A história das relações do Brasil com o Paraguai não é uma datilógrafa ascética. É uma personagem suja e inconfiável. Prefere a versão ao fato. Sonega a verdade sobre passgens vitais.
Tome-se o exemplo da Guerra do Paraguai, travada no Século 19. Sabe-se que o Brasil prevaleceu sobre o vizinho valendo-se de métodos que não o dignificam. Vem daí o pavor do Itamaraty em abrir os seus arquivos secretos.
Para o paraguaio médio, tudo o que lhes coube em termos de destino –sobretudo a miséria e a tragédia—está irremediavelmente ligado ao Brasil. Mal comparando, o Planalto está para o Paraguai assim como a Casa Branca está para as nações pobres do mundo. O império, neste caso, somos nós.
Em meio a esse sentimento de aversão à “dominação”, que é crescente, os paraguaios elegeram neste domingo (21) um novo presidente: Fernando Lugo. O triunfo do oposicionista Lugo, um ex-bispo católico que se expressa em timbre esquerdista, pôs fim a mais de 60 anos de predomínio do Partido Colorado.
Sobre o palanque, Lugo escalou em direção ao Brasil. Enrolou-se na bandeira da renegociação do tratado de Itaipu Binacional. O tema permeou toda a campanha. Formou-se no caldeirão da imprensa paraguaia um caldo anti-Brasil.
Reza o contrato que o Paraguai, sócio de Itaipu, se obriga a vender ao Brasil os excedentes de energia elétrica produzidos pela hidrelétrica. Assunção recebe anualmente algo como US$ 300 milhões. É pouco, reclama Lugo. Muito pouco, pouquíssimo.
O novo presidente reivindica um reajuste gordo. Fala em valores que oscilam de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões. Nesta segunda-feira (21), já entronizado na posição de mandatário eleito, Lugo disse a jornalistas brasileiros que pretende “discutir Itaipu ao máximo”. Espera encontrar no Brasil “racionalidade” Se necessário, pode requisitar a mediação de um terceiro país. Não exclui nem mesmo a hipótese de recorrer a tribunais internacionais.
Da África, onde se encontro, Lula deu resposta imediata. Disse que não vai ceder. “Nós temos um tratado. E o tratado vai se manter.” Mais tarde, o chanceler Celso Amorim, que acompanha Lula na viagem a Gana, piscou. Na contramão do chefe, Amorim disse que o tratado pode, sim, ser revisitado e até revisto.
“Vamos continuar discutindo com o Paraguai normalmente como ele pode obter uma remuneração adequada para sua energia. Isso é justo”, disse o chanceler brasileiro. “Vai haver uma atitude normal de conversa”, acrescentou o ministro. Busca-se “encontrar soluções para um país com o qual temos uma relação muito próxima.”
Lula, como se vê, precisa chamar o seu auxiliar para uma conversa.
Fonte: Blog do Josias
Rizzolo: Preliminarmente, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que o Brasil não vai rever o tratado de Itaipu, uma das principais bandeiras de campanha do presidente eleito do Paraguai, o ex-bispo católico Fernando Lugo, não expressa a realidade. Tanto não é verdade, que o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) afirmou que o Brasil pode reajustar o valor pago ao Paraguai pela energia excedente da hidrelétrica de Itaipu. A afirmação foi dada pelo ministro nesta segunda-feira em Acra, capital de Gana (África), onde participa de atividades da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento).
Outra afirmação de Lula que também não corresponde a realidade, é o fato do nosso presidente entender que Fernando Lugo, não é esquerdista. Ora, com todo o respeito ao presidente, essa afirmativa chega a ser hilária, é claro que Fernando Lugo é sim um homem de esquerda, prova disso, está no fato do ex-bispo no seu primeiro dia como presidente eleito do Paraguai já ” ter trocado algumas idéias ” por telefone com o presidente boliviano, Evo Morales.
Alem disso, afirmou aos jornalistas brasileiros que “O presidente Lula nos deu um sinal importante quando abriu a possibilidade de sentarmos todos a uma mesa, tendo posições diferentes, para entendermos a administração de Itaipu, o tratado, a transmissão da energia, o que significa o conceito de ‘preço justo’, o acordo de Foz do Iguaçu de 1966”, disse o presidente eleito.
Durante a campanha eleitoral, Lugo havia destacado a necessidade de restituir a dignidade às populações indígenas – uma preocupação que também levou Evo ao governo. Ademais, esta crise tarifária com o Paraguai deve já estar acertada com Evo Morales, Chavez e o governo, quanto ao ministro Amorim por estar demais longe, em Gana na África, está com certeza mal orientado em relação ao direcionamento oficial que deverá ser dado ao discurso sobre a questão. Só para terminar, Hugo Chávez, avaliou o histórico pleito de domingo como um ato democrático que “demonstra a maturidade política alcançada” pelo Paraguai. Não precisa dizer mais nada, não é ?