliarão o que é possível fazer e informaram que os demitidos terão um ano de assistência de saúde pago. Segundo Miguel Jorge, Lula pediu “um esforço adicional”, com outras medidas para auxiliar as pessoas dispensadas.

O ministro do Desenvolvimento contou ainda que, na quinta-feira da semana passada), às 11 horas da manhã, informou a Lula que a Embraer faria as demissões. Em resposta a uma pergunta sobre notícia publicada em dezembro antecipando as demissões, Miguel Jorge disse que, na ocasião, telefonou para dirigentes da Embraer e que estes lhe asseguraram que não havia previsão de cortes de pessoal.

De acordo com outro participante do encontro de hoje, o presidente Lula, ao ouvir dos dirigentes da Embraer que a empresa, para fazer contratações de pessoal, depende de uma melhora nas condições do mercado, disse: “Vamos torcer para o mercado melhorar.”

A reunião com Lula no Planalto durou mais de duas horas. Participaram, além de Miguel Jorge, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Pela Embraer participaram seu presidente, Frederico Curado, o presidente do Conselho Administrativo, Maurício Botelho, o vice-presidente de Assuntos Corporativos, Horácio Forjaz, e o vice-presidente Financeiro, Luiz Carlos Siqueira.
agência estado

Rizzolo: Assim é fácil não é? ” Vamos esperar que o mercado melhore “. Só faltou dizer ” que pena”. As questões trabalhistas em que envolve demissões em massa, devem ser resolvidas via negociação. Infelizmente o presidente Lula na cadeira presidencial não raciocina do ponto de vista do trabalhador, assim o fazia quando dirigente sindical apenas, agora a atuação política o impede desta postura, que num momento deste, deveria abordar as questões dos grandes empréstimos do BNDES, sem nenhuma vinculação com o social dando no que deu. Que a Embraer se ” esforce” não é ?