Especuladores ganham 10,6% só com diferencial do câmbio

Diferença entre taxas de juros internas e externas aumentaram com resistência em cortar Selic

Nos últimos dias, enquanto a taxa de câmbio provocava protestos de empresários nacionais – afetados pelo encarecimento de seus produtos no mercado externo e pelo barateamento das importações, que ocupam, mais uma vez, uma faixa crescente do mercado interno – surgiram algumas pessoas para saudar os dólares que, momentaneamente, estão entrando no país, como se fossem a redenção da economia.

Resumidamente: o real se sobrevaloriza porque os dólares entram no país em cambulhada – e, quando acontece isso, as empresas nacionais são solapadas pela maior dificuldade de vender tanto no mercado fora do Brasil quanto dentro do país.
Vamos logo aos termos da linguagem popular: achar que isso é bom para a economia do Brasil é coisa de maluco, ou de ingênuo, ou de elemento de má fé.

Até porque estamos diante de uma incursão meramente especulativa, como mostra o fluxo cambial de maio, divulgado pelo Banco Central. Para se ter uma ideia, os especuladores, somente em maio, ganharam 10,6% sem fazer absolutamente nada, apenas trocando dólares por reais e reais por dólares, devido à taxa de câmbio. Somente com essa vadia operação, ficaram com mais 10,6% do que aquilo com que entraram no país.

Naturalmente, eles não ganharam só com isso – também ganharam com os juros do BC, com ações na Bolsa, com a papelada do cassino, isto é, do “mercado futuro”, e especulando no mercado a vista do dólar. Isso, evidentemente, sem criar um só emprego no país, sem abrir um armarinho ou um botequim, quanto mais (ou menos) uma fábrica.

Porém, o que faz com que o real suba artificialmente, embalado por um câmbio que somente “flutua” de acordo com a manipulação dos especuladores? E por que, no meio de uma crise, em vez de retirarem recursos do país, eles estão entrando com dólares?

Em primeiro lugar, eles estão retirando recursos do país – esses 10,6% de ganho são recursos do país. Se ainda não saíram do país, se ainda não enviaram esses recursos para fora, é apenas porque o bolo está crescendo – isto é, estão sequestrando mais recursos do país e enfiando-os em seus cofres.

Em segundo lugar, como já disseram vários economistas, no primeiro aperto da crise, ou aqui ou em seus países, eles todos farão uma revoada – levando, inclusive, as reservas, essa coleção de fumaça do sr. Meirelles, pois não há como classificar de outro modo uma montanha de dinheiro constituída pelos dólares que os especuladores trocaram por reais, e que podem destrocar na hora que quiserem.

Mas por que eles vieram agora, se desde a falência do Lehman Brothers, em setembro, estavam ocupados em tirar com um balde a água que entrava aos borbotões em seu barco? Primeiro, eles estão usando o dinheiro do povo americano – até agora, o governo americano injetou US$ 14,9 trilhões (mais do que o PIB dos EUA) no sistema financeiro, segundo relatório do Deutsche Bank (cf. “U.S. Rescue Aid Entrenches Itself”, The Wall Street Journal, 21/05/2009).

Porém, o mais decisivo é que Meirelles ofereceu carne – a nossa – para os abutres. O motivo mais fundamental da atual invasão é simples: o diferencial de juros do Brasil em relação a quase todos os países é estúpido. Não é apenas que todos os países do mundo, com exceção de quatro, têm juros reais que não chegam a 2%. O mais importante é que a taxa real do BC, 5,8% é cavalar em relação aos EUA, onde o juro real está em zero, à Europa – onde o juro real mais elevado (o de Portugal) é 1,7%, o da Alemanha é 0,6% e o da Inglaterra é -2,3% (menos 2,3%) – e ao Japão, onde o juro básico real é 0,2%.

Evidentemente que os abutres, sobretudo quando estão com fome, não iam dispensar essa presa. Nada como tomar dinheiro em seus países a preço zero e vir ganhar mais de 10% sem fazer nada.

A única pessoa no país que nega que o diferencial de juros seja o responsável pela sobrevalorização do real, é o presidente do BC. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo disse outro dia que “eu não sei se ele diz isso por convicção ou por escapismo, mas é lamentável em qualquer hipótese”. Como se sabe, Belluzzo é um homem muito educado. Por isso não lhe ocorreu, ou não falou, em outra hipótese, muito mais provável: que Meirelles faça isso por interesse. Não por acaso é funcionário aposentado do BankBoston.

Com razão, afirma Belluzzo, “se não quiserem controlar capitais, por julgarem um sacrilégio, que pelo menos reduzam bastante a Selic”.

No entanto, segundo a propaganda de Meirelles, o Brasil nunca teve juros tão baixos. Além de não ser verdade – já houve até juro negativo no Brasil – Meirelles está escondendo o mais importante: o diferencial entre os juros do Brasil e os juros dos EUA, Europa e Japão, aumentou, não diminuiu.

O diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, em termos reais, é, hoje, de 5,8 pontos percentuais – isto é, o juro básico real é 580% maior que o dos EUA.
Pois em fevereiro e março esse diferencial era de 5,35 pontos percentuais. E, mais, o diferencial aumentou barbaramente do início da crise americana até dezembro, pois, enquanto o FED (o BC dos EUA), em 2008, reduzia a sua taxa básica de 2% nominais para 0,25%, o BC do sr. Meirelles aumentava a taxa nominal de 11,25% para 13,75%, mantendo esta elevadíssima taxa durante todos os quatro meses iniciais da crise. É verdade que em termos nominais houve uma redução do diferencial em janeiro, como disseram alguns áulicos de Meirelles – mas isso não significa nada. O problema são as taxas reais.

Aliás, esses áulicos, geralmente do PSDB ou coisa que o valha, deveriam consultar um correligionário, o economista Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. Em recente artigo, diz o sr. Nakano, que pode ser reacionário, mas não é um muar, como certos colegas seus de partido: “o Banco Central do Brasil reagiu com cautela excessiva, olhando a inflação pelo retrovisor (….). Além disso, quando sinalizou que os juros seriam reduzidos em ritmo bastante lento, o diferencial entre os juros aumentou fortemente, já que os demais países reduziram suas taxas mais agressivamente. O aumento no diferencial da taxa de juros por si só foi um fator de forte atração [para os especuladores], pois os bancos e outras instituições podem captar no mercado monetário de curto prazo a taxa de juros próxima a zero nos EUA” (grifos nossos).

E, mais:

“Para o capital especulativo existe ainda outro fator que torna o real extremamente atraente. O nosso regime de ‘câmbio flutuante’ é presa fácil de profecias que se autorrealizam (….). E cada ponto percentual de apreciação se soma ao diferencial da taxa de juros para compor o retorno do especulador. (….) Assim, o lento ritmo de queda na taxa de juros e a expectativa de apreciação tornaram o real uma aplicação com altíssimo retorno em meio a uma grande crise financeira. Quanto mais especuladores são atraídos, mais o real se aprecia e maior é seu retorno. Desta forma, a taxa de câmbio deverá se apreciar ainda mais de acordo com a convenção do mercado. No momento, aparentemente, a convenção é de que a taxa de câmbio vai cair para R$ 1,80. Ao chegarmos a esta taxa, novas quedas poderão ocorrer segundo uma nova convenção e, numa profecia que se autorrealiza, atrairá cada vez mais especuladores”.

Não deixa de ser interessante que Nakano consiga ver em que poderá redundar, se não forem tomadas as necessárias providências, esse festival especulativo: “As suas consequências são previsíveis, com segurança: o real já apreciou e desencadeou um ciclo de apreciação que deverá terminar bruscamente, em algum momento, causando dramática reviravolta”.

Nós diríamos, apenas, que isso é óbvio.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: Não há como negar os fatos. O diferencial de juros do Brasil em relação a quase todos os países é enorme. Não é por acaso que todos os países do mundo, têm juros reais que não chegam a 2%. O mais importante é que a taxa real do BC, 5,8% é uma monstruosidade em relação aos EUA, onde o juro real está em zero, à Europa – onde o juro real mais elevado (o de Portugal) é 1,7%, o da Alemanha é 0,6% e o da Inglaterra é -2,3% (menos 2,3%) – e ao Japão, onde o juro básico real é 0,2%.

É claro que o problema da apreciação do real é macroeconômico, e visa interesses que não do mercado interno e tampouco no desenvolvimento do País. Com efeito, a valorização do real dos últimos anos solapou a competitividade de diversos segmentos industriais e reduziu nossa capacidade exportadora. Temos que evitar a revalorização da moeda, bem como a desoneração tributária, para obtermos a recuperação do poder competitivo dos produtos industriais brasileiros. O fato de Meirelles ser refratário à diminuição das taxas de juros estrangula a indústria nacional e as exportações. Pouco patriótico, não?

BC quer mais juros para transformar o crescimento do país num vôo de galinha

Aliás, nem mesmo escondem que o objetivo é esse. Se dependesse de Meirelles e cia., o Brasil estaria em marcha acelerada para antes do século XVIII. Achar que um dos maiores países do mundo deve ser uma colônia que não pode crescer mais do que 4% ou 3,5% já era caduquice na época de Dª Maria, a Louca.

Meirelles omite expansão da oferta e diz que o problema é a “expansão da demanda doméstica

De repente, como se saíssem de bueiros destampados, alguns cavalheiros e damas puseram-se a invectivar furiosamente o responsável por nossos males. Não se trata mais da inflação, que se recusa, apesar de suas gestões, a ficar descontrolada. Nem mesmo da corrupção, no momento muito ocupada com os governos que eles apóiam, mormente os do Rio Grande do Sul e de São Paulo.

Não, dizem eles, o verdadeiro culpado é o crescimento. O crescimento? Pois é, o crescimento, esse resultado do esforço do presidente Lula e da sociedade brasileira. No fundo, a culpa é do Lula, que veio com essa idéia incendiária de que o país deve crescer, criar empregos, produzir e desenvolver tecnologia.

Assim, da senhorita Leitão até o exumado Gustavo Franco, o que é uma curta distância, todos eles se puseram a berrar contra o crescimento. Aliás, se precisássemos de uma prova das intenções dessa malta, bastaria a participação especial do precocemente mumificado Franco, um elemento que afundou o país com seu câmbio engessado, e que até Fernando Henrique teve que demitir, para que a subserviência aos bancos externos fosse dotada do mínimo de bom senso que lhe permitisse terminar o mandato…

Se dependesse deles, naturalmente, o Brasil estaria parado – ou, mais precisamente, em marcha acelerada para antes do século XVIII, pois, a idéia de que um dos maiores países do mundo não pode crescer mais do que 4% ou 3,5% (ou menos, porque essas cifras só existem para que o país seja empurrado abaixo delas) já era caduca na época de Dª Maria, a Louca.

Tudo seria apenas agitação inútil de baratas em polvorosa, se algumas delas não estivessem no Banco Central (BC). Em discurso na Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), na segunda-feira, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que os aumentos de juros são um “remédio antecipado” contra a inflação. Ou seja, não têm como objetivo, como pregava antes, controlar uma inflação atual, à beira do descontrole (cf. Meirelles à Agência Brasil, 24/05).

BOBAGENS

Passados menos de um mês, onde foi que Meirelles enfiou essa inflação? Não sabemos, leitor. Aliás, nem queremos saber. O fato é que ficou claro que a inflação não estava à beira do descontrole. Daí, a nova versão, a do “remédio antecipado”, mais ou menos como se um médico, diante da possibilidade (que sempre existe) de alguém contrair pneumonia, enchesse o infeliz de penicilina por antecipação, apesar do sujeito estar bastante bem de saúde antes de ser entupido de remédio.

Meirelles sabe que isso é uma bobagem. Tanto assim que, algumas horas depois, mudou a versão. Segundo disse no programa “Roda Viva”, “num regime de metas de inflação, o que define que a taxa de juros está alta ou está baixa é o comportamento da inflação. Se as taxas [de inflação] estão consistentemente acima do intervalo de tolerância, significa que a taxa de juros está muito baixa”.

Se é assim, não teria sentido o aumento dos juros quando a inflação está na meta (ou seja, dentro do “intervalo de tolerância”), como é o nosso caso. E, realmente, não tem sentido, pelo menos não para combater a inflação, mesmo segundo a fraudulenta doutrina econômica da qual Meirelles é serventuário.

