Perdendo-se as Nobres Referências

Ernesto Bertarelli um empresário italiano e velejador, disse certa vez uma frase que muito me marcou, dizia ele, que ” A medida da grandeza de uma pátria não é geográfica; é a histórica “, isso de certa forma acabou me remetendo a um passado. Ainda quando menino, cursando o primário numa escola pública num Bairro de classe média em São Paulo, me recordo que ao chegar no ” Grupo Escolar” – como assim era chamado – éramos obrigados a nos mantermos em fila, hastearmos a bandeira, e cantarmos o Hino Nacional ; era quase que um ritual natural antes das aulas, algo rápido mas solene. A bandeira tremulava e eu a observava com olhar ingênuo de um menino de sete anos.

Com um certo incômodo, tive uma sensação perturbadora esta semana ao assistir cenas em que jovens do morro da Providência, riam descendo as cinzas escadas do morro arrastando a bandeira brasileira, como ato de manifestação contra uma instituição que ainda acredito ser a mais nobre que subsiste no Brasil: as Forças Armadas. Muito embora tenha havido excesso, o rigor das penas da Justiça Militar serão com certeza aplicados aos maus militares que participaram daquele ato, soldados estes que provavelmente maculados foram no convívio com o narcotráfico. Nada justifica a forma imoral e brutal na deplorável ação contra jovens pobres do morro da Providência.

Mas ao analisarmos a questão deixando este fato isolado, já quase apurado, e com a punição devidamente prevista, o que salta aos olhos é a naturalidade com que nós brasileiros tratamos hoje assuntos de soberania nacional, quer de ordem urbana como ambiental, vide a questão da Amazônia. As interpretações e prejulgamentos em relação à participação do Exército em áreas urbanas dominadas pelo crime, são as mesmas que dão o esteio justificatório na permissibilidade da questão da demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, dos direitos e na condescendência nas perigosas argumentações formuladas pelos ONGS internacionais, e chanceladas pelo facão indígena dos caiapós, que atingiu o engenheiro da Eletrobras Paulo Fernando Rezende ao final de uma palestra, no encontro Xingu Vivo para Sempre, em Altamira (PA), ou na passividade da internacionalização da Amazônia.

O que observamos é que existe sim uma orquestração dialética e política sobre questões onde a referência sobre o papel decisivo do Estado na preservação da ordem, é decisivamente substituído pelo direito das minorias, das etnias, dos grupos, muitos sem legitimidade para se sobrepor aos conceitos de ordem, como o narcotráfico, levando o País a ser dirigido por “ducados sem Lei”, autônomos, insubordinados, cujo reflexo fatalmente leva aos jovens a perda da referência de quem é quem no Poder Público.

A indignação por atos isolados lamentáveis como o ocorrido, passa a ser de maior relevância do que a existência daquilo que classifico como “células paraestatais”, onde o domínio da população e do território passa a ser não mais tutelado pelo Estado, mas por grupos, e isso pouca indignação suscita ao governo e até a nós mesmos, que acabamos por osmose aceitando a retirada da bandeira nacional por aqueles pobres jovens que pouco conhecem o sentido de algo maior representada por aquele ato.

Jamais admitiria que a culpa pela falta dessa observação pertence a eles, aos pobres esquecidos que vivem nos morros como o da Providência, mas sim dos sucessivos governos que não souberam manter acessa a chama da autoridade, a ação enérgica na hora apropriada, no amor à Pátria, e se ativeram apenas no espírito pouco cívico e não reverente às instituições como o Exército brasileiro, muito pelo contrário, armaram seus espíritos em desqualificar e restringir o papel das Forças Armadas, em função de um passado que já não faz mais sentido ser lembrado.

A falta de controle, o desmando, o narcotráfico, a improbidade administrativa, a politicagem corrupta, o apadrinhamento, tudo isso nada mais é do que um reflexo da falta de um patriotismo histórico, muito bem lembrado pelo italiano Ernesto Bertarelli, um sonho de ordem e respeito, ideais que acabamos infelizmante nos distanciando no Brasil.

Fernando Rizzolo