Lugo fará sessões de quimioterapia contra linfoma em SP

BRASÍLIA – Diagnosticado com um linfoma, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, de 59 anos, desembarca nesta terça-feira (10) pela manhã em São Paulo onde vai se submeter a sessões de quimioterapia.

Apesar do tratamento, Lugo planeja adequar a agenda política ao tratamento de combate ao câncer. A ideia é que as sessões sejam realizadas nos fins de semana para que nos demais dias os compromissos de governo permaneçam inalterados.

Lugo será submetido a exames amanhã no Hospital Sírio-Libanês. O especialista brasileiro Frederic Costa será o responsável pelo tratamento de Lugo. O presidente estará acompanhado pelos médicos pessoais Nestor Martinez e Alfredo Boccia.

Boccia confirmou que o câncer do presidente está em um estado mais avançado do que o anunciado inicialmente. Porém, os exames em São Paulo é que vão “fechar o processo de diagnóstico”, disse o médico.

As informações são da Presidência da República do Paraguai. O ministro da Informação e Comunicação para o Desenvolvimento e porta-voz da Presidência, Augusto dos Santos, disse que a previsão inicial é que as sessões ocorrão a cada mês, durante um dia e meio. Mas ele admitiu que esta previsão pode ser modificada conforme as indicações médicas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu o avião Legacy da Força Aérea Brasileira (FAB) e todo o apoio que Lugo necessitar. Mas, de acordo com Santos, o governo paraguaio vai arcar com todos os custos da viagem apesar da “atitude de solidariedade absoluta” do governo brasileiro. “Ele está muito otimista e isso tem a ver com sua formação espiritual. Ele próprio tentou dar incentivo a todas as pessoas ao seu redor “, disse Santos.

No último dia 4, Lugo foi submetido a uma cirurgia de emergência para a retirada de um gânglio na virilha. O câncer foi descoberto após um check-up de rotina. A previsão é que ele permaneça dois dias em São Paulo.
DCI
Rizzolo: É este tipo de solidariedade que alguns condenam e não gostam no presidente Lula para com os vizinhos da América Latina, independentemente de questões de saúde ,temos que manter um relacionamento fraterno com todos. Bonita postura do governo brasileiro.

Esquerda da América Latina festeja posse de Lugo no Paraguai

ASSUNÇÃO – O ex-bispo Fernando Lugo toma posse na sexta-feira como presidente do Paraguai, numa cerimônia que terá a presença dos principais líderes esquerdistas da América Latina.

Lugo, cuja formação política está ligada à Teologia da Libertação e à luta dos sem-terra, encerrou 61 anos de hegemonia política do Partido Colorado ao ser eleito presidente, em abril, com 40 por cento dos votos.

Na véspera da posse, milhares de seguidores foram a um ginásio da capital para ver um discurso em que ele prometeu não elevar o próprio salário.

“Assim que Lugo começar a mudar as coisas os ataques vão começar. Mas graças a Deus temos o apoio do nosso povo. Novos ventos estão soprando na América Latina, que realmente vive uma nova era”, disse o presidente esquerdista do Equador, Rafael Correa, ao desembarcar em Assunção na quinta-feira.

O boliviano Evo Morales declarou que Lugo é um “irmão” que faz parte das transformações na região. O venezuelano Hugo Chávez, outro expoente da esquerda latino-americana, também deve assistir à posse.

Embora Lugo prometa governar para os pobres, ele se diferencia de Chávez e aliados por adotar um tom mais conciliador em relação à iniciativa privada e por prometer menos intervenção estatal na economia.

O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e a argentina Cristina Kirchner também devem comparecer à cerimônia. Já os presidentes mais conservadores da região –Alan García (Peru), Álvaro Uribe (Colômbia) e Felipe Calderón (México)– devem apenas enviar representantes.

Para permitir a posse de Lugo, o Vaticano aceitou com relutância revogar o seu “estado clerical”.

Eleito com 40 por cento dos votos em turno único, Lugo chega ao poder cercado por grandes expectativas, mas terá de enfrentar enormes desafios –especialmente a corrupção, endêmica no país.

O problema é tão grave que Lugo diz ter tido dificuldades em encontrar um diretor de alfândegas, epicentro da indústria paraguaia do contrabando. Uma pessoa convidada para o cargo sofreu ameaças de morte, segundo o novo presidente.

O Nobel de Economia norte-americano Jospeh Stiglitz dá consultoria ao novo governo e sugeriu a Lugo que taxe as exportações de soja e carne em 15 por cento, para melhorar a arrecadação fiscal.
Agência Estado

Rizzolo: Às vezes fico realmente em dúvida se estes governos que se dizem de “esquerda”, usam o dialeto esquerdista para tomar o poder para que depois acabem sorrindo para a direita, ou se no fundo, tudo isso é não uma tática marxista. Tomam o poder a estratégica ” violino”, ou seja, “tomam com a esquerda, e tocam com a direita”, o problema são os grupos que circundam estes governos de esquerda, que evidentemente começam a cobrar posições, como no caso brasileiro.