Vamos, aqui, fingir que não sabemos que a avaliação do “comportamento da inflação”, nesse “regime”, é determinado por uma meta que é estabelecida, com dois anos de antecedência, por aqueles cuja intenção é manter os juros altos. Portanto, é um critério mais viciado do que as roletas da Máfia.

Apesar disso, como no Brasil as taxas de inflação estão há alguns anos dentro do “intervalo de tolerância” (atualmente, 2,5 a 6,5%), Meirelles inventou outra: segundo ele, nesse caso não há “condições técnicas” de determinar se as taxas de juros estão altas ou baixas.

Então, por que ele aumentou os juros, e promete aumentá-los mais ainda, se não há “condições técnicas” de saber se a taxa de juros é alta ou baixa em relação à inflação? Pelo jeito, ele resolveu aumentá-las porque estava com dúvida.
Meirelles não é um herói sem nenhum caráter, porque não é nem mesmo um herói vagabundo como Macunaíma. No resto, é igual. Pode dizer qualquer coisa, não importa que não tenha lógica ou que seja o oposto do que disse horas antes. Desde que acoite os interesses a que serve, o resto que se dane.

No “Roda Viva”, ele esclareceu que quando a inflação ficar na meta, os juros vão baixar. Tentava passar, outra vez, que somente o “centro” da meta (4,5%) é que importa, mas, então, por que mencionou o “intervalo de tolerância” (a banda de 2,5 a 6,5%), como referencial para a taxa de juros?

A falta de coerência de toda essa algaravia, significa apenas que não é a inflação o problema deles, até porque os preços que estão aumentando não são determinados pela economia brasileira, mas pela especulação externa. Não é para combater um aumento de preços nas mercadorias negociadas na Bolsa de Chicago que os juros são aumentados. O que vêm como um mal em si é o crescimento. O que, aliás, foi escancarado pelos corifeus da banca desde a divulgação do crescimento de 5,8% no primeiro trimestre.

CRESCIMENTO

Quanto a isso, a ata da última reunião do Copom é uma coleção de ataques ao crescimento, ainda que daquela forma muito própria a certos vigaristas. Nela, pode-se ler: “o ritmo de expansão da demanda doméstica (….) continua colocando riscos importantes para a dinâmica inflacionária”.

O problema, portanto, é a “expansão da demanda doméstica”. O Copom omite que há também uma expansão da oferta doméstica e que não há sinal de esgotamento da capacidade ociosa da indústria. Mas o sintomático é que a palavra “inflação” foi substituída por algo chamado “riscos para a dinâmica inflacionária”. A inflação não saiu da meta que eles mesmos definiram, mas não estão combatendo a inflação, e sim “riscos para a dinâmica inflacionária”, expressão que parece ter sido cunhada pelo grande economista Rolando Lero, pois, o que significa “riscos para a dinâmica inflacionária”, senão que não há uma “dinâmica inflacionária”?

Mas, quem é o culpado por esses espectrais “riscos”? O crescimento – ou, na expressão castrada do BC, a “expansão da demanda”. Aqui, eis outra jóia encontrada da ata do Copom: “existe o risco de que os agentes econômicos passem a atribuir maior probabilidade a que elevações da inflação sejam persistentes”.

A palavra “inflação” aparece apenas para se dizer que o problema é o “risco” (sempre o “risco”) dos “agentes econômicos” acreditarem na “probabilidade” da sua futura existência. Tenta-se passar que a inflação é um risco real, mas, quando traduzida para língua de gente, a frase quer dizer apenas que essa inflação é uma probabilidade religiosa, uma questão de fé (e, mesmo assim, fé numa “probabilidade”). Se você, leitor, achou que a linguagem usada pelo Copom tem o propósito de tapeá-lo, acertou.

Fora isso, a ata do Copom garante que, se depender de Meirelles & cia., os juros vão continuar aumentando: “a atual postura de política monetária, a ser mantida enquanto for necessário, irá assegurar a convergência da inflação para a trajetória das metas”.

O fato de não existir divergência entre a inflação e a meta que eles próprios estabeleceram, não tem a menor importância. Porque o que eles querem combater não é a inflação.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: Mas é aquilo que eu estou já repetitivo de tanto comentar, e que no impecável texto de Carlos Lopes podemos inferir. O problema para Meirelles e o COPOM, é “expansão da demanda doméstica”, apenas esquecem eles, que há sim também, uma oferta maior de produtos no mercado interno, ou seja há uma ” expansão de ofertas domésticas” e isso eles não querem admitir.

Ora, porque não focar no desenvolvimento ao invés de procurar sob argumentos fantasiosos bloquear o desenvolvimento econômico. O conceito absurdo de ” remédio antecipado” só pode ser um decreto ao não crescimento do País, ou se quiserem, um decreto e um balde de água fria naquilo que o governo Lula acabou implementando: o desenvolvimento e o crescimento. É o famoso ganhou mas não levou, que querem institucionalizar. Como diz o texto, se dependesse deles, naturalmente, o Brasil estaria parado – ou, mais precisamente, em marcha acelerada para antes do século XVIII. Se médicos fossem preconizariam antibióticos a toda a população pois no frio as pneumonias aumentam, é caso do remédio antecipado em analogia à inflação.

A própria Fundação Getúlio Vargas (FGV) informou nesta segunda-feira (16) que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) registrou uma variação de 1,07% na segunda prévia de junho, ante 1,12% registrado no início do mês. Ou seja, houve uma desaceleração na inflação. Mas segundo o BC, nada melhor do que jogar uma água fria no crescimento e expor o Brasil a uma forte pneumonia impedindo -o de trabalhar, de gerar empregos, de ser competitivo. Querem internar o Brasil, e o pior, Lula continua não tendo correlação de forças. Coisas que nem o Paulo Skaf da Fiesp entende.

Instigados pelo BC, especuladores exigem mais juros e PIB medíocre

Para reduzir o crescimento a 3,5%, projetam Selic em 14% em 2008 e a queda do PIB em 2009

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros de 11,75% ao ano para 12,25%, no dia 4, só fez aumentar a voracidade dos especuladores. Porém, Meirelles e cia. acham pouco. Da reunião do Copom até agora, nada mais fizeram do que açular mais ainda os apetites rentistas. No primeiro Boletim Focus, após o Copom, o BC , naturalmente atribuindo ao “mercado”, aumentou a estimativa da Selic em 2008 para 14% ao ano, ante 13,75%, projetado na semana passada.

Sem nenhuma questão econômica que avalize tal aumento da taxa de juros, fica explícito que o objetivo é frear o crescimento verificado no segundo governo Lula com a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – cresceram os empregos, a renda e o consumo das famílias brasileiras. Em 2007, o país registrou uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,4%. Em sentido contrário, o “Boletim Focus” do BC prevê uma redução do crescimento do PIB em 2009 para apenas 4%.

Ou seja, para Meirelles o país não pode crescer mais de 3,5%, como deixou claro seu correligionário tucano e ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros: “o governo fez um movimento correto ao aumentar o superávit primário em 0,5%. Embora modesto – e certamente insuficiente -, ele mostra um melhor entendimento da dinâmica que teremos que enfrentar nos próximos trimestres. Mas é sobre o Banco Central que recairá a maior responsabilidade para promover uma redução próxima a 2,5% na absorção interna ao longo dos próximos 12 ou 18 meses. Isso corresponde trazer o crescimento do PIB para algo próximo a 3,5% ao ano ao longo de 2009”, afirma no artigo “Em busca da estabilidade ameaçada”. No entanto, estabilidade ameaçada no país, só havia a dos especuladores, que viram mais recursos públicos serem direcionados para os investimentos e a produção – ainda que a maior parte dos recursos orçamentários continuasse a ser imobilizada e desperdiçada com juros. Porém, eles querem tudo, não se conformam em ter a maior parte.

Nem mesmo a inflação – o principal pretexto alegado para o aumento dos juros – pode servir de apoio ao aumento dos juros. Além de se encontrar sob controle, abaixo do limite da meta estabelecido pelo BC, é resultado da especulação externa com os preços dos alimentos.

Segundo o Boletim Focus, na reunião do Copom do final de julho, haveria um novo aumento de 0,5 ponto percentual nos juros básicos, passando para 12,75% ao ano. Assim, o BC já prepara o terreno para um efetivo aumento da taxa Selic na próxima reunião do Copom.

De imediato, a elevação ainda mais cavalar dos juros teria como alvo a redução do consumo das famílias, um dos pilares da retomada do crescimento econômico. Mas, também, afetar os investimentos, tanto do governo quanto privados, consubstanciados no PAC. O aumento da Selic implicará necessariamente em desviar mais recursos do Estado para pagamento dos juros da dívida pública e irá conter as intenções de investimentos dos empresários.

“A alta excessiva dos juros anula os efeitos positivos de políticas de estímulo à produção, pois encarecem o financiamento para investir na produção, e a conseqüente valorização do real reduz a competitividade dos produtos nacionais. Ambos conduzem ao menor crescimento”, afirma a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Não há nada no horizonte que justifique o aumento dos juros, a não ser a decisão do BC em impedir a retomada do desenvolvimento. Meirelles tenta repetir o feito de 2004, quando abortou o crescimento que se experimentava no terceiro trimestre daquele ano, quando o BC elevou a Selic em setembro após cinco meses congelada. O resultado foi uma expansão de apenas 3,2% do PIB em 2005 e de 3,7%, em 2006, já com a revisão dos cálculos feita pelo IBGE. Ou seja, o Brasil tinha todas as condições de entrar na rota do crescimento acelerado já no primeiro governo Lula. O processo foi interrompido por uma ação deliberada de Meirelles, quando elevou a taxa de juros.

Hora do Povo

Rizzolo: A política econômica orquestrada pelo Copom e BC em aumentar ainda mais os juros tem como objetivo segurar o desenvolvimento do País. Elevar a taxa básica de juros de 11,75% ao ano para 12,25%, aumenta o apetite dos especuladores que a cada dia participam mais do nosso mercado financeiro que se tornou um verdadeiro cassino. Como já disse inúmeras vezes a política do BC visa o não desenvolvimento, virando às costas à produção, ao aumento da oferta, suprindo a demanda, elementos estes que poderiam sim ir em direção ao combate a essa ” inflação”. Entender que o País só pode crescer 3,5 % é muito pouco, para um País que precisa gerar 5 milhões de empregos por ano. A ânsia em tirar o País na rota do crescimento é algo impressionante, e ao que parece levado pela argumentação da ” independência do BC” o governo se torna passivo e conivente. Enfim o que os especuladores querem é mais juros e PIB medíocre.

Copom aumenta juro mesmo com a inflação sob controle

Selic sobe de 11,75% para 12,25 e juro real no Brasil é o maior do mundo: 6,9%

Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou outra vez os juros básicos. A taxa com a qual bancos e outros especuladores sangram o Tesouro, ancorando nela as suas próprias taxas de juros, passou de 11,75% para 12,25% ao ano. A taxa real (isto é, descontada a inflação) passou a ser 6,9%, outra vez a maior do mundo.

Dentre os países que adotam o sistema de metas de inflação, o Brasil ficou abaixo do limite da meta

O pretexto foi a inflação, que, segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, está ameaçando a economia. Porém, como ela está perfeitamente dentro da “meta” (uma banda que vai de 2,5% a 6,5%), a tese agora é a de que a inflação tem que estar no “centro” da meta (4,5%). Senão, provavelmente, um tsunami vai transportar Brasília para Bora-Bora, ou alguma outra desgraça, tão real quanto esta. Resta saber porque o próprio Meirelles propôs uma banda como meta, se somente o centro dela é que importa.

Ao lado, o leitor poderá ver um dos gráficos apresentados pelo ministro Guido Mantega no balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), também na quarta-feira. Percebe-se, pelo gráfico, que a inflação em quase todos os países que usam o sistema de metas ficou acima da banda anteriormente definida como meta. No entanto, o céu não desabou sobre os habitantes desses países, nem os juros foram catapultados para a órbita de Plutão porque a inflação ficou acima da meta.

