Primeiro, vamos definir melhor o que vem a ser essa história de “zerar a dívida externa brasileira”, motivo de muita comemoração na sexta-feira passada. A dívida externa pública fechou 2007 em US$ 70,1 bilhões, enquanto a privada ficou em US$ 127,6 bilhões. Como lembra o economista Sérgio Vale, da MB Associados, a dívida pública já estava quitada desde maio de 2007.
De qualquer modo, para ter tranqüilidade, o pais precisa dispor de reservas em dólares para garantir a quitação de ambas as dívidas. De acordo com projeções da consultoria, em 2008, a dívida externa pública deve recuar, enquanto as empresas devem ampliar os financiamentos no exterior para novos investimentos. A dívida pública deve ficar em US$ 65 bilhões, enquanto a privada deve ir para US$ 145 bilhões. A dívida total deve chegar a US$ 210 bilhões, próximo ao que o pais vai ter de reserva ao longo do ano, diz ele.
É garantia se segurança externa? De fato, não. O passivo externo líquido – que considera, além da dívida externa líquida, os investimentos estrangeiros no Brasil – tem crescido consideravelmente, saltando de US$ 297 bilhões em 2004 para US$ 472 bilhões até o primeiro semestre de 2007.
Em dezembro do ano passado, a carteira de investimentos estrangeiros em ativos variáveis chegou a US$ 214 bilhões – 77,4% em ações e 19% em renda fixa e títulos públicos. É um dinheiro que pode ser retirado a qualquer momento, dependendo da vontade do freguês. Levando em conta esse valor, o passivo externo de curto prazo brasileiro é de US$ 210 bilhões, estima a economia Daniela Prates, do Departamento de Economia da Unicamp.
Como existe muito investimento estrangeiro em carteira variável, em caso de agravamento da crise parte desses recursos irão para fora.
E aí se entra na estratégia equivocada do Banco Central e do Ministério da Fazenda.
Há duas maneiras de se analisar as contas externas: pelo critério de fluxos (o que entra e sai em dólares) e pelo critério de estoques (dívida x reservas cambiais).
A economia brasileira ficou blindada contra a crise quando o fluxo cambial tornou-se positivo, garantido pela balança comercial. O saldo comercial é o que dá segurança, que garante maior receita para o pais, maior emprego e é menos volátil (isto é, está menos sujeito a mudanças de humores do mercado).
Desde o Real o Banco Central tem insistido em derrubar o valor do dólar, encarecendo o preço dos produtos brasileiros no exterior. A cada ano que passa vão caindo os saldos comerciais.
Mais que isso: o país paga um preço terrível, com a produção nacional sendo substituída por importados e as exportações dependendo cada vez mais de produtos primários.
O que poder segurar a queda do dólar é o receio dos investidores externos com a proximidade da hora da verdade (o momento em que o fluxo cambial ficar negativo). Ao acumular reservas cambiais, o pais paga um custo altíssimo (já que tem que adquirir dólares com a emissão de títulos públicos). E essa reserva excessiva dá uma sobrevida ao movimento especulativo dos que ganham bilhões.
As reservas não resolvem, e ajudam a agravar o problema futuro do pais.
Fonte: Blog do Nassif
Rizzolo: É claro que o importante é a constituição do saldo comercial, e saldo comercial se faz com exportações, e indo mais adiante, exportações se fazem com dólar acessível. Ora, como a política dos nobres representantes dos Bancos internacionais representados pelo BC de Meirelles é a alta rentabilidade financeira, a custa dos juros estratosféricos, quem lucra com isso são os especuladores, acompanhados da enxurrada dos “dólares nervosos” que da mesma forma que vem, vão embora. Com isso, o efeito é real valorizado, que imobiliza a nossa indústria nacional que acaba se tornando não competitiva. O pior, essa política incentiva as importações piorando dessa forma, o cenário do saldo comercial. É um entendimento econômico que visa e prestigia a financeirização da economia, o resto é propaganda aos incautos como diz Nassif, é própria ” A ilusão da dívida externa “.