Investir e promover, até aprender – Coluna Carlos Brickmann

O Rio de Janeiro foi escolhido para os Jogos Pan-Americanos de 2007 em 2003. As promessas oficiais garantiam que, como subproduto das competições, a belíssima Lagoa Rodrigo de Freitas, que vem sendo aterrada, poluída e desfigurada há dezenas e dezenas de anos, retomaria seu formato original, com as águas límpidas, extinta de uma vez a periódica mortandade de peixes. A Baía da Guanabara, prova suprema de que há um Grande Arquiteto do Universo, seria despoluída, livrando-se do lixo acumulado em tanto tempo de incapacidade administrativa. A linha do Metrô da Barra ficaria pronta a tempo de integrar a infraestrutura dos Jogos Pan-Americanos mais bem organizados da história deste mundo.

Não foi bem assim; o custo se multiplicou (os gastos tinham sido orçados em R$ 400 milhões, chegaram a uns R$ 4 bilhões), e as obras prometidas naquela época ficaram para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, competições nunca dantes organizadas com tanta lisura e visão de futuro. Veja neste endereço o que se pretende fazer no Rio.

Quanto à multiplicação de custos, nem sempre há superfaturamento: às vezes há coisa até pior, cálculos subestimados, para ajudar a convencer a opinião pública de que vale a pena investir em determinados eventos. Na hora H, os custos voltam ao normal (e, claro, há também o superfaturamento, que ninguém é de ferro e santo brasileiro, tirando Madre Paulina, ainda não existe).
Mas talvez sobre, da Copa e da Olimpíada, algo para o Rio. Por que não?

Leia com atenção

A frase do presidente Lula, de que dá para acabar com as favelas do Rio, não foi bem assim: ele disse que as favelas se transformarão em bairros com casas de alvenaria – assim como já é, por exemplo, a Rocinha. Junte-se a casas melhores o saneamento básico, a coleta de lixo (o que exige ajustamento nas ruas), o policiamento, a retomada pelo Estado do domínio desses bairros, muitos nas mãos de traficantes, e já teremos uma realização que repercutirá em todo o mundo.

Herr doktor HC Lula

O presidente Lula deve receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Hamburgo em 1º de dezembro. De acordo com as leis alemãs, o título de “doktor HC” fica incorporado a seu nome, permitindo-lhe assinar “doutor HC Luiz Inácio Lula da Silva”. A Universidade de Hamburgo foi fundada em 1919.

Façam seu jogo, senhores

O Senado recebeu com grande carinho o projeto que legaliza os bingos. Claro: é a grande oportunidade que o Congresso brasileiro tem de provar que é falsa a tese de que, no jogo, o banqueiro sempre ganha e os outros sempre perdem.

Os problemas de Ciro

Engana-se quem imagina que os problemas de Ciro Gomes para candidatar-se em São Paulo se limitem a descobrir onde é que fica a tal de avenida Paulista. Ciro enfrenta problemas políticos em seu partido, o PSB, e com seus aliados – que chegaram a rejeitar ordens de Lula para lançá-lo ao Governo do Estado.

1 – O PT decidiu, nas palavras de seus dirigentes, “construir um candidato”. Pode ser Antônio Palocci, o preferido de Marta Suplicy, a principal líder partidária; pode ser Emídio de Souza, bem-avaliado prefeito de Osasco; pode ser até Eduardo Suplicy, que se colocou à disposição do partido. Ou seja, um petista.

2 – Ciro convenceu o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a optar pelo PSB (Skaf já tinha tomado a mercadântica decisão irrevogável de entrar no PV). Por trás do convite, ficava clara a oferta da legenda para a disputa do Governo. Caso Ciro se candidate ao Governo, como fica Paulo Skaf? Como reagirá a Fiesp – ou, mais precisamente, quem vai dar as contribuições democráticas para a campanha?

O tema de Temer

Deliciosa a notícia de que o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, está disposto a disputar o comando do partido em São Paulo, hoje nas mãos de Orestes Quércia. Temer sempre esteve disposto a isto e já o tentou algumas vezes. Suas chances de bater Quércia no PMDB paulista são aproximadamente as mesmas que este colunista teria de vencer a Corrida de São Silvestre.