Já o Brasil, considerando-se a inflação de 12 meses até abril, ficou 1,5% abaixo do limite máximo da meta. Entretanto, Meirelles e o BC aumentaram os juros – e com a perspectiva de continuar aumentando-os até, dizem os asseclas de Meirelles, atingir 14,25% em dezembro (cf. o site da famigerada “Veja”). Como notou o ministro Mantega, outro dos três países que ficaram com a inflação abaixo do limite da meta, o Canadá, encontra-se com a economia paralisada – e, poderia acrescentar, os juros canadenses também são quase insignificantes diante dos brasileiros.

ALARDE

Na verdade, quase todos esses países têm taxas básicas de juros imensamente menores do que as do nosso. Os que mais se aproximam do Brasil são a Austrália (5,5%) e a Turquia (5,3%). O quarto lugar do mundo, a Colômbia, tem uma taxa de 3,7% e o quinto, o México, 2,6%. Todos os outros países têm taxas inferiores, mesmo a maioria deles ultrapassando a meta de inflação.

Porém, apesar disso, o México não aumentou sua taxa de juros porque a inflação excedeu a meta em 0,7%, nem a Colômbia – apesar de toda a subserviência aos EUA do seu governo atual – aumentou-a porque a inflação ficou 1,4% além do teto da meta. Nem o Chile, cuja inflação ultrapassou em 4,5% a meta, ou a Islândia (4,7% a mais) ou a África do Sul (3,8% além da meta) pensaram em fazê-lo, apesar dos juros nesses países, se comparados aos do Brasil, parecerem quase microscópicos.

No entanto, se acreditássemos na conversa de Meirelles, qualquer desses países teria mais razão do que o Brasil para aumentar os juros – sob pena, supõe-se, de desaparecer do mapa se não o fizesse. Mas nenhum deles desapareceu, nem aumentou os juros.

Certamente, é inútil procurar alguma coerência em Meirelles, exceto se considerarmos seu verdadeiro objetivo: frear o crescimento, alcançado pela política do presidente Lula, em especial pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Não existe, a rigor, razão econômica para aumentar os juros agora e bloquear o crescimento. A ação do BC é, cada vez mais abertamente, política.

Meirelles & sequazes passaram semanas alardeando que a demanda (ou seja, o consumo da população) estava demasiadamente aquecida, ou, até mesmo, “superaquecida”; que havia um desequilíbrio entre oferta (produção) e demanda; que esse suposto desequilíbrio já estava levando a um surto inflacionário, que exigia aumentos de juros consecutivos para refrear o consumo.

FREIO

Na segunda-feira, véspera do primeiro dia da reunião do Copom, o IBGE divulgou que a indústria havia crescido, no mês de abril, 10,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse resultado significativo indicava que a oferta, a produção, estava avançando mais do que o consumo – portanto, era impossível o “superaquecimento” da demanda e o “desequilíbrio” propalado por Meirelles.

Mais ainda quando esse resultado da indústria foi obtido sem que a sua capacidade ocupada (isto é, a parcela da capacidade do maquinário efetivamente usada na produção) sofresse alteração. Como revelou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a utilização da capacidade instalada ficou em 83,2% em abril, contra 83,1% em março. Portanto, quase 20% da capacidade instalada permaneceram sem utilização, mesmo com o aumento na produção – o que significa que os investimentos estão aumentando a capacidade da indústria a tempo de suprir o aumento de consumo, e que a folga da indústria para continuar aumentando a produção é, no momento, de quase um quinto da sua capacidade.

Pois bem, leitores, em 24 horas apareceram asseclas de Meirelles argumentando que o aumento da produção tornava ainda mais urgente o aumento dos juros. Porque, desse jeito, o povo ia se entusiasmar com a fartura de produtos à sua disposição (ainda por cima, mais baratos, ou seja, com possível inflação em queda) e ia começar a comprar, comprar, comprar, até que a indústria não tivesse capacidade de suprir a demanda desses tresloucados, sempre querendo comprar alguma coisa, aumentando, assim, a inflação. Logo, aumento de oferta só serve para aquecer a demanda, inflação em queda só serve para aumentar a inflação e crescimento da indústria só serve para aumentar juros.

Pelo jeito, o ideal de Meirelles é uma indústria que não venda os seus produtos e consumidores que não os comprem. Portanto, uma indústria que não produza, por falta de compradores, e consumidores que não consumam, por falta de dinheiro. Se a indústria cresce em relação ao consumo, é preciso aumentar os juros. Se o consumo cresce em relação à produção, também é preciso aumentar os juros. Sempre é preciso aumentar os juros para que o país não cresça.

Mas, voltemos ao gráfico: os EUA não constam dele, porque não usam metas de inflação – eles inventaram o sistema para os outros usarem, não para eles usarem. Veja-se o que diz o grande sacerdote da religião, quer dizer, do sistema de metas, Edwin Truman, ex-secretário-assistente do Tesouro dos EUA e ex-diretor do banco central americano. Em resumo, junto com o sistema de metas de inflação, eles inventaram uma classificação de países que os livra de usar o vomitório que receitam para os demais (cf., Edwin Truman, “Inflation Targeting in the World Economy”, 2003).

Porém, pela classificação de Truman, nós também não precisaríamos mais desse estrupício, uma vez que já atingimos inflação baixa, portanto estaríamos dispensados de, como ele diz, “sacrificar” a economia. Mas como tudo é encenação para roubar os outros países, basta um Meirelles no Banco Central que esses problemas de coerência estão automaticamente resolvidos. Afinal, nunca se ouviu falar de um ladrão que deixasse de roubar por considerações teóricas. Nessas horas, a teoria é enviada para o lixo sem precisar de substitutas, pois o negócio é roubar. E o resto que se dane.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: Como sempre a política daqueles que querem frear o desenvolvimento do Brasil, acaba prosperando. Exatamente aqueles que não querem um Brasil com desenvolvimento acabam utilizando-se de argumentações vazias para justificar sua política econômica perversa. No texto acima de Carlos Lopes, podemos inferir no quadro apresentado por Mantega, a posição em relação à questão inflacionária no que diz respeito ao desvio das metas dos demais países. Não é possível que num País como o Brasil em que precisamos gerar por ano 5 milhões de novos empregos, insiste-se nessa política retrógrada que visa apenas prestigiar especuladores de plantão.

O foco para combater a inflação deve ser o desenvolvimento, visando um aumento da produção, um aumento do mercado interno, só assim poderemos como a China, diminuir a ” ameaça” da inflação, que diga-se de passagem nem existe. Vamos crescer e aumentar a oferta, mas isso o Meirelles, o Copom, e os especuladores não querem, querem a inflação agora no “centro da meta”. Com isso querem transformar a inflação numa pauta política e pouco técnica.

Multinacionais dobram remessa de lucros no primeiro quadrimestre

Bancos lideram envio de recursos ao exterior: US$ 2,28 bilhões

As remessas de lucros e dividendos das corporações transnacionais instaladas no Brasil totalizaram US$ 12,358 bilhões no primeiro quadrimestre, mais que o dobro registrado no mesmo período do ano passado, quando somou R$ 5,175 bilhões. Esse espetacular crescimento do envio de recursos para o exterior foi puxado pelo setor bancário, que foi responsável por US$ 2,285 bilhões das remessas, o equivalente a 25,1% do total.

No governo FH, o segmento passou por um processo de acentuada concentração e desnacionalização, que foi proporcionado pelo Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer) e Programa de Incentivo à Redução da Presença do Estado na Atividade Bancária (Proes), ao mesmo tempo em que tem seus lucros turbinados com a especulação com títulos públicos, regados por juros cavalares estabelecidos pelo BC. Só em abril as filiais de bancos estrangeiros remeteram US$ 3,696 bilhões, o triplo do que foi registrado no mesmo mês no ano passado.

A sobrevalorização do real em função dos juros altos é outro fator que tem favorecido o aumento das remessas de lucros e dividendos, pois rendem mais no momento da conversão das moedas.

De acordo com o Banco Central, os Estados Unidos são o país para onde é direcionada a maioria dessa bolada: 29%.

As montadoras tiveram a segunda maior participação no envio de recursos para suas matrizes: US$ 1,881 bilhão ou 20,7% do total.

O aumento exponencial na remessas de lucros e a queda no superávit da balança comercial provocaram um déficit externo recorde no quadrimestre de US$ 14,1 bilhões. O BC projeta um déficit em transações correntes – balança comercial, balança de serviços e transferências unilaterais – na ordem de US$ 12 bilhões para este ano.

Hora do Povo

Rizzolo: E tem gente que acha que isso é devido e merecedor, ora, a propria política do Banco central em promover as altas taxas de juros faz com que a remessa se torne atraente com um real valorizado. Entendo ser isso uma verdadeira sangria nacional, temos que implementar meios para haver um melhor controle dessas remessas, o aumento exponencial na remessas de lucros e a queda no superávit da balança comercial provocaram um déficit externo recorde no quadrimestre de US$ 14,1 bilhões. Ademais fica patente que a desnacionalização do setor bancário feita durante o governo FHC teve seus objetivos concretizados; esta aí para todos verem, US$ 12,358 bilhões no primeiro quadrimestre, mais que o dobro registrado no mesmo período do ano passado, quando somou R$ 5,175 bilhões. Bonito, hein !

Meirelles açula expectativa de inflação para o BC elevar juros

Meta de Meirelles é combater o crescimento, não a inflação

Em abril, o IPCA ficou em 5,04%, portanto dentro da meta estabelecida de 2,5% a 6,5%

No sábado, em entrevista à Agência Brasil, o presidente do Banco Central afirmou:

A) “… um aumento do superávit primário tem vantagens importantes (….). Isso tenderia a baixar as taxas de juros do país a longo prazo”.

Ou seja, ele propugna que os bancos passem a receber mais do Tesouro (“aumento do superávit primário”), mas, se depender dele, nem assim haverá baixa dos juros a curto prazo. Aliás, nem a médio prazo.

B) “… existe, sim, uma inflação de alimentos, mas não é só de alimentos. (….) Temos desde a inflação de matérias primas, metais, não metálicos, químicos, petróleo e uma atividade bastante aquecida levando também a uma inflação na área de serviços (….) o Banco Central vai manter a inflação na meta. (….) a taxa de juros juntamente com o sistema de metas de inflação têm se revelado no mundo todo como o mecanismo mais adequado para a aplicação da política monetária. (….) a meta de inflação (….) e a taxa de juros (….) é o sistema consagrado no mundo todo”.

Em que mundo vive o cara-pálida? Durante os 19 anos (1987-2006) em que ocupou a presidência do banco central norte-americano, Alan Greenspan se lixou para as metas de inflação. Onde foi que tal sistema foi “consagrado”?
Porém, o mais importante é que Meirelles garante aos habitantes do seu mundo que os juros vão continuar a subir… por causa da inflação.

PRETEXTO

No entanto, em abril, a inflação (IPCA/12 meses) ficou em 5,04%. Portanto, dentro da sua “meta de inflação” (formalmente estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional), que vai de 2,5% a 6,5%. Para maio, até os especuladores disseram esperar uma inflação de 4,73% em 12 meses (cf. o “boletim Focus”, do próprio BC, divulgado na segunda-feira, 26/05). Portanto, mais baixa ainda.

Então, de onde Meirelles tirou essa inflação aterrorizante, que estaria rondando a soleira da porta dos brasileiros? Obviamente, da sua necessidade de ter um pretexto para aumentar os juros.

Há um aumento de preços dos alimentos, devido à especulação desvairada no mercado internacional – um aumento sobre o qual, portanto, nada adiantaria um aumento de juros.

Porém, Meirelles resolveu transformar isso em inflação ampla, geral e irrestrita.
Com o presidente do BC propalando que a inflação está de volta, o que fará o atacadista, ou mesmo o dono da venda da esquina? Por que ele não se defenderia dos aumentos de preços com que terá de arcar, aumentando seus próprios preços? Se é o presidente do BC que está avisando que vem aí uma onda inflacionária, o que fará o fabricante e o comerciante, senão aumentar os preços por antecipação, para não ser vítima dos aumentos nas matérias-primas ou nos produtos já manufaturados?
Desde quando um presidente do BC pode: 1) dizer aos especuladores que os juros dos títulos públicos vão aumentar por um longo período? 2) dizer que aos industriais e comerciantes que seus preços vão aumentar? O incrível – nos perdoe o presidente Lula, cuja política de crescimento é a maior prejudicada com isso – é que Meirelles não seja chamado a responder perante a polícia e a Justiça.

