Greve dos professores: Serra pediu ajuda a Lula e rasgou acordo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado (10), no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que o pré-candidato do PSDB à presidência, José Serra, pediu sua ajuda quando ainda estava à frente do governo de São Paulo para debelar uma manifestação de professores grevistas, mas descumpriu o acordo. Serra teria se comprometido a receber pessoalmente os professores, mas mandou o secretário da Educação, Paulo Renato, como representante.

O pedido de ajuda ocorreu durante uma cerimônia de entrega de ambulâncias da qual ambos participaram em Tatuí, no interior paulista, em 25 de março. “Lá em Tatuí, fomos procurados pelo seu adversário que dizia para nós tentarmos ajudar na greve dos professores que iriam ao Palácio dos Bandeirantes em determinado dia”, disse Lula à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff.

“Vim para cá, e o nosso querido companheiro Edinho (Silva, presidente do PT-SP) ligou para o governador Serra. Eu assumi o compromisso de conversar com a Apeoesp (sindicato que representa os professores estaduais)”, agregou Lula.

O presidente relatou ter conversado no mesmo dia durante o 2º Congresso da Mulher Metalúrgica, também no sindicato do ABC, com a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, e intermediado uma reunião entre os grevistas e o governador.

“Conversamos com a Bebel, o Edinho ligou para o Zé Serra — e eu havia dito para o Serra diretamente na conversa: ‘Serra, converse você diretamente com o sindicato. Não deixe o seu secretário da Educação conversar porque ele não conversava quando era ministro. Converse você, eles não querem muito e estão dispostos a fazer um acordo. Converse’”, afirmou o presidente.

Segundo Lula, Serra teria prometido ao presidente do PT paulista receber pessoalmente os professores. O iG apurou que o governador sugeriu a possibilidade de enviar o secretário da Casa Civil, Aloyzio Nunes Ferreira, já que a Apeoesp não aceitava negociar com Paulo Renato. “Cheguei aqui e o Edinho me comunicou: ‘Presidente, eu conversei com o Serra e ele vai conversar com os professores’”, disse Lula.

De acordo com Lula, Serra não teria cumprido o acordo. “Conclusão: eu fui embora tranquilo. Conversamos com a Bebel tranquilos de que o governador iria chamar os professores para conversar. Qual não foi minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou, e mandou um secretário seu conversar com os professores?”.

A assessoria de Serra, que poucas horas antes teve o nome lançado pelo PSDB em Brasília, foi procurada, mas não se manifestou. A repressão policial às manifestações dos professores foi explorada em vários discursos durante o encontro de Dilma com representantes da seis centrais sindicais, neste sábado. “Posso afirmar porque estive do lado de lá na eleição passada. O Serra não gosta de trabalhador”, disse o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical e do PDT-SP.

Da Redação, com informações do Último Segundo

Rizzolo: Todos sabem e conhecem o caráter autoritário do governador Serra, porém o que ninguém apostava era na capacidade de descumprir um acordo. Ora se pediu ajuda, deveria no mínimo receber os professores, mas nada, mandou seu secretário da Educação, Paulo Renato, como representante. O mais interessante nesse fato, é que se nem os acordos de cavalheiros são cumpridos, imaginem então o compromisso de dar seqüencia aos programas de inclusão, e é isso que o povo já se deu conta, realmente o tucanato não é de confiança. Vejo isso com muita tristeza, sou professor universitário e conheço o conceito de educação do PSDB, uma tragédia, isso traduz em debandada como a que o Chalita se propôs a fazer, ir para o PSB.

Governo Serra enfrenta greve dos professores com prisão e censura

O governo de José Serra deu novas provas nesta quarta-feira (24) do jeito tucano de governar e se relacionar com os movimentos sociais. A Polícia Militar prendeu três professores da rede estadual de ensino que integravam um grupo de algumas dezenas de docentes que protestavam contra a administração tucana durante inauguração do Centro de Atenção à Saúde Mental, em Franco da Rocha (SP). Também usou cassetetes e gás de pimenta contra os manifestantes. Além disto, os tucanos determinaram silêncio e censura nas escolas sobre a paralisação.

O centro foi inaugurado pelo governador. Cerca de 40 soldados da PM e integrantes da Força Tática foram mobilizados para a repressão, de acordo com o comandante do 26º Batalhão da PM, José Carlos de Campos Júnior.

Repressão

A confusão começou quando os policiais tentaram impedir o protesto. Os professores resistiram e a polícia não pensou duas vezes: usou cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes.

Enquanto o incidente se desenrolava, Serra discursava em palanque montado no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, tradicional unidade clínica de Franco da Rocha. Ao final do discurso, o tucano fez comentários sobre as obras, mas não quis falar sobre a repressão. Os três manifestantes presos foram levados à delegacia de Franco da Rocha e a política pretende indiciá-los por desacato à autoridade e perturbação da ordem.

