Decisão do Copom frustra empresários e trabalhadores

SÃO PAULO E BRASÍLIA – Embora esperada pelo mercado, a manutenção pelo Banco Central da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano recebeu críticas do empresariado e de sindicalistas, que ainda tinham esperanças de que a redução poderia ter início neste mês, para diminuir os impactos da crise internacional. A decisão, na visão deles, frustra as expectativas de mudança do cenário para o início de 2009.

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a crise seria amenizada se o Copom tivesse optado por um corte na taxa de juros em vez de mantê-la inalterada. ” perda de intensidade da atividade econômica, em virtude dos efeitos da crise financeira internacional e das dificuldades do mercado de crédito, justificaria plenamente uma ação nesse sentido.”

Na opinião do dirigente, um corte na taxa de juros “acompanharia inclusive a política monetária de diversos países nesse momento de necessidade de ações coordenadas em escala internacional”. Para o presidente da CNI, um juro menor amenizaria os efeitos da crise global sobre o nível de atividade e emprego domésticos, sem prejuízo do controle inflacionário. Além disso, daria consistência aos esforços de preservar as condições de liquidez e de acesso das empresas ao crédito.

O presidente da Ford, Marcos de Oliveira, gostaria que os juros tivessem diminuído, mas acredita que em janeiro isso deve ocorrer. “Se não cair, será um erro estratégico do Banco Central que pode ter impacto no crescimento da economia em 2009. No mundo inteiro as taxas estão caindo. No Brasil, a preocupação com a inflação não existe mais, diante da retração do mercado.”

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) considerou a decisão como ?dissociada da realidade econômica mundial?. Em sua avaliação, mesmo parada, a Selic subiu até 2% nos últimos meses, na comparação com os juros cobrados nos EUA e na Europa. “Enquanto isso, o nosso BC ignora o risco do contágio pela recessão mundial e se preocupa com o perigo mais imaginário do que real da inflação.”

“O Brasil perdeu uma oportunidade de dar uma injeção de ânimo e de sinalizar que está preocupado com a desaceleração da economia”, afirmou o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida. “O BC contempla a economia no padrão do terceiro trimestre, de um glorioso 6,8%. Mas a economia já transitou para a desaceleração e está beirando a recessão.”

Na opinião de Almeida, com a manutenção da taxa de juros, o governo terá de tentar estimular a economia com mais gastos públicos. “O Brasil vai ter de fazer política fiscal e tomara que faça gastos de melhor qualidade, que é o investimento.”

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, chamou de desastrosa a decisão do Copom. “Lamentamos a decisão, que só serve para impedir o acesso ao crédito, permitir que os bancos continuem alimentando-se de taxas abusivas, aumentando seus lucros, enquanto a produção segue com o freio de mão puxado diante das incertezas geradas por uma política econômica distante da realidade e das necessidades do País.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Rizzolo: Realmente é frustrante a decisão do Copom, e não existe uma lógica econômica plausível para a manutenção da taxa de juros neste patamar. Com efeito, esta decisão vem na contramão das medidas econômicas adotadas pela maioria dos países. O corte nas taxas de juros, é medida de protocolo no manejo das conseqüências da crise que se aproxima com maior rigor no próximo ano. Bem verdade é o fato, de que a brusca desvalorização do real, teria um efeito no componente inflacionário, contudo isso é compensado pela escassez de crédito e pela diminuição dos preços das commodities.

Muito se tem falado na estranha lógica macroeconômica das decisões do Copom, mas acredito que à parte as ilações de conteúdo ideológico, que com certeza não deixam de ter suas argumentações acolhidas, havia espaço para um corte nas taxas, até porque o efeito da medida é lento e surtiria seus efeitos só nos próximos meses, que poderão ser tenebrosos.

O interessante a observar na reunião de ontem, foi a demora do comitê para a divulgação do resultado, sinalizando que houve muita discussão apesar da decisão unânime. É uma pena que o BC acolha sempre os interesses dos especuladores e banqueiros de plantão, aliás são eles que na sua maioria compõem e influenciam as decisões do Copom. Já o presidente Lula, como sempre terá a desculpa da autonomia do BC. E assim caminhamos..