O alvo, certamente, é a política de crescimento, sintetizada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Por isso, Meirelles fala em “atividade bastante aquecida” e outros termos semelhantes. O indesejável é o crescimento e suas consequências – o aumento do emprego, do consumo, das vendas da indústria e do comércio, e o aumento dos recursos do Estado para o desenvolvimento.

Mas como Meirelles falsifica a inflação para criar uma onda inflacionária real – e, assim, ter pretexto para aumentar os juros sem que lhe caia na cabeça a espada proletária do supremo magistrado?

Para isso, ele inventou uma nova teoria: a de que não basta atingir a meta de inflação, isto é, ficar dentro da banda, mas atingir o centro da meta (4,5%) – senão o mundo cairá no abismo.

É verdade que o próprio sistema de “metas de inflação” é apenas uma excrescência inventada para extrair juros dos países periféricos. O critério desse sistema não é a realidade, mas um número artificial, que não leva em consideração as necessidades de crescimento, as potencialidades do país ou as carências da população. Repare-se que esse número (ou essa banda) só não é arbitrário em relação a uma questão: tem que ser o melhor possível para garantir que os juros continuem altos.

Assim, com uma meta artificialmente baixa, qualquer aumento da atividade produtiva e comercial parece provocar uma inflação quase desvairada. Na verdade, o que está errado é a meta, não a inflação. Esta aparece como alta apenas porque se escolheu uma meta completamente fora da realidade. Na definição da meta de 2005, Meirelles cortou a banda da inflação em 0,5, sem nenhum motivo e sem nenhuma fundamentação (cf. o testemunho do ex-ministro José Dirceu, HP, 14/05/2008).

Mas, como esses truques de mágico de mafuá não conseguem mais sustentar a política de juros altos, Meirelles fez duas inovações: a banda da meta de inflação deixou de ser banda. Só vale o “centro” da meta. A segunda inovação é propagandear a inflação, e, assim, provocar uma inflação verdadeira.

Na verdade, o sistema é tão frágil que até Meirelles é capaz de avacalhá-lo.

C) “Uma das razões da elevação do déficit de transações correntes é o aumento das importações, impulsionado pela demanda interna, que está bastante aquecida. Um dos mecanismos é exatamente um ajuste monetário que faz com que haja uma moderação desta demanda doméstica”.

Ou seja, também para a diminuição do saldo comercial, a solução é aumentar os juros. Que essa diminuição do saldo, com aumento das importações, tenha sido causado pela depreciação da cotação do dólar frente ao real, por sua vez causada pelos juros altos que atraem montanhas de dólares para dentro do país, é coisa que Meirelles passa por cima.

D) “É exatamente uma política monetária rigorosa, a não hesitação do Banco Central de manter a inflação na meta, é que garante o crescimento”.

ENTRAVE

Aqui passamos para o campo do franco cinismo. Não é o PAC nem os esforços do governo, os investimentos públicos, etc., que estão garantindo o crescimento. O que garante o crescimento são os aumentos de juros do Banco Central, justamente o maior entrave a que o país cresça. Mas talvez ele não esteja falando do Brasil. Pode ser que esteja falando da economia dos EUA. Realmente, uma das coisas que impede que ela vá para o necrotério esperar pelo sepultamento, são os bilhões que os bancos norte-americanos estão retirando do Brasil, sob a forma de juros, devido a Meirelles.
Mas, vejamos a última pérola. Perguntado sobre a efetividade de elevar o depósito compulsório dos bancos para reduzir um suposto “descompasso” entre a oferta e a procura, disse Meirelles que:

E) “Já está bastante acima da média e dos máximos praticados em outros países. A experiência do Banco Central, e de diversos bancos centrais do mundo, é de que o meio mais eficiente é exatamente o manejo da taxa básica, no caso do Brasil, a taxa Selic”.

Sintomático que ele diga que o depósito compulsório “já está bastante acima da média e dos máximos praticados em outros países”. E a taxa básica de juros, que é a maior do mundo, não está? Por que isso não serve como argumento para não aumentar os juros básicos?

Certamente, um aumento do depósito compulsório é também um aumento dos juros – mas não dos juros básicos, não dos juros dos títulos públicos, e sim das taxas dos bancos privados. Para Meirelles, portanto, não adianta qualquer aumento de juros, pois o objetivo do aumento é assaltar o Estado.
Hora do Povo
CARLOS LOPES

Rizzolo: Para Meirelles, a inflação parece ser um grande negócio. Na nobre argumentação clara e cristalina do impecável texto de Carlos Lopes, observa-se de que forma se dá a indução às propostas de mais aumento de juros, na visão anti desenvolvimentista de Meirelles, que em última instância, apregoa além de juros altos, uma maior transferência dos recursos do Tesouro aos bancos. (superávit primário).

O foco de um eventual combate à inflação que está ainda dentro do patamar, 2,5% a 6,5% seria sim, uma maior oferta de produtos de bens, desenvolvendo a produção, aumentando o mercado interno, para isso, como já disse inúmeras vezes o foco tem que ser o desenvolvimento e não o aumento dos juros focado apenas na inflação, o que traz inúmeros especuladores derramando no País uma quantidade enorme quantidade de dólares, valorizando ainda mais o Real, e impedindo as exportações ao mesmo tempo em que eleva o déficit de transações correntes. Só não vê quem é cego ou tem interesses em especular. Tenho pena do pobre empresário brasileiro, aquele que não consegue exportar, e observa os envios das enormes remessas de lucros feitas pelos beneficiados com a política do BC. Falta patriotismo, hein!

BC boicota ‘fundo soberano’ para aumentar o pagamento de juros

Para Meirelles, aumento da arrecadação, fruto do crescimento da economia, é dos banqueiros

O sr. Henrique Meirelles reivindica um status bastante peculiar entre os membros do atual governo. Vive a exigir que todo o governo o apóie, inclusive reclamando ao presidente Lula quando algum ministro ou autoridade declara que está contra ou, simplesmente, que não está totalmente de acordo com a política jurássica do BC. Mas não se acha obrigado a apoiar as medidas do governo – pelo contrário.

O apedrejamento do “fundo soberano” por parte dos corifeus de Meirelles e, inclusive, pelo próprio, mostra que seria de bom alvitre liberá-lo logo para que empreenda a sua anunciada campanha em Goiás. Caso contrário, corre-se o risco da política econômica, dentro em breve, se limitar meramente à aceitação dos aumentos de juros do BC – e adeus crescimento, emprego e distribuição de renda.

Na terça-feira, incensado por tucanos e ex-pefelistas, a que se somaram um ou outro incauto, Meirelles esteve na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Disse que é a favor do aumento do “superávit primário” (isto é, de aumentar o dinheiro que os bancos levam do Orçamento), mas que, independente disso, as altas de juros vão continuar (“No médio e longo prazo temos uma tendência de queda da taxa de juros. Mas isso não quer dizer que seja uma queda linear”, de onde se conclui que, na sua opinião, a melhor forma de baixar os juros a médio e longo prazo é aumentá-los a curto prazo). Porém, recusou-se a apoiar o “fundo soberano”, lançado no dia anterior pelo ministro da Fazenda, depois de aprovado pelo presidente Lula.

Meirelles passou ao largo do que havia sido anunciado pelo governo na véspera e, quando instado a manifestar-se sobre o assunto, disse que não era sua área, apesar de, evidentemente, a medida fazer parte da política monetária, isto é, da mesma área que os juros, as reservas e o BC.

Nesse dia, aquela mistura de funcionários de bancos externos, consultores que dizem o que interessa ao especulador que lhes paga, mal-amadas (porém bem remuneradas) que confeccionam colunas de “economia”, e outros tipos exóticos, protagonizava um ataque de nervos com o governo por causa do “fundo soberano”. Porém, Meirelles preferiu juntar-se à sua trupe do que defender o governo.

MAL-AMADAS

Alguns acabaram revelando o que lhes incomodava, ao chamar o “fundo soberano” de “BC paralelo”. Ou seja, o problema é que uma parte da política monetária – muito pequena, mas mesmo assim uma parte – está sendo tocada pelo Ministério da Fazenda e pelo Tesouro Nacional, que será o administrador do “fundo”, em vez do BC. Naturalmente, queriam que o BC, e, portanto, Meirelles, fossem os únicos a dar palpite sobre o assunto, como até agora. Concretamente, postulavam para Meirelles o poder absoluto sobre a política econômica, acima do presidente da República. E, como Meirelles apenas sabe aumentar juros, desconhecendo-se nele outro talento, querem que tenha poder absoluto para aumentar os juros.

Certamente, as demonstrações de hidrofobia não foram devidas aos defeitos e insuficiências – que, evidentemente, existem – da proposta do ministro Mantega. Por outro lado, reclamam que o governo não aumentou o “superávit primário” – ou seja, não aumentou a parcela do Orçamento destinada aos juros.

EXCEDENTE

Aí está a questão. Segundo o ministro da Fazenda, o “fundo soberano é como um cofrinho. Você ganha o salário, faz as despesas e sobram recursos. Aí você coloca no cofrinho. Vamos colocar no cofrinho o excedente”. Isto é, ele está propondo colocar no fundo os recursos da arrecadação de impostos que ultrapassarem a meta atual do “superávit primário”, equivalente a 3,8% do PIB.

Aumentar o “superávit primário” é destinar aos bancos o aumento da arrecadação, ou seja, desviar esse aumento, ou parte dele, para os juros. Pela proposta anunciada na segunda-feira, esse aumento da arrecadação, proporcionado pelo crescimento da economia, iria para um fundo, cuja principal função seria a de financiar empresas brasileiras no exterior. Portanto, a elevação do que é arrecadado da população através dos impostos não iria aumentar o que os bancos recebem por conta da dívida pública.

No entanto, os bancos que especulam com os títulos dessa dívida consideram que o aumento de arrecadação é uma propriedade sua – não pode ter outro destino senão os seus cofres. Daí a fúria dos leões-de-chácara dos monopólios financeiros – inclusive de Meirelles, não apoiando nem mesmo protocolarmente a proposta do governo de que faz parte.

Depois de seu depoimento no Senado, as apostas em torno do próximo aumento de juros começaram a roçar a estratosfera. No dia seguinte, quarta-feira, no chamado “mercado futuro”, a expectativa era que o Banco Central, na próxima reunião do Copom, aumentasse os juros básicos em 0,75.

No entanto, a mídia, os consultores (e as mal-amadas) atribuíram essa explosão nas apostas sobre juros ao fato de que o ministro da Fazenda não anunciou um aumento do “superávit primário” na segunda-feira, apesar do “fundo soberano”, ao capturar o crescimento da arrecadação de impostos, frear o aumento de gastos do governo – o que eles, há meses, vinham propugnando como única medida capaz de impedir um fantástico surto inflacionário e fazer os juros descerem do poleiro.

Mas, 48 horas depois que o governo anunciou o fundo e 24 horas depois que Meirelles depôs no Senado, as previsões de juros dispararam. É evidente que só poderiam disparar, com o presidente do BC dizendo publicamente que, aconteça o que acontecer, os juros vão ser aumentados.

O “fundo soberano” é, implicitamente, uma tentativa de impedir a alta de juros sem enquadrar o BC. A lógica é combater uma suposta inflação retirando recursos que o governo poderia gastar. Assim, não seriam necessários novos aumentos de juros.
Mais importante do que assinalar que essa lógica não é muito lógica, é notar que a disparada de juros que Meirelles está abertamente fomentando faria o governo gastar mais com eles – e, portanto, sobrar menos recursos para o “fundo soberano”.
Certamente, a forma mais eficaz de baixar os juros é baixar os juros. Naturalmente, ela não é possível com Meirelles à solta no BC. Mas, com Meirelles, outra maneira também é impossível.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: No excelente texto de Carlos Lopes, podemos inferir a demanda perversa do BC por mais recursos, ou seja, aumentar o “superávit primário” com o intuito de destinar aos bancos o aumento da arrecadação, ou seja, desviar esse aumento, ou parte dele, para os juros. O Fundo Soberano vem de encontro à louvável intenção do governo, cuja principal função seria a de financiar empresas brasileiras no exterior. As alegações de que o Fundo Soberano seria uma forma de intervir no câmbio é uma balela e argumentação que serve aos interesses daqueles que querer a perpetuação das altas taxas de juros, mirando-se no combate à inflação somente através do aumento das taxas de juros, esquecendo por completo a prioridade no desenvolvimento e no aumento da produção como medida de controle inflacionário. Leia artigo meu publicado na Agência Estado sobre Fundo Soberano: Fundo Soberando, uma questão política ?

