Em resposta ao bate boca que Ciro Gomes manteve com a atriz Letícia Sabatella, transcevo um artigo meu publicado na Caritás Brasileira da CNBB, pela postura de Ciro, pode-se inferir o pouco comprometimento da esquerda com o pobre povo brasileiro, e a forma autoritária e desbocada ao se dirigir a uma mulher como Letícia, imagine quando estiver num palanque em 2010. Essa “esquerda” é de matar, viu !
Os pobres do semi-árido, perto de Deus e esquecidos por Lula
A transposição do Rio São Francisco de longe passou a ser uma questão que visa a população pobre ribeirinha e sertaneja, desde setembro, a ASA Brasil, não produz mais uma cisterna no Semi – Árido brasileiro. O Programa ” Um milhão de Cisterna ” (PIMC) foi interrompido por falta de repasse de recursos do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o MDS, pressionado, por setores conservadores. Mas a questão central, é muito mais problemática, envolve a postura do governo Lula, servil aos poderosos, paliativa aos pobres, resignada e passiva aos interesses das empreiteiras, privatizando e concentrando nas mãos dos poucos de sempre as águas do Nordeste, dos grandes açudes, somadas às do rio São Francisco.
Não há como resolver o problema da água, se não priorizarmos a população pobre, e as cisternas, representa o caminho. Como afirma D. Demétrio Valentini, bispo de Jales e presidente da Cáritas brasileira, ” as cisternas não recolhem sós água, elas suscitam cidadania, elas acionam a participação. elas despertam capacidades, elas transformam as pessoas, elas motivam para a solidariedade, elas apostam no desenvolvimento do Semi-Árido”. Isso, é claro, não interessa aos donos das grandes monoculturas irrigadas, devoradoras de água, produtoras de frutas para exportação e de cana para fabricar etanol. É a eles e a alguns grupos industriais que a transposição se destina. Ao sertanejo, cada vez mais, oferecem a opção de se tornar bóia-fria.
O mais interessante da obra, é que a transposição não tem nada a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais.
O mesmo tempo em que o governo se recusar a debater o assunto, a não ouvir os movimentos, a ignorar membros da Igreja Católica, e não negociar, afirma categoricamente aos empresários, e aos que golpearam a prorrogação da CPMF, que não os incomodará, aceitando passivamente, o rombo da CPMF, fazendo uso dos mecanismos de subordinação, propondo a não implementação de novos meios arrecadatórios, sinalizando que cumprirá à risca a receita neoliberal de ” cortar gastos “, enxugando o Estado, que já é mínimo, e ainda, para afagá-los de forma mais doce, promete uma reforma tributária “na forma e modelo que os golpistas determinam”. Essa atitute ao preterir os humildes, e não dialogar, conspurga os ideais pelos quais Lula fora eleito com 58 milhões de votos.
Para finalizar, há 14 ações que comprovam ilegalidades e irregularidades ainda não julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. Mas o governo colocou o Exército para as obras iniciais, abusando do papel das Forças Armadas, militarizando a região. A decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, de Brasília, em 10/12 deste ano, obrigando a suspensão das obras, é mais uma evidência disso. Mas parece que desta feita, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter a transposição do rio São Francisco, o Judiciário também virou as costas aos humildes. E os pobres, esses cada vez mais esquecidos por Lula, tendo como seus anjos, cristãos abenegados como o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio; ontem o governo sinalizou com a possibilidade de uma paralisação dos trabalhos por dois meses e a realização de debates públicos. É sempre bom lembrar o que consta no Livro de Jonas [Antigo Testamento],” Deus se arrepende e muda de opinião por causa do jejum do povo”. O jejum mexe com Deus.
Fernando Rizzolo