Fatores externos fazem inflação recuar, não os juros de Meirelles

Assim com aumentaram, os preços dos alimentos caíram pela ação dos especuladores em Chicago

A queda geral da inflação, confirmada por todos os índices, impõe, necessariamente, uma conclusão: “esse recuo da inflação nada tem a ver com os aumentos da taxa básica de juros conduzidos pelo Banco Central desde abril”, como disse em uma de suas análises o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), uma entidade de empresários. Ou, nas palavras do ex-ministro Delfim Netto – “Uma coisa é certa: se a inflação voltar à meta de 4,5% no início de 2009 não será devido à ‘tempestiva precipitação’ [do BC], mas a fatores externos, a não ser que seja o aumento de juros no Brasil que está derrubando o preço das ‘commodities’ em Chicago…”.

Delfim refere-se à última ata do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), onde se diz que “a estratégia adotada visa trazer a inflação de volta à meta central de 4,5% tempestivamente”. Em seguida, afirma-se que o aumento de juros só agirá sobre a inflação no fim deste ano e no início do próximo.

O aumento localizado da inflação teve origem externa. A queda atual, também. Os aumentos de juros do BC tiveram como efeito perturbar o crescimento e promover um charivari no câmbio, prejudicando o saldo comercial, portanto, as contas externas. Mas eles nada tiveram a ver com a queda da inflação. Têm a ver com a drenagem de recursos do Tesouro para os bancos, principalmente os externos, via juros – além da intenção de facilitar a vida dos tucanos na eleição de 2010, freando o crescimento implementado pelo presidente Lula.

O preço dos alimentos – principal setor onde houve aumento da inflação – começou a cair porque os especuladores, centralizados na Bolsa de Chicago, começaram a se livrar dos papéis lastreados neles, por medo de que daqui a pouco não possam vendê-los por preço maior do que aquele pelo qual os compraram.

A especulação nas “bolsas de futuros”, onde se aposta qual será o preço de tal ou qual alimento depois de um determinado prazo, tem sido um dos principais, senão o principal fator que tem catapultado esses preços para o espaço sideral, já que nesse cassino jogam os próprios monopólios que dominam o comércio mundial desses produtos, assim como os bancos vinculados a eles.

A queda dos preços que se verifica no momento corresponde à banal lógica da especulação: compram-se títulos quando seus preços estão baixos para vendê-los quando seus preços atinjam o máximo possível. O problema é que ninguém sabe por antecipação quando é o momento do “preço máximo”, porque especuladores não são adivinhos. Mas se alguns desconfiam que chegou esse momento, ou está próximo, começam a vender seus papéis – e os colegas de ofício os acompanham, apavorados com a perspectiva de serem os últimos, ou seja, de ficarem com o mico na mão sem ter a quem vendê-lo ou tendo que vendê-lo abaixo do preço pelo qual foram comprados.

Daí a queda atual nos preços dos alimentos, depois de uma contínua alta nos últimos anos – e principalmente nos últimos meses, após a erupção da crise norte-americana das hipotecas, quando muitos especuladores fugiram dos títulos lastreados nelas, querendo compensar as perdas com os papéis lastreados nos alimentos.

Assim são, enquanto o país não estabelecer mecanismos de proteção, as elevações e quedas da especulação mundial – a manipulação dos especuladores faz com que os preços se elevem e depois caiam, com alguns se dando bem e a maioria se retirando, provisória ou permanentemente, para a rua da amargura. Aliás, numa dessas Meirelles foi “aposentado” da presidência do BankBoston, depois que, na crise argentina de 2001, deixou o banco e seus clientes ficarem com o mico na mão. Mesmo com De la Rua fazendo jus ao seu nome, ele achava que tudo voltaria a ser como dantes na grande nação do Prata…

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: O excelente texto do jornalista Carlos Lopes, desnuda o que realmente ocorre com a questão inflacionária no Brasil. Não resta a menor dúvida que o componente externo é sim o fator preponderante na queda da inflação, de fato, os especuladores da Bolsa de Chicago, começaram a se desfazer dos papéis vinculados a algumas commodities relacionadas aos alimentos, fazendo o preço cair. A política monetária do Banco Central serviu apenas para emperrar ainda mais o desenvolvimento do País e de certa forma contribuir para uma maior especulação interna, alem de criar obstáculos às exportações face ao real valorizado. O mais interessante é o silêncio de Meirelles e do Copom desde que a inflação começou a ceder.