CNI repele juros do BC e diz que setor está preparado para o crescimento

Utilização da Capacidade Instalada recua em fevereiro para 82,9%, por conta do aumento dos investimentos

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) contestou as alegações do Banco Central de que o setor não estaria em condições de suprir a demanda por bens de consumo em função do esgotamento da capacidade de produção. Dados sobre produção e consumo divulgados na última semana não confirmam as avaliações do BC usadas para justificar uma elevação da taxa de juros.

Os economistas Paulo Mol e Flávio Castelo Branco, da CNI, afirmam que não há motivos para o aumento dos juros. De acordo com a última pesquisa Indicadores Industriais, divulgada no início do mês, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) recuou em fevereiro para 82,9%, contra os 83,1% registrados em janeiro, por conta do aumento dos investimentos. “A capacidade de produção está aumentando. Enquanto a economia cresce a 5% ao ano, a formação bruta de capital fixo (que mede os investimentos produtivos) cresce a mais de 10% há oito trimestres”, declarou Paulo Mol. Segundo ele, a queda do NUCI é um claro sinal de que a indústria está acompanhando o crescimento da demanda interna: “O setor está preparado para esse crescimento, porque está investindo”.

Para Flávio Castelo Branco, uma eventual elevação dos juros básicos seria uma “precipitação”. “O Índice de Preços no Atacado (IPA, que mede a inflação na indústria) fechou na casa dos 3% no ano passado, abaixo da inflação dos outros setores, e não está tendo nenhum sinal de aumento neste ano. Não há porque aumentar juros nesse momento, ainda mais com a indústria mostrando capacidade de atender todos os pedidos”, disse.

O BC pregou o aumento da taxa básica de juros (Selic) para a próxima reunião do Copom, nos próximos dias 15 e 16, através de seu Boletim Focus – elaborado junto a especuladores autodenominados “especialistas de mercado”. Tais “especialistas” consultados pelo BC esperam um aumento de, no mínimo, 0,25 pontos percentuais, elevando os juros dos atuais 11,25% ao ano para 11,50%. Eles também “prevêem” que a Selic fechará 2008 em 12,5%, ou seja, sucessivos aumentos dos juros até o final do ano.

Antes do Boletim Focus desta semana, o presidente do BC, Henrique Meirelles, já havia divulgado na última ata do Copom um “descompasso entre a oferta e a procura” projetado para o futuro. Isso poderia ocorrer caso não houvesse investimento para ampliar a oferta de bens a tempo de suprir o aumento da demanda, acarretando em desabastecimento e escalada da inflação. Mas não é isso que vem ocorrendo no país. Ao contrário.

Nos últimos anos, os investimentos estão crescendo em ritmo mais acelerado do que a demanda. De acordo com o IBGE, no ano passado o consumo da população aumentou 6,5% e os investimentos cresceram 13,4%. As compras de máquinas e equipamentos pelos setores público e privado foram ampliadas em 30% nos últimos três anos.

Para a CNI, o aumento das taxas de juros será um freio “desnecessário” ao crescimento da economia, inibindo os investimentos e reduzindo o consumo.Para a técnica do Procon-SP Renata Reis, “há fortes indícios de alinhamento de preços e, se isso se confirmar, as medidas do BC se revelarão inócuas”.

Hora do Povo

Rizzolo: Muito embora os números anunciam uma equidade entre o consumo e a produção, e o melhor indicador é o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) que recuou em fevereiro para 82,9%, contra os 83,1% registrados em janeiro, por conta do aumento dos investimentos, Meirelles a pedido dos especuladores internacionais, provavelmente não se ” convencerá” e tentará aumentar a taxa de juros agraciando ainda mais aqueles que especulam no Brasil.

Outro dia ouvindo uma palestra e depois conversando com o nobre economista Pochmann, dizia ele que na China a preocupação sempre foi combater a inflação aumentando a produção; se aumentarmos a produção e fortalecermos o mercado interno baseado em investimentos no setor produtivo, iremos gerar mais empregos e ao mesmo tempo combatermos a inflação. Agora Meirelles não tem o foco na produção, no investimento, na geração de emprego, mas sim em aumentar os juros para combater a inflação diminuindo a demanda, e favorecendo a banca internacional. Ora, precisamos crescer, necessitamos gerar no mínimo 4 milhões de empregos por ano. Assim não podemos continuar. Ou isso tudo é receio de um Brasil forte numa fase em que os EUA estão se enfraquecendo?

BC quer elevar juros para ver se derruba popularidade de Lula

Predadores da economia insistem em frear a produção e o consumo

Para manter os juros altos, Banco Central sacode o espantalho da inflação, mesmo quando não há risco inflacionário à vista

O Banco Central, na última reunião do Copom (Conselho de Política Monetária), pregou abertamente o aumento da taxa de juros. Já antes da divulgação da ata da reunião, conhecidos porta-vozes dos bancos na mídia haviam propugnado essa medida – fundamentalmente de freio ao crescimento econômico e ao emprego – como necessária para evitar isto ou aquilo. Ou, na linguagem esotérica da ata do Copom: “Um ajuste da taxa básica de juros contribuiria para reforçar a ancoragem das expectativas, não apenas para 2008, mas também no médio prazo, e para reduzir o descompasso entre as trajetórias da demanda e oferta agregadas”.

“Ancoragem” de que expectativas? Como é óbvio, navios ancorados não navegam. Todas as expectativas do país são de que a economia continue crescendo, criando empregos e aumentando a renda dos brasileiros. Portanto, o BC está claramente se arvorando em não permitir que a economia continue a navegar sem entraves artificiais, em não permitir que ela cresça – ou, pelo menos, em não permitir que ela cresça além do medíocre. Daí essa “ancoragem” pelos juros altos. Em suma, o BC está pregando o entrave, a obstrução da economia, em oposição ao objetivo declarado pelo presidente Lula um pouco antes de lançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): “desobstruir, desentravar a economia”.

Note-se que Meirelles e cia. não estão se referindo apenas a este ano, mas ao “médio prazo”, ou seja, ao restante do atual mandato presidencial. Quanto ao “descompasso entre as trajetórias da demanda e oferta agregadas”, lembremos mais algumas coisas.

O Brasil teve, em 2007, um crescimento de 5,42%, segundo o IBGE. O leitor deve se lembrar quando, em 2006, logo após a sua reeleição, o presidente Lula definiu que 5% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) era o mínimo que o país necessitaria a partir do ano seguinte (V. p. ex., nossa edição de 17/11/2006). Na época, o presidente foi chamado de, no mínimo, irresponsável e maluco, por ter dito que era preciso “deixar para trás essas taxas medíocres de crescimento”.

SABOTAGEM

Especialmente a diretoria do BC dedicou-se a sabotar a meta estabelecida pelo presidente. Segundo os luminares sob a chefia do sr. Meirelles, o Brasil só poderia crescer, no máximo, 3,5%. Caso contrário, seria a inflação e nada menos que o caos, pois, como é que a nossa economia iria alcançar um crescimento desses sem ir para o abismo? Houve, então, clamores pelo aumento da taxa de juros para “refrear o consumo”, berros sobre a catástrofe que viria se o povo gastasse – e, portanto, ganhasse – mais, e parece que não faltou quem culpasse a falta de moderação dos nordestinos na hora das refeições pelo desastre que se aproximava. Os coristas não eram muitos, mas eram um bocado barulhentos: do BC a filósofos e filósofas do coturno mental da senhorita Leitão (famosa pela genial descoberta de que “quanto mais o governo arrecada, mais ele gasta” e outros princípios igualmente geniais).

Não era a primeira vez, durante o mandato de Lula, que tal ocorrera. De novembro de 2003 até quase o final de 2004, o BC, pressionado pelo presidente e pela sociedade, foi obrigado a diminuir os juros reais básicos. O resultado foi um crescimento de 5,71% em 2004. Porém, logo depois, em meio a um charivari semelhante ao atual, os juros voltaram a subir. O resultado foram taxas de crescimento de 3,16% (2005) e 3,75% (2006) – ou seja, taxas em torno do “máximo” decretado pelas capacidades do BC.

No entanto, em 2007, a política do governo havia mudado. Passaram-se os meses e o ambiente econômico também mudou. Embora ainda no início de sua retomada, a ação do Estado foi suficiente para que o país ultrapassasse a meta de crescimento estabelecida. Como até o Meirelles deve ter notado, a inflação não explodiu e não houve hecatombe, exceto, talvez, a sua continuação na presidência do BC.

Uma economia como a brasileira, diante de uma política de desenvolvimento, reage rápida e positivamente. É preciso ter alguma substância esquisita na cabeça para acreditar que um país grande, abundante em riquezas naturais, e já relativamente desenvolvido, só pode crescer 3,5% ao ano, ou menos.

Seriam inexplicáveis tais crenças exóticas, se não fosse evidente que todo esse mal-ajambrado mafuá “econômico” tem apenas o rasteiro objetivo de manter os juros altos. Não é pelo risco de inflação que a diretoria do BC insiste nos juros altos. Pelo contrário. É para manter os juros altos que eles sacodem o espantalho da inflação, mesmo quando não há risco inflacionário à vista.

Da mesma forma, o limite máximo de 3,5% ao crescimento era somente um pretexto para manter os juros altos. Se o Brasil não pode crescer mais, o que fazer para que não cresça? Aumentar os juros, é claro. Mas porque ele não pode crescer mais do que isso? Porque, para que ele cresça, seria preciso não aumentar os juros, e é isso o que eles não querem fazer.

Hoje, não é para proteger o país da crise dos EUA que eles querem aumentar os juros. Se quisessem realmente, fariam o contrário: baixariam os juros para possibilitar ao país, como em outras crises da metrópole dominante, desenvolver-se, tornando-se mais independente, baseando o crescimento em nosso potencialmente grande mercado interno, substituindo importações pela produção nacional e dirigindo a poupança interna para a produção.

No entanto, como é exatamente isso o que não querem, já projetaram no futuro um “descompasso entre a oferta e a demanda”. É óbvio que, em qualquer processo de crescimento, se não há investimentos que possibilitem um aumento da oferta de bens, o aumento da procura (demanda) leva ao desabastecimento e, numa economia capitalista, à inflação.

No entanto, no Brasil os investimentos têm crescido mais rapidamente que a demanda de bens pela população. Em 2007, o consumo, segundo o IBGE, aumentou 6,5%, enquanto os investimentos cresceram 13,4%. Os investimentos públicos e privados em máquinas e equipamentos (ou seja, em ampliação da oferta) aumentaram 30% nos últimos três anos. A capacidade instalada da indústria, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), aumentou 7% em 2007 e a previsão é que se amplie em 11% ao final de 2008. Em relação ao PIB, houve um aumento de 15,9% (2005) para 17,6% (2007) na taxa de investimento (formação bruta de capital) da economia. A meta – que consta da “Política de Desenvolvimento Produtivo” que será lançada pelo governo – é aumentar essa taxa para 21% em 2010.

Além disso, as indústrias ainda mantêm uma folga de 15 a 17% de sua capacidade, que está ociosa, ou seja, ainda não está sendo usada para suprir a procura de mercadorias. Aliás, devido ao aumento da sua capacidade instalada, mesmo com o crescimento econômico, a capacidade ocupada pela produção mantém-se estável desde 2004, segundo os dados da FGV. A média da capacidade ocupada até diminuiu ligeiramente entre novembro de 2007 (83,7%) e fevereiro deste ano (83,3%). Segundo a FGV, os dados com ajuste sazonal (ou seja, expurgados de variações devidas à época do ano) têm trajetória semelhante.