O vandalismo do MST

Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiram uma fazenda produtiva, com laranjais, e derrubaram mais de mil árvores com um trator, segundo eles para plantar feijão. A desculpa é falsa: feijão se planta em consórcio com outras espécies, e há espaço suficiente entre as árvores para plantar muito. E que história é essa de invadir terras dos outros, seja sob que pretexto for? Se acham que a fazenda não é produtiva, que procurem o INCRA, aliás controlado por seus correligionários. Mas o MST escolheu a alternativa oposta: invasão e vandalismo, para obrigar o Governo a desapropriar a fazenda.

O motivo é simples: para evitar processos legais contra a entidade, o MST juridicamente não existe. Recebe financiamento internacional, recebe verbas diversas, mas distribuídas por ONGs por ele controladas. E não responde por nada. Seu líder máximo, João Pedro Stedile, oficialmente não tem qualquer cargo. E o próprio Congresso prefere ignorar tudo: acaba de rejeitar a CPI do MST.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

A Política e os Conceitos Religiosos

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Talvez Thomas Jefferson, o terceiro presidente americano, e principal autor da Declaração da Independência Americana, tenha sido um dos primeiros estadistas a reconhecer o valor e a positiva influência dos valores morais da religião na construção de uma sociedade saudável. Jefferson publicou: The life and morals of Jesus. Uma seleção de todos os ensinamentos e eventos essenciais da vida de Jesus expurgada de todas as menções sobrenaturais ou de qualquer modo ligados ao dogma religioso, (ser o rei, o filho de deus, exorcismos, milagres).

A própria concepção judaica de povo, conduzida por um líder, este imbuído de conceitos morais, já demonstrava que uma liderança só poderia ser exercida através de normas de conduta, regras de bons costumes, e um profundo sentimento de unidade. As religiões em geral, invariavelmente, trazem no bojo da sua essência, a noção do que é o correto na sua forma de agir, direcionando dessa forma a sociedade.

Contudo, num Estado laico como o nosso, a fragmentação ideológica – religiosa, dos conceitos morais, se perdem diante dos meios de comunicação como a televisão, o cinema, e outros, que afrontam tais preceitos, diluindo os conceitos morais apregoados pela força religiosa, desfazendo – os, ou tornando os ditames de cunho espiritual, algo ultrapassado, impraticável, ou fora de moda, a ponto destes valores serem apreciados apenas de forma caricata nas novelas, como a no ” Caminho das Índias”, da rede Globo, onde os lampejos morais eram pinçados de forma pitoresca, conceitualmente distanciados do dia-a-dia da maioria das pessoas.

Extrairmos as concepções morais, aplica-los e difundi-los numa sociedade na forma em que Thomas Jefferson o fez, como na chamada “Bíblia de Jefferson”, abstendo-se por completo do caráter religioso em si dos preceitos, é iniciativa cívica que falta no nosso Pais. Sem querer de forma alguma ultrapassar os limites da razoabilidade do que podemos chamar de puritanismo barato, a idéia independente, e de isenção religiosa na difusão dos bons costumes morais nas escolas, é sim de suma importância na construção e no alicerce moral dos nossos jovens de amanhã.

A história nos demonstra, que o ser humano desde a sua antiguidade, exercitou a absorção do que permeia os ensinamentos religiosos; o bem, a boa conduta, a urbanidade, a justiça, e isso constitui-se numa empreita dos educadores, dos governos, da sociedade em geral. Uma tarefa já foi desafiante, que já fora outrora empreitada pelo terceiro presidente dos Estados Unidos, autor da declaração da independência americana, da lei da liberdade religiosa da Virgínia e pai da Universidade da Virgínia por volta de 1800, e que hoje torna-se tão necessária quanto naquela época, que nem sequer televisão havia, e que no lugar da novela das oito, na mesa, no jantar, o que mais se discutia era o evangelho.

Fernando Rizzolo