A verdade é que existe na América Latina um certo ” ar charmoso” bem latino, coisa antiga da década de 50,de que ser de esquerda é ” chique”. Detesto radicalismos, já li toda obra de Marx, durante anos ” O Capital” e outros, foram meus livros de cabeceira, coisa que muito comunista nunca fez, li tudo sobre Leon Davidovtich Trostsky, fiz uma incursão também ao trotskismo, coisa que muito comunista também nunca fez, estive nas favelas da Venezuela e fui um dos primeiros brasileiros a ser convidado a conhecer o que é o chavismo, oportunidade e convite que muitos dos que apóiam Chavez nunca foram ou receberam.

Hoje não me considero nem de direita tampouco de esquerda, sou racional, frio, sigo a uma lógica judaica de enxergar o mundo. Defendo os EUA? Sim, em muitas coisas, nem todas. Existe algo de bom nos governos de esquerda? Sim, nem tudo. Racionalismo, lógica, discernimento, desapego, cultura, só assim a esquerda e a direita brasileira e da América Latina vão crescer. O resto é pura bobagem, o resto é seguir os outros que estão completamente perdidos do ponto de vista ideológico.

Abraços caros ou caros abraços ?

A euforia tomou conta da rua, como ocorreu na Venezuela, no Equador, na Bolívia, e Argentina. O Paraguai festeja o novo presidente Fernando Lugo, a América Latina se regozija de estar caminhando para uma linguagem comum, ou seja, os presidentes com a cara do povo. A esquerda brasileira aplaude, palmas para o novo membro, o presidente Lula se antecipa e diz que Fernando Lugo não é esquerdista, e ainda com euforia da vitória no peito, logo pela de manhã, o novo presidente – não esquerdista do Paraguai- acorda e num primeiro gesto de cumplicidade liga para seu amigo Evo Morales.

Na correnteza da nova modalidade e discurso de massas, o governo brasileiro sempre se identificou com os “governos socialmente comprometidos”, até porque para Chavez e Morales não há a menor dúvida que Lula é o companheiro do Brasil. Nem daria para não ser diferente, o conceito político na sua essência, é o mesmo; a única maior diferença no Brasil, é a aliança existente com o capital, para sedimentar e dar governabilidade ao modelo de cunho socialista, ou progressista se quiserem. Chavez não leva desaforo e jamais seria amigo de quem imaginaria uma traição, para o presidente Venezuelano, para Morales o líder Boliviano, para o companheiro do Equador, não passa pelas suas cabeças que Lula os decepcionasse.

A medida em que os “laços bolivarianos” de irmandade se consolidavam, os problemas começaram a aparecer, o primeiro deles foi a questão do gás da Bolívia. Morales sem pestanejar veio e cobrou do Brasil, fez o que quis porque sabia que jamais iríamos decepciona-lo, afinal, Chavez ficaria profundamente indignado e magoado. A posição pacífica adotada pelo Brasil para solucionar a questão foi boa. Não existia clima para um confronto. Como? Companheiros? Eu mesmo acreditei que foi a melhor solução, a via pacífica.

Mas vale uma análise da natureza dessa política concessiva, que no fundo passa por uma consentimento não baseado em interesses econômicos ou liberalidade, pior, atravessa por uma teia política de visão ideológica, comprometedora e com tentáculos de alinhamento político. O Brasil está sim muito alinhado com os governos chamados neopopulistas, até porque para os demais governos da América Latina, Lula faz parte desse grupo, apenas é mais recatado face as ” alianças” estabelecidas.

Como era de se esperar, não tardou surgir um novo enfrentamento, desta feita, talvez também , assoprado por Chavez aos ouvidos de Fernando Lugo; temos agora a impositiva tentativa de renegociar o tratado de Itaipu, sob argumentos de que é ” injusto”, e mais, o presidente paraguaio defende que a discussão sobre Itaipu seja internacionalizada, convocando algum país da região para passar a atuar como mediador da questão !

Sem causar ” decepções” e “mágoas paraguaias”, o ministro Celso Amorim apressou-se em afirmar que o tratado não será renegociado, ” mas” que o Brasil está aberto a negociações para que o Paraguai obtenha o “máximo de benefícios”, contudo, segundo o Itamaraty, sem alterar o documento assinado em 1973. Na visão de Amorim devemos reajustar o valor pago ao Paraguai pela energia excedente da hidrelétrica de Itaipu.

O que observamos ao aprofundarmos a análise crítica, é que as questões e interesses nacionais passam a ser avaliadas pelo prisma ideológico, na conceitualização de “justiça” e não de interesses com o País vizinho. Podemos observar a utilização frequente do termo ” preço justo”. Como me referi anteriormente, já existe um Mercosul político-ideológico, que não passa pelos interesses econômicos de soberania e sim por certa cumplicidade e visão ideológica. Analisar a sociedade de Itaipu sob o prisma dos valores auferidos pelo Paraguai é desconsiderar a generosidade do Brasil. Não fosse por nós, o Paraguai jamais teria transformado recursos naturais em energia.

Nos resta mais uma vez curvarmos e como no caso Boliviano, negociarmos; silenciosamente sentarmos à mesa de negociação à maneira sindical, e num golpe de resignação, aceitarmos o imposto. Afinal, se abraçamos durante tanto tempo Hugo Chavez, Evo Morales, Correa e Kirchener, não podemos decepcionar agora Fernando Lugo. Não é ? Economize energia elétrica porque os abraços sairão caro…

Fernando Rizzolo