Naturalmente, a evolução dos investimentos (ou seja, de ampliação da oferta) depende dos juros. Se eles aumentarem, evidentemente, isso não será um incentivo para que os empresários aumentem a oferta de produtos, pelo contrário. Portanto, o aumento de juros propagandeado pelo BC, além de refrear o consumo é uma forma de, também, restringir a oferta de mercadorias à população. Não se trata de combater qualquer descompasso entre oferta e procura, mas de golpear ambos. E tudo para manter os juros altos – ou seja, para beneficiar um ínfimo número de banqueiros, agiotas e predadores da economia.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: O texto é de uma ótima análise, não resta a menor dúvida que o BC não tem interesse em desenvolver a economia gerando um mercado interno cada vez mais robusto. Ao contrário, com a política perversa das altas taxas de juros, quer sim frear a economia beneficiando aqueles que transformaram o Brasil num grande Cassino, os especuladores. Não é possível que Meirelles e turma do Copom insistam nessa versão econômica arrasadora e que apregoa a financeirização da economia brasileira.

Na verdade, não acredito que a questão esteja em derrubar a popularidade de Lula, mas sim em perpetuar os altíssimos ganhos dos especuladores, o próprio Antônio Erminio de Moraes, um dos maiores empresários brasileiros já advertiu várias vezes sobre essa questão dos juros. Não podemos mais suportar essa enxurrada de dólares que entram via especulação e que desestabilizam o nosso câmbio, trazendo problemas na balança comercial. Hoje o pobre empresario nacional não consegue exportar face ao câmbio valorizado.

Não há dúvida que o crescimento implica em demanda, temos sim que aumentar a produção, para que possamos ter condições de oferta e equilibrar a produção e a demanda. Isso é sim é combater a inflação, aumentando a oferta, o desenvolvimento, a produção, e não ao contrário como assim querem os representantes da agiotagem internacional. Em todo o ano passado, o superávit comercial do país foi de US$ 40 bilhões, resultado de exportações de US$ 160,6 bilhões e importações de US$ 120,6 bilhões.

Para este ano, a previsão é que o saldo comercial caia 30%, para US$ 28 bilhões. Essa estimativa é do mais recente boletim Focus, pesquisa que o Banco Central realiza semanalmente com cerca de cem instituições financeiras sobre as projeções de diversos indicadores da economia brasileira.

Banco Central insiste na pista da direita

As bombásticas declarações de cunho heterodoxo do diretor gerente do FMI, Dominique Staruss-Kahn, levou os conservadores que apregoavam uma linha de austeridade econômica, a uma triste realidade às avessas. Simplesmente além de estarem fora de moda no ” cutting edge ” econômico internacional, seguem uma receita que há muito todos desconfiam errada; a do Consenso de Washington, a do Estado mínimo.

O caminho desgastado com ênfase na revisão do papel do Estado, no corte do gasto, no ajuste fiscal em em outras receitas de contenção, entrou definitivamente num ciclo de esgotamento. A receita heteroxa da maior potência econômica do mundo, com a preconização do aumento do gasto público para combater a recessão, ratifica o repensar a política econômica que os amantes do neoliberalismo representados pelo Copom e o BC insistem em mante-la, direcionando o investir no financeiro e na especulação face a altas taxas de juros, preterindo os investimentos na produção, dificultando as exportações, e e estrangulando o desenvolvimento do mercado interno.

Como que numa rodovia, insiste o BC brasileiro em andar na pista da direita, não acelerando, aumentando o tráfego, não deixando a economia fluir, represando o desenvolvimento sob a batuta dos velhos argumentos, como a inflação, e o aquecimento do mercado interno, esmerando-se na defesa apaixonante de teorias que nem os próprios inspiradores nelas não mais acreditam. Logo após a notícia sobre o novo posicionamento do FMI, rapidamente, como numa força tarefa, surgiram economistas conservadores fornecendo dados frágeis na tentativa de dar sustentabilidade na argumentação política – econômica de Meirelles, com alegações de toda sorte, como ” elevar os gastos talvez não seja idéia boa nem para os EUA”, ou então, ” poucos países em dificuldade teriam condições de ampliar fortemente seus gastos “.

O problema do Brasil é demanda superaquecida ” tentando enfim, todos, promover justificativas, para prosperar um “apóio” para a política recessiva implementada pelo BC. Pouco são os economistas com lucidez como Márcio Pochmann, presidente do IPEA, que já vinha há tempos defendendo políticas desenvolvimentistas baseadas na aceleração da economia, que hoje são chanceladas pelo próprio FMI, numa cabal demonstração que as instituições econômica multilaterais, optaram pelo paulatino abandono da cartilha neoliberal.

A verdade é que hoje, vivemos um ciclo de expansão da economia fundada nos investimentos. Temos, sim uma dívida pública de 43% a 44% do PIB (Produto Interno Bruto), por outro lado, essa dívida, também representa um crédito vez que esse dinheiro está em circulação. Como afirma Pochmann ” O nosso desafio para sustentar o crescimento, é fazer um deslocamento. Com cuidado, do que está hoje na ciranda financeira para o investimento produtivo “. Isso se faz reduzindo os juros, aumentando o mercado interno, e claro, propondo um estímulo fiscal responsável, para elevar a demanda agregada dando sustentabilidade ao consumo em fases críticas. Como apenas não é dão aos mortos o direito a mudar de idéia, talvez Meirelles, ou outro que o suceda, acelere a economia e passe enfim para a pista da esquerda. Conselhos não faltam…

Fernando Rizzolo

Copom mantém juros nas alturas e sem viés de baixa

Instinto de Lula não se enganou quando ele falou, com Meirelles presente, na reunião ministerial: “esta mesa aqui parece a Santa Ceia”

Disse o presidente Lula, na reunião do seu Ministério na quarta-feira, que “esta mesa aqui parece a Santa Ceia”. Mais uma vez não se enganou o instinto operário do nosso presidente. Veja, leitor, o que aconteceu.

Na tarde do mesmo dia, um dos participantes da reunião esgueirou-se em meio ao crepúsculo vespertino que anunciava a noite, lentamente encobrindo a capital da República, escoando-se sorrateiramente em direção ao Banco Central. Poucas horas depois, o Copom – isto é, a diretoria do BC – anunciou que a taxa básica de juros estava mantida em 11,25% e sem qualquer perspectiva (“viés”) de baixa. Pior ainda, foi a terceira vez seguida que os juros foram mantidos inalterados, sem que existisse qualquer razão para isso – e existindo todas as razões para baixá-los.

O elemento que se esgueirou da reunião do Ministério para a atmosfera crepuscular de Brasília foi o presidente do BC e do Copom, Henrique Meirelles.

INFORMANTE

Portanto, razão tem o nosso presidente. A reunião do Ministério foi uma verdadeira Santa Ceia. Não faltou nem mesmo um Judas Iscariotes. Dizem até que havia dois, se contarmos com o ministro da cultura alienígena, aliás, “globalizada”. Mas este, pelo menos, não proferiu mais um aforismo sobre o não-ser sendo um ser sem ser um não-ser sendo – notória especialidade filosófica que desenvolveu ao longo dos anos etéreos de sua existência.

Já Meirelles, na falta do ministro Mantega, acometido por um mal-estar odontológico, foi o informante da reunião. Conseguiu dar um informe sobre a crise americana e seus reflexos no Brasil em dez minutos. Dentro em breve ele conseguirá resumir a obra de Adam Smith em menos tempo ainda… Se é que ele ouviu falar nesse pensador escocês. Embora, pensando bem, 10 minutos de Meirelles devem ter sido muito mais do que a maioria dos ministros – e demais seres humanos – pode suportar sem que apareçam sinais premonitórios de convulsões e outros fenômenos desagradáveis.

Na reunião, Meirelles disse que não havia perigo para o Brasil na crise norte-americana, já que nossas exportações para aquele país são apenas 15% do total que vendemos no exterior. Em suma, parece ter repetido o que já havia dito alguns dias antes – a de que nosso crescimento está baseado no mercado interno, por isso a crise dos EUA não nos afetará.

Tudo isso é verdade – ou, pelo menos, tem tudo para ser verdade. Com o mercado interno que temos, uma crise nos EUA pode ser muito benéfica para o Brasil. A condição primordial para isso, naturalmente, é o aumento do poder aquisitivo da população, ou seja, o aumento do salário real e o aumento do crédito aos consumidores e às empresas. O que implica, evidentemente, na queda dos juros. Mercado significa, precisamente, gente que possa comprar mercadorias produzidas pelas empresas e, também, empresas que, para produzir, possam comprar mercadorias de outras empresas. Com os juros nos níveis atuais, boa parte, talvez a maior parte da população, ainda está fora do mercado – simplesmente porque não tem dinheiro para comprar nem mesmo produtos essenciais para uma vida civilizada.

Porém, Meirelles, depois de garantir ao presidente e aos ministros que o Brasil não será afetado, foi fazer jus aos trinta dinheiros – aliás, meio bilhão de dólares – que recebe do BankBoston. Na reunião do Copom, a taxa básica de juros brasileira, a Selic, foi mantida em patamares próximos ao pico do Monte Elbert, ponto mais alto das Montanhas Rochosas norte-americanas.

E os juros altos foram mantidos porque, segundo disse o Meirelles do BC, ao contrário do que disse o Meirelles do Ministério, “o Brasil não está imune à crise”. Realmente, mantendo os juros no espaço, não está mesmo.

Interessante que o banco central dos EUA, o FED – instituição privada mantida pelos monopólios financeiros dos EUA – acaba de baixar os juros em 0,75 pontos percentuais. Antes disso, já havia baixado os juros em setembro, outubro e dezembro. Ou seja, se o problema fosse manter uma taxa “atrativa” para o capital especulativo forâneo, Meirelles poderia baixar os nossos juros e ainda manter essa “atratividade”. Mas é óbvio que o problema dele não é só manter uma taxa “atrativa” para os especuladores externos, e sim encher os cofres deles com o máximo de recursos do nosso país que seja possível. Daí a manutenção dos juros em 11,25%.

A crise norte-americana é uma oportunidade do Brasil crescer de forma mais desimpedida. Aliás, sempre foi assim em todas as crises econômicas nos países centrais, quando o país foi governado a partir de dentro do Brasil e não a partir de fora. Manter os juros altos agora é o sinal para que os especuladores de outras bandas do planeta, em especial Wall Street e adjacências, saqueiem o nosso país para tentar cobrir seus prejuízos.

Ao mesmo tempo, os juros altos restringem o mercado interno, questão que se torna aguda no momento em que é provável uma diminuição em nosso saldo comercial (exportações menos importações). Por isso, a queda dos juros, o aumento do crédito, é essencial para as empresas, para a população e, portanto, para o país. Mantê-los altos é importar a crise dos EUA em troca de exportar dinheiro para lá.

Os juros altos, portanto, restringem o mercado, restringem a produção – e com isso a capacidade do país se desenvolver com a crise dos países centrais, que é também uma crise de sua dominação econômica sobre os países periféricos.

Mas, segundo Meirelles, “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés. O Comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.

FIGUEIRA

A inflação entrou aí – já que o presidente falou em Santa Ceia – como Pilatos no credo. Não há nenhuma ameaça de surto inflacionário. E, mesmo que houvesse, só os cabeças de bagre do Copom é que acham – se é que acham – que a solução para a inflação é aumentar os juros, isto é, deixar todo mundo sem dinheiro, exceto meia dúzia de bancos e monopólios privados, em geral externos.

Quanto ao resto da macro-bobagem acima citada, não é novidade perceber que todo Judas é um vigarista – e há alguns que são, mesmo, macro-vigaristas. Porém, não é todo Judas que tem a decência de se enforcar na primeira figueira à beira da estrada. Como não temos a pretensão de ser Jesus Cristo, é preciso botá-los fora da Santa Ceia para que o país não seja crucificado, morto e sepultado.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: Fica claro que se temos que fortalecer o mercado interno para blindarmos ainda mais nossa economia, a manutenção das taxas de juros não faz sentido; até porque não existe um perigo eminente de inflação. Também fica patente provável possibilidade da queda dos preços das commodities, o que justificaria também um aquecimento maior do mercado interno. Assim sendo, a quem interessaria as taxas de juros nesse patamar? A resposta é: aos especuladores internacionais, ao dinheiro nervoso, do ganho rápido, que não é investido na produção e que não gera desenvolvimento, emprego, robustez econômica.

