O Rio de Janeiro foi escolhido para os Jogos Pan-Americanos de 2007 em 2003. As promessas oficiais garantiam que, como subproduto das competições, a belíssima Lagoa Rodrigo de Freitas, que vem sendo aterrada, poluída e desfigurada há dezenas e dezenas de anos, retomaria seu formato original, com as águas límpidas, extinta de uma vez a periódica mortandade de peixes. A Baía da Guanabara, prova suprema de que há um Grande Arquiteto do Universo, seria despoluída, livrando-se do lixo acumulado em tanto tempo de incapacidade administrativa. A linha do Metrô da Barra ficaria pronta a tempo de integrar a infraestrutura dos Jogos Pan-Americanos mais bem organizados da história deste mundo.
Não foi bem assim; o custo se multiplicou (os gastos tinham sido orçados em R$ 400 milhões, chegaram a uns R$ 4 bilhões), e as obras prometidas naquela época ficaram para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, competições nunca dantes organizadas com tanta lisura e visão de futuro. Veja neste endereço o que se pretende fazer no Rio.
Quanto à multiplicação de custos, nem sempre há superfaturamento: às vezes há coisa até pior, cálculos subestimados, para ajudar a convencer a opinião pública de que vale a pena investir em determinados eventos. Na hora H, os custos voltam ao normal (e, claro, há também o superfaturamento, que ninguém é de ferro e santo brasileiro, tirando Madre Paulina, ainda não existe).
Mas talvez sobre, da Copa e da Olimpíada, algo para o Rio. Por que não?
Leia com atenção
A frase do presidente Lula, de que dá para acabar com as favelas do Rio, não foi bem assim: ele disse que as favelas se transformarão em bairros com casas de alvenaria – assim como já é, por exemplo, a Rocinha. Junte-se a casas melhores o saneamento básico, a coleta de lixo (o que exige ajustamento nas ruas), o policiamento, a retomada pelo Estado do domínio desses bairros, muitos nas mãos de traficantes, e já teremos uma realização que repercutirá em todo o mundo.
Herr doktor HC Lula
O presidente Lula deve receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Hamburgo em 1º de dezembro. De acordo com as leis alemãs, o título de “doktor HC” fica incorporado a seu nome, permitindo-lhe assinar “doutor HC Luiz Inácio Lula da Silva”. A Universidade de Hamburgo foi fundada em 1919.
Façam seu jogo, senhores
O Senado recebeu com grande carinho o projeto que legaliza os bingos. Claro: é a grande oportunidade que o Congresso brasileiro tem de provar que é falsa a tese de que, no jogo, o banqueiro sempre ganha e os outros sempre perdem.
Os problemas de Ciro
Engana-se quem imagina que os problemas de Ciro Gomes para candidatar-se em São Paulo se limitem a descobrir onde é que fica a tal de avenida Paulista. Ciro enfrenta problemas políticos em seu partido, o PSB, e com seus aliados – que chegaram a rejeitar ordens de Lula para lançá-lo ao Governo do Estado.
1 – O PT decidiu, nas palavras de seus dirigentes, “construir um candidato”. Pode ser Antônio Palocci, o preferido de Marta Suplicy, a principal líder partidária; pode ser Emídio de Souza, bem-avaliado prefeito de Osasco; pode ser até Eduardo Suplicy, que se colocou à disposição do partido. Ou seja, um petista.
2 – Ciro convenceu o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a optar pelo PSB (Skaf já tinha tomado a mercadântica decisão irrevogável de entrar no PV). Por trás do convite, ficava clara a oferta da legenda para a disputa do Governo. Caso Ciro se candidate ao Governo, como fica Paulo Skaf? Como reagirá a Fiesp – ou, mais precisamente, quem vai dar as contribuições democráticas para a campanha?
O tema de Temer
Deliciosa a notícia de que o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, está disposto a disputar o comando do partido em São Paulo, hoje nas mãos de Orestes Quércia. Temer sempre esteve disposto a isto e já o tentou algumas vezes. Suas chances de bater Quércia no PMDB paulista são aproximadamente as mesmas que este colunista teria de vencer a Corrida de São Silvestre.
O vandalismo do MST
Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiram uma fazenda produtiva, com laranjais, e derrubaram mais de mil árvores com um trator, segundo eles para plantar feijão. A desculpa é falsa: feijão se planta em consórcio com outras espécies, e há espaço suficiente entre as árvores para plantar muito. E que história é essa de invadir terras dos outros, seja sob que pretexto for? Se acham que a fazenda não é produtiva, que procurem o INCRA, aliás controlado por seus correligionários. Mas o MST escolheu a alternativa oposta: invasão e vandalismo, para obrigar o Governo a desapropriar a fazenda.
O motivo é simples: para evitar processos legais contra a entidade, o MST juridicamente não existe. Recebe financiamento internacional, recebe verbas diversas, mas distribuídas por ONGs por ele controladas. E não responde por nada. Seu líder máximo, João Pedro Stedile, oficialmente não tem qualquer cargo. E o próprio Congresso prefere ignorar tudo: acaba de rejeitar a CPI do MST.
Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.