Enviado especial da BBC Brasil a Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os países ricos estão praticando um ”nacionalismo populista”, durante o seu discurso na abertura da Assembléia Geral da ONU, nesta terça-feira.
Os comentários do presidente foram uma menção às supostas exigências por parte dos países ricos para que as nações em desenvolvimento abram seus mercados, ao mesmo tempo em que dificultam o acesso dos emergentes aos seus próprios mercados e criam barreiras para a entrada de imigrantes de países pobres.
”Muitos dos que pregam a livre circulação de mercadorias e capitais são os mesmos que impedem a livre circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas – e até racistas – que nos fazem evocar – temerosos – tempos que pensávamos superados”, disse Lula.
O líder brasileiro voltou a lançar críticas contra os países ricos, ao falar da atual crise financeira que atinge os mercados globais.
”É inadmissível – dizia o grande economista Celso Furtado – que os lucros dos especuladores sejam sempre privatizados e suas perdas invariavelmente socializadas”, afirmou, acrescentando que o ”ônus da cobiça desenfreada de alguns não pode recair impunemente sobre os ombros de todos”.
Para Lula, ”a euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos, após a sucessão de naufrágios financeiros que ameaçam a economia mundial”.
Ação da ONU
O líder brasileiro também clamou por uma ação mais efetiva da ONU para combater diferentes crises.
”Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós”, afirmou.
”Mas há outras questões igualmente graves no mundo de hoje. É o caso da crise alimentar, que ameaça mais de 1 bilhão de seres humanos. Da crise energética, que se aprofunda a cada dia. Dos riscos para o comércio mundial, se não chegarmos a um acordo na Rodada de Doha. E da avassaladora degradação ambiental, que está na origem de tantas calamidades naturais, golpeando sobretudo os mais pobres.”
Ainda sobre o meio ambiente, Lula afirmou que o Brasil ”não tem fugido a suas responsabilidades. Nossa matriz energética é crescentemente limpa”, afirmando, em seguida, que ”a tentativa de associar a alta dos alimentos à difusão dos biocombustíveis não resiste à análise objetiva da realidade”.
Reforma
Como em pronunciamentos passados, o presidente também defendeu uma reforma da estrutura da ONU e lançou uma indireta contra a suposta postura unilateralista do governo americano em detrimento aos interesses da instituição.
”A força dos valores deve prevalecer sobre o valor da força. É preciso que haja instrumentos legítimos e eficazes de garantia de segurança coletiva. As Nações Unidas discutem há quinze anos a reforma do Conselho de Segurança.”
”A estrutura vigente, congelada há seis décadas, responde cada vez menos aos desafios do mundo contemporâneo. Sua representação distorcida é um obstáculo ao mundo multilateral que almejamos”, acrescentou.
BBC, Agência Estado
Rizzolo: Lula tem razão em todos os pontos abordados em seu discurso. Mas a realidade do mercado, dos interesses, nem sempre são tão viáveis de se conciliar com o ritmo da ética e do interesse de todos. Países desenvolvidos, até por uma questão de se manterem em pleno vigor suas economias pensam de forma unilateral no tocante a seus interesses. O protecionismo ainda existe em função das pressões internas, e da política de proteção à mão de obra local, como é o caso das restrições à entrada de imigrantes.
Quando falamos sobre o que justo e injusto, quer em termos macroeconômicos, posturas internacionais, ou justiça sociais, esbarramos sempre nos interesses dos atores principais da questão. Assim o é também no Brasil, na postura do governo em prevalecer a financeirização da economia ao consentir e chancelar os enormes lucros dos bancos.
Ora, todos sabem que existe no Brasil, a condição econômica que prestigia o lucro dos bancos, lucros esses maiores que bancos internacionais, e isso se dá num País pobre como o nosso. É um protecionismo interno do segmento financeiro do País, este tão ruim ou pior que os exercidos pelos países ricos em relação aos pobres; a analogia econômica procede a bem da reflexão, quando insistimos naquilo que é justo em termos de ricos e pobres, tema este preferido pelo presidente.
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