Outro fator de defesa da economia brasileira e que vem corroborar as justificativas contra a manutenção destas taxas, são as reservas internacionais – US$ 185,024 bilhões até o dia 18, conseqüência dos saldos comerciais elevados que o país gerou desde 2003. Essas reservas poderão ser usadas pelo governo, para defender o real e evitar fortes e bruscas desvalorizações originadas de um colapso de capitais internacionais para o país, caso isso venha a ocorrer. Isso neutralizará possíveis riscos de reaceleração inflacionária, evitando que o Banco Central eleve a taxa de juros o que provocaria uma retração econômica. Agora, realmente foi a reunião do Ministério foi uma verdadeira Santa Ceia. Não faltou nem mesmo um Judas Iscariotes, e o sacrificado, se continuar prevalecendo essa política de Cassino, vai ser mais uma vez o povo brasileiro.

A preocupação é maior do que o corte de juros

Uma das características da atual crise americana que se iniciou com a questão dos ” subprimes”, é o fator confiança. A profundidade da eventual recessão americana é que o mercado se questiona. A obscuridade do problema face aos mercados globalizados, leva os investidores a uma análise, a meu, ver perfunctória da realidade, que pode ser maior ou menor do que tende a aparentar.

O mercado teme que a medida emergencial do banco central americano (BC) de cortar os juros básicos no país em 0,75 ponto porcentual, para 3,5% ao ano, não seja suficiente para estimular o sentimento em meio aos temores crescentes de recessão nos EUA e o tombo das bolsas européias e asiáticas nos últimos dois dias.

Não resta a menor dúvida que o problema é grave na medida em que difícil é mensurar ou quantificar a extensão da questão econômica americana. Além disso é importante salientar que a China possui uma boa quantidade dos chamados ” títulos podres” e que de certa forma também sera afetada pela crise.

Quando o Fed concretizou as apostas do mercado, deixou transparecer sua preocupação com a saúde da economia norte-americana. “O comitê tomou esta ação à luz do cenário de enfraquecimento econômico e aumento dos riscos de baixa para o crescimento”, disse o Comitê de Mercado Aberto do Fed, em comunicado. Isso fez com que o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York abrisse o pregão em forte queda, ontem.

Na Europa, o comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da União Européia, Joaquin Almunia, declarou que retração dos EUA não deve atingir diretamente o crescimento da zona do euro. Ele admitiu que a queda nas bolsas européias ontem mostrara “que os mercados estão considerando a possibilidade de uma desaceleração mais pronunciada, possivelmente, uma recessão, nos EUA”. Entretanto, disse, a UE não está tão vulnerável quanto no passado. “No passado, nossas economias eram mais dependentes da dos EUA”, disse Almunia.

No Brasil poderá haver um impacto sobre o preço das commodities, devido ao esperado enfraquecimento da economia global, e isso não seria nada bom face ao fato da nossa economia não deter uma produção de manufaturados estruturada, sendo vulnerável e dependente dos preços das mesmas, contudo, o que mais afetaria seria as exportações, o que seria compensado exatamente com investimentos de estrangeiros e brasileiros que estão interessados no aquecido mercado consumidor doméstico, que cresce a taxa superior a 10%. A primeira amostra disso deu-se ontem, após acumular perdas de quase 16%, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) ganhou força e descolou das Bolsas americanas, sua principal referência externa. Vamos ver no que vai dar daqui para frente.

Fernando Rizzolo

IEDI: “a última coisa que o BC deveria fazer é elevar os juros”

Incentivar o mercado interno é a melhor política a ser adotada diante da crise dos Estados Unidos

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou na segunda-feira com uma queda de 6,6%, em 53.709 pontos, mesmo dia em que também foram registradas expressivas quedas nas bolsas européias e asiáticas. O pano de fundo, obviamente, é a grave crise em que se encontra a economia norte-americana. Como a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, os defensores dos juros altos já saíram defendendo a elevação da taxa básica de juros para supostamente enfrentar possíveis turbulências externas.

Além dos analistas da mídia antidemocrática, o boletim Focus – que o BC divulga semanalmente com uma pesquisa com representantes do sistema financeiro e que serve de parâmetro para as decisões do Copom – aumentou sua projeção da taxa Selic para 11,25%, contra 11,13% feita anteriormente. O presidente do BC, Henrique Meirelles, sinalizou que poderá adotar medidas preventivas, que têm se traduzido nos juros siderais ao longo anos. “Não temos ilusão de que o Brasil está imune à crise, mas entendemos que estamos mais preparados”, disse.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em sua análise intitulada ”A crise e os mecanismos de defesa da economia brasileira”, defende que o país está em condições de se proteger contra efeitos negativos de crises provenientes do exterior. O primeiro fator está no fato de que nos últimos anos a economia brasileira “apoiou-se muito mais no mercado interno do que no mercado externo, o que reduz o impacto de uma retração de volumes e preços de exportações devido à retração da economia mundial”. É isso, diz o Iedi, que “torna maior o alcance de políticas de incentivo ao mercado interno através do crédito, por exemplo, que poderão ser adotadas caso o quadro internacional se agrave e ameace levar à retração a economia doméstica”.

MENOS JUROS

Ampliar o crédito para fortalecer o mercado interno significa ter que reduzir os juros, como, aliás, defende o Instituto: “A última coisa que o Banco Central deveria fazer no presente momento da economia nacional e internacional seria elevar a taxa de juros”. Até porque, ao contrário do pretexto usado por Meirelles, não “serviria para o controle da inflação”.

RESERVAS

Outro fator de defesa da economia brasileira destacado pelo Iedi são as reservas internacionais – US$ 185,024 bilhões até o dia 18 -, “conseqüência dos saldos comerciais elevados que o país gerou desde 2003”. Essas reservas poderão ser usadas pelo governo, argumenta o Iedi, “para defender o real e evitar fortes e bruscas desvalorizações originadas de um colapso de capitais internacionais para o país, caso isso venha a ocorrer. Isso neutralizará possíveis riscos de reaceleração inflacionária, evitando que o Banco Central eleve a taxa de juros o que provocaria uma retração econômica”.

Nesse aspecto, cabe destacar a política adotada pelo governo Lula em diversificar o comércio exterior brasileiro, em especial a de fortalecimento do Mercosul. Assim, de um saldo negativo de US$ 999.243 no comércio com os países do bloco em 2003, o Brasil saltou para um superávit de US$ 5,723 bilhões no ano passado.

Para o Iedi, tanto o incentivo do mercado interno, através de crédito, quanto a utilização das reservas para uma eventual defesa do real, “se bem manejados pela política econômica, assegurarão um crescimento razoável em 2008, mesmo levando-se em conta as adversidades externas. O governo não deve hesitar em usar esses mecanismos para a defesa da economia real”.

O Iedi considera que a turbulência ocorrida nas bolsas no sistema financeiro ocorrida no dia 21 “não reflete de fato nenhum evento novo. Sua causa última são os problemas da economia americana originados da crise do mercado de crédito imobiliário desse país. A maior instabilidade foi detonada pelo impacto negativo dos enormes prejuízos acumulados pelas instituições financeiras, sediadas principalmente nos EUA, que agora, seis meses após o início da crise, vieram a público com a divulgação dos resultados do último trimestre de 2007”.

VALDO ALBUQUERQUE

Rizzolo: Ao analisarmos as declarações do Meirelles, observamos que desde já ensaia um aumento das taxas de juros, o que seria uma atitude deplorável. Temos um mercado interno aquecido mas que não justifica uma aumento das taxas de juros, muito pelo contrário, devemos sim aumentar o mercado interno para que possamos blindar ainda mais nossa economia através de crédito. Ademais, com as taxas de juros altas, atraímos especuladores que inundam o mercado com dólares mantendo o real valorizado, e por conseqüência uma dificultando as exportações.

Quanto a utilização das reservas para uma eventual defesa do real, acredito ser um instrumento a ser usado numa situação emergencial, com isso, evitaríamos fortes e bruscas desvalorizações originadas de um colapso de capitais internacionais para o país. É na realidade um instrumento de controle cambial. Isso neutralizará possíveis riscos de reacelerarão inflacionária, evitando que o Banco Central eleve a taxa de juros o que provocaria uma retração econômica.

As taxas de juros e a crise americana

Antigamente dizia-se que “quando os EUA tosse, o mundo fica doente “, indubitavelmente, a irresponsável crise dos subprimes nos EUA, afetará de uma forma ou de outra a economia mundial. Muitos são os sinais de uma recessão na América, contudo, o panorama econômico mundial tende a estar menos descompensado, face ao desenvolvimento dos mercados da China e da Índia. Até mesmo a Rússia, vive um período de prosperidade face ao preço do petróleo. A origem da crise americana, é a desregulamentação do setor financeiro dos EUA, cujos bancos a seu bel prazer, criaram veículos tão complexos e deliberadamente obscuros – todos concebidos para gerar lucro em cada operação de ” swap” ( troca de indexadores), que perderam há tempos a referência do valor real dos papéis. Fica claro, que a velha Lei de Mercado de Capitais, criada na época de Roosevelt para regulamentar as atividades dos bancos deveria ser reeditada.

O receituário para que se possa ” blindar ” a economia, são vários, e partem de diferentes opiniões, muitas delas ortodoxas e conservadoras. Mas o principal problema é desvendar o que ocorre na economia brasileira hoje, e termos a visão e a sensibilidade, para analisarmos os movimentos econômicos de outros países. Com efeito, um dos problemas da nossa economia, é a taxa de juros, que ainda é extremamente elevada, muito embora tenha declinado.

Outra questão preocupante, é o crescimento das Despesas Correntes da União, cujo aumento não se deve aos gastos com o social ou pessoal, e sim com as despesas com juros e encargos da dívida. A dívida pública federal interna, em valores reais, foi multiplicada por sete, entre 1995 e 2006, e claro, são remuneradas com as taxas estratosféricas de juros, aplicado no “Cassino Brasil”. Aliás, esse fator produz sim, um aumento da carga tributária, fazendo com que promova-se, superavit primários elevadíssimos. O governo central tem hoje um superávit primário em 12 meses de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) que poderia ser deduzido dos investimentos federais previstos no Projeto Piloto de Investimentos (PPI). Com isso, a meta de superávit do governo central para este ano seria de 1,7% do PIB.

Na verdade, os juros nesse patamar, impedem a exportação face ao câmbio hiper valorizado, alem disso, de nada adianta políticas de viabilidade setorial, para suprir as dificuldades de exportação de manufaturados. Temos que impulsionar o mercado interno, declinando as taxas de juros, aumentando as exportações, e por conseqüência, isso faria com que o câmbio pare de se valorizar gradativamente. Hoje o que nos sustenta em termos de câmbio, são os altos preços das commodities, mas isso não é saudável.

Não podemos ser apenas produtores de matérias-primas, precisamos deslanchar as exportações de manufaturados, e isso, evidentemente, tem muito a ver com taxas de juros e cambio. Fica patente que a autonomia do Banco Central é extremamente prejudicial, vez que engessa o poder decisório do Executivo, que já há muito tempo sabe o quanto perverso é, o patamar das taxas ditadas pelo pessoal do Copom sob a batuta de Meirelles. Mas não tem correlação de forças para intervir.

Fernando Rizzolo

Meirelles defende ‘lucro justo’ dos banqueiros cevados pelo juro alto

“É importante mencionar que os lucros dos bancos estão menores relativamente às grandes empresas”, disse o presidente do BC na Câmara

Com a explanação e as “respostas” do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na audiência pública na Câmara dos Deputados, dia 30, ficamos sabendo que os resultados alcançados pela economia brasileira se deram em função dos juros estratosféricos. O aumento do PIB, as exportações, a recuperação do salário mínimo, a expansão dos investimentos e do crédito consignado, a desoneração da indústria da construção civil foram devidamente capitalizadas como resultantes da política monetária. Só faltou creditar ao Banco Central a decisão do presidente Lula em destravar a economia.

O fato de o Banco Central não ter nada a ver com essas medidas não tem a menor importância. O essencial é que as “ações normativas de caráter preventivo e prudencial”, disse Meirelles, “estão contribuindo para o crescimento de nossa economia”. Prudencial porque “o BC tem uma ação preventiva e não reativa”. Isso para justificar os juros altos – como interromper o processo de queda da Selic na última reunião do Copom – para prevenir um hipotético descontrole inflacionário lá na frente, já que “os méritos das decisões tomadas atualmente deverão ser avaliadas no segundo semestre de 2008 e em 2009”.