Intransigência

Maria Isabel, presidente da Apeoespe, explicou que o Sindicato está orientando os professores a realizarem manifestações durante eventos com a presença do governador para forçar a negociação.

A categoria está em greve desde o Dia Internacional da Mulher (8 de março) reivindicando um reajuste salarial de 34,3%, concurso público e outras medidas. Mas o governo não quer conversa e procura desqualificar o movimento, tachando-o de “político eleitoral” e sustentando que apenas 1% dos professores aderiu à paralisação, informação rechaçada pelos dirigentes da Apeoespe, que estimam em 55% o percentual de trabalhadores que decidiram cruzar os braços.

Desrespeito

Serra chegou a classificar a greve de “trololó”, dando a entender que a mobilização é irrelevante para o governo e a sociedade. “É um total desrespeito aos professores”, afirmou Isabel. “A categoria tem grandes responsabilidades sociais e não é devidamente retribuída”, sublinhou. Um professor ganha apenas 764 reais por 30 horas de aula, segundo ela.

“Estamos vendo o governador inaugurar obras e para isto não falta dinheiro, mas a educação, que é uma obra fundamental para a sociedade, tem sido tratada com desprezo”, ponderou. Os professores estão indignados e a adesão ao movimento é crescente. A Apeoesp pretende reunir 100 mil trabalhadores e trabalhadoras na próxima assembleia da categoria, convocada para a tarde de sexta-feira (26) diante do Palácio Bandeirantes.

Com o envolvimento das bases e o apoio da sociedade (especialmente de pais e alunos), a Apeoesp pretende sensibilizar os deputados estaduais e abrir canais para o diálogo e a negociação, segundo a presidente da entidade. Isabel destacou que as reivindicações não se limitam ao reajuste dos salários, “queremos rediscutir a avaliação por mérito, que deixa 80% da categoria sem nenhum reajuste e concurso público, entre outras medidas para melhorar a qualidade da educação em nosso Estado”.

Censura

O tucano José Serra também determinou a censura e o completo silêncio nas escolas sobre a greve. Pelo menos 77 escolas estaduais da zona leste de São Paulo foram orientadas a não dar informações para a imprensa sobre a greve dos professores, de acordo com informações publicadas pelo jornal “O Estado de São Paulo”.

A iniciativa partiu da Diretoria de Ensino da Região Leste 3, em comunicado enviado por e-mail aos diretores das escolas no início do mês. A região leste 3 compreende os distritos de Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, José Bonifácio, Lajeado e São Rafael.

No texto, a diretoria afirma que, por causa da paralisação, que teve início no dia 8, “A imprensa está entrando em contato diretamente com as escolas solicitando dados e entrevista.” E pede: “Solicitamos ao diretor de escola para não atender a esta solicitação.” O comunicado ainda orienta como proceder em relação ao envio de informações sobre a greve para o governo, detalhando dias e turnos em que os professores estiveram ausentes.

Cortina de fumaça

Para a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo), a medida “fere a liberdade de expressão”. A palavra apropriada para a orientação é “censura”. O governador paulista pretende mascarar a realidade com a cortina de fumaça das informações manipuladas pela Secretaria de Educação, que insiste na afirmação de que apenas 1% dos professores participa da paralisação, “mais uma inverdade”, na opinião dos sindicalistas.

A intransigência do governador tucano lembra a conduta elitista e autoritária do governo FHC diante do movimento sindical. O primeiro mandato do tucano foi marcado pela repressão e desmantelamento das entidades sindicais dos petroleiros. O modo com que Serra trata os professores, que constituem uma das categorias mais injustiçadas e depreciadas em nosso país (daí a péssima qualidade da educação no Brasil), é um sinal do que seria um eventual retorno dos tucanos ao Palácio do Planalto.

Veja as principais reivindicações da categoria:

• Reajuste imediato de 34,3%
• Incorporação de todas as gratificações e extensão aos aposentados sem parcelamento
• Contra o provão das ACTs
• Contra o PLS 403 (Senado Federal)
• Pela revogação das leis 1093, 1041 e 1097
• Concurso público de caráter classificatório

site: vermelho

Rizzolo: As atitudes do governador Serra são deploráveis, falta espírito democrático, respeito, e acima de tudo a capacidade de ouvir à parte contrária em suas demandas. Não podemos conceber nos dias de hoje prisões de manifestantes, além disso afirmar que o direito de greve é um “trololó” denota a ideologia autoritária que permeia o PSDB. A greve dos professores é legítima, e deveria ser recebida com respeito assim como atendida nas sua plenitude. Pretender anular um movimento dizendo que ele não existe é negar a democracia. Talvez isso explique a saída do Chalida do PSDB para o PSB. Uma vergonha.