Além de tomar para si os méritos de outros, o que chamou a atenção foi o esforço para fugir das perguntas feitas pelos parlamentares. Ao questionamento do deputado Renato Mollins (PP-RS), por exemplo, sobre a influência dos juros altos e da isenção de pagamento de IR aos especuladores com títulos públicos na sobrevalorização cambial, respondeu que a referida isenção não era de alçada do BC e que encaminharia às autoridades fazendárias as reivindicações feitas pelos deputados sobre o tema. Os juros altos, certamente não tem nada a ver sobre o assunto.

Sobre o fato do aumento das reservas internacionais estarem provocando um endividamento maior – emissão de títulos vinculados à Selic (atualmente em 11,25% ao ano) para compra de dólares que compõem as reservas, enquanto estas são aplicadas em títulos norte-americanos que pagam 4,5% ao ano – a resposta foi um primor e, sem exagero, tropeçando nas palavras . “O custo de captação interna é maior do que o custo [???], é verdade. Agora, o ganho se dá não só sobre essa parcela, mas sobre a parcela geral. Por exemplo, a reserva é cerca de 160 bilhões de dólares, a dívida do governo como um todo é mais de 1 trilhão de dólares. Então, o que acontece, o benefício é sobre a dívida como um todo”. Nem Rolando Lero seria capaz dessa clareza.

CRIME

Pergunta do deputado João Leão (PP-BA): “Quando o sr. vai chamar os universitários? Quando digo universitários é a Polícia Federal, porque os juros no Brasil hoje é crime. Onde está a lei de usura, que padrão tem o Banco Central de limite de juro máximo, existe ou não existe, ou vamos ter que votar um projeto de uma agência que regule os bancos?”, ao que Meirelles retrucou que limite de juros “é uma questão legislativa. Taxas de juros não são tabeladas no Brasil”. E recomendou que em caso de “comportamento abusivo” dos bancos as pessoas devem reclamar ao bispo, quer dizer, ao Procon.

“Existe um aumento da lucratividade dos bancos. Os bancos têm tido resultados bons, mas os das empresas são bem maiores. Os ganhos da massa salarial estão muito forte. Em resumo: todo o país vai bem. É importante mencionar que os lucros dos bancos estão menores relativamente às grandes empresas, comparado com o passado”, disse Meirelles, sentenciando a seguir: “A melhor maneira de assegurar o melhor serviço ao consumidor e os lucros adequados, justos, nem excessivos, nem insuficientes, é competição, transparência”. Só que o processo de concentração/desnacionalização do setor bancário – sob os auspícios do BC desde os tempos do Proer e do Proes – é exatamente o que impede a competição. Basta ver o nível do spread e as tarifas extorsivas. É risível, pra dizer o mínimo, alguém acreditar que transparência é que vai garantir o “lucro justo” dos bancos, os maiores beneficiários dos juros escorchantes vigentes no país.

Por isso, nada mais adequadas do que a pergunta e a fundamentação do deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE): “O presidente poderia nos citar qual é a literatura, quais são as teses acadêmicas, quais são as resoluções internacionais que afirmam, justificam e defendem que o papel primário do Tesouro Nacional é financiar a acumulação privada na esfera financeira?”, indagou o parlamentar pernambucano.

Para o deputado, “quando se fala dos impactos fiscais das políticas monetária, creditícia e cambial sempre os aspectos negativos são justificados sobre conjunto dos outros fatores. 2005: o Programa de Desenvolvimento da Educação Infantil teve o orçamento aprovado pelo Congresso em R$ 16.629.600, mas só foram executados naquele exercício R$ 2.580.000, certamente como conseqüência das restrições fiscais, do contingenciamento e da meta do superávit primário. Para o Desenvolvimento do Ensino Médio foram previstos R$ 369.292.700, mas só foram executados R$ 196.000.000. Em 2006, para Educação na Primeira Infância: R$ 27.900.000; só foram executados R$ 1.700.000. Desenvolvimento do Ensino Médio: R$ 107.000.000; só foram executados R$ 39.000.000. Em 2007, Desenvolvimento do Ensino Médio, dados de outubro do Siafi: R$ 162.870.000; Só foram executados R$ 21.547.000. Educação na Primeira Infância, aprovado na lei orçamentária R$ 132.000.000 e executados R$ 261.000”.

Citando dados de relatórios do Tesouro Nacional de 2002, concluiu dizendo “que o montante de títulos cujos vencimentos eram de 12 anos, de agosto a agosto de 2003, chegou a R$ 240,41 bilhões, saltou em 2003 para R$ 393,230 bilhões, chegando em 2007 a R$ 902,750 bilhões nos três primeiros anos de vencimento desse estoque. Quero dizer que nós temos questões primárias, não de natureza do superávit ou de gestão das contas, mas de natureza conceitual. Nós continuamos tratando o Tesouro Nacional em primeiro lugar como fonte de financiamento da acumulação de quem já tem excedente no país”.

Respondendo sobre o impacto nos juros, na dívida pública e no emprego uma eventual não aprovação da CPMF, Meirelles asseverou que “se eliminarmos uma receita, teríamos que eliminar uma fonte importante de despesas”. Poderia se pensar que o corte de despesas se daria nos juros. Mas, vaticinou o presidente do BC: “Teremos o crescimento da dívida pública e o crescimento dos juros” – juros esses, como se sabe, o remédio para todos os males, até a um suposto boicote às verbas da saúde e de programas sociais.

VALDO ALBUQUERQUE
Hora do Povo

Rizzolo:A mais difícil tarefa do Advogado é defender o indefensável. Não resta a menor dúvida que o camarada Meirelles dribla as respostas, inverte as argumentações, dá um conteúdo numérico para emprestar legitimidade ao que fala, mas na verdade, nada justifica os juros estratosféricos a não ser “empacar” a economia a mando dos especuladores que vêem no Brasil um maravilhoso Cassino. Ao invés de prestigiarmos a produção, a indústria nacional, estamos a pretexto dos velhos inimigos como a inflação, a demanda, segurados pelo BC e em última instancia pelo COPOM, que pra mim é um tipo de Febraban. Enquanto isso, os lucros dos bancos explodem, e nos resta apenas ouvir explicações na defesa do indefensável. É a roupagem de socialista no palanque, com o servilismo ao capital. Já não vejo diferença entre o PT de Lula e o PSDB, e vou mais longe, até acredito que muitos Tucanos, não iriam tão longe nessa promiscuidade político financeiro, ou banqueira, como quiserem.

Meirelles volta a sabotar esforço pelo crescimento travando queda da taxa de juros

O Copom decidiu interromper a queda dos juros básicos mantendo a taxa em 11,25% ao ano. Para os empresários a decisão foi “danosa” e “pode comprometer o ritmo de crescimento da economia”. Para o presidente da CUT, Artur Henrique, a decisão “não facilita o crescimento econômico e não contribui para a criação de empregos”.

BC interrompe queda dos juros e afronta esforço pelo crescimento

Contrariando o conjunto da nação, Copom decide, por unanimidade,
manter a taxa Selic em 11,25%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central in-terrompeu dois anos de queda dos juros básicos (Selic) e decidiu nesta quarta-feira, por unanimidade, manter a taxa em 11,25% ao ano. Com isso, o titular do BC, Henrique Meirelles, põe em risco os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de garantir o crescimento da economia na casa dos 5%. De acordo com o IBGE, o PIB cresceu 5,4% no segundo trimestre em comparação ao mesmo período de 2006, e 4,9% no primeiro semestre sobre os primeiros seis meses do ano passado.

Conforme análise do economista chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, os indicadores da economia não justificam a decisão do Copom, que poderá comprometer a continuidade dos investimentos dos setores produtivos. “É uma decisão desnecessária diante de uma série de informações positivas da economia; a inflação está sob controle a não há sinais de superaquecimento. A partir de agora, os empresários vão ficar mais receosos, vão parar para pensar em fazer novos investimentos”, afirmou Edgard.

A decisão tomada por unanimidade também foi destacada pelo economista do Iedi. “A decisão unânime é uma sinalização forte de que até o início do próximo ano essa política não vai mudar. É uma sinalização ruim, principalmente porque a decisão foi unânime. Isso mostra que o BC está preocupado com o aquecimento da economia. Eu acredito agora que os empresários vão limitar os investimentos”.

Em nota de duas linhas, o BC afirma que após avaliar “a conjuntura macroeconômica”, o Copom decidiu “fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária”, ou seja, uma pausa no crescimento do país. “Os efeitos serão sentidos ao longo do ano que vem”, declarou Edgard Pereira. “Pode comprometer o ritmo de crescimento da economia. Começa a ficar mais difícil a manutenção [de crescimento de 5% ao ano] pela forma como a decisão foi tomada, por unanimidade. É uma indicação de desaquecimento da economia”.

Quanto à produção industrial, que vem acumulando altas sucessivas – 6,8% no segundo trimestre e 4,9% no primeiro semestre, segundo o IBGE -, “o efeito será heterogêneo”, afirma Pereira. “Existem setores que estão crescendo forte. Os setores que estão crescendo pouco são os mais voltados para o mercado interno, de produtos com menor valor agregado. Esses poderão ser os mais penalizados”.

Em relação aos juros reais (descontada a inflação), com a decisão do Copom, o Brasil continua sustentando a segunda colocação do ranking mundial, atrás da Turquia. Considerando que o IPCA dos últimos 12 meses encerrados em setembro foi de 4,20%, os juros reais ficam em 6,8% ao ano. Pesquisa realizada pela consultoria “Up Trend”, usando como base informações de 40 países, mostra que a Turquia mantém a primeira colocação com juros reais de 9% ao ano. O Brasil está longe do terceiro posto, dividido entre Austrália, Israel, Inglaterra e Filipinas, em torno de 4%. “Uma taxa acima de 5% é ruim, não tem efeito expansivo para a economia”, diz Jason Vieira, economista chefe da “Up Trend”.

A interrupção da queda dos juros também influencia diretamente na taxa de câmbio, prejudicando as exportações. Além de elevar o endividamento das famílias, os juros altos impedem a formação do crédito de longo prazo. Os únicos beneficiados com a política do BC de travar a queda da Selic são os bancos e agiotas estrangeiros, que invadem o país com o propósito exclusivo de multiplicar seus dólares, sem nenhum compromisso com investimentos que façam o país crescer.

FREIO

Como havia declarado o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, na véspera da decisão do Copom, “se puxar o freio de mão, o carro pode capotar. Deixa o carro andar”. O ministro, que assim como todos os brasileiros comprometidos com o país esperava a continuidade da queda dos juros, havia destacado que a trajetória de queda da Selic nos últimos dois anos contribuiu para a expansão dos investimentos da indústria, resultando no aumento da geração de emprego com carteira assinada: “A economia está sob controle, a inflação está abaixo das projeções e as empresas estão investindo pesado em todos os setores da economia nacional”, declarou Lupi.

LUIZ ROCHA
Hora do Povo

Rizzolo: A política econômica do BC ditada pelo Copom, insistindo em manter o nível da taxa básica de juros (selic) na estratosfera, sustentando a segunda colocação do ranking mundial, atrás da Turquia, faz com que o “Cassino Brasil” atraia cada vez mais, capital internacional especulativo fazendo com que a cotação do dólar caia. Isso na verdade faz com que as exportações despenquem e em contrapartida, aumentemos as importações financiando empregos no exterior.

Fica patente que no país da especulação, não há interesse no investimento em produção, em geração de emprego, muito pelo contrário, alguns segmentos como de calçados e outros, sentem a dificuldade em exportar em face a um real fortalecido. É claro que a indústria nacional sofre, com essa política que beneficia sim, as multinacionais que vêem a oportunidade cada vez maior de fazer suas vultuosas remessas de lucros e dividendos em dólar e ainda, sem pagar imposto de renda ao povo brasileiro. O lucro já ocorre, de imediato, com a própria conversão das moedas, antes mesmo de que com a atividade especulativa em si, seja com títulos públicos, seja na Bolsa, uma verdadeira vergonha, num país pobre que precisa gerar quatro milhões de empregos por ano aos jovens que ingressam no mercado de trabalho, e aos que perdem seus empregos.

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